Rosaceae escrita por Nina


Capítulo 7
Corações congelados


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Então, eu não achei que esse é um dos melhores capítulos que já escrevi, mas não queria deixar vocês sem nada para ler.
Provavelmente eu não escreva nada no final de semana, eu preciso de um tempo para pensar e ter mais ideias.
Espero que gostem do capítulo!



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O almoço estava maravilhoso, como sempre. Quando meu avô falou do jantar as cozinheiras ficaram mais felizes do que qualquer criança que ganha um chocolate. Até parecia que iria haver uma grande festa ao anoitecer, mas não era verdade, era apenas o Jack.

Passei a maior parte da tarde em meu quarto sem fazer nada em especial. Os programas que passavam eram entediantes, as músicas já estavam enjoando de tanto serem tocadas e o silêncio era horrivelmente calmo.

O que eu poderia fazer para tentar passar meu tempo até o jantar? Poderia começar a me arrumar, já que agora tinha um peso de três quilos envolvendo meu pé. E foi o que decidi começar a fazer.

Decidi tomar banho primeiro, pois seria o que eu mais levaria tempo para fazer. Passei bons dez minutos procurando algo que envolvesse o gesso e não deixasse a água molha-lo. Quando achei, foi mais um tempo perdido tentando tirar as minhas roupas.

Fui para o banheiro e liguei a torneira para que enchesse a banheira enquanto procurava sais, óleos e todos os produtos possíveis para jogar na água que estavam guardados no armário próximo ao espelho.

Quando achei que a quantidade de água na banheira era suficiente, entrei nela deixando minha perna engessada apoiada na borda, assim fazendo ela ficar fora da água. Me lavei como se eu nunca tivesse tomado banho na vida e precisasse brilhar. Depois que terminei fiquei um bom tempo dentro da água quente até meus dedos estarem todos enrugados.

Me sequei com a maior paciência do mundo, tirei a proteção do gesso e coloquei meu roupão que estava pendurado em um dos ganchos na parede. Saí do banheiro e me joguei em minha cama. Meus cabelos começaram a molhar meu travesseiro então decidi secá-los.

Depois de secos, eu apenas chacoalhei os cabelos e deixei do jeito que ficou. Decidi então pintar as minhas unhas para matar o tempo. Péssima escolha. As unhas das mãos ficaram bonitinhas e certinhas, mas as do pé... Sem comentários. Apenas tirei o esmalte dos pés e fingi que nunca havia tentado pintá-los.

Faltava ainda uma hora até o horário do jantar. Minha missão agora: achar uma roupa. Eu poderia ter a ajuda do Bob, mas decidi procurar por mim mesma uma roupa, assim gastando mais tempo.

Logo achei minha blusa favorita, uma de mangas compridas branca com algumas listras vermelhas. Era ela que eu iria usar pois não estava frio para usar algum casaco, estava apenas fresco. Coloquei minhas peças intimas e vesti a blusa, faltava agora apenas a parte de baixo.

O problema é que eu não poderia vestir uma calça, as minhas eram muito coladas e nenhuma delas iria ficar em cima do gesso, muito menos iria cortar alguma delas. Teria que ser alguma saia ou shorts.

Procurei no armário e acabei achando um short jeans que por um milagre passou pelo gesso e entrou em minha perna. Puxei as mangas da blusa na altura dos cotovelos e fui até uma das gavetas que continha todas as joias. Peguei um colar com uma pedra transparente e algumas pulseiras do mesmo estilo.

Procurei em uma das portas onde sabia que havia os calçados até achar uma pantufa branca fofinha e coloquei em meu pé sem o gesso. E eu estava pronta para o jantar em minha casa e ainda faltava meia hora para o mesmo.

Meu celular vibrou e era uma mensagem de Jack.

“O que devo vestir?” Sua mensagem dizia.

“Não sei. Eu vou estar com uma blusa, um short (já que é a única coisa que entra em minha perna) e uma pantufa. Venha como se sentir melhor. Só não venha de terno, por favor.” Respondi.

