"Palavras são insuficientes. Às vezes não dizem tudo."

–The Walking Dead.

Sempre acordo sete e meia da manhã para ir à escola. Mesmo que minhas aulas só comecem às nove, acordo cedo para ajudar minha mãe em algumas coisas, principalmente para dar o remédio dela. Essa rotina de remédios começou há um ano, quando eu tinha 16 anos de idade.

Ela descobriu que tinha câncer de estômago por causa de dores muito fortes que sempre tinha. Foi um choque para todos da família, ainda mais por que meu pai tinha que ficar fora para realizar treinamentos para o exército. Ele não parava em casa, eu que cuidava dela.

Depois disso, eu me arrumava, ajudava minha mãe a fazer o café e ia pra escola. Às vezes eu pegava carona com Andy.

Conheço Andy desde nossos quatro anos de idade, pois nossas mães trabalhavam juntas e sempre foram vizinhas. Nós brincávamos juntos e éramos grudados. Ele é meu irmão, mas que mora em outra casa. É um pouco estranho, nunca pensei que teria um cara como melhor amigo, ainda mais Andy que era um menino bonito, com olhos azuis escuros e cabelo preto, e meio popular. Quando tínhamos 15 anos, nos beijamos sem querer e então nos afastamos por um tempo. Foi uma sensação estranha e ao mesmo tempo boa, meu primeiro beijo. Depois disso conversamos e voltamos a andar juntos como amigos, apenas melhores amigos.

Nosso primeiro dia no terceiro ano do ensino médio chegou, e Andy estava muito animado – ele sempre foi animado com essas coisas de escola. Nesse dia fomos no carro dele, que por sinal era o carro mais estranho que já vi. Ele sempre teve um gosto estranho para carros.

Chegamos à escola e já eram oito e quarenta da manhã e fomos mandados para o auditório para a apresentação dos novos professores. Eram muitos, todos pareciam ser maus e que seriam terríveis com a gente durante esse ano letivo, menos um. Um deles me encantou desde a primeira vez que o avistei, tinha olhos claros. Não eram azuis nem verdes, eram mais bonitos, mais claros. Seu cabelo com um corte meio mauricinho, mas mesmo assim eram lindos naquela cor castanha. Alto, se vestia bem, um físico muito... atraente. Eu não conseguia tirar os olhos dele: "tomara que eu seja da turma dele".

No auditório, pegamos nossos horários e fui direto para minha primeira aula: Matemática! Não podia ser pior que isso, começar o dia com matemática.

O dia passou, segundo horário, terceiro... Parecia que nunca acabava aquele dia na escola que já estava me matando. Então o último horário chegou e... nada do professor gato. Hora do almoço! Me encontrei com Andy no refeitório, até agora não caímos em nenhuma turma juntos.

Andy começou a falar sobre as aulas:

–Nossa, meu professor de literatura é um babaca. Já vi que não vou me dar bem com ele. Sabia que...

Não escutei mais nada, parei de prestar atenção quando vi o professor Fred chegando perto, passou na minha frente e me olhou, foi aí que vi mais claramente seus olhos. Meu Deus, acho que estou enfeitiçada por esse homem, e não estou exagerando. Ele me encarou por alguns segundos e saiu. Sentou-se na mesa onde estavam alguns professores.

Uma semana se passou, era um sábado à noite. Andy me convidou para ir a uma festa, não queria ir. Como não tinha nada para fazer e ele não parava de pedir, resolvi aceitar o convite.

Quando cheguei, uma surpresa: Fred estava lá, dançando e rindo – aliás, como seu sorriso é lindo, tudo nele é lindo. Eu tentei me ajeitar, para não parecer uma aluna de ensino médio. A festa, a propósito, não era de ninguém da escola, por isso ele estava dançando – essa é uma coisa que não é tão bonitinha nele.

Fiquei metade da festa sentada, sem fazer nada, estava mais chato que ficar em casa. Foi então que Fred se cansou de dançar e se sentou. Bastou uma olhada para ele se lembrar de mim.

–Oi! Eu me lembro de você. Só não sei de onde. A gente se conhece?

Eu acho que fiquei vermelha, mas ele não deve ter percebido.

–Sim, nos vimos semana passada no refeitório do colégio.

–Sim, isso mesmo. Você não caiu na minha turma, né? Uma pena...

Fiquei tipo: meu Deus.

–Pois é, você é professor de que mesmo? – Claro que eu sabia, mas queria ter alguma coisa pra conversar.

–Sou professor de química. Você gosta de química?

–Não! – Sei que deveria ter dito que sim, mas eu tenho um sério problema em mentir. Pois é, em algumas situações isso é ruim. Ele riu.

–Sabe, quando tinha sua idade também odiava química, mas eu me interessei de uma hora para a outra!

Não, ele não disse isso: "Quando tinha sua idade...". Isso me matou por dentro e destruiu qualquer chance de poder me aproximar dele. Essa frase fez parecer que ele tem idade pra ser meu pai. Foi estranho. Então perguntei:

–Quantos anos você tem mesmo?

–Tenho 23!

–23? E já é professor?

–Sim. Eu terminei a escola com 16. Faculdade comecei com 17. Três anos de faculdade. Três anos de profissão.

–Ah, legal.

Seis anos de diferença pra minha idade. Nem é tanta coisa assim.

A festa acabou duas da manhã, e nós estávamos conversando desde meia-noite. Quando fomos embora, nos despedimos, e foi uma despedida bem... desejada. Ele, sem querer, me deu um beijo. Percebi que não foi intencional, mas eu tive uma sensação boa e parece que ele também. Nos beijamos de novo e foi um beijo muito bom. Depois desse dia, nós tentamos nos encontrar todos os dias. Afinal, ele não é meu professor. Foi desse jeito que eu comecei a ter uma história com Fred.

É por isso que ele e Andy são pessoas que quero proteger, preciso proteger, são as pessoas mais importantes pra mim. Eu amo os dois, de formas diferentes.