O outro lado do clichê escrita por Apiolho


Capítulo 30
30 - Está tudo bem em ter dúvida


Notas iniciais do capítulo

OLÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ! *-*

Meu coração, depois de 8 anos finalmente eu terminei essa fic, com um capítulo de praticamente 5.000 palavras, porque eu ia fazer 30 e terminar essa ano, então aqui está. Pensei em dividir, mas acho que está bom.

Como sempre me último capítulo: tudo acontece nele e final feliz? Pode ter gatilhos sobre su1c1c1o, também sobre abuso, então cuidado.



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Capítulo trinta
        Está tudo bem em ter dúvida

 “Eu estarei esperando, tudo o que nos resta fazer é fugir
Você será o príncipe e eu serei a princesa
É uma história de amor, meu bem, apenas diga sim”
(Love Story – Taylor Swift)

 

— Soube que o Evan brochou ontem. — Era baixo, mas deu muito bem de ouvir da minha carteira, seguido de risos. — Pelo jeito não é tão bom assim.

No ano passado eu até poderia estar curiosa com o que tinham acabado de fofocar, quem sabe pensado sobre, porém jamais ia passar disso. A minha vontade agora era de ir lá e falar poucas e boas para elas, mas algo me fez parar. Talvez não faria tão diferente daquelas palavras, até pouco tempo eu o julgava como o diabo em pessoa ou mais.

Por ter sido tão preconceituosa, não tenho direito de brigar por ele, só que eu precisava vê-lo e saber que está bem. Acho que isso posso, não é?

— Onde você se meteu? — Sussurrei para mim mesma.

O sinal tinha batido e nada dele, o que me fez sair dali mesmo que significasse uma bela falta em menos de uma semana. Eu poderia levar uma suspensão? Sim, mas dane-se. Ia arriscar não ir ao exterior? Provavelmente, mas dane-se. É pelo meu amigo não? E a última coisa que ia pensar era na aula estando lá dentro.

Para me ajudar a chuva tinha começado a cair e sem sombrinha o que me restava era correr o mais rápido para o achar. Tentei na quadra, árvore, atrás do prédio da escola, mas nada. Quando fui na biblioteca e o encontrei senti o maior alivio de todos, nem a bronca e a encarada da secretária me deixou chateada.

— Aqui está você, então? — Foi a primeira coisa que consegui dizer quando me aproximei dele. É claro que ia estar aqui, ninguém desconfiaria que estaria em um lugar assim, até porque para todos Evan e livros não combinam na mesma frase.

— Eu que pergunto, Sra. Perfeitinha, o que está fazendo aqui? Não tinha uma bolsa para conseguir? — Tem a total razão e nem consegui abrir a boca por causa disso, era como se toda a minha rebeldia tivesse sumido, seu sorriso se desmanchou junto. — Sai daqui, a essa hora talvez o professor ainda te deixe entrar.

Era como se fosse um outro Miller, tinha nada daquele teimoso que me encurralou com perguntas sobre meu futuro, que me fez ter uma conversa com minha mãe e ir no presídio. Se antes isso me irritava mais que tudo, agora sentia falta, por isso se parecia derrotado, eu que ia ser a chata da vez.

— Somos parceiros, não? — Sim, copiei a sua frase, confesso.

— Por isso mesmo estou pedindo para voltar, não quero que perca a sua chance por minha causa, como sempre. — Me senti a babaca nesse momento ao lembrar de tudo que joguei na sua cara. Se você soubesse toda a verdade, de que estava morrendo de medo que quebrasse meu coração, seria pior?

Sentei do seu lado e o olhei do jeito mais feio possível, cruzando os braços em cima da mesa e colocando a minha cabeça ali. Com isso até suspirou e parou de “ler” o livro, que até virado para baixo estava.

— Evan, vim até aqui porque eu quis. — Comecei, as mãos tremendo e os pés se mexiam com ansiedade, nem sei se pelo o que ia admitir ou pelo que ia me falar. — Não ia conseguir prestar atenção na matéria contigo sumido.

