Liceu de Artes W.L escrita por Nandarazzi, RukeNoKokoro


Capítulo 11
1º TRIMESTRE - Capítulo 10: O Estopim Parte II


Notas iniciais do capítulo

~ IMAGENS de REFERÊNCIA ~

— Planta arquitetônica do Liceu de Artes:
http://fc01.deviantart.net/fs70/f/2015/023/f/0/tzd14pa_by_nanaramos-d8f30yl.jpg

— Planta arquitetônica dos quartos: http://th04.deviantart.net/fs71/PRE/i/2015/023/4/7/quarto_liceu_by_nanaramos-d8f318n.jpg




~ GALERIA de PERSONAGENS ~

http://nanaramos.deviantart.com/gallery/52775462/Liceu-de-Artes-W-L



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– Você não precisava ser tão teimoso – disse Daniel, tirando as fitas de papel na base do curativo – Se tivesse aceitado ir na enfermaria, não estaria com essa cara de sapo cururu até agora...

– Ah, cala a boca e se concentra no que você tá fazendo! – disse Sariel, excepcionalmente rabugento naquela tarde, de pernas cruzadas no carpete do quarto e sem camisa, a ser auxiliado por Daniel a detectar e remediar as feridas da briga.

– Que falta de consideração! Deveria deixar você contorcendo todo de dor, só por essa sua arrogância! – Daniel parecia furioso, usando uma flanela branca para limpar a testa de Sariel com certa impaciência, enquanto mirava e colocava o curativo sobre seu supercílio ferido – E teria ficado pior se eu não tivesse entrado na briga! Levei até uma notificação por causa disso.

– Levou porquê quis! Não pedi pra você se meter!

– Mas eu me meti sim, e me meti pelo mesmo motivo estou aqui te ajudando com seus ferimentos, por mais que vocês não mereça! – Daniel percebeu que estava perdendo o controle sobre si. Suas bochechas ardiam em raiva: como Sariel podia ser tão insensível daquele jeito?

– Tá... Tá, tá! Me desculpa!... – Sariel assumiu sua derrota, abaixando a cabeça e sentindo o peso do remorso em sua nuca – Você... Você mostrou muita lealdade lá embaixo. E está sendo imensamente gentil... Tem todo o direito de se enfurecer comigo. Me perdoe por ser um babaca... E por ter envolvido você disso...

Sariel sentiu um algodão úmido esfregando uma substância gelada e calmante sobre seu olho inchado. Daniel, em completo silêncio, pousou sua mão livre sobre a do companheiro e abriu sobre ela, entrelaçando seus dedos e trocando calor naquele toque macio. Sariel podia ser um babaca inconstante, e mudar seu tom de voz de uma hora para a outra, mas era sempre muito sincero com suas palavras... O jovem do campo tinha a sensibilidade para compreender isso – apesar de não demonstrar, temendo parecer frágil diante de alguém tão forte quanto o Sariel. Guiou a mesma mão do companheiro sobre o algodão em seu olho inchado, enquanto desenrolava algumas ataduras e preparava um tapa-olho.

– É tão difícil assim segurar essa língua maldosa e inconsequente, de vez em quando? – Daniel disse, não com rispidez, mas até com certa candura. Estava ajoelhado no carpete bem ao lado de Sariel, tão próximos que quase podiam sentir o palpitar intenso de cada batida de seus corações... Excitação? Paixão? Desejo? Quem sabe uma mistura dos três...

– Hã... – Zezinho, que estava em sua cama e aguardando a oportunidade para deixar o casal a sós, vê Davi saindo do trocador e dirigiu-se até ele com certa aflição – Davi, que tal a gente aproveitar pra resolver aquele problema?

– Problema? – Davi o olhava, confuso.

– É. Aquela coisa, lá! – e lhe sorriu nervosamente, apontando para o casal no carpete com o olhar. Mas Davi, em sua inocência, não percebera o brusco movimento.

– ... – depois de pensar um pouco, finalmente concluiu – Ah! Aquela coisa!

– Isso! – Zezinho agradeceu intimamente, satisfeitíssimo – Aquela coisa, mesmo.

– Ah... Espera. Estamos falando da mesma coisa, né?

