Rosaceae escrita por Nina


Capítulo 10
Milagres não acontecem duas vezes


Notas iniciais do capítulo

Olá terráqueos!
Então, mais um capítulo para vocês. Sim! YAY!
Espero que vocês gostem.



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No caminho do hospital eu não sabia o que fazer, não sabia se chorava, se gritava ou se não fazia nada. Eu passei o tempo todo em silêncio e sem reação nenhuma. Jack estava me levando para o hospital onde Ian trabalhava, mas ele não estaria lá já que ele estava na festa.

Quando chegamos no hospital eu logo saí do carro e me dirigi a recepção. Lá, uma mulher com um sorriso exageradamente grande me atendeu e pediu qual era o problema.

– Eu vim visitar uma pessoa. – Disse.

– Quem é a pessoa, querida? – A mulher me perguntou.

– Harrison Lewen.

A mulher procurou nos registros do computador o nome de meu avô e logo chamou uma enfermeira para me acompanhar até o quarto em que ele estava. Passamos por intermináveis corredores brancos e escadas.

Ela me deixou na porta de um quarto e disse que ele estaria dormindo por conta dos sedativos que deram a ele. Eu apenas assenti e entrei no quarto. Lá estava ele, envolto de vários aparelhos que faziam barulhos estranhos, dormindo como se nada tivesse acontecido, como se ele estivesse apenas em casa e eu estivesse sonhando com tudo aquilo. Me aproximei de meu avô e segurei sua mão que estava gélida.

– Pronto vovô, eu já cheguei. – Murmurei mais para mim mesma do que para ele. – Você não vai se livrar de mim tão fácil.

Ele estava em um sono tão profundo que eu não tive coragem de fazer algum barulho e acordá-lo. Soltei sua mão e fui até a beirada da cama onde todos os seus exames estavam. Peguei eles e comecei a folha-los para ver se encontrava o que ele tinha.

O problema é que eu não entendia nada daqueles papéis, eles estavam cheios de gráficos e siglas que somente um médico poderia realmente saber lê-los. Devolvi os papéis onde os achei e fiquei mais um tempo olhando meu avô até que minha mãe entrou no quarto com um copo de café em mãos.

– Rosie, querida. – Ela veio me abraçar e eu pude ver seus olhas vermelhos e inchados. – Você está bem?

– Sim. – Respondi. – Ele vai ficar bem?

– Claro que vai. Ele só precisa ficar um tempo aqui no hospital. – Mamãe me lançou um sorriso mas eu sabia que ela estava tentando amenizar a situação. – Você deveria ir para casa e dormir. Amanhã você pode vir vê-lo. Eu irei ficar aqui com ele.

Eu não protestei nem concordei, apenas saí do quarto. Jack estava em uma das cadeiras do lado de fora e apenas me lançou um olhar triste. Eu me sentei ao seu lado e ali fiquei em silêncio durante um tempo.

– Como ele está? – Me perguntou.

– Eu não sei. Dizem que ele está bem mas eu nem ao menos sei o que ele tem. Pode ser algo realmente grave ou não. – Ele concordou.

– Eles apenas não querem te preocupar Rosie.

– Mas parece que não está dando certo, não é mesmo?

Ele suspirou e passou a me encarar. Depois de um tempo se levantou e foi até ao lado da porta do quarto onde tinha mais exames de meu avô. Ele começou a observá-los e então eu percebi o que ele estava fazendo: ele iria descobrir o que meu avô tinha. Ele tinha feito medicina, ele entenderia o que estava escrito. Me levantei e me juntei a ele.

– O que ele tem? – Perguntei depois de um tempo.

– Parece que ele teve um AVC hemorrágico. – Ele disse.

– E isso é ruim ou muito ruim?

– Não sei, depende de onde aconteceu o rompimento dos vasos no cérebro. Mas eu digo que isso não é bom, pode afetar suas funções cognitivas.

Ótimo, essa era uma das respostas que eu não queria mas precisava escutar. Eu só precisava descobrir se isto iria influenciar na doença que meu avô tinha. Seu tempo já era pouco e não poderia ser diminuído.

Voltei para a cadeira e ali fiquei sentada. Coloquei meus pés em cima da cadeira e afundei o rosto em minhas pernas. Senti a mão de Jack subindo e descendo em minhas costas. Ele estava tentando me consolar, mas ele não iria conseguir.

