– Ele está certo, Bella. Ele prometeu. E Perseu Grace não é um cara de quebrar suas promessas – eu dizia encarando-o.

– Bom, sendo assim, vou ver se o Carlos ou o Peter estão disponíveis. Com licença – ela deu uma risadinha sem graça e saiu de nosso campo de visão. Não antes de me fuzilar com os olhos, claro.

– Você lembra disso?

– Mas é claro que lembro. Foi uma promessa.

– A gente tinha dez anos, Percy. Isso me faz pensar quanto tempo eu tive que te aturar na minha vida.

– É ... – ele disse pensativo. Então se deu conta. – Ei!

– Ai deuses, como você é lerdo ...

– Todos já tem seus pares? – Rick perguntou.

– Sim – respondemos, todos juntos.

– Ótimo, então vamos começar. Eu quero que todos escolham uma pequena cena, de algum livro ou filme e a interpretem. Vocês tem dez minutos para ensaiarem. Pode ser qualquer uma, comédia, romance, ação. E antes que alguém me pergunte, não, vocês não precisam, não podem e não devem beijar uns aos outros.

– Mas professor, o senhor não vai ajudar nem nada?

– Por enquanto não. Eu quero sentir a energia dessa sala.

– Ok – me virei para Percy. – Que cena podemos fazer?

– Não sei, Sabidinha. O que sugere?

Arregalei os olhos. Graças a Hermione, aprendi a ser uma pessoa má.

– Uma cena romântica.

– O que?

– Não, melhor. Uma cena super fofa entre os verdadeiros Percy e Annabeth.

– Vai me explicar melhor ou ... aah, lembrei. Quinto livro?

– Isso. Não é só por causa deles, mas para irritar uma certa pessoa. Já que não podemos nos beijar, pode ser essa.

– A Hermione não foi uma boa influência pra você. Mas eu gostei da ideia. Peraê, você estaria disposta a me beijar em público só pra irritar ela?

– Por que não? Eu já beijei você antes e não é como se eu fosse comer você no meio da aula, Percy. Seríamos totalmente profissionais.

– Ahã, sei. Bom, temos um problema: precisamos de uma cama improvisada.

–Isso é o de menos, Percy. O ponto é que nós temos que ser românticos ao máximo – olhei em volta. – Hermione ficaria orgulhosa.

– Ok, se é romantismo que você quer, podemos fazer a da facada.

– Ok, mas a gente se apresenta por último. Pra ver como as coisas são por aqui.

– Pode ser. Melhor falar com o professor sobre essa cena.

– Eu falo, relaxa.

Ensaiamos um pouco (afinal de contas já conhecíamos os livros de trás para frente, nossos nomes estavam neles) e nos sentamos perto de Tris e Tobias. Eu perguntei a eles o que eles iam fazer e eles disseram que era uma cena de Insurgente. A tal cena é aquela em que Tris está “drogada” e conversa com Quatro. Hilária.

E começaram as apresentações.

O primeiro grupo a se apresentar foi o de Hazel e Carlos. Eles encenaram Romeu e Julieta. Teria sido bom, se não fosse forçado. Sério, péssima escolha. A verdade é que só Hazel atuou. Carlos teve umas duas falas, no máximo. Coitado. Ele ficou lá parado e ela fingindo que sabia atuar. No fim o professor disse que ia comentar todos juntos e chamou o próximo grupo.

Foi a vez de Bella e Peter. Eles fizeram uma cena de Crepúsculo, óbvio. Eu não me lembrava dessa cena, mas ela disse que era uma cena do filme e eu só havia assistido o primeiro filme. Não me interprete mal, mas teria sido melhor se ela fizesse alguma coisa de verdade, porque ela começou a dizer suas falas como em um monólogo e, deuses, foi entediante.

Os próximos eram Tris e Tobias. Pobre Tobias. Foi engraçado ver aquela cena de novo. Eles foram bons. Até o professor deu um sorriso no final.

Nós éramos os próximos. Tris deu tapinhas de incentivo em minhas costas. Agora era a hora.

Enquanto Percy arrumava duas cadeiras para eu me deitar, eu explicava a cena.

– Bom, essa é uma das minhas cenas preferidas de toda a saga de Percy Jackson e os Olimpianos. Nela, Annabeth acabou de levar uma facada no lugar de Percy.

– Peraê – Carlos se manifestou. Ele era uma das pessoas com quem havia feito um pouco de amizade. – Vocês dois que inventaram a cena?

– Não, Carlos. É de um livro.

– Mas tem o nome de vocês ...

– É porque nossos pais leram os livros e como somos praticamente idênticos aos personagens, ganhamos esses nomes.

– Ah, ok. Obrigada.

– Bom, vamos começar.

Me deitei nas duas cadeiras. Tenha em mente que eu estava morrendo pra fazer a cena.