“Ok. Obrigado.”

“Disponha.”

Saí de meu quarto e sentei em uma das poltronas da biblioteca. Por que eu não tinha passado meu tempo lendo? Teria sido bem mais produtivo. Peguei um dos livros que tinha em cima da mesinha em minha frente e comecei a folheá-lo. Eu já o tinha lido antes e a história não era muito interessante. Larguei ele onde encontrei e fui para a sala de jantar onde as coisas pareciam quase prontas.

Logo minha mãe apareceu com meu avô logo atrás. Faltavam dois minutos para as oito e era bom o Jack aparecer naquela casa ou eu iria mata-lo.

Exatamente as oito a campainha tocou e eu fui abrir a porta. Lá estava ele com seu sorriso presunçoso e o brilho em seus olhos. Ele estava com uma blusa cinza, calças e tênis pretos e os cabelos bagunçados. Deixei que ele entrasse e ele logo foi cumprimentando meus familiares.

Meu avô começou a fazer perguntas sobre a vida de Jack e eu fiquei escutando ali do lado, claro.

– Então você deve ser Jack Heck. – Disse meu avô.

– Sim, senhor. E você o Duque Lewen. É um prazer. – Murmurou Jack.

– Me chame de Harrison, não gosto da palavra duque substituindo meu nome. – Vovô sorriu. – O prazer é nosso de tê-lo aqui. Diga-me Jack, como conheceu minha neta?

– Conheci-a quando muito jovem, em uma festa de aniversário. Mas foi só a pouco tempo que nos aproximamos. Isso foi após a festa do Conde Filippus.

– Soube que você foi para a faculdade de medicina, mas que desistiu. – Como meu avô sabia daquilo? Nem eu sabia.

– É verdade. Eu percebi que não era aquilo que eu queria para mim. Então larguei o curso e agora estou cursando relações internacionais e direito para me tornar um diplomata.

– Isto é fantástico! Não sabia que se interessava por este tipo de coisa. – Nem eu vovô, nem eu.

– É melhor vocês virem comer ou a comida vai esfriar. – Gritou minha mãe da sala de jantar.

– Clair sendo delicada como sempre. – Vovô disse. Já tinha falado que esse era o nome de minha mãe? Não? Bom, esse é o nome dela. – Melhor irmos comer.

Fomos para a sala de jantar e tudo ocorreu como eu imaginei: vovô após descobrir o que Jack estava cursando começou a discutir com ele sobre a política do país e do mundo, sobre todas as crises e possíveis soluções. Eu como boa garota entediada comi em silêncio e retribuía os sorrisos de Jack. Acho que ele me encarava para fazer meu avô ficar quieto, mas eu não podia fazer isso. Quando o velho começava a falar ninguém conseguia pará-lo.

Como sempre a sobremesa estava maravilhosamente gostosa e eu quase chorei comendo ela. Eu não estou brincando. Eu mataria alguém por aquela sobremesa.

Quando Jack terminou de comer eu me levantei e avisei meu avô que iria rouba-lo durante um tempo e que iria mostrar a casa. Sorte minha que Harrison ainda estava comendo sua sobremesa e não teve tempo de protestar quando puxei Jack para fora da sala de jantar.

– Obrigado por me salvar só agora. – Reclamou Jack. – Eu não tinha mais argumento nenhum para apresentar ao seu avô.

– Não reclame. Se eu tivesse abrido a boca teria sido pior. – Continuei conduzindo ele para o único local que sabia que não seriamos incomodados. – Acredite em mim, eu conheço o Duque melhor do que ninguém.

– Aonde estamos indo? – Indagou ele.

– Para o único local onde não seremos incomodados, vulgo meu quarto.

– Você não acha que é meio cedo para isso. Olha você é uma garota bonita e legal, mas não posso satisfazer os seus desejos Rosie.

– Apenas cale a boca. – Revirei meus olhos e entrei na biblioteca.

– Achei que iriamos para o seu quarto, não uma biblioteca. A menos que você durma aqui.