Quando apenas levantou e foi se dirigindo para os meios das prateleiras entendi que era para o seguir, ali era meu mundo, onde ia pegar livros de estudo ou apenas para entretenimento, chorava por conta de alguma coisa e me enchia de outras histórias para não lembrar o quanto estava sozinha, mas também quando comecei a perceber que ele não era tão idiota assim.

Encostou na parede e sua expressão era o completo nada, nem ódio, tristeza ou qualquer coisa que demonstrasse o mínimo de emoção. No entanto tudo mudou quando me aproximei, parecia que tinha aberto a caixa de pandora naquele exato momento.

— Está preocupada comigo? Você? — Seu tom de voz era carregado de tamanha ironia ao ponto de me magoar. Olha que isso é difícil pelo tanto que nós já brigamos. O que fizeram contigo ontem, Evan? — A nossa aposta acabou, não temos mais obrigação um com o outro, está livre para fazer o que bem entender, que está fazendo comigo ainda? — Era como se estivesse falando com um vendedor desconhecido após comprar um item qualquer.

— Em que merda está pensando? Você me pediu para que te ajudasse com a Catherine. Você queria que fossemos amigos. Você me procurou para me contar do seu passado. Você me aconselhou que fosse conversar com minha mãe. Agora vem falar como se fosse só dizer tchau e deu? — A cada frase o cutucava forte no peito, lançando tudo o que podia contra ele, para depois levantar minha cabeça e ver de perto se pelo menos tinha vergonha na cara após dizer aquilo. — É tarde demais! É tarde demais, está me ouvindo? Aquela noi-

— Não fale mais. — Sua mão estava em minha boca e, apesar do assunto ser sério, por que sentia formigar? Malditos hormônios. — Estava pensando na merda do brocha que sou. Veio aqui me consolar por causa disso, não é? A última coisa que preciso agora é pena.

Pena? — Perguntei aos sussurros depois que já tinha deixado eu falar, pois apesar de estar querendo gritar a plenos pulmões, ainda respeitava o lugar em que estávamos.

— Sim, se continuou nessa aposta comigo foi por me achar um idiota fútil que só pensa em mulher e nem tem um amigo para ajudar nessa, sentiu foi pena. — Essa frase fazia sentido e não. — Depois daquela maldita noite você tentou ser minha amiga por pena, não aguentou tanto e quis se afastar. Hoje a mesma coisa, foi atrás de mim porque brochei. — Mas essa? Sinceramente, deve estar louco.

Vislumbrei alguns livros ao meu lado, lendo títulos de romances clichês que jamais pensei que viveria, mas dessa vez estava pedindo uma ajuda as nerds excluídas para que pudesse confessar sem gaguejar. Porque apesar dessas protagonistas serem tímidas em várias situações e ter a coragem de fazer algo perto de declaração para seu amado e serem felizes para sempre, eu precisaria de umas boas respiradas e outra coisa que não ele em meu campo de visão.

Era tudo por uma boa causa, não é? Vou deixar de lado a minha vontade de dizer o quanto estava sendo dramático na linguagem da ironia como a Audrey de tempos atrás, já que era algo que o antigo diabo de olhos verdes jamais foi, para ser verdadeira.

— Não sei o que aconteceu nesses dias que nem nos falamos direito, mas tudo isso que disse é um mal entendido. — Comecei entre encaradas de uma prateleira a outra enquanto ganhava tempo, talvez pela vontade de me enterrar ou de só fugir para a secretaria e torcer para não ter alguma suspensão.

— Por quê? — Arregalei os olhos com sua pergunta baixa, mas mais ainda por estar segurando em meu queixo e se aproximado tanto, ao ponto de não ter como escapar. Era como se tivesse lido minha mente, porém mesmo se quisesse sair, seu sorriso de lado me prendia ali.