– Você deveria ir para casa. – Disse a Jack.

– Não vou deixa-la aqui sozinha.

– Minha mãe está aqui. Eu não estou só.

– Rosie, ela está aqui pelo seu avô. Você vai estar sozinha aqui. E eu não irei deixar isto acontecer, nem que eu tenha que passar o resto da noite sentado nesta cadeira.

Continuei sentada naquela posição mais alguns minutos e depois olhei para Jack que parecia perdido em seus próprios pensamentos.

– Vamos. – Disse ao me levantar.

– Onde?

– Para minha casa. Eu não conseguirei dormir mas pelo menos não irei atrapalhar ninguém. E meu avô só vai acordar de manhã, então podemos voltar depois.

Levamos pouco tempo para sair do hospital e chegar em minha casa. Jack entrou comigo e ficou sentando em silêncio no sofá. Eu fui até a biblioteca e peguei um dos livros que havia comprado para ler. Voltei para a sala e Jack estava bocejando.

– Você deveria dormir. – Digo. – Tem vários quartos aqui em casa, pode ficar com o meu se quiser.

– Eu prefiro não deixar você sozinha aqui.

Sentei ao seu lado e comecei a ler o livro. A história era interessante pelo menos, era sobre uma boneca de pano que ganhava vida e se apaixonava pelo seu dono. Jack ainda estava em silêncio e parecia que iria dormir a qualquer momento.

– Deite-se Jack e durma. Não quero dois zumbis amanhã vagando pela casa.

– O sofá não é grande o suficiente para nós dois.

– Apoie a cabeça em minhas pernas, então.

– Nas suas pernas? – Ele colocou toda a malicia que pode na pergunta.

– É, nas minhas pernas. – Revirei os olhos. – Apenas deite-se e cale a boca.

Ele apoiou a cabeça em minhas pernas e fechou os olhos. Logo tinha adormecido e parecia sonhar com algo bom pois seu rosto estava tão sereno. Passei a mão nos cabelos dele e murmurei um “obrigada” o mais baixo que podia.

Continuei a ler o livro e o seu final foi bem triste. O dono da boneca havia se apaixonado por ela, mas acabou morrendo no decorrer da história, e a boneca tentou seguir a sua vida sem o dono, mas não conseguiu. Então ele se atira no fogo e morre. Quando terminei o livro já tinha amanhecido e Jack já havia acordado.

– A quanto tempo você está acordado?

– Não sei. Talvez uma hora. – Ele respondeu.

– Uma hora? E por que não me avisou?!? Nós poderíamos já estar no hospital!

– É, poderíamos. Mas eu não queria estragar o seu momento com o livro. – Ele se espreguiçou e se sentou. – E eu não acredito que você leu umas quatrocentas páginas em menos de três horas. Eu vi, mas ainda não acredito.

– Pois passe a acreditar. – Me levantei. – Venha, vamos comer algo antes e depois voltar para o hospital. Isso se você quiser ir comigo ao hospital.

– Você deve estar brincando. É claro que eu vou.

Fomos até a cozinha e comemos o que achamos. Depois voltamos ao hospital e meu avô estava acordado. Entramos em seu quarto e esperamos pelo médico.

– Rosie, não se preocupe, o pior já passou. – Meu avô disse.

– Você não sabe se o pior já passou, pode ser que o pior esteja somente começando. – Retruquei.

O médico apareceu no quarto e todos automaticamente se viraram para conseguir alguma informação dele.

– Hã, eu não sei se poderia haver tanta gente em um quarto. – O médico disse. – Mas vamos abrir uma exceção.

– Quais são as notícias doutor? – Minha mãe perguntou.

– O AVC atingiu parte do encéfalo e danificou parte do cerebelo e do tronco encefálico. Também descobrimos um tumor em suas meninges. É um milagre que seu coração esteja ainda batendo.

– E com tudo isto você quer dizer o que? – Perguntei com apreensão.

– Que será outro milagre que com os tratamentos ele viva mais dois meses.