Eu apenas ignorei ele e fui até a lareira e virei a cabeça do leopardo. A passagem se abriu assim como a boca de Jack.

– Surprise, bitch.

Puxei ele pela passagem e comecei a subir as escadas que davam para o meu quarto.

– Rosie, ainda bem que você não me deixou invadir sua casa. Eu nunca acharia seu quarto.

– Essa é a ideia da passagem. Ninguém nunca sabe onde é o quarto.

Entrei no meu quarto e finalmente larguei Jack. Ele parecia impressionado e fascinado, como seu o meu quarto fosse o melhor quarto do mundo ou que o sonho de sua vida tivesse se tornado realidade. Ele absorvia cada detalhe do quarto e guardava em sua mente.

– Para que serem as placas nas paredes e no teto? – Me perguntou.

– Você irá ver. – Sorri. – Qual seu lugar favorito no mundo?

– Meu local favorito? – Ele parou para pensar durante um tempo. – Acho que as Ilhas Maldivas.

– Bob, você poderia nos mostrar as Ilhas Maldivas?

“Claro Rosie”

Então as telas acenderam e Jack parecia ainda mais apaixonado pelo quarto do que eu fiquei quando vi pela primeira vez.

– Você tem o mundo inteiro no seu quarto, sem contar que seu quarto fala! Esse deve ser o melhor lugar do mundo.

– Eu não diria que é o melhor lugar do mundo, mas é um dos melhores. Sabe, fica meio chato quando o Bob começa a me contar que está apaixonado pelo abajur, mas tirando isso é divertido.

– Eu vou me mudar para o seu quarto e nunca mais sair daqui. – É, ele amou o quarto.

– Estou feliz que você tenha vindo. – Murmurei.

– Olha essa resolução. É maravilhosa! – E ele não estava me escutando.

– Sabe Jack, acho que vou ali me matar. Vou pegar uma das facas da cozinha e começar a cortar meus pulsos. – Ainda não estava me escutando. – Mas como eu te amo, matarei você antes para passarmos a eternidade juntos. – Ainda sem escutar. – Sabe, eu não aguanto mais. Jack, me beije e me faça a mulher mais feliz desse mundo. Eu quero sentir nossos corpos nus se tocando e quero me sentir uma só com você.

Ele me olhou perplexo. Finalmente eu havia conseguido sua atenção. Parece que só para algumas coisas ele prestava atenção ao que eu dizia.

Ele se começou a se aproximar cada vez mais até que nossos corpos estivessem colados um ao outro. Ele colocou suas mãos em minha cintura e juntou ainda mais nossos corpos, se isso era possível. Eu agora olhava para ele incrédula. Ele começou a aproximar nossos rostos e quando devia ter apenas poucos centímetros de nossas bocas se tocarem eu murmurei.

– Eu estava brincando.

– Eu sei, mas queria ver até que ponto você deixaria isso chegar. – Disse ele se afastando de mim.

Fiquei ali parada durante um tempo e percebi como meu coração estava acelerado. O que tinha sido aquilo? Com certeza não era essa a reação que eu esperava dele. O clima estava estranho e eu precisava dar um jeito nisso.

– Vou buscar algo para beber. – Disse a primeira coisa que veio em minha mente. – Você quer alguma coisa? Chá? Café? Água? Chocolate quente?

– Chocolate quente, por favor.

– Volto logo. – Olhei para ele uma última vez. Ele estava com a cabeça baixa e parecia pensar em algo. Girei meu corpo no sentido da escada e saí do quarto o mais rápido que o gesso permitia.

Cheguei na cozinha e comecei a preparar dois chocolates quentes. Procurei os ingredientes no armário e por sorte ainda tinha mini marshmallows. Enquanto a mistura esquentava me apoiei no balcão e parei para arrumar a confusão que estava na minha cabeça.

Eu havia dito aquilo. Mas nada era verdade. Ou parte era? Não. Não era. Não podia ser. E quando ele se aproximou eu não fiz nada! Por que não? Eu deveria tê-lo empurrado. Mas eu não o fiz. Qual era o meu problema?!?

