Coliseu escrita por Bela Escritora


Capítulo 11
11 - Leo Valdez


Notas iniciais do capítulo

BOUAS PESSOAL!

Olha só quem já voltou?! Euzinha! EBAAAA!

Eu tava muito inspirada para esse capítulo, por isso que saiu tão rápido. Basicamente, eu escrevi ele em um dia. Tudo porque eu adoro o Leo. Tipo, amo ele! Fazer o que, né? Leitores tendem a se apaixonar por personagens literários...

Enfim, enfim, enfim! Façam uma boa leitura e se divirtam! Eu realmente espero que vocês gostem tanto de ler esse capítulo quanto eu gostei de escrevê-lo!



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— Ok, caras. Esperem um pouco. Mais devagar, vocês estão me machucando! - reclamei enquanto era arrastado, de costas, pelos corredores estreitos e frios do subterrâneo de algum lugar em Roma. Não me culpem por não saber onde estava, ok? Os guardas tinham me trazido pra onde quer que eu estivesse desacordado. Eu só tinha certeza de uma coisa, aquele lugar não era o ideal para alguém que passou a vida inteira ao lado de forjas. Eu estava quase entrando em hipotermia com a minha fina toga de linho. Tudo bem que eu tinha meus meios para me esquentar, mas eu tenho quase certeza que os guardas não iam gostar muito mais de mim se tivessem que arrastar meu traseiro em chamas até nosso destino final.

— Já mandei calar a boca, graecus! - sibilou ameaçadoramente o guarda à minha direita, batendo com o cotovelo na minha têmpora.

Bufei e deixei que eles me arrastassem, em silêncio. Meus calcanhares estavam sendo arranhados contra o chão e eu já podia imaginar que, quando eu chegasse ao meu destino, ambos teriam perdido toda a carne e seriam apenas dois ossos brancos e brilhantes de tão polidos.

Eu mantive essa imagem mórbida se repetindo na minha cabeça, várias e várias vezes, pois era a única maneira que eu tinha de afastar a imagem da minha casa, onde eu trabalhava com a minha mãe, sendo incendiada pelos legionários com ela dentro enquanto eu lutava inutilmente para me libertar dos braços de um dos soldados. Eles me forçaram a ver a minha casa queimar até que ela virasse escombros. Droga! Por que eu estava pensando nisso de novo? Calcanhares esfolados. Calcanhares esfolados. Calcanhares esfolados. Ossos branquinhos e brilhantes. Trilha de sangue nas pedras. Calcanhares esfolados. Calcanhares esfolados. Minha casa pegando fogo no meio da manhã. Ossos branquinhos. Minha mãe chorando enquanto eu era arrastado para longe. Trilha de sangue nas pedras. Eu chorando feito um bebê. Calcanhares esfolados. Calcanhares esfolados. Calcanhares esfolados...

Foi nessa minha luta de pensamentos que eu percebi estar passando por uma sequência de celas com alguns adolescentes nela. Nada de mais. Já tinha passado por outras celas como aquelas durante o meu percurso. Ninguém nunca parecia interessado em...

— Leo?! - uma voz familiar me chamou à direita.

— Jason?! - perguntei virando a cabeça. Era ele. Aleluia, eu estava salvo! - Jason Grace! Graças aos deuses é você! Mande esses idiotas me soltarem, eles pegaram o cara errado! Eu juro que aquele incêndio na igreja não foi minha culpa! Eu tava trabalhando com a minha mãe naquela hora! Por favor! Eu não sou o único piromaníaco em Roma depois de Nero! Tenho certeza disso!

— Leo, eu... - Ele se levantou e se aproximou das grades, eu me debatia tentando me soltar dos guardas, mas eles não davam trégua e continuavam me arrastando. Cara! Será que esses caras não sabiam mais respeitar autoridades?... Pera... Eu disse grades?

