Coliseu escrita por Bela Escritora


Capítulo 19
19 - Nico di Angelo


Notas iniciais do capítulo

OLÁ PESSOINHAS!!!

Olha só quem escapou do mundo invertido junto com o Will? Eu mesma!

Primeiramente, mil desculpas por ter demorado tanto para postar mais um capítulo. Eu meio que tive uma crise sobre quem deveria narrá-lo. Se ia ser o Nico ou o Will e, bom, acabei decidindo pelo primeiro porque eu queria explorar umas outras coisinhas nele. Por isso, espero que não se importem de ler dois capítulos seguidos com o nosso querido pirigótico trevoso.

Segunda coisa: Esse é, muito possivelmente, o penúltimo capítulo da fanfic. E eu digo "possivelmente" porque, pela quantidade de coisas que eu quero colocar no que seria o último, eu tenho a impressão que terei que dividí-lo em duas partes.

Enfim, espero que vocês aproveitem o capítulo e, novamente, desculpa pela demora! Bloqueios criativos são dose e, infelizmente para mim, eles costumam ser frequentes.

Sem mais delongas! Boa leitura a todos!



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— Como assim vocês perderam a minha espada?! - perguntei incrédulo, internamente contendo o riso. É claro que eles tinham perdido a minha espada! Eu pessoalmente a tinha roubado do depósito na noite anterior.

— Olha bem como você fala, graecus. - rosnou o guarda, colocando a mão sobre o cabo da espada em uma ameaça velada.

Bufei, revirando os olhos.

— Eu não sou grego. - resmunguei.

— Pouco me importa, Cérbero. - ele sibilou me olhando de forma ameaçadora - Pegue a maldita espada que eu te trouxe e coloque a merda do capacete.

Obedeci. A última coisa que eu precisava era morrer tão próximo da fuga. Já bastava eu ter sido selecionado para mais um daqueles jogos idiotas de proteção. Não podia me dar ao luxo de perder aquele combate. Se eu ficasse incapacitado de alguma forma, todo o plano ia por água abaixo. Sabendo disso, eu não podia deixar de pensar se os guardas já suspeitavam de alguma coisa. Talvez alguém tivesse dado com a língua nos dentes, ou falado muito alto sobre a ideia e, agora eles resolveram tentar eliminar a possibilidade. Contive um palavrão. E era por isso que eu não confiava nas pessoas.

Atrás de mim, o som dos passos dos soldados anunciou a chegada do meu protegido. Não me virei para olhar. Não por falta de consideração, mas porque se eu demonstrasse algum interesse pelo recém chegado isso podia deixar os guardas — ainda mais — suspeitosos. Um garoto de cabelos loiros sujos e desgrenhados e aparência de exaustão e resignação foi prostrado ao meu lado. Os pulsos estavam acorrentados juntos por grilhões que ele mal parecia ser capaz de sustentar. Tive pena dele de repente. Ele achava que estava indo para a morte. Mais um motivo para eu sobreviver àquela luta sem sentido.

Através da porta, ouvi o anfitrião berrar o meu nome. Os portões se abriram com um rangido e o garoto ao meu lado tentou recuar e acabou levando um cutucão de uma das lanças dos soldados atrás dele.

— Au. - ele resmungou sem forças, esfregando a mão na lombar. Ele olhou para o portão, espremendo os olhos diante do sol forte. Em seu rosto estava uma expressão de terror pela perspectiva do que lhe aguardava do lado de fora.

— Vamos. - sussurrei com firmeza, tentando passar a ele alguma segurança. Mas eu não era Reyna. Eu sabia inspirar medo e terror nas pessoas, tal qual Phobo e Deimos, mas confiança? Vamos dizer que nem eu nem meu pai nos esforçávamos muito para obter esse título. Em resposta, o garoto me olhou nervoso, mordendo o lábio inferior, mas me seguiu quando comecei a andar em direção a arena.

Fazia mais de um mês que eu não colocava os pés ali, o que fora o suficiente para me fazer esquecer como era a sensação de ser sufocado por vivas e vaias e cegado pelo sol refletindo no mármore branco da parede e na areia que recobria o chão de madeira.

Levemente desorientado, esquadrinhei os arredores em busca do nosso inimigo, mas ele não tinha entrado ainda. Estranho. Geralmente eles entravam primeiro. Atento a qualquer ruído diferente das manifestações da platéia, virei-me para o garoto atrás de mim que, prostrado de joelhos, rezava baixinho.

