Liceu de Artes W.L escrita por Nandarazzi, RukeNoKokoro


Capítulo 8
1º TRIMESTRE - Capítulo 8: A Conspiração da Quinta-feira


Notas iniciais do capítulo

~ IMAGENS de REFERÊNCIA ~

— Planta arquitetônica do Liceu de Artes:
http://fc01.deviantart.net/fs70/f/2015/023/f/0/tzd14pa_by_nanaramos-d8f30yl.jpg

— Planta arquitetônica dos quartos: http://th04.deviantart.net/fs71/PRE/i/2015/023/4/7/quarto_liceu_by_nanaramos-d8f318n.jpg




~ GALERIA de PERSONAGENS ~

http://nanaramos.deviantart.com/gallery/52775462/Liceu-de-Artes-W-L



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Cedério Wolksford detestava ter que fugir de suas obrigações de professor. Que grande absurdo... Era sua quarta aula de Semiótica com aquela turma, e se via obrigado a interrompê-la para realizar uma votação entre os alunos! Ora, o que tinha ele a ver com aquilo? Sua matéria era demasiado complexa (além do mais, acreditava que mais da metade da turma ainda não entendia sequer do que se tratava), e teria que atrasar todo o seu conteúdo graças a esse infortúnio. Tentava acalmar-se, pois era um homem adulto e muito seguro de si, que não precisava mostrar-se acometido por pequenas coisas... Inabalável, impenetrável, como uma muralha.

Tão frio, e tão elevado quanto. Sua postura severa, contrastando com seus traços delicados e atraentes para um homem de sua idade, alimentava o imaginário estudantil e fazia os comentários circularem pelas salas e corredores do Liceu de Artes, sempre carregados de um ar misterioso, quase folclórico. Naquele final de tarde, quando o silêncio sepulcral dominava a turma 1-A, o professor procurou aguçar sua audição para caçar tais comentários: sussurros rasteiros e ágeis, tal quais calangos medrosos correndo pela mata densa.

– Esse professor me dá calafrios! – disse Romã, para o grupo de amigos.

– Esse ar de superioridade dele me dá nojo... – comentou Saulo.

– Sssshh! Falem baixo! Ele pode ouvir vocês! – Pacheco, sempre assustado, pediu que parassem, mesmo que estivessem à considerável distância do mestre.

– É! Ele fica só de olho em quem fica conversando em sala de aula – outro aluno entrou na conversa – e quando vê alguém falando demais, escreve alguma coisa num caderninho, depois...

– Eu até que acho ele bonito... – Daniel deu seu ponto de vista, de maneira dúbia o bastante para soar tanto quanto um comentário sincero, quanto uma brincadeira maliciosa. Sentiu o olhar incrédulo dos colegas caindo sobre ele, enquanto mantinha-se concentrado em sua ficha de votação.

O tom de voz de Daniel havia se tornado muito distinto, de maneira que Cedério captara uma partícula do seu diálogo. Não entendeu o que Daniel dissera, no entanto – mas o professor agora estava atento às vozes oriundas daquela direção da sala. Percebendo o olhar sério em sua direção, o grupo calou-se subitamente, deixando os alunos a meditar sobre o comentário do jovem do campo.

Homossexualidade era um assunto delicado, apesar de amplamente discutido entre os alunos do Liceu. Afinal, não importava a maneira com que cada um encarava a experiência de estudar num internato (fosse como um período de alegria e empolgação, ou uma longa e interminável forma de tortura), pois no fundo, a vida ali muito se assimilava à um confinamento: as regras, os horários rígidos, as privações sociais e o isolamento da vida em comunidade... Não é à toa que esse tipo de instituição é, por diversas vezes, comparada à prisões ou conventos. E assim como nesses lugares, existe a demanda por uma satisfação dos desejos mais carnais... A diferença é que os alunos eram protegidos pela lei, e não viviam em celibato.

Assim como na prisão, muitos não são gays, mas “estão” gays. Bissexualidade era amplamente aceita e lidada com naturalidade entre os alunos, que compreendiam que rapazes tinham desejos fortes, e precisavam saciar tais desejos com mais frequência do que as moças. Mas assim como no convento, havia uma atmosfera repressora e patriarcal muito forte, oriunda do corpo docente conservador e da mentalidade machista dos alunos, pois aqueles que eram verdadeiramente homossexuais ou se apaixonavam uns pelos outros, sofriam doloroso preconceito sob os muros do Liceu de Artes.

