End of all days escrita por Bruna TWD


Capítulo 4
A Viagem




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"Sempre achamos que haverá mais tempo. E aí ele acaba."

–The Walking Dead

Um mês na estrada, isso é muito tempo pra mim. Não tínhamos rumo algum, só andando e tentando não encontrar muitas daquelas coisas. Só pensava em uma coisa durante toda a viagem: como aquilo foi acontecer ao mundo e por que? Ninguém soube explicar nos noticiários, nada nas rádios, nada. Eles deviam ter uma explicação para todos nós, deviam isso pra gente. Não é o primeiro surto de vírus que não temos nenhuma explicação, mas esse é bem mais importante.

Fred não fala há cinco dias, não consigo entender o por que. Andy não para de falar que preferia estar fazendo as provas finais da escola, que gostaria de estar estudando para a prova da faculdade, aproveitando suas oportunidades. Nunca pensei que diria isso, mas eu também preferia.

Faz mais ou menos um mês que a gente não ri, não conversa direito, nem ao menos dorme. Nosso carro quebrou há duas semanas e estamos andando a pé desde então, não achamos nem um outro em bom estado. Ah, esqueci de um detalhe básico: não comemos nada há três dias. Meu Deus, nunca senti tanta fome assim na minha vida. A pior sensação que já tive, tem três dias que eu comi a última barrinha de cereal. Nós entramos em várias casas para pegar tudo de comida que tinha, mas só encontramos casas vazias.

Demos sorte de não encontrarmos cabeças ocas por aí – sim, demos o nome deles de cabeças ocas. Andy conversava, conversava, conversava... Como eu queria mandar ele calar a boca, mas prefiro ficar na minha. Já me estressei muito esses dias.

Foi aí que aconteceu uma coisa ruim, bem ruim: um bando de cabeças ocas veio seguindo a estrada. Não eram quinze ou 20 deles, eram dezenas, talvez centenas. Entrei em pânico, aquilo não podia acontecer agora. Não estávamos fortes o suficiente para correr, nem pensávamos muito bem para ter um plano rápido. E o mais importante: não tínhamos armas. A arma do pai de Andy quebrou, Fred fez o favor. Foi aí que Fred falou depois de muito tempo:

–Droga, droga. O que a gente faz agora? Merda!

–Cala a boca, Fred. Me deixa pensar. – eu falei com muita raiva, não conseguia raciocinar muito bem. Andy então teve uma ideia.

–Olha, vamos procurar carros que estejam abertos. Nos escondemos lá, nem vão notar.

Nós então encontramos um carro, pequeno, mas o único mais próximo que encontrei aberto. Todos nós entramos e ficamos abaixados, mas aquilo era patético. Eles iam nos ver.

Demorou muito para que eles passassem. Já era de noite quando acabou: eram bem mais deles do que deu pra ver. Foi aí que vimos sinal de vida normal pela primeira vez em semanas: uma família.

Eles estavam vindo da mesma direção que vinham as coisas, mas vinham devagar.

–Graças a Deus!!!! – eu disse.

Sai correndo em sua direção, como se fossem as últimas pessoas do mundo, fiquei aliviada: podem ter mais sobreviventes por aí, muito mais.

Quando me viram correr, eles tiveram uma reação que confesso ficar surpresa... eles atiraram em mim, no ombro. A dor foi tão insuportável! Meu Deus, será essa minha hora?

Nessa hora cai, bati minha cabeça muito forte no chão. Só lembro que vi, pela pouca visão que ainda tinha, Andy correndo para me socorrer. Fred gritou e correu em direção da família, eles estavam assustados assim como nós três. Meu ombro não parava de jorrar sangue, minha cabeça doía como se alguém tivesse batido nela muito forte com uma pá.

Não, eu não imaginava que pessoas teriam a capacidade de atirar em outras, não no mundo em que vivemos agora. Vi que as coisas estavam mais feias que imaginava. Depois disso, apaguei.

Acordei já de manhã, parecendo que estava de ressaca. Nossa, como minha cabeça doía. Meu ombro, nem tanto. Na verdade acho que estava tão concentrada na dor da minha cabeça, que esqueci que levei um tiro no ombro. Ele realmente estava bem. Olhei em minha volta, estava em uma barraca. Era azul e tinha espaço para duas pessoas, acho. Me levantei e foi aí que senti uma dor horrível no ombro. Nem lembrava mais da minha cabeça.

Estava com roupas novas, meus ferimentos estavam com curativos – muito bem feitos. Sai da barraca e senti um cheiro maravilhoso:

–Comida! – acho que pareci uma drogada quando falei isso. – Nossa, estou acabada!

–Julie, graças a Deus!

Fred correu em minha direção e me deu um abraço. Tentou me beijar, mas eu não quis. Ainda estava meio tonta.

–Julie. Então é esse seu nome? – um homem barbudo falou comigo – Muito bonito e combina com uma ruiva dos olhos castanhos.

–E quem é você? Onde é que eu estou? Cadê a comida?

–Calma, menina. Uma pessoa precisa falar com você antes.

Estava com muita fome, mas percebi que era importante falar com essa pessoa. Cheguei nela, era um homem. Estava perto de uma fogueira que parecia ter sido apagada naquele exato momento.

–Ah, meu Deus. Não acredito que fiz isso com você. Você está bem agora? Ainda sente alguma dor?

"Calma aí, cara! Fale mais devagar!" pensei. Depois reconheci seu rosto, o cara da estrada.

–Você quem fez isso comigo? Por que?

–Querida, peço perdão. Eu realmente não queria fazer isso. Pensei que fosse um Walker.

Walker, nome interessante. Melhor que cabeça oca.

–Só estava tentando proteger o grupo.

Depois que ele falou isso, olhei para os lados: muitas pessoas estavam lá. Era como um acampamento, muitas barracas. Então percebi que ele tinha o mesmo objetivo que eu naquele mundo, que era proteger as pessoas mais importantes em sua vida. Aquele homem era como eu.

–Está tudo bem. Estou viva, certo? E além do mais, eu entendo você. O meu nome é Julie. Prazer! – Estiquei a mão para cumprimentá-lo.

–Estou feliz que você esteja viva. Não me perdoaria se tivesse te matado. – Apertou minha mão e depois concluiu – Me chame de Morales!


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Notas finais do capítulo

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