— Pode ser que no começo eu te achasse sim um babaca, mas apenas fiquei do seu lado por causa daquela foto, lembra? — Levantou uma sobrancelha, o que significava que esperava por mais. — Mas aquela maldita noite como diz, não me trouxe pena, mas confusão, porque eu queria ser tocada de novo por você, Evan. — Não tem a noção do quanto falar isso com ele me observando era difícil, nem sei como saiu da minha boca. Nessa hora pode ter me soltado pela surpresa, porém ainda via certa curiosidade em seu olhar pelo restante, que não soltava o meu um segundo sequer. — Se pareceu que me afastei de ti por causa disso, desculpa, foi por outro motivo que nem tenho certeza ainda. — Antes que pudesse me pressionar para saber completei rapidamente. — E não ache que é brocha, você ficou duro até com uma pessoa feito eu. — Só faltava um “rs” depois dessa frase de tão sem graça que foi, mas ao contrário do que pensei, fui pega pelo braço e encostada na parede.

— Como eu, como eu, como eu. — Se não estivesse vendo pessoalmente e ouvisse isso de alguém, diria que estava delirando, mas o cara que vivia fazendo piadas para maiores de dezoito anos até na frente dos professores estava com vergonha! — Alguém feito você é demais para mim. — Quê?

Não sei quanto tempo fiquei o encarando, mas essa resposta para o que eu falei me abriu mais dúvidas que soluções. Demais seria algo ruim como “três é demais”? É bom?

— Quê? — Não me julgue, fiquei sem ter o que falar!

— Chamei aquele dia desse jeito por não parar de pensar nele. —Tudo isso foi dito depois que ele se aproximou mais de mim ao ponto de sua boca quase encostar em meu ouvido, para depois essas palavras serem sussurradas como se fossem proibidas. — Audrey, eu me senti atraído aquele dia. — Sua mão que estava na parede chegou perto da minha barriga e pousou ali, como se pedisse permissão para repetir aquele momento na madrugada. — E o pior é que ainda continuo louco por você. — Quando o protagonista dizia isso na história dava uns pulos de alegria quando torcia pelo casal, mas eu juro que nessa hora travei.

Atração? Louco? Evan por mim? Nem estava longe para dizer que ouvi errado, pelo contrário, ainda sentia sua respiração em contato com minha pele e seu braço roçando a blusa do uniforme que vestia.

— Não pode ser. — Apesar de sequer saber quanto tempo demorou até abrir a boca, essas foram as palavras que saíram dela. Negar era a melhor saída, talvez assim riria e diria ser brincadeira, quem sabe parasse de sentir como borboletas dentro do meu estomago, o coração ficasse mais calmo, as mãos parassem de suar e minha mente não estaria esse caos todo.

Acho que se ele apenas confirmasse era capaz de fugir gritando de tanto desespero. Essa informação veio rápido demais para conseguir me acostumar, ainda nem sabia o que pensava dele. Por que a vida tem de ser tão sádica, em?

— Vai ver que não estou mentindo. — Fiquei sem entender por um momento, porém suas calças diziam tudo. Aquele volume sequer estava ali quando começávamos essa conversa, mas continuava do mesmo jeito à medida que o encarava mais. Se sua mão tocando minha barriga por cima do tecido foi para que o olhasse ao invés de outra parte, funcionou, porém causou outra sensação. Agora podia ver mais nítido seu rosto do que naquela noite, suas sardas e feição séria, além da sua respiração descompassada. Talvez estivesse pior que ele naquele momento, mas nem me importava. — Drey. — Sua voz me chamando pelo apelido me fez acordar daquele mundinho e me deixar constrangida pelos meus pensamentos, vermelha para deixar mais claro. — Está bom assim? — Os dedos que antes pairavam pela minha barriga nesse momento caminhavam até outro ponto mais acima, enquanto eu só agora notei que tinha colocado meus braços em seu pescoço. Que momento isso tudo aconteceu? Talvez entre o momento que encarava sua parte baixa pelo choque ou repetia pela milésima vez o quanto era bonito, não sei.

— Sim. — Em uma biblioteca? Sério? Pode ser um lugar sagrado, mas dou graças que não tem câmeras.