— Pera um pouco! O que você está fazendo atrás das grades?! - perguntei ainda lutando para me soltar. As mãos de um dos guardas se fecharam com mais força ao redor do meu braço, causando uma pontada de dor que subiu até o meu ombro. - Hey, cara! Cuidado com o meu muque! Ele é para as garotas e não para você! - outra cotovelada na minha têmpora. Olhei para o lado apenas para ter que ver um soldado me encarando com cara feia. - Ok. Ok. Entendi o recado. Boca fechada. Já percebi que você não sabe apreciar a minha voz maravilhosa.

— Sinto muito cara. - Jason estava apoiado nas barras e parecia exausto. Tinha um braço enfaixado e a sua túnica trazia alguns esguichos de sangue. - Eles me pegaram também.

Respirei fundo e deixei a cabeça pender para frente.

— Tudo bem cara. Não tem problema, você tentou. - Outra cotovelada - Au! Deixa eu calar a boca antes que esse brucutu aqui afunde o meu crânio.

Jason me olhou com tristeza e abriu a boca para falar alguma coisa, mas fizemos uma curva e perdemos contato visual. Acho que ele não viu sentido em continuar uma conversa com alguém que não estava mais presente. Suspirei e me deixei ser arrastado. Já estava ficando acostumado com aquele tipo de locomoção.

Alguns minutos mais se passaram. Eu já estava quase me sentindo confortável ali. Olhando pelo lado bom, eu já não sentia meus calcanhares, o que significava que a imagem dos ossos dos meus pés expostos tinha se tornado realidade. Agora eu estava prevendo o futuro... Quem sabe eu não sou filho de Apolo? Sou quente, gostoso pra dedéu e agora também sou vidente!Talvez a minha mãe tenha confundido Hefesto com Apolo. Talvez Apolo tenha se disfarçado de Hefesto para seduzi-la. Zeus faz isso. Apolo é filho de Zeus. Então Apolo pode conseguir mudar de forma também, certo? Se bem que eu não consigo imaginar Apolo, deus da beleza masculina, mudando para a forma de Hefesto, o deus cocho, nem pela mais bela filha de Afrodite. Vai ver ele só resolveu me dar uma giga-benção para tornar minha vida um pouco mais fácil.

Meus devaneios sobre meus parentescos divinos foram interrompidos quando os guardas pararam abruptamente e largaram os meus braços. Caí no chão como se fosse um enorme boneco de pano, por um triz não bati a cabeça com tudo no chão. Espanei os ombros e alonguei os braços.

— Obrigado pelo maravilhoso passeio por esses lindos túneis subterrâneos com vista para diferentes tipos de pedras. Ah! E agradeço também pela consideração com os meus calcanhares, ao arrastarem eles por aí. Obrigado também pela delicadeza com a qual vocês me informaram que nosso maravilhoso passeio tinha chegado ao fim. - falei me levantando. O guarda que me acertara três cotoveladas na cabeça me olhou de cara feia - Certo, cara. Já entendi que você não gosta da minha voz.

— Vocês não podem estar falando sério! - reclamou uma voz feminina atrás de mim. - Vocês querem que eu proteja... Isso?!

Virei-me para encarar quem quer que estivesse se sentindo ofendido pela minha fisionomia. Era uma garota, como eu já tinha deduzido pela voz. Os cabelos castanho-claros estavam presos em uma trança lateral e o rosto estava oculto por um elmo prateado com uma estreita fenda para os olhos que mal me permitia vê-los. O peitoral era de couro endurecido, pintado com o número romano equivalente a dez (X para aqueles que manjam dos paranauês). A pele dos braços era clara e lisa, sem nem uma cicatriz, o que era incrível. Na cintura, ela trazia embainhada uma adaga e uma espada muito afiadas que eu tive certeza, no momento em que botei os olhos naquelas armas, que ela sabia usar as duas muito bem.

— Com licença? - falei cruzando os braços pouco a vontade. Senti que ela me olhava de forma reprovadora por dentro daquele elmo ridículo. - Me proteger? Do quê exatamente?

Ela ignorou o meu comentário, como se eu nem tivesse dito nada, e se virou para o guarda mais próximo.

