Coliseu escrita por Bela Escritora


Capítulo 20
20 - Percy Jackson


Notas iniciais do capítulo

Hey-yo, pessoal!

Olha só quem não desapareceu dessa vez? Eu mesma! Não fui atacada por nenhuma das criaturas sombrias do Lord do Bloqueio Criativo essa semana. Pelo contrário, Momo, deusa grega dos escritores, resolveu me ajudar nas minhas batalhas e aqui estou eu, com mais um capítulo quentinho para vocês.

"Mas então esse é o último capítulo que você prometeu?" <(oOo)>

NÃO!

Lembram daquele pequeno detalhe, quando eu falei que o capítulo talvez ficasse um pouco grande? Então... Ele ficou...

6.000 palavras a mais do que o limite. :D

Por isso... Eu tive que dividir ele em dois E ainda por cima, fiz um epílogo para vocês para fechar algumas pontas soltas.

Já está tudo pronto no meu documento e eu vou estar programando as postagens para ao longo dessa semana. Mas desde já eu agradeço por todo o carinho e apoio que vocês me deram com essa história. Lembrem-se que ela é a primeira que eu publiquei, por isso todas essas coisas significam tanto para mim.

Bom... Sem mais delongas. Vou deixar para me "despedir" de vocês na hora certa.

Por enquanto: Tenham uma ótima leitura.



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Um mar silencioso e tranquilo de um azul turquesa profundo se esticava diante de uma praia de areias brancas onde cavalos de diversas cores caminhavam com calma, pastando as pequenas gramíneas que cresciam mais distante da água. Em meio a eles avistei um pégaso castanho. Ele ergueu a cabeça, como se sentisse a minha presença, e piscou para mim. Eu sorri. Eu conhecia aquele lugar. Aquela era a minha casa, logo acima da colina. Finalmente estava de volta.

— Isso ainda é um sonho, Percy. - falou uma voz familiar, vinda de trás de mim - Mas está muito próximo de se tornar realidade.

Virei-me para o mar, onde um homem muito parecido comigo, de longa barba, armadura completa e um tridente, na mão estava parado, com as ondas batendo delicadamente em seus calcanhares. Parecia mais velho e mais cansado do que da última vez que eu o vira, mas não me prendi muito a esse detalhe. Os deuses podiam aparentar a aparência que quisessem.

— Olá, pai. - respondi, lutando para ocultar a tristeza que aquela revelação me provocara - O fato de você estar me visitando significa que o senhor não está mais bravo comigo?

Poseidon riu e me olhou de forma carinhosa.

— Eu nunca estive bravo com você, Percy.

Franzi o cenho, confuso.

— Mas... O sonho...

— Foi uma encomenda de Zeus para forçar os semideuses a fazerem alguma coisa. - meu pai respondeu com uma careta de desgosto - Não foi só você que teve pesadelos naquela noite e espero que me perdoe se eu te assustei de mais.

Mordi o lábio inferior e neguei com a cabeça.

— Foi eficiente. - respondi.

Novamente, meu pai riu, um som que me lembrava a minha infância. Acima de nós, ouvi uma porta se abrir e, instintivamente, virei na direção do som. Minha mãe saia da casa, carregando um cesto de vime com roupas que ela estendeu no chão de grama. Ela parecia cansada e, quando olhou para o mar, seu rosto adquiriu uma expressão melancólica de dor. Meu primeiro instinto? Gritar para chamá-la. Correr até ela e lhe dar um abraço. Mas eu estava apenas tendo uma visão do que estava acontecendo. Eu não poderia interagir com ela. Não naquela forma.

— O que o traz aqui, pai? - perguntei, voltando a olhar para ele. Observar a minha mãe sem poder falar para ela que estava bem era doloroso de mais.

Poseidon também observava Sally. Sua expressão era uma mistura de carinho e saudades. Eu nunca me perguntara o quão difícil devia ser para um deus se apaixonar por um mortal.