— Você tem noção que aqui não é o melhor lugar para fazer isso, certo? - perguntei.

Ele deu de ombros.

— Eu vou morrer de qualquer jeito. - ouvi ele resmungar enquanto esquadrinhava nervosamente os portões.

— Não se depender de mim. - retruquei, cruzando os braços.

— Me perdoe se eu não confiar muito em gladiadores. - ele respondeu me lançando um olhar enviesado - Principalmente depois de terem matado os meus irmãos.

Suspirei, olhando por sobre o ombro para o portão na extremidade oposta da arena.

— Sei como você se sente. - murmurei.

— Ah, sabe mesmo?! - sua voz adquiriu um tom jocoso - Não são vocês gladiadores que matam os nossos irmãos semideuses?

Foi como se eu tivesse levado um soco no estômago. Ele também era um semideus... E achava que eu estava matando outros semideuses. Aquilo doía mais do que receber um olhar de medo ou terror quando eu falava que era filho de Hades.

Virei-me para encará-lo. Ele me olhava com desgosto e desafio. Parecia capaz de me matar se tivesse uma arma. O ódio que ele tinha pelos gladiadores era legítimo e eu entendia muito bem. Perguntei-me se ele tinha ouvido falar da morte de Lee, Michael, Ethan e Castor.

— Bom, nesse caso, não acho que você tem motivos para me odiar. - respondi estendendo-lhe a mão - Afinal de contas, eu sou um semideus como você. - seu olhar passou de raiva para confusão e descrença - Agora se levante antes que...

Fui interrompido por algo se chocando contra mim e me derrubando no chão, enchendo a minha boca de areia e expulsando todo o ar dos meus pulmões. Dentes se enterraram em meu ombro, milagrosamente conseguindo se enfiar entre a proteção da armadura, e eu solteu um grito de dor involuntário. Sentia patas pesadas me mantendo fixo no chão. Burro, burro, burro! Como eu pudera dar as costas a arena desse jeito?! Era óbvio que o ataque não seria direto!

Com lágrimas de dor embaçando a minha visão, meti um soco no focinho do animal. Ele me largou, rugindo em fúria, e eu me aprecei a rolar para longe, desembainhando a espada. Busquei com os olhos o semideus que eu, supostamente, deveria proteger. Ele tentava se esquivar de um homem duas vezes maior do que ele, com braços que mais pareciam dois troncos de madeira. Ele parecia estar se dando bem por enquanto.

Voltei minha atenção para o felino diante de mim e não tive tempo de me levantar antes que a leoa me atacasse. Ainda agachado, observei-o avançar na minha direção com ares de ódio e fome. Deixei-me cair no chão, me esquivando de uma patada que teria me dado novas cicatrizes no rosto e, muito provavelmente, arrancado um dos meus olhos fora. Com deitado de costas, vi quando o animal subiu em mim, mirando meu pescoço com sua bocarra escancarada. Olhei-a nos olhos, dois discos dourados cheios de fome, e observei a vida se esvair deles enquanto eu enterrava a lâmina da minha espada em seu pescoço. Seu sangue escorreu pelo punho da espada, cobrindo rapidamente os meus braços, enquanto desabava sobre mim, morta. Tive que fazer mais esforço do que gostaria com o meu ombro ferido para empurrar o corpo para o lado e recuperar a espada.

Olhei ao redor, buscando o garoto. Ele estava encurralado contra a parede, do outro lado da arena. Em sua bochecha, um corte fazia cobrir um quarto do seu rosto com sangue. Seus olhos, porém, não demonstravam o medo ou o nervosismo que eu vira nele antes de entrarmos na arena. Ele parecia determinado de um jeito que eu nunca vira ninguém. Nem mesmo Percy. E sob o sol, observando bem, ele não parecia mais aquele garoto frágil das catacumbas. Era como se ele tivesse recuperado toda a sua energia ao sair daquele lugar.

Soltei um palavrão enquanto eu me colocava de pé.

Ele era um filho de Apolo.

Comecei a correr na direção deles. O gladiador ergueu a espada e a desceu em um arco, mirando o pescoço do semideus. O garoto se abaixou, fazendo a ponta da lâmina raspar na parede atrás dele, liberando centenas de faíscas no ar. Ele tentou escapar pelo lado, mas o homem o derrubou no chão com um chute na canela e tornou a jogá-lo contra a parede. Ouvi o grunhido de dor que o outro soltou enquanto deslizava contra o mármore, sem forças e desorientado.

