Capítulo III

— Não. – murmurou Sakura sem voz sentando no chão, chocada. – eu não posso ter ouvido direito.

— Mas ouviu filha – afirmou Sasame carinhosamente. – o que você acha da noticia?

Sakura mirou o rosto da mãe com um olhar perdido, o corpo estava ali presente sentindo a força da gravidade, a pressão do ar, a temperatura, mais a mente divagava em entro mundo muito além daquela sala. Era absurdo de mais, irreal demais para ela acreditar.  Sua razão e bom senso lhe diziam que não podia ser verdade, mas todos os indícios confirmavam a noticia, a historia do seu avô, o anel, o crisântemo, tudo. Não era uma piada sem graça de sua família, era verdade, a promessa era real.

— Agora a onee-chan vai ser uma princesa? – indagou Ryo também confuso próximo a porta. Os olhos castanhos refletiam a minúscula sala de estar da família Haruno como também a tensão silenciosa que preenchia o lugar.

A situação se arrastou tenebrosa até que o senhor Haruno resolveu dar um basta.

— Não precisamos ficar assim, não é. – sorriu sem jeito – não é nada de mais.

— Nada de mais Ishiro?! – repetiu a senhora Haruno, histérica. – como não é nada de mais. Nossa filha vai casar com o príncipe herdeiro do Japão, ela será a futura Imperatriz e você diz que não é nada de mais. – a mulher mexia os braços nervosamente. – isso não acontece em todas as famílias, ou acontece? – questionou Ishiro  que encolheu os ombros e respondeu um “não” envergonhado.  – então o que faremos? Nossa filha não tem a educação que uma princesa herdeira precisa..

— Como assim? – Sakura balbuciou assustando todos os presentes na sala até mesmo ela que achava que tinha perdido a voz devido ao choque da noticia. – me dêem esse anel, o símbolo, sei lá o que. Eu irei devolver tudo para eles.

— O que?? – a família gritou ao mesmo tempo.

— Qual ônibus eu devo pegar para ir ao palácio? – perguntou determinada.

— Você não pode fazer isso, futura princesa herdeira. – protestou Ryo irritando ainda mais Sakura.

— Isso mesmo, seu irmão tem razão Sakura. – concordou Sasame animada com a idéia.

— O que deu em vocês? Em que séculos vocês acham que estamos para ter um casamento arranjado? Eu não vou me casa com aquele príncipe idiota. Eu só tenho dezessete anos, sou muito nova ainda – gritou se levantando

— Mas Sakura...

— Não vou me casar!!.

As ultimas palavras foram ditas com o som da porta do quarto da garota batendo violentamente. Naquele instante os senhores Harunos se entreolharam preocupados imaginado no que aquela recusa poderia acarretar.

•••

— Vamos brincar! – sorriu o garotinho, de cabelos negros e olhos da mesma cor para o amigo,  este lhe retribuiu o sorriso.

— Sim.

— Príncipes parem! – gritou uma voz exasperada quando as crianças começaram a correr pelo longo corredor do palácio. A mulher segurava a barra do quimono enquanto perseguiam as crianças que riam do seu jeito desengonçado – por favor, parem! – implorava a mulher.

— Ahahaha – riam eles continuando a correr, mas a prece da mulher foi logo atendida quando nesse momento os dois “pestinhas” param constrangidos e surpresos.

— O que significa isso?

— Desculpa, vossa alteza. – disse a mulher ofegante fazendo uma mesura. – eles...

— Essa não é uma postura de um príncipe herdeiro Sai. – repreendeu a mulher ignorando a presença da babá. – agora se comporte e você também Sasuke.

As crianças manearam com a cabeça, obedientes e tristonhas seguiram para seus lugares....

Mexeu-se um pouco sentindo uma leve dor nas costas; havia dormido no sofá. Pestanejou os olhos se acostumando com a luz que insidia sobre seus olhos negros. Depois de alguns segundos imóvel olhando o teto impecavelmente branco decidiu levantar.

— Acordou querido?!.

