Capítulo 13 – São os livros

–Mike! Tira essas mãos da minha mesa! – ralhou a mãe de Mycroft e Athena sorriu discretamente, por detrás do seu livro.

–Eu não estou feliz com isto, mãe – retorquiu Mycroft. – Acho que devíamos fazer um anexo para o meu escritório pessoal.

–Que absurdo! – exclamou a figura feminina. – A casa é minha. E se tivesses um escritório aqui, não seria por causa disso que te veria mais vezes.

–Por uma vez estamos de acordo, mãe.

Henry entrou na cozinha e sentou-se no sofá de frente para Athena.

–A discutirem de novo?

–Mas eles adoram-se – Athena piscou-lhe o olho.

–Eu oiço-vos, sabiam? – Mycroft interrompeu, impaciente.

–Mycroft! – exclamou a mãe, e Mike quase bradou aos céus por ela ter pronunciado o seu nome completo. – Não se interrompem as conversas das outras pessoas!

–Não é como se eles fossem desconhecidos – argumentou Mycroft e a mãe olhou-o feio.

–Cuidado com a língua, meu menino.

–Eu não sou o seu menino – mas Mrs. Holmes já tinha saído da cozinha, com um prato cheio de batatas para Mr. Holmes descascar.

Athena voltou ao seu livro, mas não por muito tempo. Henry suspirava constantemente e apesar de Mycroft não proferir palavra alguma, a sua presença era falante e cheia de poder.

–Quem é ela? – perguntou Athena para Henry, elevando os olhos do seu livro.

–Ninguém.

–Oh, por favor, sou uma Holmes. Não me insultes.

Henry sorriu levemente. Um sorriso de lado e os seus olhos fugiram para um momento no passado.

–É a Danielle?

–Credo, não! – Henry enrugou a testa. – Ela é como uma irmã para mim.

Athena riu.

–Eu sei. Só quero que me digas quem ela é.

–Tu não gostarias de saber.

–Oh, céus, é mais velha.

–Não muito…

Athena suspirou e colocou o seu livro na mesa de apoio ao seu lado.

–Será que eu vou ter que utilizar tortura para te arrancar um nome?

–Lisa. O nome dela é Lisa.

–Lisa Smith? A baixinha de cabelos e olhos castanhos que anda na nossa aula de química? Bem, antiga aula de química, já que não vamos voltar para lá nunca mais.

–Sim, ela.

–Parece mais nova – comentou Athena.

–Não é. Ela tirou… dois anos de pausa das aulas.

–Corajosa. Eu já gosto dela – Athen piscou-lhe o olho, fazendo Henry descontrair-se imediatamente.

Sherlock entrou na sala, compenetrado no seu trabalho e dirigiu-se a Mycroft. Os dois irmãos falaram tão baixo que nem Athena nem Henry, que estavam praticamente ao lado deles os dois, conseguiram ouvir o que eles estavam a falar. Por fim, Sherlock virou-se, sorriu de lado para a filha e Henry e imediatamente o seu sorriso desapareceu e o seu corpo estagnou. Athena não gostava de ver o pai congelar daquela maneira: significava que algo de muito mau estava prestes a acontecer.

–Que livro é esse?

–The Casual Vacancy, de J.K. Rowling – respondeu Athena. – Porquê? O que tem ele?

–Quando é que o compraste? – Sherlock não dava particular atenção aos livros que Athena lia, desde que ela os lesse. O seu orçamento de filha era quase ilimitado no que tocava a livros.

–Cinco anos atrás. Porquê? O que se passa?

Sherlock não lhe respondeu, em vez disso, olhou para Mycroft, que desviou os olhos do seu computador para o fitar.

–São os livros – e de seguida, explodiu aos gritos. – Sim! Oh, estou a ficar velho, muito velho, preciso de pensar, pensar, pensar! – bateu na sua testa com a mão várias vezes, assustando Athena. – Os livros! São os livros!

E saiu disparado da sala, seguido de Mycroft.

–Que eram os livros, já eu sabia – murmurou Athena, olhando para o seu livro com atenção. – São os livros…

E para ela, “são os livros” também passaram a fazer sentido.

–Sim? Athena? – Henry tentou chamá-la à atenção, mas Athena estava compenetrada no seu raciocínio.

Não eram quaisquer livros. Não, a escolha não tinha sido aleatória. Todos eles tinham sido lidos por alguém. Por Athena.

Aqueles não eram livros quaisquer. Eram os seus livros.

©AnaTheresaC