Por que fazer? (Em um hiato provavelmente longo) escrita por Giovanna Biondi


Capítulo 2
Capítulo 2 - Não tão secreto


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ;)



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Como eu imaginava, meu pescoço está roxo. Meu reflexo no espelho está horrível, o que significa que eu estou horrível. Acabei de tomar banho. Meu cabelo está molhado e meu corpo coberto por uma toalha amarela. Meu rosto está sem maquiagem. Nada preto. Odeio me olhar no espelho quando saio do chuveiro. Pareço normal, até olhar para meu corpo. Meus braços estão cobertos de cortes. Meu pescoço, roxo. Minha coxa esquerda tem um corte lateral. Um X esbranquiçado aparece no meu ombro direito. Fora a cicatriz gigantesca deitada na minha barriga, de um acidente há uns meses atrás... Aquela é a única marca que foi um acidente. Mas não quero falar sobre ela, OK?

Sequei meu cabelo com o secador e ele ficou como se eu tivesse feito chapinha. Vesti uma calça jeans preta larga que tinha dobrado nas pontas para servir, uma camiseta de manga comprida preta com um grande X vermelho e os mesmos tênis preto da AllStar. Para esconder o roxo no pescoço, enrolei um cachecol preto nele. Passei meu rímel preto e o lápis preto em volta de meus olhos. Nenhuma cicatriz.

Peguei minha mochila e saí de casa. A rua estava tão silenciosa como pode estar uma rua, ou seja, nada silenciosa. E novamente fui mandada para o lugar onde você passa a maior parte da sua vida que pode acabar a qualquer momento: a escola.

O sinal tocou e eu entrei na sala. Minha primeira aula é de História Egípcia. Como se isso fosse fazer alguma diferença em minha vida. Como sempre, sentei na ultima cadeira no canto esquerdo da sala, ao lado da janela. O professor entrou e todos abriram seus livros enquanto ele falava que Rá era muito importante para os egípcios. Porém um menino uma fileira ao meu lado e duas carteiras na minha frente escondia uma revista atrás do livro. Na folha que ele olhava tinha uma menina apenas com as roupas de baixo.

Engraçado como o mundo é. Os homens adoram ver uma menina quase pelada rebolando, e as pessoas acham que as meninas que fazem isso são incríveis. Mas se um gordo tirar a camisa e começar a balançar a barriga, as pessoas vão achar nojento. Mas, para essas pessoas, a bunda é gordura igual à barriga, a única diferença que as pessoas fazem suas necessidades pela bunda. Então, o certo seria as pessoas odiarem a bunda e não verem problema na barriga, porque a barriga é menos nojenta que a bunda. Mas as pessoas não ligam. Elas gostam do que a sociedade fala para elas gostarem. E o mundo continuará assim por um longo tempo.

Olhei pela janela. Lá fora chovia. Raios e trovões passavam pelo ar e faziam barulho. Se a vida me incomodasse no nível extremo, eu poderia subir no teto da escola e esperar um trovão me atravessar. Ou poderia quebrar o vidro da janela e cortar meus pulsos.

–Eliza, qual era o deus da sabedoria egípcio?

Olhei para o professor. Ele era algo e moreno. Usava uma calça caqui e uma camiseta verde escrito: QUEM LIBERTOU AS GALINHA?!? PÓ PÓ! Ele tem uma barba grande negra e é careca.

Todos na sala olhavam para mim.

–Então, Eliza?

Continuei quieta.

O professor olhou para o livro e ajeitou os óculos.

–Então, classe. O deus da sabedoria para os egípcio era Tot. E não, não era Atena. Atena é a deusa da sabedoria dos gregos... Não, para os Romanos é Minerva, não Atena... Não, eles não podiam colocar o mesmo nome!

E assim seguiu a aula. Como se eu nunca estivesse ali. Ás vezes imaginava como seria se um sequestrador na sala, com uma arma na mão, e mandasse todos deitar no chão. Aí puxasse a garota mais popular da sala, que no caso era Lindsey, e a raptasse. Depois que a polícia chegasse, será que as pessoas de sua turma se preocupariam com ela? Porque se me raptassem, tenho certeza que não se preocupariam. Mas as amizades entre os populares também não são firmes. Será que em casos como esse eles realmente se importariam? Ou a beleza e o tamanho das roupas já apagou a essência das pessoas?

***

Finalmente, Uma e meia.

O sinal tocou e todos se levantaram. Um grupinho se formou ao meu lado. Duas meninas e um menino. A conversa deles se baseava basicamente:

–Vai, Charlie. Você tem que vir hoje. Invadiremos a escola e picharemos as paredes! Será muito legal! –voz feminina.

–Não sei, Lindsey. Vou pensar. –voz masculina.

–Você vai pensar e a resposta será sim! –primeira voz feminina.

–É, Charlie. Você virá, porque você faz parte do nosso grupo! Se você não vier, não precisa mais falar com a gente.

–Ahnn... –A voz do menino continha medo. Claro, hoje em dia a única coisa que importa é se você está ou num em um grupo de populares. O menino estava em uma encruzilhada. De um lado o que ele queria ser, e do outro, oque tinha que ser pra ser considerado normal. –Eu vou.

A menina riu.

Peguei minha mochila e virei para sair. Mas ao virar, trombei com o garoto. Seus cabelos eram pretos lisos e seus olhos azuis me encaravam. Se ele não tivesse segurado meu pulso, eu teria trombado com ele e nós dois cairíamos. Se ele não tivesse segurado meu pulso... Ah não. Virei para olhar meu braço que ele segurava. A manga tinha caído e chegava quase aos cotovelos, revelando os cortes em meu braço. Ele também olhou para meu braço, e seu rosto mudou para susto e compreensão. Puxei meu braço e saí andando rapidamente.

***

Ao chegar em casa, ouvi meus pais gritando. Dessa vez os gritos vinham do quarto. Passei pela porta e entrei na sala. Meu irmão, Thomas, me encarava. Ele estava sentado na cadeira em que eu tentara me enforcar, que continuava no centro da sala.

–O que está fazendo? –perguntei.

–Só estou de vigia, sabe. Hoje ficarei aqui de olho em você. Para garantir que você esteja aqui amanhã.

Joguei minha mochila no sofá.

–Não precisa ser minha babá. Eu estou bem.

–Sabe, eu estava pensando. E se eu não tivesse ouvido o barulho da cadeira ontem? E se eu não tivesse ligado para o barulho da cadeira? Eu encontraria minha irmã enforcada no meio da sala, sabendo que eu estava aqui também e poderia ter ajudado. Eu teria perdido minha irmã! Eu teria perdido você!

Ás vezes eu acho que meu irmão se importa mais com o fato de ter uma irmã do que EU ser sua irmã.

Eu simplesmente fui para o meu quarto.


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Notas finais do capítulo

Critiquem, elogiem, sejam sinceros!
Espero que tenham gostado!
Obrigada por lerem!
Capítulo novo todo dia 14:30



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