— Eu vim te desejar boa sorte, filho. - ele falou - E dizer que todos os deuses estão a favor da sua empreitada.

Arregalei os olhos, surpreso e mexi os pés na areia, desconfortável.

— Bom... Uau... Isso... Isso é alguma coisa. - consegui falar - Mas todos? Mesmo Ares?

Meu pai sorriu, divertido.

— Até o cabeça quente do Ares precisa dos humanos para sobreviver, filho. E se vocês forem dizimados no Coliseu, nós morreremos juntos.

Foi como se eu tivesse levado um soco no estômago.

— Pera... Então essa sua aparência...?

Poseidon olhou para si mesmo, analisando suas roupas e as próprias mãos.

— Vamos lá, Percy. Não estou tão mal assim. - ele respondeu em tom de brincadeira e eu não pude me conter e ri junto com ele. - Mas, sim. Eu também estou sendo afetado. Por isso essa fuga de vocês é tão importante.

Respirei fundo.

— Ok. Agora você me deixou ansioso. - respondi.

Ele suspirou, compreensivo.

— Eu sei que parece um fardo grande de mais, mas eu tenho confiança que você vai conseguir fazer isso.

— E se eu não conseguir? - perguntei nervoso.

— Lembre-se que você não está sozinho. Seus amigos vão estar lá para te ajudar.

Ele se esquivara da pergunta, mas a resposta estava em seus olhos. Se nós falhássemos, o Olímpo cairia, os Titãs cairiam, os Gigantes cairiam... O próprio Caos deixaria de existir. Bom... Talvez ele não, porque ele já existia muito antes dos humanos trouxas aparecerem e estragarem tudo.

— E isso me trás ao segundo motivo que me trouxe aqui. - ergui as sobrancelhas - Eu preciso te pedir um favor, Percy. Um favor que vai salvar todos os semideuses da perseguição do Imperador.

— Qualquer coisa por isso, pai. - respondi com honestidade.

Ele sorriu.

— Eu preciso que você procure por Lupa e Quíron. - meu pai falou em um tom solene - Diga a eles que os deuses requisitam novamente os serviços dele de proteção e treinamento dos heróis que existem e dos que estão por vir.

— Lupa e Quíron... - murmurei para mim mesmo olhando para o padrão na areia que eu formara com meus pés - Onde posso encontrá-los?

Mas meu pai já tinha desaparecido. Suspirei. Deuses adoravam deixar questões não respondidas. Mesmo que a vida deles dependesse disso. Balançando a cabeça em negativa, virei-me para olhar para a minha mãe. Ela observava o horizonte quando uma figura escura se aproximou dela e colocou a cabeça sobre seu ombro. Blackjack. Um sorriso melancólico se formou em meus lábios.

— Eu vou voltar. - sussurrei, olhando para os dois - Juro pelo Rio Estige.

Lentamente, o sonho começou a se desfazer e a única sensação que restou daquele pequeno pedaço de paraíso foi o toque quente do sol.

Abri os olhos. Estava deitado no meu quarto, sendo iluminado por um braseiro que estava perigosamente perto da palha que escapava do colchão e do travesseiro. Ao meu lado, Nico me encarava.

— Isso é estranho. - resmunguei me erguendo - O que foi?

O filho de Hades deu de ombros, ficando de pé.

— Estamos começando a nos preparar. - ele respondeu e eu percebi que ele já estava usando sua armadura - Vim verificar se você já estava pronto, mas eu ouvi você murmurando o nome do seu pai... Aconteceu alguma coisa?

Não pude conter um sorriso.

— Nada de mais. - respondi ficando de pé também e alongando as costas - Só meu pai falando que temos todos os deuses ao nosso favor porque se perdermos hoje, eles morrem junto com a gente.

Nico arregalou os olhos.

— Nenhuma pressão. - ele murmurou e eu ri - De qualquer forma, trouxe seu equipamento. - ele respondeu, indicando uma pequena pilha ao pé da minha cama - E Thalia disse que quer falar com você.

Assenti com a cabeça.