– Ai, Davi, vamos logo! – impaciente, Zezinho girou Davi pelos ombros e caminhou em direção da porta empurrando-o pelas costas largas e gordinhas, na ânsia de deixar o recinto o quanto antes. Daniel e Sariel precisavam de um momento mais íntimo.

Após um breve silêncio, enquanto estava a analisar as leves vermelhidões nas costas de Sariel, Daniel calculou bem as palavras que usaria, procurando esconder a sua raiva já um pouco abrandada, escolhendo um tom doce e compreensivo. Sabia que conseguiria amolece-lo desta forma, especialmente agora que Zezinho e Davi haviam lhe dado o espaço necessário para que Sariel não precisasse sentir que precisava impressionar alguém. Apesar de tudo, o jovem rebelde ainda era um tanto orgulhoso...

E Daniel imaginava se não seriam esses defeitos que o tornavam tão mais atraente, tão mais humano. Se tivesse qualidades demais, o jovem do campo o veria como uma semi-divindade, um guerreiro da justiça acima de qualquer corrupção moral, praticamente inalcançável. Mas defeitos e as falhas, não apenas em Sariel, são o que torna cada pessoa seres tão distintos, e ao mesmo tempo tão iguais. E Daniel o via como um igual... Alguém que errava, e que sofria. Alguém que aprendia, e poderia aprender muito mais.

– Sariel, você é muito inteligente, um modelo para muitos. Inclusive para mim... Mas ainda não sabe lidar bem com seus sentimentos... Sempre tão calado e taciturno, você se fecha em seu mundo de ideais a julgar mentalmente tudo e todos à sua volta. Bom, eu não posso culpa-lo por isso...

– ... – Sariel preferiu continuar calado, para evitar mais problemas.

– E sei como se sente... Você é frustrado pela podridão que testemunhava no mundo, acumulando-se numa bola de neve que fica maior a cada dia que passa. A vida não é fácil, e só você pode ver e perceber certas coisas que poucos compreendem... As coisas como elas são.

– Eu sinto... Que o grafite por si só já não está mais dando conta – disse tristonhamente – Já não é mais o bastante para extravasar tudo o que sinto... Raiva, desprezo, revolta... Mas principalmente, de continuar esta vida engolindo sapos e acumulando derrotas! Ao menos...

Os ombros de Sariel tremiam. Parecia estar controlando-se para não chorar. Daniel nunca o vira assim antes, tão vulnerável... Seu rebelde sonhador realmente não tinha o hábito de se expressar assim. Decidiu tornar aquela experiência o menos traumatizante possível, posicionando-se ao seu lado e pousando a mão em seu ombro nu.

– Sariel, é normal de sentir derrotado... Mas seus esforços não são em vão. Você não está sozinho – Daniel disse com mais firmeza, mas sem parecer autoritário – Sei que parece clichê dizer isso, mas é verdade! Pense em mim, nos rapazes, nos que creem e te apoiam... Dentro, e fora do Conselho Estudantil. A cada dia, ao poucos estamos conquistando mais alunos que pensam como nós. Não sinta-se abandonado, pois estamos com você, e não vamos deixar que você se sinta derrotado por todas as forças contra as quais você luta!

– Daniel...

– O Liceu é pequeno se comparado ao mundo lá fora, mas para isso que cultivamos amizades e amores, não é mesmo? Além de conhecimento e experiências. Somos todos alunos, Sariel, e estamos todos do seu lado. E não sinta como se carregasse o mundo nas costas, pois se você bem ensinou a mim todos os que cativou, é que não precisamos esperar um milagre cair do céu e mudar tudo por nós! A mudança começa justamente na gente... Agora, estou aqui pra te ajudar a se lembrar disso. Estou aqui contigo, para o que der e vier.

– Daniel, você... – balançou a cabeça incredulamente – O que eu posso te dizer? Apenas... Muito obrigado – e tentou esboçar um sorriso. Mas ainda tinha mais a dizer – Eu fui tão grosseiro com você, a pessoa que eu mais prezo neste lugar! É que esses sentimentos se acumularam de tal maneira, tão maiores do que eu, que acaba sendo inevitável... Eles escapam, por palavras e atitudes mal calculadas...