— Sim. – respondeu sonolento. – por que não me chamou antes mamãe?

A mulher de longos cabelos castanhos sorriu e sentou-se ao lado do filho.

— Você estava dormindo tão profundamente, não quis acordá-lo. Você deve parar de ler livros até tarde da noite não é saudável. – repreendeu.

A mulher olhou o filho por um momento, sentado no sofá com os cabelos castanhos bagunçados e uma expressão sonolenta como se não visse aquele rosto há anos, essa expressão tão nostálgica e perdida da mãe não passou despercebido pelo rapaz.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não – sorriu a mulher – apenas estava notando como você a cada dia fica mais parecido com seu pai.

O jovem sorriu sem jeito coçando os cabelos tingidos.

— Saskue vai se casar. – informou ela repentinamente.

— O que? – perguntou ainda sonolento – verdade?

— Sim, é verdade. O casamento é muito repentino. Não tenho idéia, mas deve estar havendo alguma coisa no palácio para fazê-los tomar tal decisão.

— Mas o Sasuke-kun tem minha idade, não é muito cedo para ele casar. – massageou o pescoço agora mais desperto.

— Sai, isso é urgente – falou a mulher de longos cabelos castanhos muito seria – volte para o Japão primeiro. Eu resolverei alguns assuntos primeiro e irei logo em seguida também.

— Mamãe.

— Já faz treze anos desde que saímos do Japão né. – comentou pensativa ignorando a expressão do filho. – é hora de agir.

O rapaz olhou a jovem mãe, preocupado, no entanto ela ignorou tal preocupação no rosto de seu filho, parecia determinada e isso assustava Sai, ela não havia esquecido daquilo.

•••

Naquela manha Sakura não era nem sombra da garota que sempre fora. Sentia o corpo todo dolorido devido à noite mal dormida, tinha sombras debaixo dos olhos inchados e a pele estava muito pálida. Toda a conversa com seus pais no dia anterior não lhe saia do pensamento, para ela era ridículo toda aquela historia. Ela, Haruno Sakura, uma garota comum estudante do colegial se tornar da noite para o dia a prometida do príncipe herdeiro do Japão lhe soava como uma brincadeira sem graça. Ela era jovem, tinha o sonho de entrar para a universidade, se tornar uma mulher bem sucedida e sim se casar, mas por amor e não em um casamento arranjado onde nem conhecia o noivo.  Não gostava daquele garoto arrogante. Como podia se casar com ele? Não.. não podia.

— Sakura-chan, você está bem? – indagou Hinata notando a expressão abatida da amiga. Sakura deu-lhe um sorriso forçado e respondeu:

— Estou bem sim. Só não dormi bem essa noite, insônia.

— Atá. – respondeu Hinata desconfiada.

— Vamos suas lerdas se não nos atrasaremos. – gritou Ino mais adiante.

— Para que toda presa. – riu-se Sakura de Ino – não sabia que gostava tanto assim da aula de álgebra.

A loira parou de andar e voltou-se para Sakura com as mãos na cintura, uma expressão irritada e o pé inquieto batendo no chão.

— Deixa de ser baka testuda, é claro que não gosto daquela matéria horrenda dada por aquele professor pavoroso. Estou com presa por que se nos atrasarmos não verei meu lindo príncipe encantado chegar. – suspirou sonhadora.

Ouvir a palavra “príncipe” lhe causava indigestão.  Príncipe arrematava a lembrança de um rosto, de uma garoto em particular que conseqüentemente chegava no âmbito de seu problema.

— CALA A BOCA INO-PORCA!! – gritou a rosada estressada. – pare de falar nesse garoto idiota e mal educado.

— Sakura! – murmurou a garota surpresa observando a jovem de longos cabelos rosados marchar determinada em direção a sala de aula.

A Haruno estava determinada a não pensar naquele assunto, era ridículo e inconcebível que se casasse. Mas uma questão lhe incomodava. Como iria dizer isso a família real Japonesa? Como eles reagiriam a isso, uma plebéia recusando-se a se casar com o príncipe herdeiro.

