Rosaceae escrita por Nina


Capítulo 14
Noite de amor e sangue


Notas iniciais do capítulo

Hey!
Eu sei, é mancada da minha parte postar o capítulo faltando 5 minutos para acabar o dia. Mas é que fiquei meio ocupada hoje, então me desculpem.
E eu tenho uma notícia ruim: talvez amanhã não tenha capítulo porque vou viajar e não sei que horas chego :c
Então considerem esse capítulo como de hoje/amanhã.
Espero que gostem!



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Faltavam apenas dois dias para o casamento e eu estava com os nervos à flor da pele. Eu queria muito me casar com Marc e fazer meu avô morrer feliz, e eu queria fugir para qualquer parte do mundo e sumir para sempre, tudo ao mesmo tempo. Dizem que quando se está prestes a casar, a pessoa sente borboletas no estomago. Para mim isto era mentira, eu devia ter um furacão dentro do meu estomago.

O jantar com as famílias estava marcado para aquela noite e seria na minha casa, já que meu avô não poderia sair de casa por conta de sua saúde. Todos os membros da família deveriam comparecer, ou seja, teriam sete pessoas na mesa. Estariam presentes o Conde Heck e seus três filhos – Marc, Peter e Jack. -, minha mãe, meu avô e eu, claro.

Eu passei a tarde toda em meu quarto esperando pela chegada deles e me arrumando, o que não era mais tão difícil com a ajuda de Bob. Quando eles chegaram me dirigi até a sala de jantar e me sentei ao lado de Marc.

Todos pareciam interagir muito bem, conversas e risos eram escutados a todo momento e eu me sentia bem com isso. Mas algo estava faltando, algo bem simples: a química. Eu e Marc não conseguíamos manter uma conversa além de poucas frases. Eu desisti de falar com ele depois da primeira hora.

Eu observava como eles se sentiam tão à vontade e podia imaginar dali alguns anos quando fossemos realmente parte de uma família. O problema é que eu não me encaixava naquela mesa, naquela família que iria se formar, naquele universo perfeito.

Marc era o cara perfeito mas eu não era perfeita e não merecia ele, eu não merecia me enganar o resto da minha vida fingindo que poderia amá-lo, tudo seria uma grande mentira. Eu não queria estar dali alguns anos sentada naquela mesma mesa com meus filhos correndo pela casa e Marc ao meu lado conversando com seus irmãos. Eu não queria ter que conversar com as esposas dos gêmeos e fingir que tudo estava bem. Eu não queria fingir nada, eu queria que fosse verdadeiro.

Mas era impossível que o que eu quisesse fosse se tornar real em algum momento. Eu me tornaria um iceberg onde a parte que todos veem é apenas uma pequena porção do que eu realmente era. Eu seria desprovida de sentimentos, de emoção, de vida.

Nada adiantaria eu implorar para o casamento não acontecer. Nada adiantaria eu chorar ou ameaçar. Isto iria acontecer mais cedo ou mais tarde, era o que iria acontecer eu querendo ou não.

– Rosie? – Escutei alguém me chamando e sai de meu casulo de pensamentos.

– Sim? – Olhei pela mesa ainda procurando quem havia me chamado, mas todos pareciam entretidos na conversa com Marc. Talvez eu estivesse imaginando coisas.

– Você não parece muito feliz. – Olhei para minha frente e vi que Peter me encarava.

– Eu só estava pensando em algumas coisas. – Respondo.

– Pensando em como você será infeliz no futuro? Em como não quer se casar? Em como isto é a maior besteira do mundo? – Como ele sabia o que eu estava pensando? Estava tão na cara assim?

– Em parte, sim. – Suspirei. – Você consegue imaginar um futuro onde eu esteja sentada em alguma mesa com a sua família?

– Rosie, eu consigo imaginar vários futuros e em muitos deles você está, sendo apenas uma amiga ou casada com alguém da família. – Ele olhou para as pessoas sentadas à mesa e depois voltou a me encarar. – O futuro que eu imaginei que iria acontecer seria você casada com o Jack. Eu sempre achei que esta seria a verdade.

– Com o Jack? Por que com ele?