— Troquem-no por outro - ela falou com raiva e impaciência, uma mistura que não combinava muito bem com sua voz suave e doce de quem costumava cantar. - Vocês me prometeram um prisioneiro descente! Esse garoto coberto de fuligem não vai durar nem um minuto na arena!

Engoli o meu comentário sobre fuligem ao ouvir a palavra arena. Não... Isso não podia ser verdade... Eu não podia estar no Coliseu! Não era justo!

— Sinto muito, Calipso - respondeu o guarda parecendo realmente triste por não poder ajudá-la. - Mas não podemos trocá-lo. Esse foi o selecionado. Esse vai ter que servir. Você vai ter que fazê-lo sobreviver, pois se perder mais um, suas perdas se estenderão além do jogo.

Ela bufou e senti que me olhou cheia de ódio. Eu ergui uma sobrancelha.

— Gostou da paisagem? - perguntei com aquela voz irritante que eu usava para encher o saco de Piper. PIPER! Eu não tinha visto ela lá embaixo, nas celas! Será que estava bem? Será que tinha escapado dos legionários?

Ela bufou novamente e me deu as costas. Eu fiquei encarando as portas. Duas portas enormes de madeira que eu duvidava que tivesse algum motivo para serem tão grandes. Talvez os romanos tivessem um gosto maior por melodrama. Pela minha pequena caminhada por Roma eu tinha percebido que os caras eram bem megalomaníacos, porque também não ser melodramático?

Calipso se virou para trás de repente, desviando minha atenção das portas para ela.

— Vamos entrar daqui a pouco. Fique perto. - a voz dela era dura, o que me fez engolir em seco.

— Tem certeza que é seguro eu me aproximar de você?

Ela não respondeu, o que me fez tomar aquilo como um não, mas me aproximei mesmo assim. Não era como se eu tivesse muitas opções. Algo me dizia que se eu ficasse muito próximo dos guardas quando aquelas portas enormes abrissem, eles talvez achassem interessante me empalar com aquelas espadas que eles levavam na cintura e que pareciam nunca terem sido usadas. E talvez nunca tivessem mesmo.

Daquela posição era possível ouvir a gritaria da platéia e som de espadas se cruzando. Gladiadores, provavelmente. O que eu estava fazendo ali, do lado de uma gladiadora, era o que eu não entendia.

— Vou ganhar uma arma também? - perguntei esperançoso. - Por que se eu for, eu gostaria de uma maça, dessas bem espinhudas, sabe? Sempre quis usar uma dessas. Elas me parecem...

— Você não ganha uma arma - Calipso me cortou no meio do meu monólogo. Grossa.

— Não? Então o que eu tenho que fazer exatamente? - perguntei confuso.

— Ficar vivo até o nosso oponente estar morto - ela respondeu no mesmo tom.

— Parece bem simples - comentei, e o olhar que ela me lançou, me fez ter certeza de que não era. - Ok... Talvez nem tanto... Mas você vai me proteger, certo? É para isso que você está aqui, então?

Ela bufou exasperada e eu abri a boca para fazer um comentário sobre ela bufar de mais, quando as portas se abriram. Imediatamente eu fui cegado pelo sol e ensurdecido pela gritaria da multidão de romanos que tinham vindo me ver ser brutalmente assassinado no meio de um confronto de gladiadores. Eles pareciam gostar da ideia. Calipso começou a andar na direção da arena, mas, ao ver que eu não pretendia sair do lugar, ela agarrou o meu pulso e me puxou para fora da proteção do túnel. Internamente, eu comecei a me perguntar se, em algum momento da minha vida, eu tinha zoado Hades. Se eu fosse morrer hoje, queria ao menos ir para o Elísio.

— E sua oponente... QUIONE! - berrou de algum lugar uma voz masculina.

Os portões do outro lado da arena se abriram e uma segunda garota entrou. Nesse momento eu soube que estava ferrado. Ela usava uma armadura de melhor qualidade do que a de Calipso, o peitoral preto com um floco de neve de metal bem no meio e um elmo prateado brilhante com um penacho azul. Quem quer que fosse dona daquela gladiadora, esbanjava dinheiro.

