Rosaceae escrita por Nina


Capítulo 6
Assassina de arbustos


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas lindas do meu coração. Mais um capítulo para vocês hoje, como prometido. Espero que gostem, e se gostarem me digam. Obrigada. De nada.
Enfim, é isso. Aproveitem a leitura! Vejo vocês nas notas finais.



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A manhã seguinte veio cheia de dor e histeria. Eu devia ter dormido menos de uma hora, pois acordei quando a governanta preparava o café. Quando ela passou pela sala eu murmurei um “oi” e ela começou a gritar. Talvez eu estivesse horrível, talvez cheia de folhas, talvez só tivesse assustado ela. Creio que as três coisas.

O gelo já tinha derretido e a água já estava morna dentro da compressa. Não disse à governanta sobre meu tornozelo, apenas aguardei meu avô acordar. Quando ele apareceu, parecia preocupado com alguma coisa. Quando me viu sua preocupação sumiu.

– Rosie, que prazer ver você aqui em baixo. Achei que ia ficar em seu quarto até que eu te arrastasse para fora. – Acho que era isso que ele iria fazer hoje, por isso sua cara de preocupação já que não estava em meu quarto.

– Eu até estaria trancada em meu quarto se eu pudesse andar.

– O que você quer dizer com isso?

Então eu mostrei meu pé ao meu avô. Ele estava todo inchado e vermelho, estava horrível. A preocupação voltou ao seu semblante e ele se aproximou de mim.

– O que você fez Rosie?

– Eu precisava tomar um ar, então resolvi sair de casa e ir até o jardim. E lá eu comecei a dançar e acabei tropeçando e caindo em cima do meu pé e do arbusto da mamãe. Então eu voltei para casa e deitei no sofá para esperar vocês acordarem.

– Rosie! Por que não veio nos acordar?! Seu pé está quebrado e pode ter piorado só com o fato de você andar.

Eu dei de ombros e impulsionei meu corpo para ficar sentada no sofá. Vovô ainda me observava e sua cara mostrava exatamente o que eu achei que mostraria: uma vontade enorme de me matar e de me abraçar.

Sorte minha que minha mãe ainda estava dormindo. Vovô me levou até o carro e depois nos encaminhamos para o hospital. Eu não reclamei de ser carregada até o hospital só de camisola, eu não ligava. A dor agora tirava todos os meus pensamentos, estava já implorando por uma dose de endorfina.

O hospital estava praticamente vazio neste horário, então levou poucos minutos para uma enfermeira me encaminhar até uma sala. Ela havia dito para aguardar que o médico logo iria aparecer, e quando ele apareceu eu fiquei feliz por ser quem era.

– Quanto tempo Ian.

– Rosie? Eu não acredito! – Então ele veio me abraçar.

Ian era um dos meus amigos de infância. Ele era o segundo filho do Conde Windsors, portanto poderia seguir a carreira que quisesse no futuro. E como filho de um nobre, poderia fazer a faculdade mais cedo e termina-la logo.

E foi isso o que ele havia feito. Quando tinha catorze anos ele fora enviado para umas das escolas de medicina mais famosas da Espanha. Desde aquela época eu não o via e olha ele estava muito bonito agora.

Seus olhos castanhos continuavam parecendo chocolate derretido, seus cabelos castanhos estavam curtos e arrumados em um topete e sua pele estava com uma tonalidade bronzeada estilo surfista. O que eu poderia dizer? Os hormônios fazem milagres.

– Você está tentando ajudar as pessoas ou arranjar uma esposa? – Comecei a rir dele.

– E você? Está com o tornozelo quebrado ou é só uma desculpa para pegar alguém?

– Como o médico é você, acho que meu tornozelo está quebrado.

– Quanta consideração. – Ele revirou os olhos. – Deixe-me dar uma olhada em seu pé.

Estiquei me pé inchado e horrível para que ele começasse a analisar o tamanho do estrago que eu havia feito. Passou-se alguns minutos e ele disse que precisava de um Raio-X. Fui encaminhada para outra sala e tirei o Raio-X. Voltei para a sala de Ian e aguardei enquanto ele estudava o que tinha em mãos. Depois veio até mim e passou alguns minutos colocando o gesso em mim.

