Rosaceae escrita por Nina


Capítulo 8
Não use este vestido


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos leitores!
Então, eu disse que não iria escrever nada no fim de semana porque queria ter mais ideias, mas eu menti para vocês e para mim mesma. Eu acabei escrevendo dois capítulos! E eu vou postar os dois para vocês lerem.
Espero que gostem!



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Passaram-se várias semanas, praticamente um mês, sem que eu visse qualquer um dos irmãos, isso me fazia pensar cada vez mais sobre como sentia a falta deles e queria manter eles afastados de mim ao mesmo tempo.

Nesse tempo eu fiquei a maior parte do tempo com meu avô aprendendo tudo o que deveria saber para administrar as empresas da família, os modos como deveria me portar diante da sociedade nobre e como eu deveria pensar a partir do momento em que assumisse o ducado.

Como passei a maior parte de meu tempo sentada no escritório de casa, o remédio que Ian havia me dado fez o milagre de acelerar devastadoramente o processo de cicatrização. Isso queria dizer que iria tirar o gesso aquela tarde e depois só teria que fazer algumas sessões de fisioterapia para fortalecer os ossos e músculos que ficaram nesse meio tempo sem se moverem.

Haveria também outra festa para eu comparecer naquela noite, e eu teria que levar algum acompanhante. E quem era o felizardo? O meu belo e querido amigo médico. Não era como se eu pudesse convidar outra pessoa.

Will estava viajando pela Europa com a Companhia apresentando nosso dueto com uma dançarina nova chamada Lily. Jack não falava comigo desde o dia em que ele tinha ido jantar em minha casa. Peter eu havia falado algumas vezes, mas o clima ainda era estranho de mais. Só tinha sobrado o Ian.

O dia em que liguei para ele o convidando foi estranho. Ele ficou surpreso com a ligação e ainda tirou sarro da minha cara, mas não tinha problema. Ele iria a uma festa, iria beber, pegar alguma nobre e ficar feliz por algum tempo enquanto eu ficaria sorrindo para todos e cumprindo meu papel de herdeira.

As duas em ponto eu apareci no hospital e fui levada novamente a sala de Ian e lá estava ele com seu sorriso presunçoso. Ele tirou meu gesso e me disse quantas sessões de fisioterapia eu teria que fazer. Depois dessa conversa chata veio a que me interessava mais.

– Eu só terei que ir com você na festa, não é? Não terei que fingir ser nada seu. – Perguntou-me Ian.

– Sim. É só aparece lá comigo e se perguntarem diga que é meu amigo de infância.

– Por que mesmo você tem que levar alguém?

– Porque o convite especificava que eu deveria levar alguém. – Falei calmamente como se já tivesse falado isso um milhão de vezes para ele. – E meu avô e minha mãe não podem ir comigo. Então sobrou para você já que o Will está viajando.

– Eu odeio ir nessas festas. – Reclamou.

– Não é como se eu gostasse de ir também. E você é um nobre, deveria estar acostumado com isso.

– Você esqueceu que não participo da nobreza desde os 14 anos?

– Pare de reclamar. Vão haver vários rabos de saia para você correr atrás e muita bebida para tentar convencer alguma mulher a te beijar. – Revirei os olhos.

– Eu não preciso disso para convencer ninguém. – Protestou. – Eu só preciso do meu charme. – Então ele levantou sua sobrancelha e deu um sorriso.

– Pare, você me dá vontade de vomitar.

– Até parece. Eu sei que você tem uma queda por mim Rosie, não precisa fingir.

– Eu preferia furar meus olhos e queimar meu corpo a ficar com você. Só apenas apareça lá em casa as sete para me pegar e lá na festa suma da minha frente, tá legal?

– Ok, eu irei e não abrirei mais a minha boca.

– E tem mais uma coisa: o terno. Nada de muito chamativo ou espalhafatoso, por favor.

– Que seja.

Levantei da cadeira e me dirigi até a porta.

– Rosie, nada de salto hoje. Seu pé ainda não está tão forte quanto parece. – Disse Ian.

– Tudo bem, não é como seu eu gostasse de usar esse instrumento de tortura em meus pés. Até as sete Ian.

– Até.

Mal escutei ele falar e que já tinha fechado a porta e estava quase saltitando por ter tirado aquele peso de meu pé. Minha mãe me aguardava na sala de espera para voltarmos para casa.

