End of all days escrita por Bruna TWD


Capítulo 3
A pior semana da minha vida




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"Uma alma aflita pode matar mais rápido do que um germe."

–The Walking Dead

Eu fiquei com tanta raiva de Andy por ele ter feito aquilo com minha mãe. Era MINHA mãe. Eu fiz uma cena que jamais tinha feito na frente de ninguém.

Algumas horas se passaram, todos calados. Eu consegui pensar direito: Andy fez aquilo para se proteger e aquela não era minha mãe. Era alguma coisa que a dominou. Depois que eu tinha decidido falar com Andy sobre isso, Fred ligou a TV e começou a passar um noticiário sobre o novo vírus: eram perigosos e a mordida contamina. Pediram para que ficássemos em casa, pois o exército iria resolver a situação.

Morava em Columbus, em um bairro um pouco distante do centro. Adorava aquela cidade, e saber que a cidade onde cresci estava passando por aquilo era de mais pra mim. Dois minutos depois da reportagem sobre aquelas coisas, o noticiário informou que aquilo estava acontecendo em todo o país. Nunca tinha visto uma epidemia tão grande quanto essa.

Andy veio até mim para se desculpar pela minha mãe:

–Julie, eu...

–Tudo bem, Andy. Tudo bem. Não era minha mãe, e você só fez isso pra se proteger. Eu já a perdi, não suportaria perder você também.

Ele me abraçou. Foi o abraço mais apertado que já me deu, e eu tive uma sensação de segurança e ao mesmo tempo tristeza. Não aguentei... Chorei em seus ombros, sua camisa ficou molhada, mas ele não se importou. Estava segura com ele, eu precisava dele e ele de mim.

Fred então foi trancar todas as portas e janelas, já era tarde. Ele e Andy pegaram minha mãe e a enrolaram no tapete, então a colocaram pra fora no quintal. Iriam enterrá-la logo de manhã. Tentei limpar seu sangue do chão, mas estava fraca de mais para fazer qualquer coisa. Pedi para Andy pegar meu colchão em meu quarto, eu queria dormir na sala junto com eles. Não conseguiria dormir lá em cima sozinha. Peguei travesseiros e edredons. Andy dormiria no sofá e Fred na poltrona do meu pai – que a propósito era muito confortável.

Três da manhã e não conseguia pegar no sono. Os dois já estavam no milésimo sono e eu... só pensava em minha mãe e em como ela tinha sido mordida e não me falou nada. Escutei um barulho vindo do quintal, fiquei com medo de que pudesse ser mais uma daquelas coisas – acho que terei que dar um nome a elas. Acordei Fred e Andy acordou logo em seguida, fomos ver o que era. Peguei uma faca na cozinha e abrimos a porta do quintal. Quando vimos, não era nada.

–Devia ser só um animal tentando fazer a janta. – Fred fez essa piada, mas depois percebeu que falou besteira.

–Desculpa, eu não...

–Tá, tanto faz. – eu falei com raiva.

Entramos na casa, tranquei a porta e fomos dormir.

No dia seguinte, Fred me acordou para enterrarmos minha mãe: eles já haviam cavado sua cova. Eu não consegui falar muita coisa, apenas disse:

–Mãe, sua morte foi a pior coisa que poderia ter me acontecido. Sei que você está em um lugar bem melhor que o meu, fazendo panquecas para o Joe. Te amo muito e sempre te amarei!

Joe era meu irmão, ele morreu em um acidente quando tinha dez anos. Eu tinha apenas cinco anos quando ele morreu.

–Sinto muito Julie, muito mesmo. – Disse Andy.

Eu o abracei e depois disse que estava tudo bem, que ela estava bem melhor do que aqui na Terra. Fred não falava nada desde aquela noite, acho que ficou com vergonha do que disse sobre minha mãe. Não o culpo, estava assustado assim como eu e Andy.

Uma semana se passou, e ficamos em casa sem sair esperando ajuda. A situação só estava piorando, as luzes começaram a oscilar como se quisessem acabar e os noticiários já não funcionavam mais. Percebi que nada iria melhor e que ficar parado só iria piorar a nossa situação. Precisávamos mudar aquilo.

–Não podemos ficar aqui. – falei.

–Por mim, ficamos aqui até algum militar nos salvar. – Falou Fred.

–Você não percebe? – gritei – Eles não vem. Duvido muito. Não tem estrutura para tantas pessoas. Não vai demorar muito até aquilo virar o inferno, se é que eles ajudaram de fato alguém. O governo ta pouco se fodendo pra gente.