— Certo. Só não fique gastando a sua energia com viagens a toa. Lembre-se que temos dois caminhos relativamente longos pela frente.

Nico se limitou a concordar e desapareceu nas sombras do quarto mal iluminado.

— Nunca vou me acostumar com isso. - resmungou Frank do outro lado do aposento, ajustando as correias do peitoral.

Sorri, puxando para mim o meu equipamento.

— Sendo bem honesto? Nem eu. - comentei enquanto me vestia - Mas ele é um garoto legal.

Vesti-me o mais rápido que pude. Não tínhamos tempo a perder. A armadura que eu e todos os semideuses usavam era a de treinamento - roubada do pequeno depósito do liceu - e nem de longe a mais adequada para o combate na escala em que estávamos nos preparando para enfrentar. Pesava em mim saber que, por causa disso, vários de nós morreriam, mas, infelizmente, não havia nada que eu ou qualquer um de nós podíamos fazer. Era aquilo ou lutar sem proteção nenhuma, o que parecia uma perspectiva ainda menos promissora.

Assim que estávamos prontos, Frank amarrou nas barras da porta um retalho de um pano vermelho que Piper tinha conseguido ao convencer um guarda que precisava de tecido para remendar as roupas de todos ali dentro. Eles serviam para indicar quem já estava pronto. Quando todas as portas estivessem marcadas, caberia a Thalia dar o sinal que iniciaria a rebelião. Um raio destruiria os cadeados que trancavam as portas e, por isso, todos foram recomendados a manterem uma distância segura da entrada dos seus quartos.

— Aquilo que você falou... - começou Frank - Sobre todos os deuses estarem do nosso lado... Você acha que isso é válido para a versão romana deles?

— Mas é claro. - respondi, encostado contra a parede do fundo do aposento - Se os semideuses gregos morrerem leva a morte dos deuses gregos, por que seria diferente com os romanos?

— Só... Só queria ter certeza. - ele resmungou - Porque meu pai parecia um pouco irritado comigo da última vez que eu tentei falar com ele.

— Não se preocupe. - falei, repousando uma mão em seu ombro - Meu pai me garantiu que até Ares se aliou a nossa causa.

O ex-general suspirou aliviado e sorriu.

— Isso com toda a certeza é muito bom de ouvir.

Do lado de fora do nosso quarto, a noite estava silenciosa. Com exceção do eventual ruído de passos de uma patrulha de guardas do lado de fora, tudo estava quieto. Os soldados aparentavam estar completamente alheios ao que se desenvolvia atrás das paredes do pátio do liceu.

Aparentavam. Era essa palavra que me incomodava. Depois que se recuperara, Nico me confessara suas suspeitas de que os guardas sabiam de alguma coisa. Apesar de não querer acreditar que eles, de alguma forma, tinham descoberto, não conseguia afastar essa sensação da minha mente. Argumentava comigo mesmo que, se isso tivesse acontecido, os deuses teriam nos avisado. Eles não iriam querer correr o risco de que nós fôssemos tão brutalmente derrotados. A não ser, é claro, que eles estivessem tão desesperados com a própria situação que haviam escolhido confiar incondicionalmente em nós e nem se importaram em mencionar a informação, já que, na cabeça deles, não havia espaço para a nossa derrota.

Os segundos se arrastaram, se transformando em minutos. O tempo parecia se divertir com a nossa ansiedade e, portanto, a prolongava o máximo que podia. Eu girava o estilete de osso entre os dedos de forma nervosa. Estava tão tenso que, quando um trovão ribombou sobre as nossas cabeças, quase dei um pulo para trás.

— É agora. - Frank murmurou.

Não respondi. Um clarão iluminou o céu. Depois outro. O ar ficou com um cheiro metálico e cobri as orelhas com as mãos, sabendo o que viria a seguir. O nosso quarto foi iluminado por uma luz branca cegante e, mesmo com todas as precauções para não ficar surdo, o estrondo do impacto do raio foi suficiente para me deixar com um zumbido irritante no ouvido.