– Rosie, você conseguiu quebrar o Tálus. Não acho que você tenha tropeçado como o Duque me cotou. O que realmente você fez?

– Eu pulei da sacada e cai em cima de um arbusto.

– Eu nem vou perguntar o porquê disto. Agora o que nós podemos fazer é aguardar alguns meses até que o osso se cicatrize.

– Alguns meses? Eu não tenho alguns meses para ficar com o gesso!

Na verdade eu tinha. O que eu iria fazer em alguns meses além de andar? Dançar não era uma das atividades mais. Mas eu odiava ter que ficar com o gesso. Da última vez que havia quebrado alguma parte do corpo, o gesso me incomodara tanto que eu arrancava ele todas as vezes que conseguia. Claro que eu voltava para o hospital para colocar outro.

– Não tem nada que você possa fazer para acelerar o processo? – Tinha que haver alguma coisa.

– Nós temos um remédio que acelera a cicatrização pois ele estimula as células. Mas ele ainda está em faze de testes.

– Receite ele para mim.

– Mas e os riscos? Pode ser que ele tarde a cicatrização.

– Não me importo.

– Rosie...

– Qual é o tempo médio de efeito do remédio?

– Seu efeito é de 24 horas no corpo. Por isso deve ser tomado todos os dias. Ele diminui os meses para algumas semanas. – Ele me encarou. – Tem certeza que quer usar este remédio?

– Tenho.

Ele começou a digitar algumas coisas no computador e em seguida um papel saiu da impressora. Ele o assinou e me entregou. Pronto, eu tinha a receita do remédio.

– Foi bom vê-lo novamente. Espero te encontrar novamente algum dia desses. – Disse.

– Nos veremos em breve, tenho certeza.

Eu e vovô saímos do hospital após a consulta, pegamos o remédio no laboratório de manipulação do hospital e depois paramos em umas das sorveterias que tinha no caminho de casa.

– Você vai querer de que sabor Rosie? – Vovô me perguntou quando sentamos em uma das mesas que tinha no local. Se eu ligava de estar de camisola no meio da rua com meu avô? Na verdade não, os outros que pensassem o que quisessem.

– De menta.

– De menta? Por que de menta?

– Porque este é o único que ainda não provei na sorveteria. Os outros eu já experimentei nas últimas vezes.

Ele assentiu e foi até o balcão fazer nossos pedidos. Dois minutos depois ele apareceu com os sorvetes.

– Agora você vai me contar a verdade de como quebrou seu pé ou vai esperar eu olhar nas câmeras?

– Vou te dizer a verdade, mas só se você não contar para a minha mãe.

– Prometo que não irei contar.

Era verdade, tudo o que eu havia pedido para ele nunca falar ele não tinha falado. Era por isso que ele era a pessoa que eu mais confiava no mundo.

– Na festa do Conde Filippus eu conheci um cara, o nome dele é Jack e ele foi muito misterioso. Então quando voltamos para Londres conheci o seu irmão, o Peter.

– Então ambos são da família Heck? – Indagou ele.

– Sim e são irmãos gêmeos.

– Eu me lembro deles quando eram crianças. Eles estiveram em uma de suas festas, mas depois disto acabei perdendo o contato com o pai deles. Só revi um membro de sua família quando Peter apareceu na porta de nossa casa.

– Continuando... Eu dei um fora no Peter e disse que não poderíamos nos envolver já que eu teria que me casar com alguém da nobreza. Parti o coração do coitado. Então Jack me mandou uma mensagem ontem de madrugada e disse que se eu não atendesse o telefone ele iria invadir nossa casa. Então eu atendi e ele me agradeceu por partir o coração de seu irmão. Ficamos conversando um tempo e eu resolvi que precisava vê-lo. Ele falou para encontra-lo no jardim. Como eu não queria acordar vocês eu decidi não abrir a passagem do meu quarto. E como eu iria sair do meu quarto? Pela sacada.