— HEY! - gritei, tentando chamar a atenção do gladiador, mas foi o mesmo que nada. Os urros de alegria da platéia faziam qualquer som desaparecer - HEY! - tentei mais uma vez e obtive o mesmo resultado.

Continuei correndo, os olhos fixados na cena, torcendo para que os organizadores do jogo não resolvessem lançar outro leão sobre mim. O gigante agarrou o meu protegido pelo pescoço e o ergueu do chão. Os pés do garoto balançaram no ar inutilmente, tentando chutar algo que fosse lhe dar uma nova chance de escapar. Mas os braços do seu oponente eram longos o suficiente para manterem o menino fora do alcance desejado.

— Não... - sussurrei, percebendo que não chegaria até ele a tempo quando o gladiador apontou a espada para o ventre do garoto.

Nem pensei no que fiz a seguir. Meus instintos tomaram controle e antes que eu pudesse ter uma reação racional sobre o que estava acontecendo, mergulhei nas sombras. O frio da escuridão foi bem vindo pelo pouco tempo que me envolveu. Eu retornei à superfície, logo atrás do gladiador e, sem nenhum remorso ou culpa, enterrei a espada até a guarda no meio das costas dele.

Sentindo uma calma fria se apoderar de mim, dei um passo para o lado, nem me importado de remover a arma do corpo, e observei o homem desabar gorgolejante. Atrás dele, o semideus massageava o pescoço, muito provavelmente dolorido depois de quase ser esmagado. Ele me deu um sorriso pequeno e cansado.

— Obrigado. - ele sussurrou.

Abri a boca para responder, mas uma dor aguda me atravessou o peito. O jovem ficou com o rosto lívido e eu baixei os olhos para o meu tórax. A ponta metálica de uma flecha brilhava escarlate, trespassada na minha armadura de couro endurecido. Senti sangue subir à minha boca enquanto eu desabava no chão arenoso. O meu peso quebrou a haste que ficara para fora nas minhas costas e eu deixei escapar um grito abafado de dor.

Idiota, idiota, idiota! Era nisso que dava querer bancar o herói. Agora todo o plano de Percy iria por água a baixo. Graças a minha ideia estúpida de usar os meus poderes dentro da arena.

Olhando ao redor assustado, o garoto se ajoelho ao meu lado. Percebendo que o tiro não viera de outro gladiador na arena, mas sim dos guardas ao redor dela, ele se virou para mim com um olhar de repreensão.

— Ok. Isso foi idiota, senhor das trevas. - ele brincou de forma nervosa, erguendo o meu tronco com delicadeza - Usar os seus poderes na arena? Jason me contou que isso é o equivalente a uma sentença de morte. Você quer tanto morrer assim?

Soltei um grunhido que era tanto uma risada sem humor quanto uma reclamação de dor. Meu sangue parecia gelado nas veias e meus dedos estavam formigando. Respirar era difícil. Mais ainda era se concentrar no que o garoto estava falando. Eu estava morrendo e não estava gostando nem um pouco da sensação, mas me forcei a continuar acordado, por mais que o meu verdadeiro desejo fosse fechar os olhos e deixar a escuridão me carregar.

— Ja...son? - consegui falar - Você...

— Sim, eu conheço o cara. - ele respondeu - Pelas descrições dele, acredito que você seja Nico, certo? - com as poucas forças que me restavam assenti com a cabeça - Bom, eu sou Will, filho de Apolo. Agora fique parado, porque eu preciso terminar que quebrar essa flecha.

Não consegui protestar antes dele fazer o que precisava fazer. A dor se alastrou por meu peito como se seguisse linhas de uma rachadura. O que eu senti seria digno de um grito, mas a minha voz se perdera em minha garganta e eu apenas consegui gemer baixinho.

— Pronto. - Will tornou a me deitar no chão arenoso - Agora vamos tirar essa seta de você, ok?

Seus dedos longos e finos envolveram a ponta da flecha e eu segurei o seu pulso, impedindo-o de continuar.

— Antes... de eu morrer... - sussurrei, buscando ar - Eu preciso que você... Passe uma mensagem... Nós vamos... Resgatar vocês e... Sair daqui.