– Porque vocês são parecidos. Porque lá no fundo eu sei que gosta realmente dele, mas não quer deixar este sentimento se apossar de você. Porque ele nunca vai desistir de você. Porque ele te ama mais do que você possa imaginar. – Ele tomou um pouco de vinho que tinha em sua taça. – Rosie, o cara certo para você não está sentado ao seu lado.

– Mas o que eu posso fazer para mudar isso? Nada. – Olhei para a mesa para ter certeza de que ninguém estava prestando a atenção na minha conversa com Peter. – Eu gostaria muito que fosse qualquer pessoa no meu lugar. Eu queria apenas fugir desse país e nunca mais voltar.

– Então fuja, desapareça. Seja feliz Rosie. – Peter apoiou os cotovelos na mesa e se aproximou. – Você merece muito mais do que se casar com um cara que não vai te amar e ter o outro que te ama sempre lamentando pelos cantos de sua vida.

– E você Peter? Onde entra nessa história?

– Entro como seu novo melhor amigo. Eu posso me contentar só com sua amizade Rosie, eu não preciso do seu amor. Tem alguém especial no mundo esperando por mim e me procurando, assim como tinha alguém para o Jack. E ele te achou Rosie. Eu só preciso achar minha cara metade.

– Uma pena que o Jack me achou tarde demais. – Suspiro. – Espero que ache sua cara metade antes que ela esteja casando.

Peter queria dizer mais algo mas eu o ignorei. Não precisava de ninguém me dizendo o que eu poderia ter e sabia que seria impossível. Eu seria a esposa de Marc dali dois dias, não importava o que dissessem, eu teria que ser feliz ao lado dele, ou fingir que era.

Marc não era uma má pessoa, ele tinha os mesmos deveres que eu. Ele também estava preso a mim pela eternidade, mas isso parecia não incomodá-lo. Talvez ele pensasse que estivesse ganhando com o casamento. Ele teria uma esposa jovem que não poderia reclamar de nada.

Eu precisava parar de pensar nessas coisas, precisava desligar minha mente. Eu precisava aceitar de uma vez por todas que seria assim, ou eu cairia em um abismo de depressão e eu nunca mais iria conseguir ver a luz do sol de tão fundo que me encontrava.

Pedi licença a todos da mesa e disse que estava indisposta e precisava descansar. Subi até o meu quarto e lá deitei em minha cama para tentar dormir. O sono veio rápido e gradativamente fui me desligando do mundo, no fim acabei dormindo.

A noite podia ser igual as outras: normal. Sem sonhos. Sem incômodos. Mas aquela noite tinha tudo para não ser normal, tinha de tudo para dar errado.

Fui acordada por barulhos de passos na escada. Ninguém deveria entrar no meu quarto àquela hora, devia ser madrugada. O formato de um corpo de homem surgiu no meu campo de visão, mas não poderia ser meu avô que não estava subindo as escadas e nem Jack ou Peter já que não eram tão altos. Meu palpite era que era o Marc.

Soube que meu palpite estava certo quando ele se aproximou e eu senti seu bafo alcóolico e quente em meu rosto.

– Marc? O que você está fazendo aqui? – Passei as mãos nos olhos. – Você não deveria estar em casa?

– Estava muito tarde, então seu avô falou para ficarmos aqui. – Ele murmurou se aproximando. – E agora estamos sozinhos.

Ele foi se aproximando cada vez mais até que estava em minha cama a apenas alguns centímetros de mim.

– Você me deve uma por me fazer casar com você. – Disse ele passando a mão em meu rosto. – Você me deve e irá pagar começando por hoje.

– Do que você está falando? – Perguntei com meu coração disparado no peito.

– Você sabe do que eu estou falando Rosie, sabe muito bem. – Ele se colocou em cima de mim e me prendeu com suas pernas. Eu finalmente tinha entendido o que ele queria, mas não podia ser verdade, eu deveria estar dormindo. – Você até que é bonitinha.