Era um contraste degradante... É como se fosse permitido satisfazerem-se uns dos outros como se satisfaz-se de pobres prostitutas – mas fosse proibido e errado se relacionarem amorosamente e nutrirem sentimentos mais nobres por um (ou mais) parceiros. Tamanha hipocrisia já foi tema de debates e atritos entre muitos alunos, muitas vezes até servindo de inspiração para o motor criativo dos artistas que ali cresciam... A questão é que passava ano, entrava ano, e o problema permanecia sem solução. Vez ou outra era abordado por alguns professores mais aventureiros, a aproveitar o embalo do estímulo progressista que a escola havia adquirido nos últimos anos, para conscientizar seus alunos e diminuir o preconceito com informação didática – mas algumas “relíquias do passado glorioso” do Liceu de Artes Wallace Limeira não abordavam, até preferiam desviar, temas perniciosos como este em sala de aula.

Um deles era Cedério Wolksford. O relacionamento com seu alunos era estritamente educacional, e em nada lhes interessava suas vidas pessoais. Nada disso o impedia, no entanto, de apreciar a beleza de algumas daquelas cabecinhas pensantes... Afinal, ainda era um homem jovem e viril, orgulhoso de sua posição de mestre na maior escola de artes daquela parte do mundo – e disposto a usar isso em seu favor quando tivesse interesse em um dos seus alunos. O que o impediria de também saciar-se daqueles rapazes corados, cheios de vida e de apetite sexual? Sorte deles que nenhum havia lhe chamado a atenção, ainda... Mas seu olhar carregado de desejo certamente ajudou a alimentar as histórias pueris acerca da sua aura enigmática, e passado desconhecido.

O badalar do sino a anunciar a chegada do meio-dia despertara o professor dos seus devaneios. Havia chegado a hora de recolher as cédulas de votação e realizar a contagem. Auxiliado por dois alunos, o mestre contou os votos um a um – e sabendo que os ânimos estávamos elevados, não impediu que cochichos circulassem entre as carteiras e que ideias fossem trocadas. Daniel sentia as mãos suadas, o rosto ardendo e não conseguia parar de piscar... O jovem do campo era transparente como um vaso de cristal, e suas emoções eram evidentes e à flor da pele.

Terminada a contagem, o professor prepara-se para anunciar o representante de classe eleito pela turma 1-A. Diferente dos demais alunos, os dois concorrentes estavam suando frio e engolindo seco. O nome que Cedério Wolksford anunciaria aquela tarde definiria o rumo do crescimento, e o relacionamento entre os alunos daquela turma durante todo o curso: entre a atmosfera de respeito e igualdade entre os alunos, ou cada um com seus privilégios e sua posição conquistada socialmente.

– Daniel Cunha – o professor disse mecanicamente – Você é o novo representante de classe. Meus parabéns.

– - - - -

Era quinta-feira. E como toda terça e quinta-feira, alguns clubes realizavam atividades comunitárias abertas para outros alunos, como o sarau do Clube de Literatura, e a sessão de filmes do Clube do Cinema. E toda quinta-feira, às seis da tarde, um lanche era realizado pelo Clube de Culinária para todos que estivessem dispostos à provar de quitutes gostosos preparados com carinho e dedicação, e a ampliar o paladar para as descobertas sensoriais dos pratos gourmet... Ou até mesmo, servir de cobaia para os estudantes que pretendiam se formar em gastronomia.

Mas aquele era um dia especial. Naquela tarde de quinta-feira, os calouros Daniel e Leonardo tinham muito o que comemorar: afinal, haviam sido eleitos como representantes de classe de suas turmas, e agora fariam parte do tão almejado Conselho Estudantil! Logo na entrada do salão, haviam se cumprimentado mutuamente, felizes pelas conquistas um do outro. Prometeram formar uma aliança para que as duas turmas crescessem juntas, e defendessem suas posições no conselho participando ferrenhamente das pautas erguidas.

A empolgação não se estendia apenas aos degustadores. William, amigo de Sariel e Daisuke, aguardava com seus colegas no buffet, ainda trajando seus aventais brancos. Em seu íntimo, sabia que eles teriam sucesso em sua empreitada, e haveriam muito o que celebrar naquela tarde – e caso contrário, sua refeição preparada com esmero abrandaria a dor em seus corações. Era mais do que seu dever, como presidente do Clube de Culinária, saber que um dos princípios desta arte é abrandar a alma com as experiências sensoriais paliativas.

