Rosaceae escrita por Nina


Capítulo 15
Doce liberdade


Notas iniciais do capítulo

Ho Ho Ho, Feliz Natal leitores!
Meu presente para vocês neste natal é um capítulo, sim! EBA!!!!
Eu não sei se amanhã terá algum capítulo, pelo fato de ser Natal, mas não chorem, eu vou voltar para vocês.
Espero que gostem do capítulo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/570674/chapter/15

Acordei com uma dor de cabeça horrível. Jack ainda estava dormindo ao meu lado e eu procurei me mexer o menos possível para não acordá-lo. Ali estava ele, meu anjo salvador dormindo profundamente. Eu queria tocá-lo, agradecê-lo, abraça-lo.

Decidi tomar um banho e sai da cama tentando não acordá-lo. Sair da cama foi fácil, andar pelo quarto sem bater em nada foi impossível. Quando tinha quase chego na porta do banheiro eu esbarrei em uma das mesinhas e mordi meus lábios para não gritar e xingar de dor.

Olhei para ver se Jack havia acordado mas ele apenas se mexeu na cama e voltou a dormir. Entrei no banheiro, liguei o chuveiro, me despi e entrei em baixo da água quente.

Comecei a tirar a sujeira e o sangue da noite anterior. Eu esfreguei o máximo que podia minha pele, até ela ficar bem vermelha e começar a arder. Eu não queria nem o mínimo resquício de Marc em meu corpo. Meus cabelos eu lavei lentamente e massageei o couro cabeludo.

Quando terminei de me lavar, deliguei o chuveiro e me enrolei em uma toalha. Me sequei como consegui e depois comecei a observar meu copo. Eu estava cheio de hematomas arroxeados no dorso e nos braços que contrastavam com arranhões avermelhados e minha pele branca.

Eu não queria mais ver aquelas marcas, não queria me lembrar do que tinha acontecido, não queria sofrer de novo. Me enrolei novamente e quando abri a porta para sair do banheiro acabei batendo em Jack e ambos caímos no chão.

– Você está toda molhada! – Gritou Jack ao meu lado.

– Desculpa, eu tive que tomar banho! - Gritei de volta.

– Por que não foi tomar banho em seu banheiro?

– Porque este banheiro também é meu! Eu moro nessa casa. – Rebati.

Ele se levantou e depois estendeu a mão para me ajudar. Segurei a toalha com uma das mãos e com a outra segurei a mão de Jack.

– Não imaginei que veria você assim novamente. – Disse Jack com um sorrisinho presunçoso no rosto.

– Assim como?

– Se jogando em cima de mim quase sem roupa. – Ele sorriu de canto. – Eu realmente aprecio você nua e gostaria de não ter que pedir, mas você não quer vestir uma roupa?

– Por que? Minha nudez te incomoda? – Entrei em seu joguinho.

– Incomoda de um jeito que você não faz ideia. Eu gostaria de fazer muitas coisas com você neste momento, então por favor coloque alguma roupa antes que eu me descontrole. – Ele se apoiou na porta do banheiro. – Encontro você aqui daqui alguns minutos.

Ele entrou no banheiro e eu escutei que ele trancou a porta. Saí do quarto e fui até o meu com a apreensão de que Marc ainda estivesse lá. Para minha sorte ele não estava e o quarto parecia limpo e organizado mais uma vez. Me vesti o mais rápido que pude e saí daquele local.

Quando voltei para o quarto de Jack ele ainda estava dentro do banheiro e eu podia escutar o barulho do chuveiro. Sentei na cama e aguardei enquanto ele terminava seu banho.

Ele saiu do banheiro de cabeça baixa e mexendo em seus cabelos molhados. Sua camiseta estava pendurada sobre o ombro e ele estava descalço. Se eu já achava ele lindo só vendo seu rosto eu posso ter certeza que morri quando vi ele sem camisa.

Eu tentei disfarçar e comecei a enrolar meu cabelo com meu dedo. Ele pareceu não perceber o jeito que eu fiquei e se aproximou da cama colocando sua camiseta.

– Nós deveríamos descer e tomar café. – Disse.

– E depois disso irei tirar você desta casa durante uns dias. – Jack estava pensativo, ele tinha algo em mente. – Vou leva-la para a casa do lago. Você não pode mais se casar depois do que aconteceu.

– Eu nem sei se Marc está vivo para me casar com ele. - Murmurei. – Eu perfurei um dos pulmões dele com um caco de vidro.

– Você o que?

– Fiz ele se afogar em sangue. – Me encolhi. – Se ele morrer a culpa vai ser minha.

– Se ele morrer é porque merece isto. Ninguém morre na hora errada Rosie.

– Mas a culpa vai ser minha!

