Liceu de Artes W.L escrita por Nandarazzi, RukeNoKokoro


Capítulo 7
1º TRIMESTRE - Capítulo 7: Desistir Jamais, Lutar Sempre


Notas iniciais do capítulo

~ IMAGENS de REFERÊNCIA ~

— Planta arquitetônica do Liceu de Artes:
http://fc01.deviantart.net/fs70/f/2015/023/f/0/tzd14pa_by_nanaramos-d8f30yl.jpg

— Planta arquitetônica dos quartos: http://th04.deviantart.net/fs71/PRE/i/2015/023/4/7/quarto_liceu_by_nanaramos-d8f318n.jpg




~ GALERIA de PERSONAGENS ~

http://nanaramos.deviantart.com/gallery/52775462/Liceu-de-Artes-W-L



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/569986/chapter/7

Uma voz melodiosa desperta Daniel lentamente do seu pesado sono. Resistente em deixar o conforto do beliche, o jovem enrola-se ainda mais em suas cobertas em posição fetal, preservando seu calor corporal. As seis em ponto, como de costume, Mineiro cumprimentava todos do Liceu de Artes com um caloroso bom dia, carregando suas palavras com seu charme interiorano, a cativar os alunos a acordar para mais um dia de valorosos estudos e aprendizado... É claro, nem mesmo isso funcionava para todos.

– Vamos acordar, e dar boas vindas ao outono!... – era possível sentir na voz de Mineiro, partida dos alto-falantes, que até ele estava um tanto sonolento – É isso mesmo: hoje começa a estação das folhas de bordô caindo suavemente pelo chão, e é quando os animaizinhos da floresta começam a coletar provisões e preparam-se para hibernar... Isto é, se você vive no hemisfério norte, pelo menos. Aqui no Brasil, durante o outono, as chuvas começam a ceder no sul do país, e começam a cair no norte e no nordeste...

Daniel estava disposto a não deixar o sono vencê-lo. Ergue-se da cama, coçando a cabeça de fios rebeldes, tentando organizar seus pensamentos e o metabolismo preguiçoso. Costumava acordar às 5 da manhã quando morava na fazenda – mas agora, as madrugadas conversando e bebendo suco com os amigos desregularam suas horas úteis de sono. Mas como o esforço valia a pena!

Sariel estava “bodado”, como Daisuke costumava dizer, em sono tão pesado que seu braço jazia caído para fora da cama. Daniel sorriu, se permitindo observar o paquera dormindo tão profundamente, achando-o tanto divertido quanto adorável naquela posição. Ergueu-se de seu beliche e caminhou em direção do banheiro, despindo-se de sua cueca samba-canção no momento que fechara a porta.

Preparou uma ducha quente e mergulhou para debaixo do chuveiro, sem delongas. Gostava de sentir o toque morno da água esquentando sua carne gelada, como que o trazendo de volta à vida, ao mesmo tempo em que formava nuvens de vapor na divisória de vidro entre os dois chuveiros. Imerso em seu mundinho, a introspecção de Daniel foi interrompida quando um vulto adentra o lavabo, aparentemente alheio à presença do jovem rapaz.

Daniel assustou-se, e ao virar-se, viu Sariel tateando as escovas de dente à procura da sua, pois a visão lhe parecia embaçada pelo sono. Seguindo o ritual matinal com naturalidade, não se importou com a presença do colega nu ao seu lado – mas Daniel sentiu sua privacidade sendo invadida, visto que não havia se acostumado com a ideia de dois chuveiros, e nem em ver os colegas de quarto em tamanha intimidade.

– Não sabe bater, não? – retrucou com mau humor

– Só quando a porta está trancada – Sariel respondeu ainda mais ranzinza, começando a escovar os dentes enquanto olhava para seu reflexo no espelho, distorcido feito um fantasma vaporoso.

– Seu bruto... Quanta grosseria assim, logo de manhã!

– Oh, me desculpe... – falou de boca cheia. Cuspiu a espuma formada pela pasta na pia, e então lhe disse – Bom dia pra você, também – e voltou a escovar os dentes como se aquela conversa não estivesse acontecendo.

– Cara, eu tô tomando banho! Um pouco de privacidade seria bom! – percebeu-se demasiadamente encabulado diante de Sariel, e seu rosto corou em meio às nuvens de vapor.

– Tem dois chuveiros no banheiro. Cara, a sua privacidade acabou faz muito tempo: no momento em que pôs seus pés aqui no Liceu de Artes...

O tom de voz de Sariel em nada o agradou. Quando o moreno se aproximou do vaso sanitário para aliviar-se, seus olhares se encontraram e desafiaram-se mutuamente: o olhar magnético e contrariado de Daniel, contra a imensidão fria e indiferente de Sariel. Com os dedos pousados no zíper da calça, Sariel enfrentou o belo jovem a fuzilá-lo com os olhos – e o sentimento a lhe percorrer a espinha era o mesmo de Daniel ao ficar sob a água quente do chuveiro: o do calor a aquecer-lhe o corpo gelado.

– Se decide. Se vai ficar de frescura, melhor olhar pro lado. Mas se quiser olhar, fique à vontade...

Vendo-se diante de tamanho impasse, Daniel apenas olhou-o com grande surpresa. Por um breve momento, até esqueceu-se estar nu diante de Sariel. Tentou buscar qualquer resquício, qualquer brilho em seu olhar que denotasse alguma emoção, algum receio... E viu que nem mesmo o carrancudo veterano estava isento de inseguranças, e temores. Acabou vendo no outro um reflexo de si mesmo, de sentimentos que acreditava estarem adormecidos em seu âmago, mas que agora estavam emergindo novamente com toda a força.