Podia ver que estava nervoso enquanto avançava cada milímetro, quem sabe estaria pior se estivesse me encarando, porém fez o favor de fechar como daquela vez. As mãos já estavam em contato com minha pele por debaixo da roupa e nem perto do meu sutiã, mas mesmo assim não conseguia mais me lembrar como era respirar calmamente. Quando chegou naquele momento e ficava sem saber como reagir era como se algo o parasse, na verdade até tirou seu braço e perceber aqueles olhos verdes agora me observando.

Audrey. — Era rouca e baixa, o suficiente para me deixar arrepiada. O que ele queria tanto falar? Mesmo que tocasse minhas bochechas, o rastro que sua mão passou ainda queimava, assim qualquer coisa que pedisse diria “sim”. Estou perdida! — Posso te beijar?

Sua fala foi séria e fez meu coração bambear, mas a reação a sua questão foi rir. Isso por causa de como foram as primeiras vezes, de tudo que passamos, da situação. Talvez possam achar que por tudo que ocorreu na madrugada isso fosse nada demais, só que para mim é.

— Não me lembro das outras vezes ter essa pergunta. — Falei entre uma gargalhada e outra, o deixando soltar um sorriso, mas amarelo.

— Desculpa, fui muito idiota e só te deixei com lembranças ruins. Achava que você precisasse de mais emoção e fiz aquilo, mas eu que nunca tive e só descobri depois. Nunca me senti assim como naquele sofá em sua casa e hoje nessa biblioteca que odiava. — Via um livro ou outro na estante e não virava para me enfrentar, mas eu achava melhor, talvez assim não perceba que é o mesmo para mim ou que possivelmente estivesse apaixonada por ele pela minha cara. — Só queria fazer certo dessa vez.

 — Evan. — Comecei enquanto engolia em seco antes de continuar por pensar em tudo que passei ao lado do meu ex-padrasto e a cena da piscina, mas era como se o meu desejo de estar com esse garoto fosse maior que meu medo. Quem sabe fosse diferente. — Eu também quero te beijar.     

— Mesmo? — Não me faça mudar de ideia, por favor!

Espero um pouco e foi chegando perto, mas primeiro sua mão chegou até meu rosto e seu dedo passeou pelos lábios enquanto eu fechava os olhos, quem sabe me dando tempo para negar se passasse mal. Certo que apesar de sentir tudo aquilo de novo, tinha medo detestar, de achar que ia ter algo depois, porém ignorei tudo e o deixei continuar.

Quando sua boca tocou a minha e pressionou, agarrei seu cabelo pela surpresa, mas ao contrário do que achava pareceu foi gostar. Começou devagar, girando a cabeça e esperando pelo meu movimento, resolvi apenas abrir e ver o que ia dar. Apesar de demorado, era algo tímido, até perceber que eu tinha permitido algo mais ousado. Seus toques passaram do pescoço para a minha barriga e que era isso? Sua língua se enroscou a minha enquanto sentia uma trilha de fogo pelo meu corpo e, mesmo que estivesse até gostando, era muita coisa para processar. Como as pessoas conseguiam algo a mais sem desmaiar? Não sei se notou, mas parou de me beijar e virou novamente para uma das estantes cheio de obras clichês.

— Exagerei, não foi? — Pensei que tinha era detestado pela sua reação, mas ao me encarar notei que seus lábios estavam mais vermelhos e até um pouco inchados, aí entendi. Como estariam os meus? — Se quiser nós, deixa para lá, irei embora. — Antes de se levantar para ir fui até ele e fiquei de joelhos no meio de suas pernas, podendo o enxergar mesmo que abaixasse a cabeça. Seus olhos verdes que me olhavam com frieza e certa dúvida não me parariam agora.

— O que você quer? — Estava séria, mas querendo a todo custo que ele não saísse dali. Era contraditório, só que sua preocupação comigo depois do que aconteceu ao invés de algo zombeteiro me deixou feliz ao ponto de entrar em choque. O que mais desejava era que esse momento nunca acabasse.