Depois do pequeno êxtase em libertar-se destas mazelas, as vezes muitas doses contidas numa única sentença, Sariel era como o boêmio que exagerava na bebida ou o garoto de programa após o sexo... Sempre sentia-se dominado por uma sensação de vazio e de arrependimento, e só as vezes assumia isso para si mesmo.

– É por essa razão que isso está aqui?... – Daniel virou os pulsos de Sariel para cima, perguntando num tom sentido, alisando as diversas cicatrizes marcando a pele fina daquela região em cortes transversais, mas nunca muito profundos.

– Era um meio... Mas isso está no passado. São marcas antigas, já não faço mais isso... Não precisa se preocupar... – Sariel agora via Daniel com apenas um dos olhos, pois o outro estava coberto com uma gaze atada em sua cabeça. Mas um olho era o bastante para vislumbrar aquele que tanto se afeiçoara, e o fazia sentir-se tão bem...

– Não sei se é o melhor conselho a dar agora... Mas quem sabe, talvez, o afeto e a companhia de alguém que seja dedicado, carinhoso, além de interessado em suas lutas e suas conquistas lhe fizesse muito bem no combate à suas atitudes mais arriscas, e ranzinzas... – Daniel sorriu-lhe de forma doce.

– Fica tão lindo falando bonito desse jeito... – Daniel sorriu sem graça, e Sariel o repreendeu – Não faz essa carinha, você sabe que fica. Mas me diz. Quem é que vai querer namorar um vadio fodido e enfezado que nem eu?... – Sariel sorriu mais espontâneo, sentindo-se envolvido nas carícias meigas de Daniel.

– Posso dar uma sugestão?... – aproximou o rosto do de Sariel, beijando-lhe ternamente a bochecha gelada e aquecendo sua face, permitindo que o outro sentisse o aroma sensual de perfume masculino já impregnado do seu pescoço.

Sariel sentiu-se no céu. Finalmente, ele e Daniel poderiam oficializar um namoro logo em breve. Mais do que um amante, Daniel representava a esperança em dias melhores para o rebelde cansado de iludir-se com as pessoas más e ruindades do mundo. Alguma parte em seu coração acreditava que era capaz de começar uma grande mudança, que nem tudo estava perdido... Foi isso o que o deixou perdidamente apaixonado por aquele sardento de suspensórios sabe-tudo. O trataria como um príncipe, e se entregaria de corpo e alma àquele namoro fortalecido em ideais pelos quais lutar e viver – e que fosse bom enquanto durasse.

– Não perca a sua fé... – Daniel criou coragem, sussurrando-lhe no ouvido.

– Você é a minha fé... – Sariel retornou com uma mordida de leve no lóbulo da sua orelha, carregada de desejo.

Daniel não soube se conter. Parece que havia chegado o momento. Aquilo tão ansiado por todo jovem, o prêmio pela busca incessante dos desejos púberes. Não costumava pensar em sexo, especialmente por viver sempre tão isolado de tudo – mas depois de entrar para o Liceu de Artes, mergulhando naquela atmosfera jovem e carregada dos pensamentos de moços viris em tenra idade, viu-se dominado por um apetite sexual avassalador. Pegava-se diversas vezes imaginando como seria sexo com um homem... Sexo com alguém como Sariel. Tirava suas dúvidas com Daisuke, que fez questão de elucida-lo e exorcizar qualquer fantasma de preconceito que pairasse sobre sua cabecinha, e lhe viesse a lhe causar dúvidas e temores atrozes.

Mas por mais que lhe tirasse a semente da dúvida, ela voltava sempre a brotar pois Daniel desconhecia-se nesse aspecto. Nunca se arriscara a ir além de simples masturbações, nunca experimentou sentir aquele prazer em regiões estranhas, algo que lhe parecia tão distante e misterioso... Aquele prazer que Daisuke dizia deixar qualquer homem louco e entregue como uma cortesã, que Olivier dizia provocar em seus amantes mais resistentes, e ao qual Daniel e Carlos pareciam estar completamente alheios – ao menos isso tinham em comum! Mas pelo andar da carruagem, não seria assim por muito tempo...

