Capítulo 14 – Na vertigem da verdade

–Sou eu, não sou? – Athena irrompeu pela sala, interrompendo os dois Holmes. – Ele quer-me a mim.

O pânico tinha-se instalado nela. Um pânico que fazia a adrenalina correr pelas suas veias, fazia-a pensar em planos maléficos para fugir daquele homem que tinha matado e tinha colocado Londres em pânico.

–Quem é ele? – gritou ela.

–Preciso que te acalmes – pediu Sherlock, aproximando-se da filha com movimentos calculados. A sua voz grave explodiu na sua cabeça, fazendo-a fixar-se nos seus olhos azuis. – Isto não é sobre ti.

–Mentira! – exclamou ela, dando um passo atrás. – Isto tem a ver comigo! O que é eu fiz para ele me querer… Oh – os seus olhos encheram-se de lágrimas. – Eu sou uma Holmes. Eu sou filha do detetive mais famoso do mundo e ele sabe que atrairia a tua atenção se ameaçasse o Governo. Quem é ele? Pai? Tio?

–Sim, tu és uma Holmes – afirmou Mycroft, orgulhoso dessa afirmação. – E como uma Holmes, juntar-te-ás aos vencedores.

–Isto não é um jogo de xadrez, Mycroft – Sherlock semicerrou os olhos para o irmão, tentando calá-lo.

–Para ele, sim.

–Quem é ele?! – exclamou Athena, exasperada.

–Jim Moriarty – respondeu Mycroft e se Athena não estivesse presente, Sherlock teria tido uma reação muito mais ativa do que ficar a ouvi-lo, com o olhar em fogo. – Ele é um antigo conhecido.

–Era ele no nosso apartamento? – Athena virou-se para o pai, com as lágrimas que teimavam em sair ainda nos seus olhos.

–Sim – acenou Sherlock, baixando o rosto, sentindo-se impotente face ao perigo eminente que Athena corria.

–Sherlock, tu vais ter que lhe contar – disse John, quando Sherlock foi levar a filha a casa do amigo, para passar lá a noite.

Sherlock respirou fundo, endireitando os ombros.

–Nunca.

–Ela terá que saber. Vais ter que a preparar para o mundo.

–Que mundo? O mundo é normal.

–O mundo em que vivemos é tudo menos normal. Ela é filha da Dominatrix e tem-te a ti como pai, o detetive mais famoso do mundo, com uma lista infinita de inimigos.

–Eu não posso contar-lhe.

–Por que não?

–Porque eu fiz uma promessa, John – Sherlock fixou o seu olhar no melhor amigo. Determinado, o seu olhar perdeu-se e John percebeu que ele estava assustado.

–Céus, Sherlock – John suspirou, olhando para o chão. – Nós vamos protegê-la da verdade até ser inevitável.

–Obrigado – Sherlock nunca se tinha sentido tão grato como naquele momento.

–Mas prepara-te para o dia em que a verdade chegar. Porque nesse dia, Sherlock, tu podes perdê-la.

–Porquê? – o detetive enrugou a testa.

–Porque mentir durante tanto tempo magoa as pessoas, Sherlock – explicou John, que já tinha sentido isso na pele e sabia identificar-se com a sensação de ser traído, ignorado e subestimado.

Sherlock ergueu o rosto para o irmão, sentindo remorso por todos aqueles anos em que tinha escondido a verdade da sua filha.

–Eu tenho que lhe contar.

–Já não era sem tempo – Mycroft soou aliviado, mas ambos temiam a reação de Athena.

©AnaTheresaC