Então ele começou a aproximar sua cabeça da minha. Aquilo não iria acontecer, não poderia. Ele estava bêbado, eu sentia o cheiro de álcool emanado dele. E eu estava totalmente indefesa presa embaixo dele. Me debati sem parar e ele conseguiu unir nossos lábios, eu tentava fugir mas ele acabou segurando minha cabeça para que eu não a movesse mais.

Eu não tinha outra opção, então quando ele abriu os lábios para continuar com o beijo eu mordi seus lábios o mais forte que podia. Um gosto horrível de sangue e metal veio para em minha boca. Marc se afastou gritando e colocou uma das mãos nos lábios que estavam sangrando.

– Sua idiota! – Gritou ele.

E com isso ele bateu na lateral de meu corpo me fazendo contorcer inteira. A dor foi lancinante e extremamente forte. Meus pensamentos começaram a embaçar e as lágrimas começaram a sair de meus olhos. Mas eu não me dei por vencida e saí debaixo de Marc e corri para a saída do quarto.

A porta estava fechada e eu teria que voltar para o quarto para conseguir abri-la.

– Não adianta tentar fugir. – Disse Marc. – Essa noite você será minha.

Ele apareceu na escada com um olhar maníaco e um sorriso perverso. Ele desceu as escadas lentamente e eu fui me encolhendo cada vez mais perto da porta. Eu comecei a bater na porta e pedir por socorro mesmo sabendo que ninguém iria escutar já que meu quarto era isolado de todos os outros.

Marc finalmente chegou perto o suficiente e eu me encolhi no chão, ele começou a rir e pegou meus cabelos e puxou, assim passei a encará-lo. A imagem de homem perfeito se desfez naquele momento. Marc era um monstro.

Ele me puxou pelo braço e me arrastou novamente até a cama em meu quarto. Eu gritava, esperneava, chorava. Nada adiantava. Ele me prendeu novamente embaixo de seu corpo e começou a tirar nossas roupas, e só parou quando ambos estávamos apenas com roupas íntimas.

Eu sentia suas mãos deslizando pelo meu corpo, eu sentia seus beijos em meu pescoço, sentia seu peso esmagando minhas costelas. Sentia coisas que nunca imaginei que iria sentir daquele jeito. Eu estava horrorizada.

Eu comecei a mexer minhas pernas até o momento que consegui acertar ele. Marc uivou de dor e saiu de cima de mim mas para o tempo suficiente apenas para me empurrar para cima de uma mesinha de vidro que tinha no quarto.

Eu caí de costas na mesa e o vidro se partiu no chão. Senti milhares de caquinhos perfurando minhas costas, mãos e braços. Minha cabeça estava latejando, eu deveria ter batido ela também na queda. Coloquei a mão na cabeça e quando voltei ela para ver ela estava cheia de sangue. Eu estava sangrando em quase toda extensão posterior de meu corpo.

Marc voltou a se aproximar e me lançou um sorriso ensanguentado. Peguei um dos cacos de vidro do chão e quando ele se aproximou o suficiente empurrei o caco o mais forte que podia na lateral de seu corpo.

O caco perfurou e entrou completamente dentro do corpo de Marc que caiu no chão e começou a respirar com dificuldade. O caco devia ter atingido um de seus pulmões em cheio e logo ele estaria se afogando em sangue.

Mas ele não desistiria tão facilmente e eu não tinha mais arma nenhuma nem forças para lutar contra ele. Quando ele me apertou em seus braços eu já havia desistido de lutar. Eu havia me conformado.

Éramos eu, ele, o sangue e nosso amor fajuto. O destino gostava de brincar com minha vida, gostava do sofrimento, gostava de dor e lágrimas.

Marc me jogou no chão e voltou a me beijar e passar a mão em meu corpo. Eu não me mexia, era apenas um cadáver. Meu corpo quente estava ali sem movimentos mas meu coração e minha alma haviam se quebrado. Ali estava eu sendo estuprada pelo meu noivo.

Quando não tinha mais nada que separasse nossos corpos, Marc parou e começou a me observar. Ele estava observando o seu prêmio. Um prêmio totalmente nu, acabado, com lágrimas escorrendo dos olhos.

Com o canto do olho percebi um pequeno movimento atrás de Marc e no segundo seguinte Marc estava caído desmaiado no chão ao meu lado. Eu me encolhi e comecei a soluçar.