A porta agora tinha um buraco flamejante onde antes ficava preso o cadeado e o pedaço de tecido fora carbonizado no processo. Sorri e olhei para Frank.

— Deu certo. - ele murmurou, olhando assombrado para o local atingido pelo raio.

— Vamos, Frank. - falei, avançando para a porta - Thalia vai ficar muito contente em saber que você aprecia o trabalho dela.

O filho de Marte se apressou a ficar de pé.

— Não ouse contar isso para ela, Percy. - ele pediu - Ou ela vai passar a batalha inteira se gabando sobre isso.

Ri, empurrando a porta com o pé.

— É, você tem toda a razão.

O pátio estava um caos. Alguns semideuses haviam se engajado em um combate com os guardas da patrulha e o restante ou assistia ou descontava toda a sua raiva destruindo o local.

— Ok... Isso não está indo como planejado. - resmunguei, invocando Contracorrente - Frank, encontre Reyna e tente botar uma ordem nessa baderna. Eu vou procurar por Thalia e Nico.

O ex general assentiu e nos dispersamos. Para passar entre os vários jovens furiosos espalhados por ali, eu me vi forçado a empurrar vários deles para fora do meu caminho enquanto seguia para o quarto da filha de Zeus. Não precisei ir muito longe. Ela me interceptou no meio do caminho e me puxou para a borda do pátio, onde a situação estava mais calma.

— Que bagunça, hein? - ela comentou - Não achava que o pessoal ia ficar tão louco quando saísse do quarto.

— Eles querem vingança. - resmungou Nico, aparecendo do meu lado do meio do nada - E então? O que fazemos?

— Pedi para Frank encontrar Reyna. - respondi - Se tem alguém que sabe o que fazer para controlar uma horda de soldados enlouquecidos é ela.

— Boa ideia. - Thalia falou com um sorriso no rosto. Podia ser impressão minha, mas seus olhos pareciam mais elétricos do que de costume - Mas não foi por isso que eu pedi para falar com você. - ela ficou séria - Eu vou com vocês até a prisão.

Olhei para Nico, nervoso. Era ele que teria que aceitar aquilo, e não eu. O garoto baixou os olhos e mordeu o lábio inferior.

— Eu... Não sei se é uma boa ideia, Thalia. - ele murmurou.

— É claro que é uma boa ideia! - ela respondeu - Meu irmão, que eu achava que estava morto, está lá embaixo! Eu vou com vocês. Não é uma opção.

— Thalia... - comecei.

— Atenção todo mundo! - berrou Reyna no centro do pátio e eu, instintivamente, me virei para ver o que estava acontecendo - Estamos à beira de uma revolta e vocês estão agindo como um bando de crianças! Nós já discutimos o que vai acontecer aqui hoje! Vão para os seus postos!

Com alguns murmúrios de insatisfação, os semideuses se dispersaram, indo para suas posições de batalha. Eu suspirei aliviado enquanto observava o restante do nosso grupo de aproximar.

— O que vocês ainda estão fazendo aqui? - perguntou Hazel, preocupada - Os soldados do exército vão chegar aqui a qualquer minuto!

— Estamos com um pequeno... - comecei, coçando a nuca.

— Não ouse dizer problema, Jackson. - sibilou Thalia me lançando um olhar venenoso e se virou para o resto do grupo - Eu quero ir com eles, resgatar o meu irmão.

— Não é uma boa ideia, Thalia. - repetiu Nico, dessa vez com mais firmeza - Uma viagem nas sombras com um passageiro já é cansativa o suficiente. Se eu levar você também, não sei se vou ter energia para trazer todo mundo de volta. Lembre-se que tem mais quatro prisioneiros lá embaixo.

A filha de Zeus o olhou com raiva.

— Nós precisamos de você aqui liderando o grupo leste, Thalia. - emendou Reyna - Se você for com eles, ficaremos desfalcados e, muito provavelmente perderemos o combate.