– Cheguei, pessoal! Cadê os aplausos? – Daisuke, como sempre, era o que mais animava e fazia barulho do grupo, contagiando a todos com sua energia positiva. William veio servir o grupo pessoalmente, visto que lhes tinha muito apreço – Pode esquentar a frigideira, gato, que hoje a festa é pro boy magia aqui!

– Então você é o Daniel? – Willian o cumprimentou cordialmente, apertando sua mão e equilibrando a bandeja de drinks com a outra – Muito prazer, me chamo William! Ouvi falar muito bem de você pelo Sariel e pelo Cairo...

– Muito prazer, William – cumprimentou o outro – O buffet parece ótimo! Vou querer provar de tudo! – riram gostoso. William achou Daniel muito agradável... Tinha uma sensibilidade para notar a índole e as intenções das pessoas.

– Oba, ainda bem que hoje tem coquetel! – Olivier já tinha uma taça de gimlet em mãos – Daqui pra frente, só caipirinha ou cuba livre!

– Espera... Acho que eu me lembro – comentou Carlos, o grandão, coçando o queixo e esforçando-se para resgatar uma memória perdida nos fundos da cuca – Ah, sim! Olha, Olivier, se você ficar bêbado e tentar fazer outro “coquetel molotov” pra impressionar seus paqueras, é melhor me passar o isqueiro logo, pra não acontecer um desastre como da última vez!

– Eram “drinks flamejantes”, viu? E eles gostaram bastante!

– Suspenderam os coquetéis por quase um mês depois disso, Don Juan! – comentou Daisuke.

“Esses são meus amigos”, Daniel concluiu para si mesmo. Estava feliz com as amizades que havia conquistado no Liceu de Artes, e que ainda estaria por conquistar! No entanto, a maior delas parecia estar se transformando, tornando-se algo novo e diferente de tudo que já havia vivido antes... Apesar de achar graça na conversa dos seus amigos, Daniel sentiu-se distante do grupo no momento em que a mão de Sariel tocara a sua. Era como se os dois agora estivessem em seu mundinho particular.

– Falei que você ia conseguir – Sariel disse para Daniel – Nunca duvidei de você, em nenhum momento.

– Eu sei disso... Obrigado, Sariel, por todo o seu apoio – Daniel respondeu com sinceridade, e com o sorriso mais bonito que o veterano rebelde havia o visto dar.

– Você está radiante hoje... Merece tudo isso, e muito mais – Sariel sussurrou em seu ouvido, fazendo com que o jovem se arrepiasse todo – Mas não se iluda: você não está sendo visto com bons olhos por todos. Pode ter certeza que vão tentar derrubá-lo, ou fazê-lo desistir.

– Quem você acha que seria capaz disso? – a conversa havia tomado um rumo diferente, entre sussurros e olhares furtivos – O Sérgio? – Daniel perguntou incrédulo. Não considerava mais seu oponente como uma ameaça, após tão vergonhosa derrota.

– Não... Mas seus aliados, talvez. Não sei a extensão da sede de poder desse Sérgio, mas em nada me agrada com quem ele se envolve... Esteja alerta.

– Você se preocupa demais... – e alisou os cabelos curtos e pretinhos de Sariel, tirando-os de sua testa para vislumbrar seus olhos – Aliás, se fossem assim tão “poderosos”, você já nem seria mais representante de classe... Pois mesmo não comparecendo as reuniões do conselho, você não abriu mão do cargo.

– E entregar um banco pra esses caras assim, de graça? No way... – e riram juntos – Mas eu pretendo me modificar. Este ano, estou mais disposto.

Estavam tão próximos que podiam sentir a respiração um do outro. Seus lábios, sussurrando palavras carregadas de sentimentos, praticamente roçavam-se, implorando pelo toque tenro de um beijo...

– É mesmo?... – Daniel provocou-o.

– Os calouros me trouxeram esperança, coragem. E ao seu lado, Daniel, eu me sinto duas vezes mais homem...