Outra coisa que eu soube ao bater os olhos na figura que acabara de entrar na arena. Ela não era Quione. Pelo menos não a verdadeira deusa da neve. Como eu sabia? Tinha tido o azar de encontrar com a deusa em pessoa alguns invernos seguidos. Aquela era apenas uma garota de pele clara e cabelos escuros que se parecia com a deusa. Filha dela, talvez?

Enquanto Calipso desembainhava as armas, percebi os soldados ao redor da arena com os arcos na mão e flechas em posição. A única coisa que eles precisariam era retesar e atirar. Agora o ponto era... Quem era o alvo?

— Garoto. Você fique longe de encrenca e de qualquer um que tente te matar, ok? Pessoa ou animal. Fique vivo e eu talvez, só talvez, possa começar a te tratar melhor - ela falou por sobre o ombro.

— Ah, legal. Quanta utilidade para mim. E quanto amor você tem para me dar - resmunguei cruzando os braços e observando ela e Quione se avaliando. - E o meu nome é LEO e não GAROTO! - falei com as mãos em concha ao redor da boca. Se ela ouviu, não deu o menor sinal. Resmungando palavrões em grego, eu me sentei no chão de areia e comecei a desenhar o esquema de uma tirreme com um dragão como figura de proa.

Estava tão concentrado em meu desenho que, quando Calipso gritou para que eu tomasse cuidado, eu só tive tempo de levantar a cabeça e ser atingido na barriga por uma faca voadora. Caí para trás com a força do impacto, agarrando a empunhadura com firmeza. Aparentemente, Calipso tinha sido derrubada nos primeiros dois minutos de luta e o objetivo daquela outra gladiadora estava quase se completando. Ouvi a platéia gritar em euforia diante do meu corpo caído com um círculo de sangue na toga cada vez maior. Também ouvi Calipso gritar de frustração.

— Eu ainda to vivo - falei erguendo o braço e acenando para a multidão. - Obrigado por perguntar.

Sentei com dificuldade, apenas para ver Quione disparar na minha direção com a espada em riste. O que eu também vi foi Calipso correndo atrás dela e se jogando sobre as costas da garota. Rolei para o lado para escapar de ser atingido pelas duas e acabei enterrando ainda mais fundo a lâmina da faca. Droga. Qual era o meu problema?

O sangue agora não se contentava mais em manchar a minha toga, então passou a escorrer pelo cabo da faca e a pingar no chão. Eu me ergui com dificuldade, ficando de pé apenas para ser derrubado por um leão esfomeado que queria porque queria mastigar a minha jugular.

— Ok. Essa brincadeira já está ficando cansativa - reclamei mantendo a cabeçorra do felino afastada do meu pescoço com ambas as mãos. Eu não era um garoto forte. Na verdade, me encaixava no quesito magricelo, o que tinha suas vantagens e desvantagens. Manter um leão esfomeado afastado de você era uma das coisas que o pacote magricelo não cobria. - De onde você veio afinal?! Ah, quer saber? Não importa. Eu preciso que você saia de cima de mim. - Fechei os olhos e me concentrei. Senti minha cabeça ficar quente e, de repente, VUSH, meu cabelo estava em chamas! O leão me olhou com terror e disparou para longe com um rugido de medo - Oh, yeah!

Uma pontada aguda me atingiu no braço. Soltei um grito involuntário ao mesmo tempo que meu cabelo apagava. Olhei para o lado. Uma flecha. Tentei descobrir qual dos guardas tinha sido responsável por aquilo, mas metade deles tinha os arcos carregados e apontados para mim. Ergui os braços em sinal de rendição. Romanos não sabem brincar.

Fiquei ali, sentado, perdendo sangue para a minha túnica e para a areia enquanto os soldados se certificavam que eu não ia pegar fogo de novo. Então era para isso que eles estavam ali. Garantir que aberrações como eu não pirassem e atacassem a platéia. Mas eles não tinham como saber que eu tinha esse poder. Só a minha mãe sabia e ela, bom... Ela estava morta. Então mais ninguém sabia daquilo. OU SEJA... Mais alguém naquela arena tinha poderes estranhos. E eu estava tentado a acreditar que era Quione.

