Jared analisa meus olhos, batimentos cardíacos, respiração, sangue, pele e tudo mais que ele pode alcançar. Suas mãos me cutucam, furam, espetam e beliscam por tudo quanto é lugar até ele, cansado, se virar para mim e dizer:

–Não sei o que é. Você está se curando normalmente.

Reviro os olhos e pulo da bancada da cozinha onde estou sentada. Jared foi me buscar na escola e chegou em menos de cinco minutos, mesmo morando a dez quilometros de distância de lá. Ele tinha uma expressão tão negativa no rosto que por um momento eu realmente achei que iria morrer. Mas como vazo ruim não quebra, continuo viva e saudável fisicamente, pois sinto que minha mente já está toda ferrada.

–Então o que acontece?- pergunto, comendo um pedaço de maçã. - Eu espero algo pior acontecer?

Jared olha para mim, seus olhos me reprovando silenciosamente.

–Não, você fica quieta em casa até eu descobrir o que é. - ele diz, incisivamente. - Algo deve ter te afetado.

Me afetado? Que piada, quero dizer.

–Eu acho que nós deveríamos tentar algumas coisas. - digo, devagar.

Jared está guardando seus utensilhos e me olha, surpreso.

–Como o que? - ele pergunta.

Eu não posso ser invencível. Quero dizer, sabe aquela histórinha do tornozelo de Aquiles? Bem, eu devo ter um fio de cabelo, pelo menos, de Aquiles.

Me sento na mesa e digo:

–Para saber o que me faz mal ou não eu tenho que experimentar, Jared. Saber o que me mata, o que me fere permanentemente. Assim, se eles nos acharem...

–Não vão.

Jogo as mãos para o alto, exasperada. Vai ser, no mínimo, difícil convence-lo.

–Temos que pensar em tudo. Eu posso nos protejer sem ser imprudente se eu souber o que pode me matar.

–Você sente dor, Lexie. - Jared fala, os olhos melancolicos.

Olho para minhas mãos. Sim, eu sinto dor. Cerro os dentes ao pensar em tudo que já senti.

–A dor é menor quando você sabe, no seu íntimo, que nada realmente ruim vai te acontecer. - falo, meio que sorrindo. - No máximo vou arranjar minha primeira cicatriz.

Penso em Ethan.

Ele provavelmente deve estar ensaiando seu recital, enquanto eu estou aqui pensando em me torturar.

Jared cruza os braços. Sua testa está franzida, e eu praticamente escuto sua cabeça trabalhando. Sinto dó dele, sua compaixão o levou a me salvar. Se ele não fosse tão bom, eu estaria morta , e ele estaria na sua crise de meia idade com esposa e três filhos.

–Tudo bem, se é o que você deseja. -ele concorda, finalmente.

Solto um suspiro aliviado.

–Mas tem que fazer tudo na minha vista, comigo monitorando seus batimentos cardíacos. E se for muito dolorido, vamos parar na hora.

Concordo com um movimento de cabeça.

–Com o que quer começar? - Jared pergunta, dando de ombros.

Esboço um sorriso e pergunto:

–Você tem uma arma?