Sentei e abracei minhas pernas e fiquei assim durante um bom tempo. Senti que alguém cobriu meu corpo com uma das cobertas da cama e depois sentou-se ao meu lado e me abraçou.

– Já passou. – Murmurou Jack em meu ouvido. – Você precisa se limpar e sair daqui o mais rápido possível.

Eu balancei a cabeça dizendo que não. Eu não queria sair dali, eu queria que aquilo não tivesse acontecido. Eu preferia estar morta. Jack percebeu que eu ainda estava em choque e me pegou no colo e me levou até o banheiro.

Ele me colocou sentada no balcão da pia e pegou uma toalha e molhou. Ele começou a limpar meus cortes cuidadosamente. Pude ver que seus olhos estavam vermelhos e eu via raiva neles. Mas não era raiva de mim, eu sentia seu amor em cada movimento, em cada respiração, em cada toque com a minha pele.

Ele mandou eu me virar e começou a limpar minhas costas e tirar os cacos de vidro de minha pele. Eu gemia a cada toque e quando o vidro saia, um alívio percorria meu corpo. Depois de terminar com minhas costas e braços ele disse que iria buscar alguma roupa para eu me vestir.

Eu comecei a limpar o sangue já seco de minha cabeça, mas desisti depois de um tempo. Eu precisaria de um banho para tirar todo aquele sangue de meu corpo.

Quando Jack voltou com minhas roupas, eu fechei a porta do banheiro e coloquei a roupa. Quando terminei abri novamente a porta e comecei a olhar-me no espelho. Eu parecia horrível. Meus olhos estavam arregalados, minha pele estava cheia de arranhões e marcas, meus cabelos estavam grudados e cheios de sangue seco. Jack ficou parado atrás de mim e esperou que eu terminasse de jogar água em meu rosto e escovasse meus dentes.

– Não lembrava que você tinha uma tatuagem. – Disse Jack tentando tocar em algum assunto que não o daquela noite.

– Fiz as duas tatuagens a mais ou menos duas semanas atrás no estúdio de um garoto que conheci na rua. – Murmurei.

– Um garoto? – Ele levantou uma das sobrancelhas.

– Sim. Ele estava cantando perto do café onde estava. Parei e conversei com ele e sua irmã. Depois fui até seu estúdio e fiz as tatuagens. No fim da tarde paramos para pichar um dos muros.

Ele pegou meu braço e olhou para a tatuagem e passou lentamente os dedos sobre ela. Depois olhou lentamente para as que eu tinha na clavícula.

– Gostei delas. Talvez um dia possamos ir lá juntos fazer uma. – Ele pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos. – Vamos.

Ele me levou para fora do banheiro, passou por meu quarto, as escadas e a biblioteca. Eu sabia exatamente onde ele estava me levando. Parei na frente do quarto de visitas onde ele estava e não me mexi. Eu não seria tão idiota pela segunda vez.

– Rosie? – Ele me encarou e viu o medo em meus olhos. – Eu não vou te machucar.

Eu assenti e entrei lentamente no quarto. Tudo estava organizado de mais, ele nem devia ter dormido lá. Sentei na cama e fiquei ali durante um tempo.

– Pode se deitar, eu vou ficar acordado no sofá perto de lareira e ler algo enquanto você dorme. – Disse Jack.

Eu não queria me deitar, eu não queria dormir sozinha e correr o risco de acordar com um maluco no meu lado.

– Jack? – Ele me olhou. – Você pode se deitar do meu lado, por favor? Eu não vou conseguir dormir e não tenho forças para ficar falando com você ai.

Ele se aproximou e deitou do meu lado. Fiquei olhando para ele e ele retribuía o olhar.

– Durma Rosie. – Sussurrou ele. – Eu estou aqui e sempre estarei.

O cansaço começou a me abater, meu corpo queria se desligar. Antes do adormecer a última coisa que vi foi Jack ainda me encarando com amor e pesar nos olhos. Quando estava para dormir escutei ele dizer um “eu te amo” que não pude responder, o sono já havia me levado.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!
Saudações e até logo.
Marina



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