– Rosie, eu não acredito que você saiu pela sacada. Deixe-me adivinhar o resto: você pulou em cima do arbusto de sua mãe e quebrou seu pé. Muito inteligente de sua parte.

– Falando assim até parece que não foi uma boa ideia. – Resmunguei. – Tá, talvez não foi uma das ideias mais geniais que já tive, mas pelo menos te contei a verdade.

– É, pelo menos isto você fez.

Ficou um silêncio durante um tempo o qual eu aproveitei para terminar meu sorvete.

– Me diga, por que você foi falar com este garoto?

– Eu não sei. Eu só senti uma vontade enorme de vê-lo. E foi bom, eu esqueci durante um tempo como eu fui cruel com o irmão dele. Ele parece aqueles amigos de infância, sabe? Aqueles que você pode abraçar e chorar em seu ombro e contar tudo o que está sentindo. E ele vai escutar e depois rir da sua cara por ser tão idiota o seu problema e você começa a rir também porque percebe que é verdade. E então tudo fica bem.

– Então você não está apaixonada pelo irmão do cara que você deu um fora?

– Não. Eu acho que só achei um novo melhor amigo na nobreza.

– Você devia convidá-lo para jantar lá em casa. – Vovô propõe. – Se vale a pena pular da sacada para vê-lo, vale a pena fazer um jantar para ele.

– Quando você quer que eu o convide?

– Hoje mesmo. Quando chegarmos em casa ligue para ele e diga que não aceito um não como resposta.

Isso só podia ser loucura. Meu avô nem ao menos parecia bravo com o fato de eu ter quebrado o tornozelo por culpa de Jack. Ele não ligou para o fato de eu ter ficado mais de uma hora sem fazer nada, sem avisar ninguém. Ele até parecia feliz com a notícia de um amigo novo.

– Você está muito feliz para alguém que acabou de descobrir que a casa foi invadida por um cara e que sua neta ajudou ele.

– Rosie, estou feliz por você. Os únicos amigos que têm são o Will e a Hanna. Você me aparecer com um novo amigo, mesmo ele sendo o cara mais estranho do mundo, é motivo de comemoração.

– Se você diz... – Eu ainda não estava acreditando na facilidade das coisas. Eu deveria estar dormindo.

– O que você quer para o jantar? – Indaga vovô.

– Pizza?

– Não, pizza de novo não! Já comemos pizza três vezes essa semana.

– Mas é minha comida favorita! – Rebato.

– E a minha também, mas não aguento mais comer a mesma coisa. Pense em algo diferente.

– Que tal ceviche de salmão com shoyu? Faz um tempo que não comemos salmão. Você pode servir com algum vinho ou sei lá. A mamãe vai tomar suco, como sempre. E o Jack... – Parei para pensar. – Eu não sei se ele bebe. Creio que sim. Então ficou eu, você e o Jack tomando vinho, minha mãe tomando suco e Pingo bebendo sua água.

– Bela escolha Rosie. E de sobremesa?

– Sorvete? – Lancei um sorrisinho ao meu avô.

Eu só sabia pedir as minhas comidas favoritas: pizza, sorvete, brigadeiro, batata frita, entre outras. Todas comidas que deveriam me engordar mas não cumprem seu papel.

– Rosie... É sério, qual sobremesa?

– Eu pensei em strogonoff de nozes. A Dani, a melhor cozinheira da casa na minha humilde opinião, sabe fazer um que é maravilhoso. Garanto que até os deuses do Olimpo devem babar toda vez que ela faz.

– Parece que nosso cardápio está pronto. Só precisamos passar na adega pegar um dos meus vinhos favoritos e ir para casa arrumar tudo.

Concordei com ele e logo em seguida já estávamos nos dirigindo para a adega. Levamos menos de dez minutos para pegar o vinho já que meu avô vinha buscar sempre no mesmo lugar. Leonard, o dono da adega, logo pegou todos os vinhos que meu avô gostava e mostrou-lhe um que tinha acabado de chegar.

