Os olhos violetas escrita por Flávia Monte


Capítulo 43
Capítulo 43 - Confusa


Notas iniciais do capítulo

Por pedido, escrevi outro capítulo brevemente. Espero que gostem.



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Quando chego ao meu quarto, Justin está dormindo no chão enquanto Sofia está na cama. A mão dela está para fora do colchão e o corpo do garoto está virado para ela. Chego pelo outro lado e cutuco-a de leve. Piscando um pouco Sofia finalmente foca meu rosto e murrmura um “não tente me acordar”. Acho que a menina iria completar a frase com um “se não as coisas vão acabar feias”. Ela volta a dormir e eu fico ali parada até sentir minha barriga roncar.

Desço pelas escadas, um pouco rápido, e corro para a cozinha. Abro a porta da geladeira e tiro uma garrafa de leite. Pego umas fatias de pão de forma e coloco na torradeira. Encontro uma frigideira dentro do armário, de baixo da pia, e começo a fazer ovo frito. Não demora muito para o cheiro forte de comida fazer meu estomago tremer ainda mais.

– Quero com gema mole. – Logan entra na cozinha e pega um prato para si. Coloca o pão e senta na cadeira. – Também quero salsicha. – Falou com a boca cheia. – Deve saber que amo carne no café da manhã, Hestings.

– Coloca mais pão para mim na torradeira, que então faço o ovo, mas a salsicha você faz sozinho. – Sorrio olhando por cima do ombro. Logan sabe confundir meus pensamentos ainda mais.

Minha mente anda confusa. Isso é um fato. Não tenho motivos, mas quero que Harry se recupere. Sinto alguma ligação, compaixão talvez, e não consigo vê-lo sofrendo. Apesar de merecer. Seu estado febril e debilitado é doce e terno. Apesar de agir daquele jeito mais cedo, antes Harry não estava pensando em mim como uma inutil. Apesar de não saber se isso importa.

Logan já me surpreendeu em sonhos. Já me disse coisas surreais e maravilhosas. Talvez fale frases de músicas ou de alguns filmes, não sei. Vive se declarando de jeitos tão descarados que eu até não consigo entender se Logan fala sério ou não. O meu amigo é isso: Um amigo. Apesar de atualmente não ficar na mesma cabana. De não ter motivo para estar ao meu lado, continuo confiando em Log. Então, mesmo que esse cara pense em algo amais que amizade, eu não posso pensar. Por que... Caso ele me beije eu preciso estar 100% sem vontade de beija-lo. Se não as coisas vão para o caminho errado.

Com os pensamentos, percebo que o ovo está para ficar queimado. Tentando tirar rápido do fogo, respinga óleo da frigideira e queimo minha mão.

– Nossa! Deixa que comigo, Ok? Eu faço isso para você. – Tirou da minha mão a frigideira e colocou o meu ovo em um prato. Entregou-me e começou a fazer um para si. – No que estava pensando? Não sabe nem fazer um prato simples? – Logan questionou, mas agora com um sorriso no rosto. Um dos meus prediletos.

– Claro que sei. – Resmungo contrariada. – Só não dormi direito. – Digo me lembrando da noite. Lembrando-me do meu jeito delicado com Harry. Uma compaixão exagerada e inesperada.

Logan me olhava de vez enquando por cima do ombro enquanto fazia as salsichas e o ovo mexido para ele, admitindo que não soube fazer ovo frito com gema mole. A cozinha era grande o suficiente para caber uma festa ali. Sentei-me na longa mesa, muito parecida com a do jantar de ontem. Fiquei de frente para Log e esperei.

Minha cabeça estava girando e doendo. Eu não devia ter tentando falar mentalmente com Harry ontem. Percebi meu comentário interior e uma questão veio a minha mente: Eu nem sabia que eu conseguia falar por pensamentos. Só com a Sofia, mas isso é ela quem usa o dom, não eu. Então... Por que com o Harry eu falo assim?

– O que você fez ontem a noite? Achei que você estaria com Sofi e Justin na varanda, mas não te vi. – Logan estava com um pedaço de torrada na boca enquanto falava. – Ah, e só para você saber... Ninguém achou boa idéia trazer o cara para cá. Estavamos falando nisso antes de você chegar à sala ontem e pelo que entendi, não vamos poder ficar aqui de graça.

– Como assim? – Murmuro ainda esperando Logan sentar.

– Zack quer que voltemos à escola e que comecemos a trabalhar para ganhar nosso próprio dinheiro. – Logan se acomoda em cima da pia com um prato de salsicha na mão e o de ovo ao lado dele. – Meio que a vida para Zackary é normal, o que é bem diferente de Rosários. E por ser normal, é antiquada e simples.

– Eu não preciso de dinheiro. – Resmungo. – Nem de trabalho, nem de escola. Posso muito bem convencer a diretora e qualquer um sobre isso.

– Ah é. Zack disse que você falaria algo do jeito. – Logan termina o prato e olha para o meu copo com leite. Seguro com força o copo de vidro e ele desvia o olhar. – Zack disse que para vivermos aqui por esse tempo limitado, teremos que não usar nossos poderes. Só deveremos usar quando estivermos praticando, em salas específicas que tem por aqui.

– Está me dizendo que para viver no acampamento, que tinha mais de quinhentos adolescentes desgovernados, não tinha regras. Já aqui, na casa de um velho, tem mil delas? Não é justo e nem faz sentido. – Bebo tudo que tem no copo e volto a encarar meu amigo. – Espera. Ainda não caiu a ficha muito bem... Como é que voltaremos à escola? Qual é o nome mesmo?

