Voltaram ao hotel vibrando pela vitória que tinham conseguido sobre aqueles Elementalistas. Rick e Sophie não cansavam de se exibir sobre seus movimentos e truques usados durante a batalha. Heal estava feliz, Shadow dava pulos no seu interior e dragões em seu peito urravam pela vitória obtida sobre aquelas duas. Mas apenas a batalha tinha sido ganha e não a guerra. E Shadow lembrou ele sobre isso, recebendo em troca a confirmação de seu Elementalista. A caminhada da praia até o hotel levou cerca de quinze minutos, os casais andando abraçados felizes, trocando alguns carinhos. Mas subitamente o Elementalista dos Espíritos sábia que ele tinha que resolver algo que ficou inacabado, um problema, uma pessoa conhecida como Gabrielle. Não poderiam ficar daquele jeito.

            - Quando a gente retornar ao Hotel, precisarei falar com a Gabrielle, tudo bem Nagisa? – apertando os braços ao redor dela, passando um sinal de confiança.

            - Sem problemas, eu sábia que essa hora de vocês conversarem ia chegar. E acho correto, antes resolverem isso aqui do que lá. – retribui o abraço na mesma intensidade.

            Ao chegarem no Hall do hotel, cada casal foi para seu quarto, Heal deixou Nagisa e foi em direção ao quarto de Gabrielle e Forest. Isso ia ser resolvido, e ia ser naquela mesma noite.

            Toc, toc, toc. Três batidas soarem leves e tranqüilas na porta de marfim. Podia ouvir passos do outro lado da porta, e quando menos esperou uma fresta se abriu, reconhecia o rosto daquela pessoa. Era Gabrielle.

            - Precisamos conversar. – falou o Elementalista prontamente.

            - Não temos nada para conversar. – respondeu sua antiga namorada.

            - Vamos Gabrielle, não sejamos infantis. Temos que resolver isso, sabemos que merecemos explicação um do outro.... – ele deu uma leve pausa e viu a cara pensativa da mesma. – Por favor? – resolveu insistir.

            - Okay, okay. Você ganhou, só vou trocar de roupa, pode me esperar na porta. Levarei cinco minutos.

            E assim a porta se fechou, ele podia ouvir Gabrielle explicando para Forest o porque iria sair, ouviu o mesmo dizer se ela gostaria que ele fosse junto, e a resposta veio curta e grossa “não”, Heal percebeu que o Elementalista da Terra não voltou a insistir na pergunta, sábia que eles tinham seus problemas do passado paraa resolver. Após quatro minutos que pareceram uma hora, à porta com um leve rangido se abriu e lá estava a Gabrielle que ele se apaixonou, com o sorriso magnífico que ela sábia dar e cativar qualquer um ao seu redor. A mesma percebendo a atitude do Elementalista deu um leve sorriso mordendo o lábio inferior dizendo:

            - Acorda? Terra chamando Heal! – e deu um leve tapinha no ombro do antigo amado.      

            - Desculpe-me, me perdi em pensamentos.

            - Pensamentos? – perguntou ela prontamente, virando-se e começando a andar pelo corredor.

            - É, lembranças.... – ela viu que ele abaixou a cabeça. Um sinal de tristeza.

         A caminhada até o terraço foi silenciosa e mortal por ambas as partes. Sabiam que hoje decidiriam várias coisas, desde amizade, ao companheirismo. O terraço estava bonito naquela noite, uma leve luz da Lua caía sobre as cadeiras e arbustos ali instalados. Nenhuma pessoa estava no lugar, eram só eles dois com apenas uma cúmplice, à Lua. Sentaram-se em um banco mais perto da borda do terraço, que era rodeado de um verde magnífico de arbustos ao redor e lajotas que contornavam os mesmos. Dando um ar de riqueza ao ambiente.

            - Então.... – começou Heal, mas logo foi interrompido.

            - Então que eu traí você, e você me traiu. – Ele sábia que tinha sido isso, mas vindo rápido dessa forma tinha lhe acertado o peito de uma forma que ele não esperava.

            - Quanto tempo.... Bem, você sabe. Quanto tempo ele e você estão juntos? – Perguntou Heal curioso.

            - Vai fazer dois meses. – respondeu ela.

            - E porque nunca me disse? Terminasse comigo, mas não ficasse sendo duas pessoas ao mesmo tempo.

            - E você não foi duas pessoas comigo também? – devolveu a pergunta na mesma intensidade.

            - Mas comigo só foi acontecer aqui! Eu não fiquei escondendo um fato durante quase dois meses. Isso não é nada legal.

            - Eu sei, mas aconteceu. E eu amava você, apenas gostava de ficar com ele. Não era nada sério, mas gostava de quando estava com ele. Porém, quando estava com você era algo totalmente diferente, era sentimento, era verdadeiro.

            - Se tudo isso era por mim, sabendo que moramos praticamente um ao lado do outro, porque tu não vinha até mim? – perguntou o Elementalista curioso.

            - Heal. Eu te machuquei. E eu tenho ódio de como eu fui com você, provavelmente você não vai me perdoar, não vai voltar mais aos meus braços. Então porque se machucar mais? Vamos apagar isso de nossas vidas, vamos ser amigos. Por mais que tivemos momentos como namorados, e sentimentos que foram muito bons para mim e até hoje Forest não conseguiu igualar...... – deu uma leve suspirada. – E provavelmente não vai ter alguém que vá conseguir igualar. – Lágrimas escorriam de sua face ao lembrar-se daqueles sentimentos que só o Elementalista proporcionava.