— Eu sou um babaca que apenas está pensando com a cabeça de baixo agora, Audrey, vai preferir não ouvir minha resposta. — Apesar desse aviso, sua voz rouca e todo seu jeito me diziam o contrário. E aquele sorriso de lado era o melhor.

— Então acho que eu começo. — Tentei ser durona, mas no fundo estava bem envergonhada. — Ainda quero que me toque e me beije muito mais vezes, assim. — Dessa vez sentei em seu colo e virei de lado para poder tocar seu rosto. Apesar de ter aberto a boca quando falei isso em descrença, logo voltou a como estava.

— Vou precisar alugar a sua manhã toda, pode ser? — Eu acenei com a cabeça que sim. — Depois não diga que não avisei.

Ele realmente cumpriu com sua palavra de que íamos ficar ali até o sinal para a saída da escola, mas também me fez ficar não apenas com minha boca vermelha, meu pescoço e orelha foram bem explorados por ele. Antes de nos despedirmos me confessou que as coisas seriam bem piores se não estivéssemos na biblioteca. Quando ele disse isso eu fiquei vermelha, porque tudo aconteceu em um lugar de estudos. O que está acontecendo comigo? Como não nos pegaram?

Quando finalmente voltei ao mundo real e pude olhar meu celular as várias ligações da mãe me deixaram bem assustada. Será que não vou ter um dia de felicidade?

— Alô.

Alô, onde estava? — Já assim?

— Na sala de aula. — Continuei.

— Mesmo? Liguei para lá para te chamar e falaram que não estava! — Até engoli em seco com essa. — Não precisa me contar, espero que tenha sido por um bom motivo. — E foi bem proveitosa.

— Desculpa, prometo que irei conseguir a bolsa. — Até fiquei bem arrependida de ter faltado dessa vez, mesmo que tenha sido para dar uns beijos no Evan na biblioteca.

— Não precisa mais. — Fiquei sem entender nada. — O James está morto. — Se dizer que fiquei triste estaria mentindo, era mais como um alivio.

— Quê? Como assim? É verdade?

— Tirou a própria vida, pelo que ronda aqui no hospital soube que uma denúncia de estupro contra ele era verdadeira e não aguentou. — Era a minha.

Esse desgraçado, preferiu fazer isso a sofrer todas as consequências, mas pelo menos agora sou livre. Saber disso me deixou tão aliviada que as lágrimas saíram sozinhas, talvez por entender que esse pesadelo tinha acabado.

— Tem alguma notícia? — Perguntei mesmo com a voz chorosa.

— Te mandei o link. — Desliguei sem nem dar tchau.

Quando entrei era uma fonte segura do jornal da cidade e todas aquelas palavras, meu coração chegou a dar um salto. Ali não dizia o motivo, mas sabia que só poderia ser o que minha mãe tinha dito.

Já estou aqui, cadê você? :( — Margo

Até esqueci que tinha marcado para a ver na lanchonete. Só posso estar mesmo gostando muito do Evan para ter esqueci de um hamburguer daqueles com milk-shake enquanto beijava sua boca a manhã toda.

“Chegando. — Audrey

Ainda bem que era perto e pude ir, mas ao chegar lá encontrei o Logan. Nem sei como reagi ao o encarar, porque depois que voltei a falar com seu talvez melhor amigo tinha parado de ficar com ele no intervalo. O clima nem sei se era bom ainda entre a gente, ainda mais depois de todo aquele show sobre a aposta e eu estar junto, com toda essa confusão nem tive tempo.

— Você marcou comigo por causa dele? — Perguntei.

— Também porque queria te ver. — Foi fofa, mas nem liguei, pois pelo jeito a tarde vai ser longa. Será que vale a pena estragar hoje com isso?

— Fico só se pagar para mim. — Dei por vencida.

— Não responda sem saber que ela pede o maior lanche daqui, com sobremesa. — O Robin a interrompeu antes que aceitasse, o que me fez o olhar com a cara mais feia que podia.