Ele disse aquilo como se fosse uma notícia normal como “o céu está com nuvens hoje”. Aquilo me atingiu de todas as formas possíveis, meu mundo estava desmoronando. Eu não sentia mais o meu corpo, ele parecia flutuar. Minha visão estava turva pela quantidade de lágrimas que saiam de meus olhos. Minha boca soltava soluços a cada intervalo de tempo que eu precisava respirar. Senti alguém segurar meu corpo e me abraçar, agradeci mentalmente pois tinha certeza que iria desmoronar e cair no chão em seguida.

O médico saiu do quarto e foi marcar uma exaustiva sessão de tratamentos e exames que meu avô deveria fazer a partir daquele momento. Minha mãe chorava em silêncio ao lado da cama de meu avô que parecia chocado e pensativo. Jack ainda estava me abraçando e eu ainda chorava.

– Só temos uma coisa a fazer antes de eu morrer. – Meu avô disse.

– E o que seria? – Perguntou minha mãe.

– Casar Rosie para que ela herde o ducado. Sem um marido ela não poderá fazer nada nesta sociedade machista. – As palavras saiam de sua boca como se fossem estudadas e programadas para serem ditas naquele momento.

– O senhor está morrendo e a única coisa que pensa é no ducado? – Gritei com ele. – Será que você não consegue pensar em outra coisa?

– E você quer que eu pense no que Rosie? Em como irei morrer? Em como estou definhando? Em meu velório? – Aquilo me atingiu. – Você não acha que temos coisas melhores para resolver?

– Eu só acho que você deveria se preocupar menos comigo e me futuro no momento. Até porque ele já está escolhido pelo senhor, não é mesmo? – Eu encarei ele e saí da sala batendo a porta o mais forte que podia.

Fui até a cafeteria dentro do hospital e peguei um copo de água e joguei açúcar dentro para ver se conseguia acalmar meus nervos. Meu avô não tinha o direito de pensar em minha vida e meu futuro naquele estado!

Ele queria que eu me casasse logo? Ótimo! Eu iria me casar com o primeiro nobre que aparecesse em minha frente. Eu iria sorrir no dia do meu casamento e faria meu avô morrer feliz pois fiz a sua vontade. Ele queria uma herdeira? Era uma herdeira que ele iria ter.

Tomei mais um copo de água com açúcar e fui para a recepção esperar por minha mãe para me levar para casa, já que meu avô não iria voltar tão cedo. Depois de alguns minutos Jack apareceu.

– Sua mãe disse para levá-la para casa para você se arrumar. – Ele disse.

– Me arrumar para quê? – Perguntei.

– Para conhecer o cara que seu avô escolheu para ser seu marido. – Ele olhou para baixo quando disse isto.

– E quem é o felizardo?

– Marc. – Ele carregou aquele nome com ódio. – Marc Heck.

– Você só pode estar brincando. – Soltei uma risada desanimada.

– Bem que eu queria. – Ele estendeu a mão para que eu a segurasse e depois me ajudou a levantar. – Vamos, você precisa estar impecável para conhecer o Marc e meu pai.

– Impecável?

– O Marc é um pouco exigente e minucioso. – Ele deu de ombros.

– Está querendo me dizer que o cara que escolheram para mim casar é um maníaco obcecado por perfeição?

– É por ai. – Jack suspirou. – De todos os caras que eu imaginei você casando, nunca vi Marc ao seu lado. Eu o odiava antes e agora odeio mais por me roubar uma das únicas pessoas que ainda importam no mundo.

– Não seja tão dramático. Eu ainda estou aqui, não estou? Não é como se eu fosse sumir por me casar com ele. – Ele não olhava diretamente para mim então virei seu rosto e fiz com que olhasse. – Ei. Você sabia disto, eu te avisei. Conforme-se. Você ainda me tem como uma boa amiga.

– Mas não era isto o que eu queria.

– Não é o que nenhum de nós queria, mas a vida segue Jack. E seu irmão não pode ser tão ruim.

Ele não disse nada, apenas ficou me olhando.

– Ele não pode ser tão ruim, não é mesmo? – Repeti.

Ele ignorou minha pergunta e eu via dó, tristeza e desespero em seus olhos. Ele podia odiar o irmão, mas isto não faria com que eu perdesse as minhas esperanças de um futuro promissor e belo.

– Apenas vamos, Marc deve estar ansioso para conhecer a mulher que passará o resto da vida com ele. – Ele disse me levando para fora do hospital, mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!
Saudações e até o próximo!
Marina



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