– Me desculpe, Sariel, eu... Eu fui grosseiro com você, mas não me sinto confortável desse jeito. Eu só...

Sariel arrependeu-se de sua aspereza no momento em que viu Daniel fraquejar daquele jeito. Era como se ele estivesse prestes a chorar. Não mais ameaçou despir-se diante do rapaz, a quem não gostaria de machucar de forma alguma. Pegou uma toalha e aproximou-a do calouro, permitindo que ele se cobrisse com ela e não se sentisse tão vulnerável diante dele. Daniel, fechando o registro do chuveiro, tinha suas bochechas sardentas envoltas em forte rubor – tanto pela água quente, quanto pela situação constrangedora a qual estava passando.

– Eu que te devo desculpas. Não deveria ter te pressionado daquela maneira... Acho que o superestimei – Sariel tinha seu olhar desviado até que Daniel terminasse de se cobrir – Por tanto tempo te admirei, e às vezes esqueço que é um calouro inexperiente, ser humano como qualquer um... Que além de ter passado muito tempo sozinho, também está reaprendendo a lidar com outras pessoas. Sinto muito.

– Espera... Me admirar? – os olhos de Daniel brilharam por um momento.

– Você é um cara formidável... Não sabe o quanto eu te considero – caminhou em direção do box vazio – É bonito, inteligente, mas é principalmente consciente. Há muito tempo eu não me sinto... Tão investido em uma amizade...

– ...Pra alguém que pode ser tão frio e insensível, você tem tanta naturalidade em expressar seus sentimentos com palavras...

– Sabe que, fora o grafite, não sou bom em me expressar de qualquer outra maneira... – e sorriu com o canto da boca, totalmente desinibido.

Daniel sorriu, e já se sentia mais confortável – apesar de tão lisonjeado. Então Sariel lhe tinha muito apreço... Ficou radiante ao saber disto. Sariel esboçou um sorriso suave, mas sincero, e aproximou-se um pouco do jovem camponês. Antes que pudesse investir de maneira mais insinuante, percebeu que algo ainda o impedia Daniel de viver aquele momento especial junto dele plenamente.

– O que está te incomodando?... – Sariel perguntou, apoiando-se na parede de azulejos brancos. Fez-se um breve silêncio, e ele logo percebeu – É a eleição do seu representante de classe, não é?...

– É isso!... – Daniel respondeu – A convivência com meus colegas de sala me tornou tão próximo deles! O Davi, o Saulo, o Pacheco, o Romã... E alguns outros mais. Eu gosto da minha turma, somos unidos apesar de nossas diferenças. Pelo menos não tão divididos quanto as outras turmas, afinal, somos calouros! Eu não me importo de perder, mas se o Sérgio se tornar o nosso representante de classe, eu juro que vai ser insuportável conviver com isso e estudar nessas condições!

– Calma, calma! Devagar, cara, sou só um... – pousou a mão no ombro de Daniel – Está fazendo um excelente trabalho. Não duvide de suas capacidades, e do apreço que seus colegas têm por você... Você é bastante impressionante para um calouro, basta ver a maneira com que você cativa as pessoas. Além do mais, o Sérgio não vai ganhar, sabe porquê? – Daniel não respondeu, mas parecia afetado pelas palavras de Sariel – Por que ele é um filho da puta cheio de raiva no peito, enquanto você pode até contrariar alguns, mas todos podem sentir a sua coragem e a sua bondade. A sua vontade de transformar o mundo!

– Sariel! Eu...

– Você será indicado, e vai arrasar seu concorrente. Não se deixe abalar pelo opressor! Não vai cometer o mesmo erro que eu: desistir, jamais!

– Lutar, sempre! – e sorriu cheio de energia.

– Isso mesmo! – Sariel tapeou seu ombro, retribuindo com um olhar mais vivo. Mais determinado, e cheio de esperança...

Vencendo seus medos, Daniel aproximou-se do outro e abraçou-o com seu corpo molhado. Apesar da surpresa, Sariel apenas tapeou suas costas, ocultando um sorriso se satisfação na lateral do rosto do outro... Céus. Como estavam próximos. Sariel podia sentir o calor emanado da bochecha do calouro colada na sua, podia ouvir até o seu coração batendo contra o peitoral. Gotas que escorriam pelo seu tronco, encostando-se ao dele. Que tentação! Que vontade de beijar aqueles lábios úmidos, pedindo pelos seus, e entregarem-se completamente ao desejo...

Mas Sariel sabia esperar. Apesar de sentir-se tentado pela beleza brejeira e Daniel e sua abordagem ousada, separou-o respeitosamente e deixou o aposento. Mais tarde, poderia se arrepender de ter se aproximado do jovem calouro num momento de fragilidade do mesmo. Mas sua chance chegaria... E em seu íntimo, apesar de um tanto confuso, Daniel também aguardava ansiosamente por este momento especial – agora que tinham conhecimento dos sentimentos um pelo outro.

– ... O outono marca as etapas de transformação da vida, a reciclagem dos elementos da Natureza e também das emoções humanas – a voz de Mineiro ressoava dos alto-falantes – Inicia-se neste momento uma fase de transição, aonde as pessoas vão se tornando introspectivas, mais desejosas de se abrigar nos seus refúgios, inclinadas a buscar a meditação... Que os ventos do outono nos tragam a sabedoria necessária, para que todos nós possamos tomar as melhores decisões...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Liceu de Artes W.L" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.