Inquebrável escrita por Lola


Capítulo 6
Torre Eiffel e croassaints


Notas iniciais do capítulo

Bom, leitores, lhes apresento o Ethan!!



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–Você é a Lexie?

Me viro e vejo uma mulher me observando. Ela tem os cabelos loiros cortados curtos e os olhos amendoados, castanhos.

Estou parada em frente ao teatro, usando um vestido branco curto e sapatos de salto alto. Meu cabelo está preso em um coque meio solto e não estou usando maquiagem. Levou tempo para convencer Jared que eu não iria fazer nenhuma besteira, mas consegui, finalmente.

–Sim, sou. - respondo.

–O Sr.Delano pediu para você me acompanhar. - ela diz.

Ethan Delano. Nome bonito, penso, enquanto acompanho a mulher para dentro do teatro. Pessoas vestidas increvelmente bem passam por mim, e quase sinto que estou vestida para ir em uma boate. Nós entramos no lugar onde o concerto irá acontecer e a moça me leva até a primeira fileira de poltronas.

–Aqui, senhorita. - ela diz, indicando um lugar.

Em cima da poltrona há uma rosa e um bilhete preso a ela.

"Espero que goste do concerto", está escrito em uma letra curvilínea e bonita.

Eu me sento e observo o palco. No meio dele tem um piano com cauda maravilhoso e um banco. Em menos de alguns minutos o local se enche e pessoas começam a se acomodar.

Minha vida está tão confusa, penso. Ontem eu estava com uma bala no meio do peito e hoje vou em um encontro com um cara que parece ser perfeito.

Ethan entra no palco e todos nós aplaudimos. Ele veste um terno preto e alinhado, e seu cabelo loiro está penteado minuciosamente. Se senta ao piano e passa a mão pelas teclas. Meu Deus, ele é tão lindo. Vejo seu olhar relanciar para mim por um momento, seus lábios esboçando um sorriso feliz, e então ele começa a tocar.

Ele é incrivelmente talentoso, e isso é o mínimo que posso dizer. Ethan toca com uma tamanha naturalidade que me faz pensar que ele nasceu para isso.

–Ele é incrível, não é? - uma mulher ao meu lado comenta.

–Sim, ele é. - sussurro de volta, sorrindo.

–É incrível ele ter somente vinte anos, e com a infância dura que teve...- ela diz, balançando a cabeça. Brincos de pérola agitam em suas orelhas.

Infância dura? Ótimo, não podíamos combinar mais. Somos um casal completamente ferrado.

Passo o resto do show praticamente encarando Ethan. Ele toca várias músicas, e eu simplesmente amo o jeito que ele se concentra e fecha os olhos nas partes mais difíceis. Quando acaba, todos nós levantamos e aplaudimos.

Ethan agradece e sorri para mim, piscando rapidamente. A mesma mulher que me buscou na entrada do teatro o chama, mas ele ignora, pulando do palco logo para perto de mim. Algumas pessoas o abordam e falam elogios, os quais ele aceita sorrindo educadamente.

–Então, você gostou? - ele pergunta, quando consegue me alcançar.

Suas mãos trabalham para tirar sua gravata.

–Você é incrível. - respondo, rindo.

–Não, você é. - Ethan diz, olhando para mim. -Você está linda, Lexie.

Ethan passa as mãos pelo cabelo, o bagunçando e depois pega a minha mão. Andamos por entre as pessoas até conseguirmos finalmente sair do teatro. Ele se vira para mim e diz:

–Hoje você é minha, tudo bem?

Concordo para cabeça e ele começa a me levar pelas ruas, segurando minha mão. Nós paramos em uma pizzaria e compramos comida e bebida. Ele está sempre falando e sorrindo para as pessoas, me fazendo sentir confortável de estar ao seu lado. Com o tempo, adquiro o hábito de o observar, de vê-lo se movimentar e lançar seus sorrisos de matar.

Ele parece tão bom e perfeito que imagino o por quê da minha vida ser tão complicada. Nós poderíamos namorar, casar e ter filhos, uma casa no subúrbio e almoços de família nos domingos. Poderíamos.

Nós nos sentamos no parque, em um banco de madeira em frente ao lago de peixes. Eu tiro meus sapatos de salto alto e Ethan já está sem seu paleto e gravata, de forma que só se senta ao meu lado, colocando a embalagem de pizza no nosso meio e abrindo os refrigerantes.

Consigo ver as luzes da cidade se destacando na escuridão do parque. Alguns casais estão sentados na grama e pessoas fazem caminhadas nas trilhas.

–Sinto muito não ter planejado algo mais elaborado, mas estou de volta na cidade tem pouco tempo. -ele diz, mordendo um pedaço de pizza.