Começamos a cena.

– Você fica uma gracinha quando está preocupado. Suas sobrancelhas ficam juntas e franzidas.

– Você não vai morrer e me deixar lhe devendo um favor. Por que levou aquela facada?

– Você teria feito o mesmo por mim.

Ele fez uma pausa dramática.

– Como você sabia?

– Sabia o que?

Ele olhou em volta como se para se certificar de que ninguém havia dormido. Mas fazia parte da cena.

– Meu calcanhar de Aquiles. Se você não tivesse levado aquela facada, eu teria morrido.

– Não sei, Percy. Eu só tive a sensação de que você estava em perigo. Onde ... onde é o ponto?

– Na base da minha coluna.

Toquei suas costas por debaixo de sua camiseta.

– Onde? Aqui?

Ele pegou e deslizou minha mãe mais para baixo. Não, ele não pôs minha mão em sua bunda, só porque eu já havia avisado que se ele o fizesse por gracinha, eu ia bater nele fortemente.

– Você me salvou. Obrigado.

– Então você está me devendo. Conte-me uma novidade.

– E acabou – disse Percy.

Olhei para Tris e ela estava com lágrimas nos olhos. Que ela fez questão de enxugar rapidamente. Tobias estava a seu lado, com o braço sobre seus ombros, como se soubesse que ela estava chorando.

Peter, Carlos e Hazel olhavam como se tivessem gostado. Bom.

E como estava Bella, você se pergunta. Com cara de nojo, como sempre.

– Obrigado, a todos. Agora, vamos ver o que todos acharam de suas apresentações. Eu quero pontos positivos e negativos. Por exemplo, Annabeth, o que você achou da apresentação de Hazel e Carlos.

– Bom, eu achei uma boa escolha a deles, mas eu ... – olhei para Percy e depois para Hazel. – Mas acho que Hazel poderia ter soltado o cabelo, pra dar mais vida a personagem.

E sorri para ela. E ela, milagrosamente, sorriu para mim. Acho que saquei qual era a dela. Ela só procurava encrenca com quem era “inimiga” da Isabella. Mas não do tipo, quem Isabella simplesmente passava a odiar, mas quem procurava encrenca direta.

– Obrigado. E o que você achou da apresentação de Tris e ...?

– Tobias.

– Isso. O que você achou da apresentação deles?

– Eu achei bem divertida. Me lembrou da cena do livro.

E assim foi, e ele perguntou para todos as suas opiniões.

Hazel disse que nossa cena estava “fofinha e romântica”. Tris disse que se emocionou a ponto de “quase chorar”. E, não sei como, Bella disse que “ficou legal”. Então o professor disse que na próxima aula nós começaríamos a aprender algumas técnicas de teatro. E então fomos embora.

Já eram quase cinco horas quando a aula acabou. Então perguntei a Tris se ela queria ir lá em casa pra nós irmos visitar a Hermione. Ela aceitou e fomos.

Chegando lá, a mãe de Hermione atendeu a porta. Seu nome era Mary. Ela era muito simpática.

– Podem subir, meninas. Ela está no quarto. Segunda porta a direita.

– Obrigada, senhora Di Angelo.

Subimos e ficamos conversando com Hermione até umas oito horas.

– Você vai na escola amanhã, Mi?

– Vou sim, gente. É só que eu não tava conseguindo andar por causa da cólica.

O celular de Tris vibrou.

– Bom, gente. Tenho que ir. Minha mãe já tá chegando.

– Ok, eu já vou também.

– Vamos. Eu vou até lá fora com vocês.

Nos despedimos e fomos embora. Chegando em casa, na hora do jantar, minha mãe tinha um recado.

– Crianças, amanhã a nova empregada vai vir para limpar a casa. Então sugiro que, ou vocês fiquem no quarto depois que ela limpar ou saiam para fazer alguma coisa.

Depois do jantar, eu e Ron estávamos vendo TV.

– O que você vai fazer amanhã, Ron?

– Não sei, mas eu não quero ficar em casa.

– A gente podia ir ao cinema. Eu chamo as meninas, o Percy e o Tobias e você chama seus amigos. Pode ser?

– Claro, só não sei se o povo da minha sala vai querer ir.

– Ah, se eles não saírem, você sai com a gente. O Percy e o Tobias são super legais.

– Pode ser. Acho que vou dormir. Você vem?

– Tá.

Subimos as escadas e cada um foi para ser quarto. Eu gostava de passar um tempo com Ron (quando não brigávamos, claro).

Fui ler um pouco antes de dormir. Já estava no segundo livro que tinha comprado (pode parecer que não leio com muita frequência, mas eu faço. Na maior parte do tempo em que não falo o que faço, eu estou lendo, é só que esqueço de mencionar, porque é natural).