— Ai. Eu não sei o que faço – sussurrou desanimada encostando a cabeça na carteira.

— Sakura-chan?! – chamou Hinata – você está bem?

A rosada olhou para a amiga que sentava ao seu lado  um tanto quanto desanimada.

— Sim, estou bem. – deu-lhe um sorriso amarelo. Os olhos acinzentados tão claros como se fossem duas grandes luas cheias perscrutaram o rosto abatido fazendo-o tingir se levemente de vermelho. Sentido-se mal Sakura suspirou. – na verdade não estou bem.

— Algum problema?

— Sim. – respondeu sincera.

— Posso ajudar? – continuou Hinata prestativa. – pode me contar, é bom desabafar.

Sakura sorriu para amiga.

— Não sei se você poderia me ajudar. – confessou. Com um gesto de mão chamou Hinata para fora da sala e de sua balburdia. Em um canto mais calmo no corredor onde ninguém pudesse ouvi-las ela lhe contou seu infortúnio.

— Então é isso?!. – murmurou Hinata, surpresa . – eu- eu não imaginava.

— Eu que o diga. – suspirou Sakura deprimida. – o que eu faço Hina-chan?

— Bem..

— Eu pensei em não aceitar...

— Mas é a família real Sakura-chan, eles não verão com bons olhos.

— Eu sei. – concordou com os olhos marejados. – eu não quero me casar, mas não tenho coragem de dizer "não" ao Imperador.

Hinata sentindo a sua dor a abraçou tentando reconfortá-la enquanto Sakura  chorava.

— Eu não quero viver presa naquele palácio, eu não tenho educação apropriada eu só sou uma garota comum.

•••

— TEME! Por que você não me responde Sasuke? – resmungou o loiro batendo na carteira.

Sasuke olhou vagamente para o amigo irritado e logo em seguida voltou a olhar a janela que lhe presenteava com um lindo céu azul.

— Deixa ele – intrometeu-se Kiba puxando o braço de Naruto – você não vê que ele está chateado, pó cara, a Shion o rejeitou – sussurrou .

— O QUE? SASUKE FOI REJEITADO? – gritou o loiro – ai. – resmungo longo em seguida devido o cascudo que recebeu.

— Não precisa contar isso para os quatro ventos. – repreendeu Kiba irritado com a falta de tato de Naruto.

— Desculpa – murmurou o loiro massageando a cabeça.

— É, mas quem iria imaginar que a Shion ia descartar o Sasuke. – comentou pensativo Sugetsu.

— Ei para onde você vai? – perguntou Naruto vendo Sasuke sair da sala.

Tudo aquilo o irritava. Não suportava o posto de príncipe herdeiro e para piorar agora tinha que se casar com uma desconhecida, pior que ela não era nem um pouco desconhecida. Riu sarcasticamente quando pensou na sua prometida que para sua surpresa surgiu no corredor vindo em sua direção. Ele a observou pela primeira vez. Era uma menina comum sem atrativos, de cabelo incomum, que usava um uniforme de segunda mão, não tinha delicadeza, não era nem em sonho parecida com Shion.

Sakura quando se deu conta da presença de Sasuke encolheu os ombros e desviou o rosto. Fingiria que não o conhecia. Era melhor assim talvez ele nem soubesse daquela proposta absurda e quem sabe os funcionários da família real estivessem pregando uma peça com sua família. Pensando assim prosseguiu passando pelo Uchiha que notando sua indiferença se incomodou ainda mais.

— Vai fingir que não me conhece? – o som frio de sua voz fez com que a rosada sentisse a espinha congelar. Surpresa ela parou no meio do caminho, porem não teve coragem de olhar para o príncipe. – e então? – continuou Sasuke rindo da situação

— Eu-eu na-não tinha o visto. – gaguejou.

— Você já deve estar sabendo não é?! – comentou Sasuke aproximando-se de Sakura. – Você esta se preparando? O casamento é no outono. Você provavelmente terá que ir para o palácio um pouco antes.