— Tudo bem. — Ui, ela é rica!

— Antes que você comece com o seu sermão para defender a Catherine, pensa duas vezes, pois meu dia foi muito bom até agora e acho melhor não arruinar. — Fui direta.

— Eu posso me defender sozinha. — Não, não, não.

— Isso é complô? — Me sinto invencível falando o que me der na telha.

— Eu vim aqui falar que a Roberta e a Alexia não vão mais frequentar a escola e é assim que me cumprimenta? Tudo bem, irei embora. — Puxei seu braço antes mesmo que pudesse dar dois passos. Fofoca pela metade é crueldade.

— Como isso? Quando? Por que não fiquei sabendo? — Comentei.

— Enquanto você estava não sei onde, o diretor foi na nossa sala avisar sobre isso e até tinha te chamado. — Nem acredito nisso.

— Quando eu falto vem uma notícia boa dessas, que mais rolou? O BTS veio fazer um show? O Neymar foi dar aula de educação física? — Capaz de ter vindo os ET dar uma palestra sobre a humanidade e estava lá tendo aula sobre fluidos corporais com o mestre.

— Você não foi a aula? — O Logan com o queixo caído por isso. — E a sua bolsa? — Parecia mais mãe que a minha agora com essa preocupação.

— Relaxa, o James morreu. — Falei como se não fosse nada.

— E me fala assim? — Enquanto rebateu a Margo parecia bem perdida, mas a Catherine não, talvez porque eu ou outra pessoa tenha comentado sobre.

— Que vou dizer? Depois que tiver a certidão de óbito talvez te dê detalhes de como tudo aconteceu e a causa. — Nessa hora chegou o meu hamburguer e fiquei feliz apesar da minha ironia de quase agora.

— Logan, não espere nada vindo de alguém que ajudou o Evan a tentar me conquistar. — A Cat falou isso e eu quase engasguei com o pedaço de comida na boca. Tentar? Deu certo, não é? — E falando nele, também estava ausente. Sabe de alguma coisa, Audrey? — A sua cara entregava tudo.

— Se quer tanto saber, fui o procurar sim e ficamos juntos conversando até acabar as aulas! — Vocês sabem o quanto fui paciente nessa, só escondi um pequeno grande detalhe.

— Depois do que aconteceu ontem, não esperava menos. — Foi o Robin que disse essa frase.

— Da brochada? — A Margo perguntou. Disso ela sabia.

— Não, da conversa com seus pais. — Eles ficam espalhando assim? Chocada, também quero saber.

— Que aconteceu?

— Que conversa estavam tendo que não sabe disso? — Olha aí a Catherine interrompendo.

— Sobre outras coisas. — Disse tão rápido que ela me olhou estranho e ficou um bom tempo, até ajeitei o cabelo para esconder possíveis marcas, porém acho que isso a deixou mais desconfiada.

— E esse chupão aí também fazia parte do papo? — Descobriu.

— Quê? Não. — A minha cara deve estar muito vermelha.

Por que eu não disse que ia ir para a casa e estou aqui? Podia ter sido pelo lanche, mas ele agora estava largado na mesa esfriando. Eu fiquei sem vontade de comer por causa disso, ela não vê o mal que fez?

— O Evan me contou que vocês se pegaram. — Logan é a nova tia do bairro e eu não sabia?

— Todo mundo viu as fotos, isso não é novidade. — Confesso que demorou um tempo até eu pensar nisso e desconversar.

— Estou falando de hoje. — Ele nem se toca não?

— Como sabe se acabamos de nos separar? — Cansei.

— Está morando comigo por um tempo. — Que aconteceu ontem? — Ele conversou com seus pais sobre tudo que passou na infância, mas parece que a mãe não aceitou muito bem, teve briga e ele saiu de lá, depois saiu e brochou porque pensava em você no meio de uma transa. — Então cumpriu sua promessa.

— E está na sua casa e você aqui?

— Não, me esperando no carro.