– Não, vai ser do vidro e do sangue. – Jack disse calmamente, quase soletrando as palavras. – E você nem ao menos sabe o que aconteceu a ele. Pode ser que ele esteja bem.

– Eu me odeio. – Digo e coloco minha cabeça entre as pernas. – Me odeio.

– Não se odeie, Rosie. Odeie o Marc pelo que ele te fez. – Senti a raiva de Jack em cada uma de suas palavras. – Odeie ele como eu o odeio.

– Eu não consigo odiá-lo. Eu tenho pena dele, medo dele e acima de tudo, eu tenho aversão a ele. Mas eu não o odeio.

– Como você não pode odiá-lo? – Sentia a raiva e frustração dele aumentando. – Ele te machucou, tentou coisas que eu nem consigo dizer, ele tocou em você, ele te desvalorizou. E com tudo isto ele me machucou, mais uma vez. Eu o odeio com todas as minhas forças.

– Talvez ele nem se lembre. Ele estava bêbado Jack, não é totalmente culpa dele. Talvez tenha sido a primeira vez que algo assim aconteceu. – Suspirei. – Nem por isso ele merece morrer.

– Não foi a primeira vez. – Jack sussurrou.

– O que? – Perguntei.

– Não foi a primeira vez. – Ele suspirou. – Você quer saber o porquê de eu ser expulso de casa? – Balancei a cabeça afirmativamente. – A alguns anos, o Marc voltou de uma das festas com seus amigos. Ele estava muito bêbado e ficava mandando eu e meu irmão fazermos coisas para ele. Eu me revoltei e falei que não iria fazer mais nada, ele concordou e falou para ir para o meu quarto. De noite ele apareceu no meu quarto e disse que eu iria pagar por tudo o que fazia. – Ele parou de falar e ficou olhando para o horizonte. Peguei sua mão e entrelacei nossos dedos. Apertei sua mão para fazer com que ele tentasse terminar de falar. – Então ele partiu para cima de mim e me bateu até o momento em que perdi a consciência. Meu pai acabou me salvando e dopou o Marc com algum tipo de remédio. Eu disse que nunca mais iria morar na mesma casa que o Marc, então meu pai inventou a história de que havia me expulsado. O problema é que o Marc não se lembra de nada.

Aquilo era horrível. Ser espancado por seu irmão deve ser uma experiência horrível, traumatizante. Ele tinha os seus motivos para odiar o irmão, e eu tinha também, mas não conseguia. Apoiei minha cabeça em seu ombro e apertei novamente sua mão que ainda estava entrelaçada com a minha. Ele apoiou a sua cabeça sobre a minha e apertou minha mão de volta.

Assim ficamos durante um tempo, um tentando passar forças e confiança ao outro. Tentando falar através se gestos que tudo ficaria bem, que estávamos ali um pelo outro, que a vida seguia e que o amanhã aguardava a incerteza de algo bom.

Eu sentia sua respiração quente em meus cabelos, sentia seu coração bater, seu corpo subir e descer a cada respiração. Sentia seu calor sendo emanado. Eu sentia ele como realmente um ser humano normal e amante, como uma pessoa cheia de desejos e sonhos, com sentimentos e esperanças. Como um futuro incerto.

Eu finalmente havia entendido o que eu sentia e o que eu queria. Eu tinha finalmente toda as minhas ideias organizadas. Eu só precisaria agora lutar por aquilo que me faria feliz.

Eu o queria, esta era a verdade. Eu finalmente havia entendido que queria o Jack em minha vida para muito mais que um simples “até que a morte nos separe”, eu o queria para sempre. A eternidade parecia um bom começo.

Eu queria agarrar essa ideia de futuro feliz com ele e carrega-la comigo até que se tornasse real. Eu precisava daquilo.

Queria ser uma só com ele, queria ser dele e ele ser meu. Queria tocá-lo. Queria ver todos os dias de manhã seu sorriso ao acordar, suas piadas ao decorrer do dia e o seu “eu te amo” ao anoitecer. Queria vê-lo no altar me esperando com um sorriso genuíno. Queria envelhecer ao seu lado vendo o tempo e o mundo mudar.

Mas o que eu mais queria naquele momento era beijá-lo. Era o que eu mais necessitava, eu precisava sentir seus lábios, o gosto de seus beijos.

Era engraçado como a vida era, ele já havia me dito várias vezes que me amava, já havia dormido ao meu lado, já havia me viso nua; seminua e com roupa, era meu melhor amigo e nunca tinha tentado me beijar. A única vez que quase havia acontecido, passamos um mês sem nos falar.

Mas eu queria que hoje fosse diferente, queria que ele me olhasse fundo nos olhos e aproximasse seus lábios dos meus. Desta vez eu não iria falar nada, não iria me mexer, não iria protestar. Eu apenas queria me perder em seus lábios.