Os guardas abaixaram os arcos no exato momento em que eu ouvi Calipso gritar. Olhei para ela. Estava com um enorme talho na perna que sangrava tão abundantemente quanto a ferida na minha barriga e, por isso, tive certeza de que ela não estava conseguindo se levantar por causa dela. Caída do seu lado estava Quione. Seu elmo tinha caído, revelando um rosto jovem e eu diria cheio de vida se não fosse pelo corte em seu pescoço que, com toda certeza, causara a sua morte. Mas não fora por causa disso que Calipso gritara. Diante dela, o leão se preparava para dar o bote. Não sei o que me deu, mas eu me ergui do chão e corri na direção dos dois, me jogando entre ela e o leão e fazendo meu cabelo pegar fogo de novo.

O leão rosnou, irritado com a minha presença e tentou me contornar. Fiz meus antebraços pegarem fogo e corri na direção dele. O felino rugiu assustado e fugiu. Eu apaguei o fogo do meu corpo e, no momento seguinte, tinha uma flecha cravada no ombro. Me joguei no chão para evitar uma rajada de flechas. Senti Calipso cobrir o meu corpo com o dela, o que provocou uma pontada onde a faca ainda estava cravada. Quando as flechas pararam de chover sobre nós, cada um rolou para um lado. Ela tinha algumas hastes cravadas nos braços e nas pernas, o que a fazia parecer um porco espinho. Bom... Ela acabara de ganhar algumas cicatrizes para aquela pele cor de leite perfeita dela.

— Você me salvou - ela murmurou olhando para o céu.

— Não há de quê, flor do dia - respondi olhando para ela.

Ela virou a cabeça para me encarar.

— Não me chame assim - ela falou com raiva. Uma brisa soprou pela arena, trazendo para mim um delicioso aroma de canela que eu tinha certeza que vinha de Calipso.

Pela fresta de seu elmo, pude ver que seus olhos brilhavam de confusão.

— O que foi? - perguntei sorrindo. - Achei que você não gostasse de mim.

— Você é um deles - ela sussurrou.

— Deles quem? - perguntei, percebendo que a perda de sangue começava a ter seus efeitos. minha visão estava falhando e eu estava ficando tonto e enjoado.

— Dos gladiadores do imperador - ela respondeu sem reparar no meu mal estar. - Por que não me disse nada?

— Eu sou um prisioneiro politeísta - respondi tentando disfarçar o mal estar. - Não tenho a menor ideia de quem são esses gladiadores imperiais.

— Quem é seu pai? - ela perguntou se erguendo.

— Hefesto... - eu murmurei. O mundo girava a uma velocidade vertiginosa diante dos meus olhos, piorando mais ainda a situação do meu estômago. Fechei os olhos com força.

— Leo? Tá tudo bem? - Ela parecia realmente preocupada. Não sei se comigo ou com as consequências que a minha morte acarretaria para ela.

— Eu acho... Eu acho... Que eu to morrendo, flor do dia - resmunguei mal ouvindo a minha voz.

Ela xingou em grego. Grego! Porque eu me importava com isso mesmo?

— Os guardas vão te levar para um lugar seguro, Leo - ela falou com a voz suave enquanto eu sentia alguém me erguer do chão e me colocar em uma superfície dura e lisa. - Você não vai morrer.

— Vou te ver novamente? - perguntei virando a cabeça na direção da voz dela.

— Talvez - ela respondeu, a voz distante. Tudo parecia distante de repente. Os gritos da platéia, o calor do sol na minha pele, a dor dos múltiplos ferimentos no meu corpo... Me agarrei à voz dela como última lembrança enquanto era arrastado para as escuras profundezas de minha mente, à beira da morte.

~X~

O som de combate me acordou, e eu temi estar de volta à arena. Abri os olhos assustado e tentei me levantar, mas uma dor no meu abdômen me fez soltar um gemido involuntário. Uma mão fria tocou o meu peito descoberto.