— Dá para colocar outra pessoa no meu lugar. - ela resmungou, cruzando os braços.

— Quem? O Leo? - a filha de Belona ergueu uma sobrancelha.

O grupo riu diante da possibilidade de colocar o filho de Hefesto no comando de uma unidade militar.

— No fundo eu sei que você me ama. - retrucou o garoto, dando-lhe um dos seus costumeiros sorrisos sapecas. Em resposta, Reyna o empurrou pelo rosto para o lado sem nem se dignar a olhá-lo, provocando novas risadas.

Thalia suspirou resignada.

— Tudo bem. Eu fico. - ela resmungou e se virou para mim com um ar feroz - E você trate de trazer meu irmão são e salvo, ouviu bem, Cabeça de Alga?

— Te dou minha palavra. - respondi.

Satisfeita, ela assentiu.

— Isso resolvido, - prosseguiu Reyna - Vamos para nossas posições. Sinceramente espero que todos aqui saibam o que tem que fazer.

— Convencer os guardas a se renderem. - falou Piper.

— Criar ilusões com a névoa. - disse Hazel.

— Tacar fogo nas coisas! - exclamou Leo e todos o olharam, sérios. O garoto bufou, exasperado - Pessoal sem humor vocês, hein? - ele suspirou - Eu controlo as armadilhas.

— Comando do grupo de ataque leste. - falou Thalia.

— Comando do grupo de ataque sul. - adicionou Frank.

— E eu comando o grupo de ataque oeste. - finalizou Reyna - Ótimo. E vocês dois?

— Resgatamos os prisioneiros e trazemos eles para cá para auxiliarmos na fuga. - respondi.

A ex-general assentiu.

— Não demorem.

— Não vamos. - afirmou Nico e me ofereceu a mão - Pronto?

— Antes disso... - me virei para o resto do grupo - Meu pai falou comigo em um sonho, hoje. Não sei se mais alguém teve essa experiência essa noite, mas ele me disse umas coisas preocupantes. Os deuses estão morrendo. Se nós falharmos nessa fuga, seremos executados e eles cairão com a gente. - os semblantes de todos ficaram duros com o peso daquelas palavras - Sei que pode parecer um fardo muito grande, mas temos que tentar. - continuei - Eles estão todos do nosso lado, afinal.

O grupo assentiu em concordância, relativamente mais seguros diante dessa última fala, mas ainda assim claramente mais sérios por conta da verdadeira realidade da nossa situação. Sem tempo a perder, virei-me para Nico e, juntos, mergulhamos nas sombras. O estranho frio me envolveu e eu tive que me concentrar muito para não perder o foco. Sendo bem honesto, eu não gostava de fazer aquilo, mas era a única opção para resgatar os nossos amigos. Eu só rezava para que Annabeth estivesse bem. Se algo tivesse acontecido a ela... Bom... Não sei o que eu faria.

O caminho foi mais curto do que a viagem que fizéramos antes até o arsenal e, antes do que eu esperava, vi as sombras se abrirem em um longo corredor escuro que me era bem familiar.

— Sabe onde estamos? - perguntou Nico ofegante, olhando ao redor.

— Mais ou menos. - respondi - Você tá bem?

— Vou ficar. - ele se limitou a responder e se aprumou - Pra que lado então?

Iluminei o caminho à frente com a espada e depois fiz o mesmo com o que estava atrás. Algo me dizia que tínhamos que ir pelo primeiro e, por isso, resolvi seguir meus instintos.

— Por aqui. - falei, começando a caminhar.

— Tem certeza? - o filho de Hades perguntou, vindo atrás de mim com a espada negra em punho - Não temos tempo a perder aqui embaixo.

— Confie em mim, Nico. - pedi - Eu sei onde estou indo.

Caminhamos pelo corredor de pedras em silêncio. As celas de ambos os lados estavam vazias, o que conferia ao ambiente uma aparência ainda mais assustadora e desolada. Nossos passos ecoavam ao nosso redor e eu estava tão preocupado com encontrar os meus amigos que quase não percebi outros passos se aproximando. No final do corredor, uma luz de tocha começou a crescer, juntamente com o som de metal se chocando com metal, típico de armaduras.