Antes de irmos para casa, ela parou para fazer a coisa que ela mais gostava de fazer: compras. E não era qualquer tipo de compra, eram livros. Tudo bem, era um dos meus jeitos favoritos de gastar dinheiro também.

Paramos em minha livraria favorita e eu logo entrei e fui até o balcão falar com Thatia, a atendente. Quando ela me viu já começou a digitar em seu computador freneticamente.

– Olá Rosie. É a segunda vez que sua mãe aparece nessa semana. – Ela parou de digitar e me lançou um sorriso. – Acabaram de chegar quatro livros de ficção, dois de fantasia, um de romance policial e um de drama. E o livro que você encomendou também chegou.

– Ótimo, eu terminei de ler os que comprei semana passada. Pode embrulhar que eu vou levar todos. – Disse apoiada ao balcão.

– Todos? Mas são nove livros Rosie! – Ela me encarava divertida.

– É Thatia, mas semana passada eu vim e comprei oito e eu tinha acabado de ler todos na segunda. E hoje é sexta. – Olhei para minha mãe que vagava entre as estantes intermináveis de livros. – Eu vou pegar um café. Mostre a minha mãe qualquer romance novo e faça ela comprar.

– Claro, como sempre. – E ela voltou a digitar freneticamente no computador.

Eu amava aquela livraria por dois motivos: (1) por ser uma livraria e (2) por ter a melhor cafeteria do mundo. Pedi um cappuccino gelado com extra chantilly e raspas de chocolate para a nova atendente e em dois minutos estava pronto. Aquele era o melhor cappuccino do mundo.

Minha mãe ainda levou cerca de meia hora para escolher todos os livros que queria levar e acabou escolhendo dez deles e todos romances. Na hora de passar no caixa, Thatia nos perguntou se queríamos usar nossos pontos para levar os livros.

A livraria tinha esse sistema de pontos desde que eu me conheço por gente. Toda vez que você comprava algum produto e criava um cadastro na livraria você ia acumulando pontos. O lado bom de ir toda semana na livraria? Nós tínhamos muitos pontos para gastar.

– Use para os livros de Rosie. Os meus eu irei pagar. – Minha mãe disse. Eu tinha certeza que tínhamos pontos para comprar metade daquela livraria, mas minha família tinha um espírito de pagar as coisas. Se não pagássemos era como se estivéssemos roubando. Eu não sei explicar. Só sabia que isso garantiria mais pontos na livraria.

Peguei minha sacola com os livros e carreguei ela até o carro. Minha mãe carregou a sua em uma das mãos e em outra carregava um dos livros que acabara de comprar e começou a ler.

E era assim toda semana, mãe e filha andando no meio da rua com sacolas cheias de livros. Os guardas da rua nos cumprimentavam todas as vezes e pediam quando iriamos voltar. Minha mãe sempre respondia que em breve.

Depois que entramos no carro, levou cerca de quinze minutos para chegarmos em casa. Quando o carro parou, subi diretamente para o meu quarto e comecei a me arrumar. A mesma coisa sempre: banho, me secar, pedir ajuda para o Bob para achar alguma roupa, procurar os acessórios perfeitos, passar o mínimo de maquiagem, arrumar o cabelo e aguardar meu par chegar.

O vestido que Bob tinha escolhido era um tomara que caia longo que escondia meus pés, ou seja, as sapatilhas que eu estava usando. Ele era um degrade de cores, começando em preto na parte de cima e terminado em branco na saia.

Esperei por Ian na biblioteca e quando ele chegou apenas o cumprimentei e entrei em seu carro. Eu não estava muito animada para ir a festa, assim como em todas as outras festas que eu já havia ido aquele mês.

A festa era na casa dos Harcourt, ou seja, em uma mansão fora da cidade. A casa era realmente bonita e estava localizada em uma propriedade privilegiada, mas era muito dinheiro gasto em uma casa que eles só usavam uma noite por ano. Era a festa de aniversário de quinze anos de Monique Harcourt, a filha do Marques Harcourt.

O presente que eu estava levando para ela minha mãe havia comprado e eu não fazia ideia do que era. Deveria ser alguma joia cara que a garota iria guardar e nunca usar.

Dois guardas aguardavam ao lado das portas da casa e recolhiam os presentes e outro anunciava a chegada dos convidados. Quando foi nossa vez de entrar o guarda gritou nossos nomes.

– Ian Windsors e Rosemarry Lewen. – Gritou o guarda.

– Não sabia que seu nome era Rosemarry, sempre achei que fosse Rosie. – Sussurrou Ian.