Então eu voltei para a realidade. Estávamos apenas próximos. Aquilo não iria acontecer nem seu eu quisesse. Não era o momento certo, não era o local certo. Eu não iria estragar tudo, iria esconder essa minha sede por ele por mais um tempo.

– Acho que tempos que descer. – Sussurrei.

– Eu sei. – Ele sussurrou de volta. – Mas eu não quero.

– Eu também não. – Disse, mas me levantei da cama do mesmo jeito. Só não larguei sua mão.

Ele se levantou e continuou com sua mão entrelaçada a minha. E assim fomos até a cozinha, que não tinha ninguém além da governanta.

– Rosie, querida. – Ela gritou e veio correndo me abraçar. Ela começou a soluçar. As notícias corriam rápido mesmo. – Eu sinto tanto.

– Não é culpa sua. – Disse. – E já passou.

– Levaram ele para o hospital, mas acham que não vai sobreviver. – Ela disse entre os soluços. – Ele já estava quase morto quando Peter o achou. Havia tanto sangue em seu quarto, tantas coisas quebradas... – Ela voltou a chorar. – Ainda bem que o Jack apareceu, poderia ter sido pior.

Ficamos em silêncio durante um tempo.

– Isso quer dizer que não terei mais que me casar?

– Mas é claro que não! – Exclamou a governanta. – Seu avô já ligou cancelando tudo. Ele disse que passará o ducado para você de qualquer jeito, a sociedade aceitando ou não. Ele ficou chocado quando soube. Querida, ele não irá mais obrigar você a fazer nada que não queira.

Eu concordei e comecei a comer o que ela tinha preparado para mim. Aquele era o melhor café da manhã em anos, tinham todas as minhas comidas e bebidas favoritas.

– Eu e Jack vamos sair da cidade durante um tempo. – Disse após terminar de comer. – Nós partiremos logo, antes que voltem.

– Para onde vocês vão? – Perguntou a governanta.

– Ele disse que quer ir para a casa do lago, mas não quero estar em lugar nenhum em que o Marc já esteve. Então vou pegar a chave de nossa casa na praia e iremos para lá.

– Nós iremos para a praia? – Perguntou Jack.

– Sim, nós iremos. – Encarei ele.

– Melhor assim. – Ele disse e voltou a comer.

– Vou arrumar minhas coisas.

Subi até meu quarto e joguei uma das malas em cima da cama. Fui pegando todas as roupas que gostava e fui dobrando tudo e colocando dentro, arrumando tudo de um jeito que ainda sobresse espaço para levar meus livros.

Transferi Bob para o meu celular, não iria deixa-lo ali naquele quarto que eu passei a odiar. Tudo o que tinha de perfeito tinha acabado, eu precisava de um tempo para assimilar tudo o que tinha acontecido e esquecer.

Quando eu terminei e fechei a minha mala, arrastei ela escada abaixo e larguei ela na sala e me juntei a Jack e a governanta na cozinha.

– Onde você mora, precisamos passar lá pegar as suas coisas. – Disse a Jack.

– Não é muito longe daqui. Dá uns dez quarteirões.

Assenti e fui até o escritório de meu avô pegar a chave da casa e do meu carro favorito. Deixei um bilhete para que ele me ligasse assim que lesse aquilo. Jack me aguardava na sala ao lado de minha mala e carregou-a até o carro por mim.

– Você deveria dirigir. – Digo jogando as chaves para ele. – Não estou nem um pouco com vontade e você pode parar na sua casa mais facilmente.

– Tudo bem. – Disse ele entrando no carro.

Na hora que estava para entrar no carro, Pingo apareceu correndo e começou a latir freneticamente. Eu peguei ele no colo e voltei para dentro de casa para pegar um pacote de ração e sua caminha. Joguei tudo no porta-malas do carro e sentei no banco ao lado de Jack com Pingo no colo.

– Você vai leva-lo? – Jack me encarou.

– Vou. E ele não irá atrapalhar, ele vai acordar todas as manhãs e sumir da casa até o anoitecer. – Disse passando a mão nos pelos de Pingo que já estava adormecendo. – E eu não posso deixá-lo, eu sempre levo ele junto.

– Que seja.

Jack ligou o carro e começou a dirigir até sua casa. Ele desceu e levou alguns minutos para pegar tudo o que queria. Quando ele voltou ele apenas me pediu para onde tinha que ir e eu indiquei o caminho.

Aquele era o dia do começo de uma nova vida, uma vida livre de Marc, de casamentos, de deveres, de culpas e pêsames. Alguém finalmente tinha aberto a gaiola para o pássaro voar, as asas do pássaro estavam normais novamente, e agora ele poderia batê-las e voar livremente sentindo o ar e o mundo. Sentindo o gosto da liberdade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!
Saudações e até logo.
Boas festas!
Marina Noel



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rosaceae" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.