Fecharam seus olhos, almejando o sonho bom que era um beijo a tanto ansiado. O coração de Daniel batia forte, pois pela primeira vez, beijava outro homem pelo qual estava apaixonado. Tocou na mão do seu parceiro e entregou-se aos beijos sem o menor pudor, sem a menor vergonha de demonstrar, em público, todo seu afeto por aquele rapaz que tanto o cativara... Estava se lixando para a opinião alheia. O futuro? Não se sabia, e pouco importava se seriam amante fogosos ou selariam um compromisso sério. Não importava o que passou ou o que passariam: naquele momento, existiam apenas Daniel e Sariel.

– Gente, que bafo! – Daisuke ficou eufórico – Eu sabia que vocês dois iam acabar juntos!

– Aê, Daniel! – aplaudiu Olivier, chamando a atenção de todos ao redor – Domou a fera!

– O Sariel tava dando encima dele?! Quando isso aconteceu?! – apenas Carlos parecia confuso – Eu nem percebi!

Na mesa do canto mais distante, um grupo de amigos observava a euforia no centro do salão, completamente alheios à alegria coletiva. Na verdade, sentiram-se repugnados com a falta de pudor daqueles dois alunos completamente inconsequentes. Afinal, mesmo que houvesse homossexuais sentados ali, eram rapazes distintos e discretos quanto à sua opção sexual – e era assim que se deveria ser para todos. Ah! Ao menos se o resto do mundo fosse como eles, a humanidade não estaria tão perdida e desviada do caminho da ordem e do progresso...

– Veja se pode isso! – disse Sérgio, olhando furioso em direção dos dois – Agora deu pra beijar outros machos em público. E logo quem!

– A que ponto chegamos, não é mesmo?... – Itsuke comentou de forma austera e um tanto indiferente, dando um gole de chá mate. Irmão de Daisuke e líder do Conselho Estudantil, o japonês era um personagem ilustre entre os alunos do Liceu de Artes, de maneira que era quase que uma honra para Sérgio sentar-se junto a ele e seus amigos.

– Foi para este calouro que você perdeu a sua eleição, Sérgio?... – perguntou Zidane, um louro alto de rosto comprido, com um toque de malícia nas palavras. Fingia desinteresse na conversa, dedilhando seu smartphone.

– Eu... Sim, foi pra ele mesmo – Sérgio mal conseguia disfarçar como sentia-se humilhado por isso – Não quero falar sobre esse assunto, tá bom?

– Pois eu gostaria de conversar um pouco mais com você sobre isso – disse Itsuke – Por isso fiz questão que comparecesse aqui, esta tarde.

Um breve silêncio tomou conta da mesa. Pairava sobre suas cabeças uma atmosfera de mistério, que intimamente fazia os jovens socialites se sentirem como pessoas superiores, e acima de qualquer atitude reprovável e impudica das demais pessoas. Afinal, eram sua moral elevada, seu cavalheirismo e a educação de famílias de sangue nobre que os diferenciavam de todos os outros: verdadeiros cidadãos de bem, formadores de opiniões com imensa influência no futuro sobre a sociedade. Era uma responsabilidade que apenas eles poderiam assumir, e assumiam com orgulho...

O que confundia o jovem Sérgio era o que ele tinha haver com tudo isso.

– Bom... Então, pode mandar – disse Sérgio, aparentando coragem – O que vocês querem comigo?

– Qualquer aliado do Sariel, e de toda aquela corja, também é meu oponente – Itsuke tirava um lenço de algodão do bolso, eu envolvia alguma coisa, e pousou-o sobre a mesa – E pelo que ouvi, esse Daniel é tão questionador e criador de casos quanto ele, senão mais ainda...

– Sim! Ele é um caipira prepotente e com ares de intelectual. Só ganhou a eleição pra representante porque veio com um papo de “somos todos iguais”, e de “protetor dos indefesos”, aí sabe como é, não é? – Sérgio comunicava-se com energia, diferente dos rapazes que o cercavam, que continham bem mais os seus sentimentos – Todos os bolsistas votaram nele, além de alguns puxa-sacos dele...

– Gostaria muito que você fosse representante de classe. Você tem muitas ideias em sintonia com as nossas – Itsuke tirou o que parecia ser um pote de remédio de dentro do pano – Mas, como o destino nos foi injusto, gostaríamos que nos mantivesse bem informados em relação às atitudes desse Daniel. Um verdadeiro mapeamento, para que possamos mantê-lo sob controle.

– Compreendo... – Sérgio conjeturava sobre o que lhe estava sendo proposto.