–Tudo bem, eu gostei disso. -respondo, cruzando as pernas.

Ethan olha para mim. Seus olhos são incrivelmente claros e profundos.

–Nunca te vi por aqui antes.

Ah, claro. Começou a parte que tenho que começar a mentir. Como é a história da mãe drogada mesmo e do pai criando filha sozinho?

–Eu e Jared nos mudamos tem pouco tempo. - respondo, tomando um gole do refrigerante. -Minha mãe nunca esteve junta.

Ethan parece me observar por muito tempo. Ele balança a cabeça, como se entendesse.

–Bom, acho que te devo um resumo da minha vida. -diz, sorrindo.-Meus pais morreram quando eu tinha oito, em um acidente de carro. Eles se machucaram muito e não sobreviveram.

Ah, droga, penso, me sentindo extremamente culpada. Acho que toda vez que ouço sobre pessoas que morreram deste jeito, penso em minha puta "sorte" e em como eu a odeio. Eu sou ingrata? Ou sou só uma garota que não quer enfrentar uma vida inteira se escondendo e mentindo?

Ah, esses conflitos internos já estão me dando dor de cabeça.

–Sinto muito. - murmuro, não com um tom de dó, mas com um tom de compreensão.

Ethan abre um sorriso.

–Eu sei.

Mordo um pedaço de pepperoni e passo alguns segundos olhando para o lago. Reflexos de luz fazem parecer que ele é mágico.

–Por que me chamou para sair? - pergunto, franzindo as sobrancelhas.

Ethan tranca o maxilar e diz:

–Você conhece Debussy. Tenta não chamar atenção para si mesma, e é por isso que quando a convidei para sair pensei que não iria aceitar. Te observei o tempo todo que estava naquela sala, e você não sabe disso porque estava se esforçando demais para não me olhar.

Solto um riso genuíno. Acho que todo o esforço que faço para não chamar atenção é o que me faz destacar.

–Achei que estava fazendo um bom trabalho em me misturar. - falo, abrindo um sorriso.

Ethan balança a cabeça, negando.

–Não entendo porque o quer fazer. Você é diferente, Lexie. Linda e intrigante. É tão perfeita que parece...

–Artificial. - completo, encarando um foco em minha frente.

Claro, Ethan acha que não sou normal. Mas sem nenhuma cicatriz ou machucado, pinta ou qualquer outra coisa, quem diria que sou humana? Até acho que a única coisa que poderia me fazer humana, minha alma, foi danificada ao longo do tempo.

–Não. -Ethan sussurra. - Quero dizer um anjo, alguma coisa de outro universo.Mas nunca artificial, Lexie.

Ah, Ethan, seja um idiota, por favor! Seja grosso, ou machista. Faça alguma coisa ruim para eu pensar que talvez haja algum jeito de eu não me apaixonar por você.

Coloco a embalagem de pizza no chão e sento mais ao seu lado. Ele passa seu braço por cima do meu ombro. Parecemos um casal... promissor.

Talvez Ethan se case com uma advogada, uma menina loira e bonita, com sardas. Seus filhos vão ser gêmeos e ele irá ter um pastor alemão. Ou talvez eu acabe com sua vida o deixando gostar de mim.

–Você sabe, prefiro estar aqui do que em um concerto em Paris. - ele diz. - A Torre Eiffel e os croassaints são supervalorizados.

–É mesmo? -pergunto.

–Claro que sim. Você, por outro lado, não tem jeito de ser supervalorizada.

Um telefone toca, estagando este momento perfeito, e Ethan o atende. Uma voz irritada grita do outro lado da linha.

–Tudo bem, Rose, eu vou voltar. - ele responde, parecendo chateado.- Agora, sim, me desculpe.

Ele o desliga a coloca de volta no bolso.

–Rose, minha assistente e mãe adotiva, falou para eu voltar. Eu tinha alguma coisa com o prefeito ou algo assim, mas estou muito, muito atrasado. - ele diz, parecendo se desculpar.

Me levanto e coloco os sapatos de volta. Ethan pega minha mão e caminhamos pelo parque.

–Obrigada pelo encontro, foi ótimo. -digo, quando chegamos na rua.

Sei que Jared deve estar surtando.

Começo a atravessa-la quando Ethan me chama.

–Ei, você acha que vai se livrar de mim tão fácil? Talvez possamos almoçar amanhã...

Eu sorrio. Ando mais um pouco para a rua, distraída, enquanto respondo:

–Claro, você me pega ás...

E é nesse instante que sinto o carro batendo em mim.

O para choque me atinge na minha lateral e eu rolo para baixo do carro, minha cabeça caindo no asfalto com um som oco.

Ah, meu Deus!


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