            - Eu também estou triste, por ter lhe traído. Por ter perdido você, uma menina linda com um sorriso que causa inveja a muitos. Mas.... – sentiu seu peito doer e lágrimas começaram a cruzar sua face também. – Perdoar os nossos atos é difícil nesse momento, eu sinto ódio, raiva da atitude que você e Forest cometeram contra mim, assim como você tem ódio de mim por ter ficado com a Nagisa.

            - É.... Eu sei que é difícil. Mas vou superar, um dia ainda acharei alguém que vá fazer meu coração bater rápido novamente.... Mas Heal?

            - Oi? – respondeu ele carinhosamente, fazendo o peito da Elementalista doer ainda mais.

            - Você realmente não pode me dar outra chance? Eu descarto o Forest, largo tudo, apenas serei sua, viverei mais da sua vida do que da minha.

            O Elementalista comovido levantou-se e foi até a frente de Gabrielle que agora estava debruçada sobre seus joelhos e arfando seu corpo por causa do choro. Ajoelhou-se perante a mesma, como um general da época medieval se ajoelhava perante a um rei ou uma rainha. Levou sua mão até a cabeça dela, fazendo assim ela olhar para ele com seus olhos marejados.

            - Gabrielle – ela sentiu o peito doer mais ainda, sábia a resposta que estava por vir e seria dolorida. Sua mão acariciava agora a bochecha direita do rosto da jovem. – Sabemos que cometemos erros um com o outro, meu sentimento por você ainda é muito forte, sabe que sempre fui apaixonado por sua pessoa. Mas você também sabe que agora eu estou com a Nagisa, e não quero traí-la, porque só eu o quanto dói saber que você foi traído por alguém que tu ama, realmente machuca. E eu não quero causar isso à ela, Nagisa realmente merece ser amada, é uma pessoa ótima. Se o Heal aqui ainda sente saudades de seus beijos? Sente sim. Eram ótimos, e você tem tudo para seguir em frente, eu ainda acredito que não somos donos do futuro, correto?

            - Sim, concordo.

            - Então vamos levar isso como pessoas corretas, e vamos tentar pelo menos no momento uma amizade?

Sentia suas lágrimas agora escorrerem aos prantos. Um lado dele queria abraças e beijar Gabrielle, sentia falta daquela menina, da sua companhia e dos seus beijos. Mas o outro fazia ele lembrar que quando voltasse ao quarto teria Nagisa esperando, aquela menina com traços asiáticos que o deixava louco por sua pessoa.

- Tentaremos. Mas posso lhe pedir uma coisa de despedida?

- Claro. – respondeu o Elementalista.

- Qualquer coisa? – perguntou Gabrielle.

- Qualquer coisa. – respondeu ele secando as lágrimas dos olhos dela.

- Me da um último beijo? – perguntou mordendo seu lábio inferior de um jeito provocador que só ela conseguia.

Heal se levantou e a puxou pela mão, enroscando seus braços na cintura da mesma. Um beijo não faria mal, seria de despedida, o momento que seria só deles para o resto de suas vidas, algo que se não fizesse agora, ele sábia que iria se arrepender mais tarde. Sentiu os dedos de Gabrielle acariciarem sua nuca. Um arrepio seguiu do topo de sua cabeça até as pontas dos pés. Ela mexia ainda com ele, sábia onde ele gostava que passasse a mão durante o beijo, ou o que fazer com a língua na hora do mesmo. Seus rostos foram se aproximando, respiração começaram a falhar, saudade, desejo, alegria por um estar nos braços do outro novamente. Beijaram-se como nunca antes, era um misto gigantesco de sentimentos, algo dentro deles brilhava, resplandecia, o amor deles seria eterno, ambos tinham certeza disso. Era algo único, onde nenhuma outra pessoa conseguiria tocar. E eles tinham a melhor testemunha disso, ali, olhando para eles, abençoando com uma luz divina que fazia aquele cenário o melhor de todos, a mãe Lua.

Se soltaram aos poucos e sorriram um para o outro. O beijo tinha sido divino para ambos, suas línguas tinham se misturado como nunca antes, dançavam uma com a outra de uma forma sensual e deliciosa. Mas sabiam que tinham que parar, eles tinham que voltar para seus parceiros. Ela o abraçou, petrificando aquele momento como uma escultura que foi feita pelas mãos de um grande artista e por anos depois as pessoas ainda passam e sabem dizer quem são aquelas pessoas ali esculpidas.

            Cada um seguiu seu caminho para o quarto, tristes, mas ao mesmo tempo felizes. Esconderiam uma memória deles para todo sempre, era algo deles e de ninguém mais. Sabiam dos sentimentos um do outro, mas infelizmente cada um tinha seguido um rumo diferente, tendo assim a oportunidade de serem felizes com outras pessoas. Mas nem tudo era alegria, Heal lembrava-se, daqui dois dias, a sua batalha teria início, melhor dizendo.

            - Daqui dois dias a batalha final irá começar. – disse para si mesmo enquanto abria a porta.

            - Um urra por HEAL! – A voz de Shadow gritou no seu interior.

            - URRA! – Ouviu um coro de Dragões vibrando por ele de dentro de si mesmo, o dando força, energia e vontade para lutar.