– Não é como se eu gostasse desse nome. – Dou de ombros. - Prefiro Rosie, é mais fácil e mais bonitinho. Além do mais, é o jeito que meu pai me chamava antes de morrer, acho que é por isso que sempre foi Rosie.

Entramos no salão e logo nos separamos. Ian foi flertar com a primeira garota que viu e eu procurei a mesa mais escondida e longe das pessoas. Não que eu não gostasse de pessoas, eu só não gostava daquelas pessoas. Quanto eu menos aparecesse, melhor para mim e minha família.

Enquanto me dirigia para a mesa, alguém barrou meu caminho e começou a falar freneticamente como estava feliz com a minha chegada. Era o Marques Harcourt e sua esposa. Eles formavam um casal bonito e apaixonado. Dei um dos meus melhores sorrisos e agradeci pelo convite.

– Ah, querida, você está linda hoje! – Disse a Marquesa.

– Obrigada. A senhora também. – Disse. – E esta festa está fabulosa e mal começou. Sua filha deve estar muito feliz com tudo o que vocês fizeram por ela.

O Marques e a Marquesa trocaram olhares preocupados e depois voltaram a sorrir para mim. É, parecia que a filha deles não estava tão feliz assim com a festa.

– Nossa filha não gosta muito de festas e não ficou tão feliz com esta que fizemos para ela. Ela se recusa a aparecer. Mas esperamos que você aproveite a festa e não se preocupe com nada. – Disse o Marques.

Não me preocupar? Ele só podia estar brincando! Aquela era a festa da filha deles e ela se recusava a aparecer? Eu iria fazer ela mudar de ideia e ela iria aparecer sorrindo naquela festa, custe o que custasse.

– Desculpe, mas onde sua filha está? – Perguntei.

– Está no quarto. – Disse a Marquesa.

– Você poderia me levar até lá? Acho que consigo fazer ela aparecer na festa.

– Posso sim. Mas a nossa querida Monique não é tão receptiva com as pessoas. – A Marquesa parecia preocupada.

– Não se preocupe.

Ela assentiu e me levou pelas escadas intermináveis da mansão. O quarto de Monique era o último do corredor e sua porta estava aberta e um barulho saia por ela. Entrei em seu quarto e vi uma garota de cabelos negros e olhos azuis jogada na cama com a música ligada no volume mais alto possível.

Ela me fuzilou com o olhar e depois passou a me ignorar. Me aproximei de sua cama e sentei-me. Percebi que sua mãe havia sumido do quarto e fechado a porta. Que corajosa ela.

– Olá. – Murmurei.

– Quem é você? O que está fazendo aqui? Quem te mandou? – Ela voltou a me fuzilar. Ela ainda era tão jovem e inocente.

– Meu nome é Rosie Lewen e eu estou aqui para te parabenizar pelos seus quinze anos. Ninguém me mandou, vim de boa vontade. – Falei o mais suavemente que pude.

– Eu não vou ir para aquela festa, nunca em minha vida! – Ela começou a protestar e reclamar.

– Se você não quiser ir, tudo bem. Eu também não estava muito a fim de ficar lá em baixo com aquelas pessoas, portanto vim até aqui para ver se você poderia melhor essa festa para mim.

Ela me encarou durante um tempo duvidando do que eu disse, mas parte do que eu disse era verdade. Eu não queria estar lá em baixo.

– Tudo bem. – Convenceu-se por fim. – Meu nome é Monique. É um prazer te conhecer Rosie. E eu amei o colar que você me deu, ele é tão fofo.

Assenti mesmo sem saber que havia dado um colar para ela, muito menos que era fofo.

– Olhe, eu já estou com ele. – Ela puxou o colar de dentro de sua blusa e me mostrou. Era um colar de ouro com um pingente de gato. O olho do gato tinha uma mini pedrinha preta brilhante. Obrigada mãe por comprar a coisa certa.

– Que bom que gostou. Fico feliz. – Sorri para ela.

– Sabe o porquê de eu não querer ir nessa festa, mesmo ela sendo minha? – balancei a cabeça negativamente. – É porque tenho que me vestir e me portar como não quero! Eu odeio saltos, odeio maquiagem, odeio ter que sorrir para todos, odeio ter que ser legal. Eu queria apenas dançar e comer sem ter que dar satisfações a ninguém.