O rosto de Will se iluminou com um sorriso e eu juro que vi lágrimas em seus olhos. Mas podia ser apenas efeito do sol logo atrás dele, que fazia parecer que uma aureola dourada adornava sua cabeça.

— Isso é, de fato, uma ótima notícia. - ele falou com a voz embargada - Agora deixe-me te dar uma outra em retribuição: Você não vai morrer. Não se depender de mim.

Quis sorrir, mas minha força falhou novamente e eu mergulhei em um mar de torpor cada vez mais escuro. Podia ver Tânatos logo atrás do semideus. As asas negras em suas costas sugando toda a luz ao redor. Ele estendia a mão para mim e eu queria aceitar. Queria sair daquele lugar, daquele eterno pesadelo... Reencontrar a minha irmã... Bianca... Será que ela estava esperando por mim?

Nem senti quando Will puxou a flecha do meu peito. Acredito até que já estava morto. Meus dedos estavam a centímetros dos do deus. Mas então uma sensação quente me invadiu, irradiando da ferida em meu peito para todo o meu corpo. O deus desapareceu em uma nuvem de névoa branca e o mundo escureceu com o passo dos soldados romanos se aproximando pela areia.

...

Deja vu. Foi isso que eu senti quando fui acordado pelo familiar som de pessoas lutando com espadas de madeira e senti um monte de feno sob o meu corpo. Era como da primeira vez que eu fora trazido para o liceu. Esfreguei a cabeça enquanto me levantava devagar. Podia sentir as veias nas minhas têmporas latejando. O que tinha acontecido? A última coisa que eu lembrava era...

— Bem vindo de volta. - a voz de Percy interrompeu os meus pensamentos.

Virei o rosto para encarar o garoto sentado logo ao meu lado com ares de preocupação e alívio. Ele me deu um sorriso e eu baixei os olhos para o meu tórax desnudo, onde bandagens cobriam o local em que eu me ferira. Senti um certo constrangimento por estar parcialmente despido com o garoto que eu gostava sentado do meu lado.

— O que aconteceu? - perguntei, a voz saindo áspera por conta da garganta seca.

— Você quase morreu. - Percy respondeu, mas, ao contrário do que eu esperava, ele não parecia estar com raiva pelo que tinha acontecido. Ele pegou uma jarra de água e despejou um pouco do conteúdo em um copo, que eu aceitei de bom grado quando ele me ofereceu - Nos deu um baita susto quando chegou aqui sangrando de um ferimento de flecha. Você deu sorte que o Will estava na arena com você.

— Como você... Como você sabe que era ele? - perguntei confuso.

Percy coçou a nuca, levemente desconfortável.

— Ah, sabe... Você falou várias vezes o nome dele enquanto dormia. E como você nunca chegou a conhecê-lo... Bom, supus que fosse ele na arena com você hoje.

Mordi o lábio inferior, sentindo meu rosto corar e o filho de Poseidon me deu um sorriso cúmplice.

— Não se preocupe. - ele se pôs de pé - Ele é um cara legal. Agora eu vou avisar para os outros que você está acordado. Vamos esperar você se recuperar para darmos continuidade para o plano. Por isso, aproveite esse tempo para descansar.

— Certo. - resmunguei tornando a me deitar na palha e observando o garoto se afastar, mas então me lembrei de algo - Ei, Percy?

— Que foi? - ele perguntou se virando - Precisa de alguma coisa?

Neguei com a cabeça.

— Não, eu só... Eu pedi pro Will avisar para os outros que vamos tirar eles de lá.

Percy tornou a sorrir.

— Ótimo. Desse jeito a gente não mata eles do coração quando aparecermos por lá. - ele respondeu.

Permiti-me uma risada fraca, já que meu peito doía com o simples movimento de respirar. Percy tornou a se afastar e logo tinha deixado o depósito. Eu me acomodei na palha e me deixei levar pelo sono. Curiosamente, não pude deixar de pensar em Will antes de adormecer.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Espero que sim!

Caso tenham alguma recomendação, correção, ou queiram simplesmente deixar um "oi", podem fazer isso nos comentários. Eu não mordo e adoro o feedback de vocês. Ajuda a melhorar a minha escrita e a deixá-la agradável para vocês também. ;)

Deixo vocês por aqui e nos vemos no próximo capítulo!



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