Sariel tinha ampla experiência no assunto. Tivera muitos amantes diferentes dentro e fora do Liceu, rapazes e moças, e compreendia que cada um tinha suas preferências e limitações. Com suas carícias ousadas, sentiu o corpo virgem de Daniel tremendo em seu abraço caloroso, mal contendo o prazer que sentia arder sob a flor da pele. Entre beijos molhados distribuídos pela extensão das sensuais sardas descendo por seus ombros, Sariel experimentou quebrar o gelo e fazê-lo acalmar-se mais apropriadamente...

– Relaxe. Eu não sou doido de te machucar...

– Eu nunca... Nunca fiz assim, Sariel!... – Daniel ofegava com as bochechas reluzindo sua cora virginal, sentindo um calor lhe entorpecendo o corpo e amolecendo seus reflexos.

– É claro que não fez... Mas confie em mim, tudo bem? – deitou-o no carpete felpudo, alisando seu tórax firme e definido – Nossa... Como eu sou sortudo!... – e sorriu, desferindo beijos em Daniel pescoço abaixo.

– Isso é tão bom!... Sariel... – Daniel falava devagar, meio grogue – Tô me sentindo... Dormente...

Sariel apoiou os braços nas laterais do corpo de Daniel, observando como estava inquieto e gemendo gostoso. Aquele virgem lindo, entregando-se a ele completamente enfatuado, perdendo o controle sobre si... Como aquilo era excitante! A dopamina, eliminada nas descargas intensas de prazer, estava acima dos níveis considerados normais. Daniel, que tanto reprimira aqueles sentimentos há muito adormecidos em seu íntimo, estava despreparado para aquelas sensações que lhe eram tão estranhas, e a nível fisiológico: a ponto de prejudicar os movimentos e a voz.

Parece que Daniel transparecia em seu corpo quaisquer sintomas de sentimentos novos e estranhos. Mas diferente do ocorrido meses atrás durante a cerimônia de boas-vidas ao Liceu de Artes, aquela experiência prometia.

Quem diria. Tão focado, tão racional... Mas naquele momento, tão vulnerável e tão entregue. Sariel procurou conter-se, e por um momento pensou que não conseguiria, mas seria paciente e ensinaria Daniel a sentir tesão antes de tê-lo em seus braços por completo. Disse-lhe, acariciando seu rosto e vislumbrando na imensidão verde em seus olhos:

– Não se preocupe... Não vou fazer nada demais. Só vou te dar prazer... E vai ser assim, todos os dias, sempre que rolar uma oportunidade... Até você se sentir confiante o bastante. Não quero que se precipite, e corra o risco de se arrepender depois...

– Eu sou louco por você, Sariel... Eu jamais me arrependeria!

– Viu? Não fala coisa com coisa... – Sariel disse, sorrindo, enquanto beijava os lábios macios de seu amante. Daniel abraçou-o pela nuca, afundando aquele beijo quente e excitante, como nunca antes havia recebido na vida.

Amaram-se intensamente, por horas a fio. Trocaram experiências sensoriais únicas, carícias carregadas de desejo, beijos, amassos, e tudo o que tinham direito naquele momento tão íntimo juntos... Daniel fora tocado em lugares onde não esperava sentir tamanho prazer, permitindo-se ser devorado por Sariel e sua imensa gula. O apetite sexual dos dois era grande, e quanto mais pensavam estar saciados, mais a fome aumentava...

No entanto, não passaram de carícias ousadas, e sexo oral em suas mais diversas formas. Mas nada ficou a desejar... Daniel aprendeu e experimentou muitas coisas diferentes com Sariel naquela longa tarde... A primeira de muitas naquela nova fase de sua vida. Novas responsabilidades, novos relacionamentos. Enquanto estava deitado com Sariel no carpete, simplesmente alisando o rosto um do outro com sorrisos bobos nos lábios, tiveram certeza que tudo dali pra frente seria diferente... Uma vida um pouco melhor, mas muito mais gostosa os aguardava. Na companhia de um namorado, ficava mais fácil suportar as adversidades.

– Não se esquece, Daniel... – Sariel sussurrou docemente. Era uma imensa demonstração de afeto de sua parte – Daquilo que te falei no buffet. Que é você quem me traz coragem.... Com você, eu sou duas vezes mais homem...

– Não vou esquecer... – Daniel cerrou os olhos, cansado. E sorriu para seu futuro namorado, antes de cair em sono profundo.


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