Não pensei duas vezes. Recolhi Anaklusmos e puxei Nico para a cela mais próxima.A escuridão nos protegeu enquanto um esquadrão de pelo menos vinte soldados passava disparado, preocupados de mais com seus objetivos para prestar atenção em nós. O filho de Hades me lançou um olhar receoso.

— Essa foi por pouco. - ele sussurrou e eu assenti em concordância.

Esperamos o som sumir na escuridão e voltamos a caminhar pelo corredor. Espadas em uma mão e o coração na outra. O medo nos cercava com uma atmosfera de tensão, mas continuávamos em frente. Quanto mais nos aproximávamos da curva ao final, maiores eram as chances de sermos descobertos por uma segunda patrulha que passasse as pressas. Mas os sons que vinham dali não eram o de botas se chocando contra o chão em uma marcha acelerada, mas sim o burburinho de vozes conhecidas. Deixei um sorriso se formar em meus lábios enquanto um suspiro de alívio escapava.

— Estamos perto. - sussurrei para o garoto atrás de mim.

— Tem certeza? - ele perguntou, olhando por sobre o ombro, nervoso.

Assenti.

— Conheço essas vozes.

Chegamos à curva e nos encostamos contra a parede. Usei a espada como espelho para verificar se havia guardas ali. Havia apenas um vigia, sentado em um banco e claramente adormecido. Além dele, era possível ver algumas figuras inquietas dentro de suas celas, enquanto conversavam em voz baixa. Sinalizei para Nico e recuamos alguns passos.

— Um guarda. - sussurrei - Ele provavelmente tem a chave das celas. Acha que consegue dar conta dele?

O garoto me lançou uma expressão cética e desapareceu nas sombras. Momentos seguintes ele tornou a aparecer com um molho de chaves em uma mão e a espada pingando sangue na outra. As conversas haviam cessado.

— Você ainda precisa perguntar esse tipo de coisa, Jackson? - ele resmungou me jogando as chaves e marchando para o corredor escuro.

Segui atrás dele com a espada em punho, pronto para o caso de mais soldados aparecerem. A luz pálida do bronze celestial iluminava figuras rapidamente se afastando das grades, como se quisessem fingir que nada estava acontecendo ali. Contei as celas, confiando em minha memória das vezes que eu retornara acordado da arena. Passei pela que um dia fora ocupada por Beckendorf, mas que agora se encontrava vazia. A simples lembrança da morte dele fez meu coração pesar.

Em frente a minha cela, agora ocupada por quem eu reconheci ser Jason, ficava a de Will. Ambos estavam deitados no fundo, de costas para nós e fingindo dormir. Passei reto por eles, indo para a cela ao lado e senti o alívio desatar os nós de tensão em meu peito. Annabeth estava ali, deitada de costas para mim, assim como os outros. Com cuidado, abri a porta, mas ela não manifestou interesse. Fui silenciosamente até ela e deixei um sorriso se formar no meu rosto enquanto me abaixava ao seu lado.

— Hey, Sabidinha! - sussurrei - Hora de dar o fora daqui.

Annie ergueu a cabeça e se virou para me olhar. Imediatamente, seu rosto se iluminou com uma alegria que eu nunca tinha visto nela e, antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela me puxou para um beijo. Senti cada músculo do meu corpo relaxar naquele breve momento que eu estivera esperando tanto. Teria ficado ali eternamente se não fosse um pigarro contrariado.

— Desculpa ser o estraga prazeres, Jackson. - resmungou Nico - Mas eu preciso das chaves para soltar os outros.

Revirei os olhos com um sorriso bobo nos lábios e joguei o molho para ele através da porta. Ele foi direto para a cela de Will. Enquanto isso, eu ajudei Annabeth a se levantar e a envolvi em um abraço apertado.