Eu entendia o que ela me dizia, era exatamente do jeito que eu me sentia. Éramos ambas prisioneiras da nobreza. Mas não era por isso que eu deixaria ela perder sua festa.

– Sabe, eu também não gosto de tudo isso o que você disse e nem por isso perco as festas. Eu ignoro as pessoas e não sorrio para ninguém que eu não queira. Eu sou eu mesma noventa e nove por cento do tempo.

– Noventa e nove por cento? – Ela me encarou.

– É que esse um por cento eu uso para enganar minha mãe.

Ela riu e concordou comigo. Vamos lá Rosie, falta pouco para você convencer essa garota a sair do quarto e aproveitar a festa.

– Acho que você deveria aproveitar a sua festa. – Disse.

– Mas eu não quero ter que me vestir como minha mãe mandou. Se eu pudesse escolher como ir, eu até iria.

– Não pode ser tão ruim assim a roupa que sua mãe escolheu.

– Ah, pode sim.

Então ela me mostrou a roupa que sua mãe havia escolhido. É, era horrível. Talvez fosse a roupa apropriada para um baile na Idade Média e se os nobres morassem em outro planeta. Aquilo parecia uma mistura de vários tecidos remendados de todas as cores e cheia de pedrinhas e babados. Não era legal para uma festa de quinze anos.

Mas eu não iria perder a esperança por causa de apenas um vestido. Levantei e fui até seu closet que estava cheio de vestidos maravilhosos. Procurei o que mais me agradava e levei até ela.

– Que tal você ir com este? – Mostrei o vestido a ela e seus olhos brilharam.

– Eu estava procurando esse vestido a meses! Eu não sabia que tinha deixado ele aqui. E ele é prefeito Rosie, obrigada. – Ela pegou o vestido e começou a tirar suas roupas e colocá-lo. – Eu comprei ele faz um tempo e nunca havia usado ele. Então ele é mais que perfeito. Mas nós temos um problema, o sapato. Eu não irei usar salto.

– Isso não é um problema. – Disse e levantei a saia de meu vestido mostrando minhas sapatilhas. – Eu também não estou de salto e eu sou mais velha que você. Não é como se usar salto fosse uma lei.

– Você tem quanto anos? – Me perguntou.

– Eu tenho dezoito. – Respondi.

– Você parece mais nova. Parece ser apenas um ano mais velha do que eu.

– Obrigada por me dizer que pareço uma criança, isso me motiva muito. – Ela riu novamente.

– Isso não é ruim. Quando você estiver com quarenta você ainda vai ter cara de trinta, pense positivo.

Ela pegou uma de suas sapatilhas e calçou. A saia de seu vestido também cobria seus pés, e com sorte seus pais não iriam surtar com a roupa que ela estava vestindo.

Eu falei que precisava ao menos pentear os cabelos antes de descer e encaram a nobreza inteira. Ela falou que eu poderia até prender seus cabelos e foi o que fiz, prendi seu cabelo em um coque e deixei que alguns fios ficassem fora para dar uma suavizada. Ela pegou um rímel e um gloss e passou em seus olhos e lábios.

– Acho que assim está bom. Obrigada pela ajuda e por me convencer a descer.

– Não foi nada. – Respondi. – Eu não poderia deixar a aniversariante perder a própria festa e todas as oportunidades de pegar um carinha gato hoje.

Ela levantou as sobrancelhas e sorriu.

– Rosie, eu estou indo para dançar e comemorar meu aniversário, não para sair beijando vários rapazes. – Ela passou as mãos no vestido. – Você pode entrar comigo? Eu não quero fazer isso sozinha.

– Se você prometer me segurar para eu não tropeçar, sim eu entro com você.

– Prometo. E também quero que você fique um tempo comigo na festa, só até eu me sentir bem. Você pode fazer isso? – Ela me olhou implorando.

– Claro, não é como se eu tivesse algo a mais para fazer. – Dou de ombros.

Saímos de seu quarto e fomos para o salão onde estava acontecendo a festa. Parecia que a festa realmente iria começar a melhorar e ser boa não apenas para os convidados, mas também para a aniversariante.

Tudo estava ocorrendo perfeitamente, a entrada seria anunciada em breve e logo estaríamos dentro do salão festejando. Tudo perfeito. Pena que a vida sempre dá um jeito de estragar a perfeição e a alegria. Quando eu estava ao lado de Megan para entrar no salão vi dois pares de olhos cintilantes me olhando. Os dois irmãos estavam na festa.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!
Saudações e até o próximo.
Marina



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