– Sua tia já falou com a diretora... Digamos que estou começando a achar que a diretora é uma das nossas. E até agora você não tem idéia em que escola estava indo? – Logan me segue até a sala, onde se joga no sofá e pega o controle remoto.

– Bem... Você nunca me disse, e não vi o nome na entrada e nem na roupa de educação física. Só vejo siglas e não consegui identificar o que seria JEML. E pensando bem, nunca fico muito tempo em algum lugar, dessa vez foi só mais uma.

– Journey to the End of My Life

– Mas que coisa mais fúnebre! – Grito quando de repente sou puxada para o colo de Logan. – Hey! Solta! Está cedo ainda! Não estou nem acordada! – Começo a tentar me levantar, mas quando ele toca minha cintura eu paro. – Não. Você não vai fazer... Ah!

Grito mais e mais enquanto Logan faz cosquinha em minha cintura e eu me encolho toda. Log para quando fica em cima de mim segurando com a mão esquerda minhas duas mãos a cima da cabeça. Com a outra ele se apoia no sofá. Aos poucos vejo que seu sorriso está diminuindo até sumir completamente do seu rosto. Seus olhos dourados encaram minha boca e sinto meu coração dar um salto. O sentimento de quando cantamos juntos volta de acordo com seus movimentos. Logo teremos que voltar a usar as lentes azuis.

Logan passa a se apoiar na mão em que me segura e com a direita ele ajeita um cacho meu para detrás da orelha. Respiro com dificuldade e percebo que o garoto também. Por alguns segundos ficamos assim: Eu parada tentando nem respirar e Logan em cima de mim, chegando aos poucos mais para perto. Preciso estar 100% indiferente se algo acontecer!

Olho para o ouro em seus olhos e percebo que a cor deles está mais escura. Mais profunda, quase hipnotizante. Logan fecha os olhos e respira fundo. A magia não desaparece por completo quando começa a falar:

– Você me faz tropeçar nos meus pés e minha mente começa a imaginar... E meu coração esquece-se de bater quando você começa a andar na minha direção, Suzanna. Eu esqueço onde estou... Não consigo encontrar palavras para dizer... Não vejo cura para esta doença. Vejo-me cada vez mais sendo atraido a você. Por você. Não faz pouco tempo que me sinto assim.

Doença? Não estou endendo muito bem o que está acontecendo, mas não vejo isso como algo que precise de cura.

– Er... – Tento falar, mas minhas palavras não ficam em ordem. – Acredito que o que estou entendendo não seria o que você quer dizer. – Começo a tentar mexer minhas mãos, contudo Logan ainda está as segurando. Quando crio coragem de voltar a olhar para ele, percebo que seu nariz está escorrendo sangue. – Seu nariz...

Antes mesmo dele me escutar uma gota cai em minha boca. Engulo com dificuldade, também com um pouco de nojo e volto a olhar para Log. Seus olhos estavam fechados e sua testa estava cheia de rugas. Dói. Escuto Logan sussurrar. E se sentar ao meu lado.

Levanto meu corpo e me apoio no sofá para olha-lo. Ele estava falando sério, está realmente doente.

– Vou trazer um copo de água para você. – Ameaço levantar, mas Logan segura minha coxa e nega com a cabeça. Ele encosta-se no sofá e suspira.

– Isso anda acontecendo. Zack disse que pode ser estresse. E que o trabalho pode ajudar a tirar minha cabeça dos Olhos e tudo mais. – Sua voz está mais grossa que antes, seus ombros estão mais relaxados e eu o vejo voltando a trocar de canais.

– Quando teremos que começar a voltar ao normal? – Pergunto ainda respirando com dificuldade. – Quero dizer queria fazer algumas coisas que a muito tempo não penso mais. Tenho saudades de ir ao shopping. Sinto falta de Cam e até da Isa. – Que ela descanse em paz. – Não sinto falta da educação física. – Rio ao olhar para meu lutador. – Ah... Queria saber como aquela garota que me pediu conselho nos desenho está... Ela parecia legal... Sinto até saudades de ver você brincando de Jiu-Jtisu. – Paro um pouco e volto a encarar as profundezas douradas. - Temos tempo de ir pegar algumas ondas? – Sorrio ao me lembrar do inicio.

– Claro. Não me chamam de Parafina atoa. – Logan volta ao bom humor rápido e se alonga. Está usando uma blusa regata branca e uma bermuda florida. Parece muito com o garoto do verão passado. Seu cabelo castanho está mais curto do que antes, contudo, ainda está bonito.

– Ninguém mais te chama assim. – Mostro a língua como uma criança e depois rio. – Ainda tenho que ganhar nossa apostinha.

– Desculpa, gata. Não sei se vou pegar leve com uma patricinha como você. – Logan se levanta e estica a mão para mim. - Realmente, tem momentos que queria ficar aqui para sempre. Acreditando que esta é a realidade, e não a nossa. Queria que os Olhos não fossem nada mais que historinhas para dormir. Talvez até que os olhos de fogo não fossem nada mais do que um bando de capitalistas que são. Vamos. – Log segura minha mão.

– Calma! Você quer ir agora? – Pergunto um pouco incrédula com sua vontade de perder rápido.

– Não sei mais por quanto tempo poderemos fingir ser normais.


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