–Tudo bem. – disse Andy – eu vou onde quiser, mas se eu achar que você corre perigo, eu direi as regras, não importa sua opinião sobre isso.

–Você não vê, Andy? Não é só você quem quer salvar alguém aqui. Eu quero salvar vocês dois. Preciso disso.

Meu Deus, estava um poço de emoções e a tristeza estava dominando esse poço. Me segurei muito para não chorar mais na frente de Fred, queria mostrar que era forte. Demorei um pouco para voltar ao normal, então voltei a falar.

–Tudo bem. Eu quero que vocês me escutem e me entendam: são as únicas pessoas que tenho nesse mundo. Meu pai está sabe sei lá onde ajudando o país e não tenho muitas esperanças de encontrá-lo tão cedo. Andy, nós vamos atrás de seus pais, sei que você...

–Que eu o que? Não estou afim de encontrá-los mortos lá em casa? Não quero perceber que deveria ter ido vê-los o quanto antes? – Ele estava com os olhos cheios d'água, mas não chorou.

–Andy, seus pais são fortes. Você precisa pelo menos tentar. Acredite, não vai se arrepender depois. Eu não me arrependo de ter visto minha mãe naquele estado.

Ele realmente não queria fazer aquilo, vi alguma coisa em seus olhos, conhecia todos os seus olhares. Mas ele concordou. Fomos para sua casa. Quando chegamos, a porta estava aberta. Andy ficou pálido e gelado, eu também. Vasculhamos toda a casa, ninguém estava lá. Havia apenas um bilhete de seus pais em cima do balcão que dizia: "Andy, estamos fazendo uma viagem de última hora. Se não quiser ficar em casa sozinho, fique na casa da Julie. A mãe dela não vai se importar. Voltamos na sexta-feira. Te amos muito!!! -Mamãe"

Meu Deus! É isso? As últimas palavras da mãe do Andy para ele? Ela nem ao menos disse para onde ia. Não acreditei naquilo.

Andy não aguentou, aquilo era a gota d'água para ele: bateu na bancada, pegou os copos e os quebrou. Começou a destruir a cozinha, estava com uma raiva que eu nunca tinha o visto de tal forma. Foi triste. Isso me fez pensar nas últimas palavras da minha mãe para mim: filha, não esquece de lavar a louça. Se estiver suja quando acordar, você vai ficar sem internet. Boa noite.

Foi isso, as últimas palavras dela. Comecei a rir, não me segurei. Minha última lembrança boa da minha mãe era uma lembrança de como ela era antes da doença. Lembro que na hora, o jeito que ela falou, me deixou feliz e me fez rir. Andy me olhou com um olhar matador, então vi que não fiz aquilo em uma hora adequada, nem um pouco adequada. Pegamos comida na cozinha, ferramentas e a arma do pai de Andy. Era uma bela arma.

Quando estávamos saindo, um grupo de coisas estava passando pelo rua e quando nos viram vieram em nossa direção, mas não eram rápidos. Saímos correndo para minha casa, pegamos o resto das coisas para cair fora daquele lugar.

Passamos por cinco bairros até chegarmos na estadual. Em três desses cinco bairros, nós passamos por aquelas coisas. Mas elas não estavam só perambulando por aí, estavam comendo. Cena horrível. Me lembrei da minha mãe devorando o gato, então percebi que aquelas pragas só estavam lá por uma razão: se alimentar de carne fresca, não importa se é da própria espécie. No segundo bairro, uma mulher estava sendo devorada por muitas coisas daquelas, ela ainda estava viva, olhou em nossa direção e ergueu a mão, como alguém pedindo ajuda. Logo em seguida, morreu. Foi horrível, vê-la sendo devorada viva. Pensar na dor que ela sentiu até o momento de sua morte.

O terceiro bairro me arrasou, vi um carrinho de bebê, cheio de sangue. Meu coração doeu: pensar que um bebê, indefeso e inocente sofreu daquele jeito, meu Deus. Foi então que eu percebi que não poderia mais ser eu mesma.

O mundo é cruel com quem é fraco de corpo e alma. Você deve ser frio para sobreviver a essa merda, se não você morre e as pessoas que você ama também podem sofrer as consequências. Esse é o mundo que sempre existiu, mas agora ele exige mais essa parte de você. Vou mudar pela minha vida, pelas únicas coisas que me mantém aqui: Andy e Fred.


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Notas finais do capítulo

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