— Vou lá. — Nessa hora vi que a Catherine não fazia uma cara muito feliz para mim, como se minhas palavras fossem o maior pecado do mundo. — Que foi?

— Deve um pedido de desculpas. — Apontou para mim enquanto chegava perto.

— Quê? Ele nunca foi seu. — Nem queria brigar por causa disso, ela que começou.

— E daí? Não estou falando disso. — Estava muito irritada pelos gestos dela, mais do que antes, talvez o que comentei deve ter aberto uma ferida. — Quando soube da aposta pensei muito a respeito, fui até a casa do Miller e do Log, conversamos sobre tudo, ao contrário de você que sei lá o que estava fazendo que nem sequer veio se explicar.

— Sempre quis ser sua amiga, parecia perfeita, boas notas, apoiando os outros e era como um exemplo para mim. — Fui sincera. — No começo me sentia a pior pessoa por estar o ajudando nessa aposta ridícula, apenas continuei para não espalhar aquela foto, mas quando o tempo foi passando tudo o que achava mudou, foi por aquela vez que falou mal da minha aparência, beijou o Logan na minha frente, ficou brigando por estar me aproximando dele e mais ainda quando disse estar gostando do Evan só para eu me afastar. — Empurrei para cima dela. — Você foi a que sempre magoou esses dois, colocava um contra outro desde sempre para ser o centro das atenções. O que seria uma mera aposta diante de tudo que fez, não é?

— Só pode estar apaixonada mesmo para defender o que ele fez. — Só o que disse, mas via seus olhos embargados e talvez tenha ido longe demais.

— Pode ser que esteja. — Disse isso em voz alta? — Se quer tanto meu pedido de desculpas, já tem, mas não antes de saber que não me importo nenhum pouco. Você foi cruel comigo e apenas me senti vingada. — Tanto eu quanto ele. — Agora estou liberada?

— Espero que ele esteja lá transando com outra. — Rebateu.

Catherine! — Essa foi a Margo.

— Que foi? Apenas um aviso. — Ela piscou e eu sabia que talvez estivesse certa e mesmo assim fui caminhando para fora daquela lanchonete. E meu pão com bacon, alface, tomate, carne, queijo e um belo milk-shake sendo abandonados por mim.

Cheguei naquele carro no estacionamento da escola a passos lentos, pronta para me decepcionar ou saber que as coisas mudariam. Mas lá estava ele apenas sentado no banco com um fone de ouvido, sem nem prestar atenção ao seu redor, apenas abri a porta e me sentei ali do seu lado.

— Que está fazendo aqui? — Parecia surpreso, até levou um susto ao virar para o lado, e meu sorriso se desmanchou na mesma hora.

— Estava esperando outra pessoa? — Perguntei.

— O Log. — Falou como se nada. — Mas ainda bem que era você. — E me puxou para dar um beijo, que mesmo demorado, não passou para algo mais ousado. — Não lembro de ter marcado contigo para dar uns amassos, mas gostei.

— É assim que fazia com as outras garotas então? — Deu uma gargalhada que aqueceu meu coração. — Vim para saber que história é essa de ficar contando para os outros o que aconteceu na biblioteca?

— Sua mãe falou algo? — Quê?

— Até para ela? — Já perdi as contas de quantas vezes fiquei vermelha hoje.

— Não posso fazer nada se seu celular ficou no silencioso e veio me mandar mensagem para saber de você. Apenas falei que estávamos juntos e entendeu na hora. Para quem mais falei?

— O Logan, claro.

— Não. — Que eu fiz? — Deve ter jogado verde.

— Não acredito! — Cheguei a gritar ali dentro do carro. — Até briguei com a Catherine pelo que disse.

— Foi por mim? — Fez até pose de garanhão. Se acha.

— Bem que tentei puxar o cabelo dela por sua causa, juro, mas ficou mais chateada por causa de estar ajudando na aposta. — Eu e minhas ironias.

— E então foi tirar satisfação por causa da foto do beijo? — Entrou na brincadeira.