— Achei que nunca mais fosse te ver. - ela sussurrou com o rosto escondido em meu ombro.

— Se depender de mim isso nunca vai acontecer. - sussurrei em resposta, afagando-lhe o cabelo.

— Então você realmente está vivo, Jackson. - resmungou Clarisse na cela em frente e eu me virei para ela, rindo.

— Não fique tão desapontada, Clarisse. - retruquei - Eu ainda tenho que sair de Roma.

— Vai dar tudo certo. - Annie murmurou, envolvendo minha mão na dela. Eu respondi com um sorriso.

Saímos os dois para o corredor e eu me virei para Nico para pegar as chaves e soltar os outros, mas, antes que eu pudesse falar qualquer coisa, o garoto foi atropelado por Will.

— Você tá vivo! Por Zeus, eu achei que você tinha morrido depois daquela flechada! Eu não achei que...

— É... Obrigado por salvar a minha vida aquele dia... Agora você quer, por favor, me soltar?!

— Desculpa, senhor das trevas. - retrucou Will com um sorriso brincalhão.

Nico se desvencilhou do garoto e, mesmo que a iluminação ali fosse precária, tive certeza de que ele estava vermelho. Ele abriu a cela de Jason e me jogou as chaves para que eu libertasse Clarisse. A filha de Ares rosnou um obrigado ao sair e olhou ao redor com os braços cruzados e um claro ar de insatisfação.

— Onde estão nossas armas, Jackson? - ela perguntou.

— No Liceu. - respondi - Agora vamos dar o fora daqui. Nico?

O garoto embainhou a espada e deu as mãos para Jason e Will. Soltei as chaves no chão, recolhi Contracorrente para sua forma disfarçada e dei as mãos para Annie e Jason. Clarisse fechou o círculo à contra gosto.

— O que é isso? - ela perguntou com um tom jocoso - Um ritual de invocação.

— Não. - respondeu Nico respirando fundo - Uma viagem nas sombras. Não importa o que vocês virem lá dentro, não soltem as mãos, entendido? - todos assentiram, receosos - Recomendo que fechem os olhos.

— Você já fez isso antes? - perguntou Jason receoso.

— Só com um passageiro. - ele respondeu - Mas está de noite e aqui está escuro. Não vai ser difícil. - ele me lançou um olhar significativo e eu assenti - Segurem firme.

A escuridão nos envolveu com seu frio característico e entramos no reino das sombras. Eu mantive a minha atenção completamente voltada para os meus amigos. Eles haviam seguido a recomendação do filho de Hades, fechando os olhos para evitar ver aquela paisagem estranha, mas não deixavam de demonstrar medo em seus semblantes. Não era preciso enxergar para sentir que aquele lugar não gostava de visitantes.

As sombras então se dissolveram ao nosso redor, revelando o pátio em chamas do Liceu. Olhei ao redor, confuso. As armadilhas de Leo e os poderes de Piper haviam sido insuficientes para conter o avanço dos soldados romanos e eles haviam conseguido invadir o Liceu. As três unidades se esforçavam para impedir que os guardas conseguissem ganhar mais terreno e os acuassem contra as paredes. Busquei ao redor algum dos rostos conhecidos, mas a confusão da batalha me impedia de discernir pessoas específicas. Virei-me para o nosso grupo de viagem a tempo de ver Nico colapsar de exaustão, completamente inconsciente.

Precipitei-me em sua direção, preocupado.

— Nico... - chamei, observando Will apará-lo e checar seu pulso.

Quando ele ergueu os olhos para falar comigo, seu rosto ficou lívido.

— Percy! Cuidado!


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Notas finais do capítulo

Tan-tan-TAAAAAN!

Cabou a história. Percy morreu. Aceitem.

...

Brincadeira!

O que vocês acharam do capítulo? Sugestões, correções, críticas construtivas e mensagens de amor são bem vindas nos comentários.

Espero que tenham gostado e vejo vocês no próximo capítulo.



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