Era um vinho “muito especial” disse ele. Ele devia ter cerca de 200 anos e era absurdamente caro. Meu avô como ótimo degustador não se aguentou e gastou parte de sua fortuna no vinho.

O preço era tão absurdo que dava vontade de furar os olhos e chorar sangue. E ele havia comprado! Mas, bem, o dinheiro era dele, ele estava quase morrendo e ele podia fazer o que quisesse.

Quando estávamos saindo da loja, Leonard perguntou o porquê de eu estar usando camisola. Apenas dei de ombros e disse algo parecido com “não tive tempo de procurar uma roupa melhor”.

Quando chegamos em casa, minha mãe veio pedir explicações sobre o arbusto e meu avô disse a primeira versão da história que eu havia lhe contado ao amanhecer. Era por isso que eu amava ele, me acobertando até em meus assassinatos de arbustos.

Com isso não escutei mais reclamação nenhuma dela e sentei no sofá enquanto a governanta fazia o favor de buscar meu celular no quarto.

Procurei pelo contato de Jack no celular e lá estava “Jack (Anjo) O Irmão Mais Gato”. Cliquei no contato e ele atendeu ao terceiro toque.

– Olá rosa da noite, ou melhor, rosa do dia.

– Olá irmão que se acha mais gato.

– Eu disse que me ligasse quando precisasse, mas não imaginei que seria tão cedo assim. – Eu sentia seu tom de deboche. Por que mesmo eu tinha começado a ser amiga daquilo?

– Na verdade tenho uma intimação. Era para ser um convite, mas o Duque Lewen disse que não aceita um não como resposta. É para você vir hoje à noite jantar aqui em casa.

– Presumo que você tenha contado que estive ai.

– Você está certo.

– Rosie! – Ele parecia irritado. – Eu falei para não contar para ninguém!

– Desculpe, mas não consigo mentir para ele. É impossível! Mas só ele sabe, não se preocupe. Não é como se ele fosse sair contando para todo mundo.

Eu poderia até imaginar a cena. Ele deveria estar irritado comigo mas sabia que não poderia descontar a raiva dele pelo telefone. E ele não poderia dizer não ao convite, ele iria vir de qualquer jeito. Ele provavelmente deveria estar passando a mão nos cabelos agora.

– Ótimo. Que horas? – Parece que venci sua briga interna. Eu sempre venço.

– As oito. Aconselho você a não se atrasar nem um minuto, o Duque odeia atrasos. E você também deve vir com alguma roupa social e parecer perfeito.

– Você deve estar mentido, só pode.

– Estou. Mas sem atrasos. E nada de quebrar o pé de outras garotas pela rua.

– Isso é ciúmes?

– Não, está mais para dó mesmo. Coitada delas, imagine só ter que ficar com o gesso... Uma pena. Se bem que... – Automaticamente lembrei de Ian. – É, não quebre o pé de mais ninguém. O Ian, médico amigo meu, já é galinha o suficiente sem ter garotas com o pé quebrado todos os dias em sua sala.

– Falando em quebrar, como está seu pé?

– Tive que amputá-lo. E a culpa é sua Jack! Por isso que você deve vir ao jantar, para meu avô mata-lo. – Eu não aguentei e comecei a rir. – Estou bem. Não foi nada de mais, talvez daqui algumas semanas já tire o gesso. Agora chega de conversa, eu tenho que desligar e ir almoçar ou a nossa governanta vai fazer com que eu tenha outra parte do corpo quebrada. Vejo você depois.

– Até depois. – Ele disse e desligou.

Olhei novamente para a tela do celular e vi o seu contato. Comecei a rir. Talvez ele não fosse o irmão mais gato, mas com certeza era o que eu mais gostava.


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Notas finais do capítulo

NÃO ASSASSINEM ARBUSTOS, GAIA VAI VER ATRAS DE VOCÊS! SINTAM-SE AVISADOS.

Obrigada por ler!
Saudações e até o próximo.
Marina



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