— Que eu não queria que mostrasse para não perder a bolsa. — Comentei. —  Agora o James morreu e não precisarei mais.

—  Então não posso te chantagear com uma imagem nossa mais? — Por que nem tocou no assunto?

— É. Não ouviu que falei? — Esqueci aquele seu comentário obsceno.

— Eu já sabia, sua mãe me mandou a notícia. — Esses dois estão bem amiguinhos pelo jeito, prevejo que ficarei de lado. — Prefiro outro assunto.

— Qual? — Estava mesmo curiosa.

— Aquele da página 457 do livro “Clichê & amor”. — Isso me fez pensar nas várias obras que mostrei enquanto estávamos naquele canto.

Se aproximou de mim enquanto estava distraída e tocou seus lábios nos meus, dessa vez eu já abri a boca enquanto fechava os olhos após a surpresa. Imaginava que sairia dali com mais marcas do que entrei, mas não liguei.

— Que eu não paro de pensar em você. — Foi o que disse depois que nos afastamos. Fiquei estática tentando racionar o que tinha acabado de escutar naquele carro, com o Evan na minha frente, seus olhos verdes me encarando tão de perto e aquelas sardas não poderiam ser fruto da minha imaginação.

— Eu sei. — Quase não consegui falar pela garganta ter ficado seca. — O Robin me contou que você brochou por minha causa.

— Aquele merda! Para quê? — Então era verdade. — Isso não estava na história. Só segue o roteiro, por favor. — Sua bochecha e orelhas estavam vermelhas e eu achei isso a coisa mais linda que já tinha visto na vida.

— Sabe o que mais não estava lá? — Minha boca já estava em seu ouvido para eu poder sussurrar as próximas palavras, que finalmente consegui soltar depois de um tempo. Como que para eles foi tão fácil? — Que acho que estou apaixonada por você.

Quando não ouvi nada dele, achei que tudo estava acabado ao ponto de não querer mais encará-lo, mas logo reagiu e me pegou pelo queixo. Se fosse me rejeitar talvez não aguentaria, quem sabe apenas iria ao diretor para ouvir um “te avisei” e ficar quieta até o ano acabar, mas mesmo assim preferi encarar.

Drey. — Lá vem ele. — Eu também acho. —  Seu sorriso de lado fazia meu coração dar uma falhada, mas me fez sentir emoções maiores quando continuou. —  Quer dizer, é quase certeza que gosto de você, apenas preciso de mais 1.000 beijos seus para ter a resposta.

Quando vi já estava em seu colo e com a boca colada na minha, nem sei quando isso aconteceu e nem antes desde que me confidenciou que sentia o mesmo, era como se tivesse em outro sonho lembrando de cada palavra sua. Ficamos naquele nosso mundinho apenas nos beijando, até uma certa pessoa chegar e termos de nos separar.

Temos dúvidas sobre nos amarmos ou não? Sim, mas tudo bem. Talvez ele quebre meu coração algum dia, quem sabe irei para outro país ou Estado, minha mãe vai vê-lo por muito tempo no café da manhã ou não, se o Logan e a Catherine vão ficar junto ou se seremos amigos, não sei, até lá ainda tenho uns 953 beijos para descobrir.


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Notas finais do capítulo

Não acredito que eu termineeeeeeei dia 31!

Achei que não daria, mas aqui estou eu. São muitos anos e sentimentos desencontrados, talvez não tenha terminado como queria e planejei há anos atrás, mas aqui estou eu.

Essa história é para mostrar que as aparências podem enganar, que erram e que é normal ter dúvidas, ainda mais sendo adolescente. Que as vezes você planeja algo, mas vem um acontecimento ou pessoa que modifica tudo.

Se tiver erros de português pode avisar e também que a imagem não é minha.

Obrigada por tudo, comentários, salvos, recomendação, favoritos, tudo, com certeza me ajudaram para terminar essa história. Espero que tenham gostado, caso não, também fale, quero saber que acharam.

Espero que tenham dito um belo natal de 2022 e feliz 2023 a todos!



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