Ouvindo aquelas palavras Sakura instintivamente se voltou para o moreno, assustada. Sasuke precisou de muita força para não rir na frente dela, aqueles olhos verdes assustados, era tão engraçado pensou.

— Do- do que vo-você está falando? Por que eu tenho que ir ao palácio?

— Não aja como se não soubesse, e não me faça essa cara. Eu sei disso e você provavelmente sabe, também.

Sakura engoliu em seco sentindo as pernas fraquejarem. Envergonhada abaixou a cabeça.

— Eu sei. – respondeu ainda cabisbaixa.

Sasuke a olhou por um momento com seus olhos frios e inexpressíveis. Ela era mais ridícula do que imaginava, pensou.

— Olhando assim, parece que para você é insuportável, pois bem falamos em outra hora.

— Você não está de acordo com essa historia, está? – indagou Sakura em um momento de coragem. – isso é ridículo, somos muitos novos?

— Ridículo? – repetiu Sasuke indiferente. – não acho ridículo tanto é que aceitei

— Que? – entreabriu a boca pasma.

— E você deveria dizer logo que aceita para não causar mais confusão.

— Como assim?

— Você entendeu muito bem o que eu disse – retorquiu irritado – hoje a noite um carro irá buscá-la para você ter um encontro com a imperatriz. E diga a ela que você aceita. - avisou dando as costas para uma Sakura estupefata.

— Ei..  Como você pode aceitar isso? Se quer se casar por que não se casa com alguém que ama?. – ela olhou as costas do jovem.

— O que? – parou Sasuke de andar.

— Você gosta daquela garota chamada Shion, não é? Até pediu ela em casamento. Então por que você disse que aceita casar comigo? – indagou furiosa com a atitude mesquinha do moreno. – não seria mais fácil se agente não concordasse com esse casamento. Pense, eles não me escutariam. Acho que você deveria intervir. Eles não deixariam o casamento acontecer se você falasse que já existe outra garota. Então..

Sasuke se voltou olhando Sakura e um meio sorriso se formou no seus lábios.

— Você é engraçada, sabia?.

— Hã??

— Você acha que eu quero que a pessoa que eu amo fique presa dentro do palácio, igual a uma boneca? – os olhos negros refletiram indiferente a expressão espantada de Sakura.

— Então por que eu? – indagou a rosada, confusa.

Soltando um longo suspiro e enfiando as mãos nos bolsos da calça Sasuke respondeu.

— Eu não me importo com o que acontece com você, por isso aceitei que você seja a princesa herdeira.

— O que?

— Honestamente, você acha que eu gostaria de me casar com você? – indagou ignorando a expressão horrorizada de Sakura. – você deveria agradecer por eu te aceitar sem nenhuma reclamação.

Sakura mal acreditava no que acabara de ouvir.

— O que você disse? Você está dizendo que eu deveria lhe agradecer por ser forçada a viver como uma boneca no palácio? – bufou indignada.

— Tanto faz. – deu de ombros Sasuke – o que você deveria saber é que não importa quais sejam as razões para este casamento, você será minha princesa herdeira.  Para ser minha esposa, suas qualidades deverão ser altas. E você sabe que não é qualificada para ser a Imperatriz, certo?

— Qualificada? – resmungou chocada com o que ouvia.

— Na verdade não quero ser ridicularizado por uma estúpida princesa herdeira. Irei pedir a imperatriz para que lhe dê algumas aulas de etiqueta. – anunciou Sasuke entediado com a conversa.

Uma artéria saltava no pescoço da rosada. Nunca vira um cara tão idiota, mal educado e arrogante em toda a sua vida. Olhar para aquele rosto de linhas perfeitas e olhos negros e principalmente indiferente só lhe dava mais vontade de bater nele. Não iria ficar ali sendo ofendida e tratada como qualquer uma. Ele aprenderia e seria agora, pensou Sakura determinada.

— Você deveria aprender isso! – gritou chutando a canela do Uchiha Sasuke, o príncipe herdeiro do Japão.