— Volte a deitar. Você quase morreu. - Era um garoto de pele pálida, olhos escuros marcados por olheiras de noites mal dormidas, cabelos pretos desgrenhados e compridos e uma aura sombria e misteriosa. - Duas vezes.

— Legal... E você é quem exatamente? - perguntei me deitando. - A morte?

O garoto soltou uma risada sem humor, mas tive certeza de ver um riso brincar no canto de seus lábios.

— Sou Nico di Ângelo, filho de Hades - ele respondeu tirando a mão fria do meu peito e a colocando sobre o joelho, ao lado da outra.

— Isso explica muita coisa - murmurei encarando o teto. Estava em algum lugar que eu não conhecia, cercado de pessoas que eu não conhecia, ferido ao lado de um filho de Hades com cara de poucos amigos. É... Contanto que ninguém tentasse me matar enquanto eu estava deitado naquela cama, eu não via nenhum problema naquele cenário. Pera... Eu disse cama? Eu quis dizer “Tábua de madeira mais dura que pedra”

Ele não reagiu ao meu comentário. Em vez disso se levantou como se nem tivesse me ouvido.

— Tem uma pessoa que queria falar com você assim que você acordasse - ele falou me olhando de cima, mas sem demonstrar estar me julgando. - Vou buscá-la.

E saiu. Sem mais nem menos. Fiquei naquele quarto mal iluminado sentindo meu braço e minha barriga latejarem onde tinham sido atingidos e desejei que alguém tivesse sementes de papoula para diminuir a dor.

Alguém entrou no quarto com passos apressados e se sentou do meu lado. Virei o rosto para encarar o meu mais novo visitante e senti que ele foi imediatamente tomado por um sorriso.

— Olá, Leo - disse Piper acariciando meu cabelo.

— Olá, Rainha da Beleza - eu respondi usando a voz que ela odiava.

— Para com isso - ela falou sorrindo. - Você pode estar machucado, mas isso não vai me impedir de te bater, e você sabe disso.

 - Tadinho de mim. Sou um pobre inválido prestes a ser atacado pela violenta Piper McLean. - Ela riu e revirou os olhos. - Onde estamos?

— No centro de treinamento para gladiadores do imperador, também conhecidos como semideuses com poderes extraordinários.

— Eu não vejo nada de extraordinário em pegar fogo. - Nós dois rimos, o que provocou em mim tanto alegria quanto dor. Suspirei. - Calipso está aqui?

— Quem? - Piper me olhou confusa.

— Calipso... Foi a garota que lutou junto comigo na arena hoje - respondi.

— Você quer dizer a três dias atrás - Piper me corrigiu.

Nossa. Três dias! Fazia tanto tempo assim? Isso ao menos explicava a minha fome e a minha sede.

— De qualquer forma... Ela está aqui? - perguntei.

Piper negou com a cabeça.

— Talvez ela esteja junto com os outros prisioneiros. Quem sabe com Jason e Annabeth?

— Pera... Você conhece Jason?

Ela assentiu.

— Lutei junto com ele na arena - ela respondeu. - Fomos separados por que eu usei o meu charme enquanto ele não demonstrou ter nada de especial. - meu amigo conhecendo a minha amiga. De cara eu percebi que ia acabar ficando de vela pra esses dois. - E desde quando você conhece Jason?

— Ah! Conheci ele durante uma campanha em que o legião dele acampou perto da minha casa - respondi coçando a cabeça. - Ele é um cara legal. Agora que tal você me apresentar pra galerinha daqui?

— Primeiro acho melhor você comer alguma coisa - ela falou com um sorriso maroto no rosto.

— Me parece uma boa ideia também - respondi dando de ombros, o que provocou uma onda de dor de um ferimento que eu tinha esquecido.

Piper saiu para buscar a comida e eu fiquei ali, naquela placa de madeira, torcendo para que não demorasse muito para que eu pudesse sair dela e que meu novo encontro com Calipso não demorasse muito para chegar.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Dúvidas? Opiniões? Erros? Sugestões? Deixem nos comentários!
Nos vemos no próximo capítulo!



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