– É só continuar fazendo o que você faz naturalmente, Sérgio – Zidane o olhou com o rabo do olho, sorrindo de forma tendenciosa – Implique com ele, impeça que ele tenha muito respeito com seus colegas de classe. Procure e abuse dos seus defeitos, afronte-o publicamente e se necessário, ameace-o em particular... Faça que ele entenda que você não é um reles derrotado, mas um inimigo em potencial. Quer reestabelecer seu respeito com sua turma? Ande com a gente e imponha-se, que nós ajudaremos como for possível...

– Fariam isso mesmo? O que vocês têm a ganhar com isso? – Sérgio estava empolgado, mas precisava ser convencido de que não seria passado para trás.

– Além da sua amizade? – Eduardo, um terceiro elemento, sorriu com falso interesse – Ora, eu pelo menos dormiria muito mais tranquilo, sabendo que os baderneiros do Liceu estão em seu devido lugar...

– Para que a paz seja mantida, Sérgio, precisamos impedir que pessoas como Daniel insuflem ideias radicais e metam caraminholas na cabeça dos demais alunos – Itsuke gotejava o líquido do pote em seus dedos delicados – Se houver discórdia, conflitos serão inevitáveis. Cada um precisa contentar-se com sua posição em nossa pirâmide social... Se nos ajudar a manter a ordem nesta pirâmide, conseguiremos não apenas um lugar para você no topo dela ao nosso lado, mas talvez possamos até reconquistar sua moral e coloca-lo no Conselho Estudantil. O que nos diz?

Neste momento, Itsuke levou a solução medicinal até sua narina direita, sugando o líquido com força para aliviar a sua cogestão nasal, causada pelas suas recorrentes sinusites – em seguida, fez o mesmo com a esquerda. Sérgio observava o comportamento dos rapazes naquela mesa, como que dando a si a oportunidade de pensar com cuidado no que e com quem estava se envolvendo...

Itsuke era respeitado por todos no Liceu de Artes (num consenso geral), e um influente formador de opinião. Zidane era presidente do Clube de Publicidade e redator principal do jornal do Liceu: nada escapava do seu radar, sempre estava por dentro das notícias e informações de tudo e todos. E por último, Eduardo, filho do dono de maior parte das ações das cervejarias do país, um dos mais ricos e abonados do Liceu de Arte, sempre acompanhado de bajuladores e a prova viva que tudo poderia se conquistar com a quantia certa de dinheiro... Sua índole era tamanha que Sérgio tinha certeza que, caso se negasse a participar, certamente seria subornado por Eduardo.

– Muito bem. Eu aceito a proposta – Sérgio disse com firmeza no olhar.

– Boa escolha! – Eduardo lhe deu um tapa caloroso no ombro – Não irá se arrepender de sua escolha, caro colega. Amigos? – e deu-lhe a mão para Sérgio apertá-la, com um sorriso largo de um político pedindo votos.

Novamente, Sérgio receou – mas convenceu-se de que não havia nada a perder. Se eles precisavam de seu apoio, e Sérgio precisava mais ainda reerguer-se, era com eles que precisava aliar-se. Frequentaria as melhores reuniões, traçaria metas, formaria alianças grandiosas para sua ascensão social – quem sabe não pudesse levar estas amizades baseadas em interesses mútuos para suas carreiras profissionais?

Itsuke estudava para tornar-se um famoso escritor. Zidane, um jornalista de renome. Eduardo não havia a menor precisão de trabalhar por toda a vida, mas gostaria de usar seu carisma para se tornar um ator televisivo. O maior sonho de Sérgio era crescer e tornar-se diretor de cinema, e quem sabe se estes contatos não lhe seriam importantes no futuro? Já estava decidido: não recearia mais. Planos importantes estavam sendo tecidos naquela tarde, metas para preservar a conduta social de todos os alunos no Liceu de Artes W.L, independente de suas vontades... Afinal, o que sabiam essas pessoas sobre o que eram melhor ou pior para si mesmas? Além do mais, Sérgio ainda haveria de provar para Daniel e todos os outros como seria plenamente capaz de burlar a dita “Lei da Evolução”, atingindo o topo da cadeia alimentar daquele internato.

Finalmente, Sérgio era um dos mais novos ventríloquos deste ensaio de marionetes. Tremia perante da iminência do seu primeiro espetáculo... Já possuía o teatro, os bonecos e o talento... Só lhe faltavam-lhe as cordas.


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