Não rolou nada entre a gente. Foi isso. Nada. Foi apenas um teste, mas ele também ficou lá com a cabeça baixa. Ele também ficou chocado. Ambos fizemos isso. Eu só precisava esquecer que havia acontecido, só isso.

Mas eu não conseguia. Eu conseguia ver o fim daquela cena em minha cabeça. Eu conseguia imaginar ele me beijando e eu segurando seus cabelos. Eu conseguia imaginar, quase sentir, o seu cheiro e o seu toque. Eu podia sentir meu coração acelerando.

Mas não podia ser ele. Tinha que seu irmão. Era isso, seu irmão, eu o estava imaginando. Eu ainda estava mal por fazer aquilo com ele.

Peguei os marshmallows e coloquei sobre o chocolate quente e carreguei as canecas até meu quarto. Encontrei Jack sentado nas escadas que levavam ao quarto, ele estava com o cabeça entre as mãos. Apenas sentei ao seu lado e entreguei a caneca.

– O que foi aquilo? – Ele disse tão baixo que quase não escutei.

– Nada. Não foi nada. – Disse dando um gole no chocolate. Ele fez o mesmo.

– Isso está muito bom.

– Obrigada.

E veio o silêncio. As coisas estavam estranhas.

– Eu não acredito que você pulou da sacada. Deve ter mais que cinco metros, com certeza. – Disse ele quebrando o silêncio.

– É, deve.

Mais uma vez o silêncio. O que eu poderia fazer? Não era como se só eu pudesse esquecer o que tinha acontecido e seguir em frente. Ele tinha que fazer a parte dele.

– Olha, Rosie, eu não quero que as coisas fiquem estranhas entre nós. – Ele pegou e girou meu corpo para que ficasse a sua frente. Depois ele fez o mesmo. – Vamos apenas esquecer o que aconteceu aqui, tá legal?

– Tudo bem.

– Ótimo. – Ele suspirou.

– Não sabia de nada da sua vida antes desse jantar. Parece que até meu avô sabia mais do que eu.

– Não é como se isso fosse para ser segredo. Era apenas pesquisar que você iria saber tudo sobre a minha vida.

– Vou fazer isso da próxima vez. – Pisquei.

E então as coisas começaram a fluir mais normalmente. Fiz várias perguntas sobre ele e ele respondeu a todas pacientemente. Acabei descobrindo que sua cor favorita era verde, que sua comida favorita era pizza também, que ele tinha o sonho de ser astronauta quando pequeno, que ele tinha alergia a pana de pássaros e várias outas coisas.

Havíamos terminado nossos chocolates há muito tempo quando ele disse que precisava ir. Parte de mim queria que ele fosse logo para tentar assimilar tudo o que havia passado naquele dia, a outra queria abraça-lo e não deixar que ele fosse. A parte que venceu foi a do abraço. Não sei o que me deu, eu simplesmente cheguei mais perto dele e o abracei.

– Não vá, por favor. Eu sei que está tarde, mas para onde mais você iria? Você pode ficar aqui esta noite e amanhã você some novamente.

– Rosie...

– Por favor. Não é como se eu estivesse te pedindo para matar alguém. Só estou pedindo que fique.

– Você sabe que não posso ficar. – Ele disse seco e rápido.

– Por que não?

– Você sabe o porquê. Sabe o que aconteceu antes. Sabe o que pode acontecer. Rosie, eu sinto muito, mas eu não posso. Não hoje. – Ele se levantou e com gentileza me afastou para o lado. – Não me procure amanhã. Quando eu estiver com as ideias certas em minha cabeça eu te ligo.

– Jack. – Eu sussurrei.

– Não precisa me levar até a porta. Eu sei como chegar lá. Até outro dia Rosie.

E ele se foi, me deixando ali naquela escada sozinha e confusa com meus pensamentos. Ele partia com parte de meu coração nas mãos e eu ficava com a outra parte toda congelada.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!
Saudações e até o próximo.
Marina



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