POV NATHÁLIA

Eu precisava tanto daquele abraço, daquele cheiro impregnado em mim, daquele coração acelerado espancando meu peito, que não fazia nem ideia de quanto tempo estávamos ali parado na porta. Dessa vez sou eu que rompo o silêncio.
– Vim te agradecer pelo presente lindo que eu tenho certeza que a ideia foi sua, e... pedir desculpas, você tem todo direito de não aceitar, mas mesmo assim eu peço. – digo me afastando dele que continua com as mãos em minha cintura.
– Vem, entra! – ele pega minha mão, fecha a porta e nós entramos – Senta! – nós sentamos no sofá de frente um pro outro.
– Sim a ideia foi minha, mas da sua irmã também, daí saímos hoje cedo eu, a Rê e o Seu Téo e compramos. – ele diz e eu espero que ele continue e diga que me perdoa, mas ele não diz.
– Eu estou tão feliz, tão feliz, você não imagina. – digo – Só falta a Rê aqui pra completar minha felicidade. – me entristeço ao lembrar que ela não vai mais estar em casa quando eu voltar.
– Hey, se anima, você vai ver, a Rê vai se dar super bem lá no Canadá e vai voltar casada e com dois filhos. – ele diz tentando me colocar pra cima.
– Que exagero! – levanto e vou até o espelho que tem na sala da casa de Alan - Droga! Meu cabelo tava todo enroladinho por causa da trança, e agora esticou de uma hora pra outra.
– Nossa que triste! – ele diz rindo de mim.
– Palhaço. – digo isso e nós rimos juntos, então vou até ele que já está de pé – Acho que você já me perdoou pelo visto.
– Difícil Nathália, você me magoou muito. – ele diz virando de costas pra mim.
– Difícil mesmo e continuar sem você... – eu digo o abraçando por trás, mas ao me dar conta do que disse, tento reverter – Quer dizer... sem sua amizade! – digo afastando-me
– Eu perdoo sim, só não me peça mais coisas impossíveis! – ele pede.
– Me leva até a porta então? Está tarde. Isso é possível. – eu digo fugindo do assunto indesejado que estaria prestes a começar.
– Vamos! – ele me diz – Te levo em casa.

POV NARRADORA

Alan levou Nathália até sua casa que era a 5 minutos da sua, e ao chegar na porta ela se despede:
– Mais uma vez, obrigada! Vocês não poderiam ter escolhido um presente melhor. - ela diz alegre.
– Presente melhor só se fosse eu!
– Que metido! – ela diz rindo dele – Então, ta tudo certo entre nós? – Nathália pergunta ainda preocupada.
– Ta sim, mas como eu disse, não me peça pra fazer milagre, porque eu não sou Deus. – Alan diz num tom sério.
– Como assim? – ela pergunta sem entender.
– Você entendeu! – ele diz crente que ela tenha entendido tudo – E então, nem perguntei, melhorou 100%?
–100% não, inclusive agora ta doendo, mas esta quase cicatrizando. – ela responde – Tenho que entrar agora, ta tarde. - ela diz e repousa sobre o peito de Alan num abraço de despedida, não tão intenso quanto o que aconteceu na casa de Alan, apenas intenso e ponto.
– Boa noite! – ele diz sorrindo.
Em seguida, Nathália entra pra casa e vai direto para seu quarto curtir seu novo Piano novo.
Alan volta pra casa, mas ainda precisa ter certeza de que essa noite realmente aconteceu, e que Nathália por livre e espontânea vontade o procurou e pediu desculpas a ele, mesmo ele sabendo o quão é difícil para ela pedir desculpas por mais errada que ela esteja. Mas não importa, seja delírio ou realidade, as lembranças que estavam em sua memória eram bem reais e motivo de sua felicidade. Quando ele entra em casa, encontra na porta a prova do crime, o cintinho que prendia o vestido de Nathália e pensa: “Agora eu tenho uma desculpa pra ir na casa dela amanhã”.

POV NATHÁLIA

Entro no meu quarto louca pra tirar aquela roupa, quando me dou conta de que faltava uma peça do meu figurino, meu cinto e penso “Ah não”, mas decido pegar depois. Ponho uma roupinha leve e me sento no piano. “Espero que meu pai não acorde”, penso. Outra vez observo o bilhete que a Rê escreveu, e me questiono: “ Se ela colocou a letra dessa música crente que eu descobriria quem era a 3ª pessoa, é porque alguém contou do beijo pra ela, o Alan não foi, só pode ter sido... a Bia”. Desde quando essas duas viraram cúmplices? Agora ta tudo explicado. Pra fechar com chave de ouro o meu dia cheio de emoções, só se for com música.

POV ALAN

Quer saber? Amanhã nada, vou agora, a desculpa de amanhã vai ser o aniversário dela. Eita garoto esperto!
Saio de casa e vou direto até a casa dela, bato na porta e quem abre é o Seu Téo.
– Alan, você por aqui? – ele diz espantado, e não é pra menos.
– A Nathália está? – pergunto envergonhado.
– Sim, acabou de chegar, acredito que hoje ela vai tocar a noite inteira. Você deu sorte que eu desci pra beber água e abri pra você. – ele diz sorrindo – Pode entrar.
– Posso subir? – eu peço.
– Pode sim. – ele permite, então eu subo.

POV NARRADORA

Alan sobe cuidadosamente as escadas, na tentativa de surpreender Nathália, mas quem se surpreende é ele, ela está tocando e cantando uma música que parecia mais uma declaração, não só pela letra, mas pela força e sentimento que ela colocava em cada tecla tocada, em cada falsete, em cada pausa, e o que ela sentia estava escancarado em cada palavra...

“Under your spell again
I can't say no to you
Crave my heart and it's bleeding in your hand
I can't say no to you
Shouldn't have let you torture me so sweetly
Now I can't let go of this dream
I can't breathe but I feel
Good enough
I feel good enough for you”

Então, Alan sente uma força que o puxa pra dentro cantando. Nathália se assusta, mas como gosta de cantar com ele, fica com a segunda voz:

N & A:
“Drink up sweet decadence
I can't say no to you
And I've completely lost myself and I don't mind
I can't say no to you”

(nessa hora Alan se aproxima, e olha Nathália profundamente, que está atenta ao piano)

N:
“Shouldn't have let you conquer me completely
Now I can't let go of this dream
Can't believe that I feel”

N & A:
“Good enough”

(Alan faz a segunda voz)

A:
“I feel good enough”

N:
“It's been such a long time coming, but I feel good”
(Há muito tempo esperava por isso, mas eu me sinto bem)

(especialmente nesta frase, Nathália canta olhando provocante para Alan)

N & A:
“So take care what you ask of me
Cause I can't say no”
(Então tome cuidado com o que você me pede
Porque eu não consigo dizer não)

Good Enough - Evanescence

Eles terminam de cantar e Nathália de fazer a finalização no piano, então Alan a aplaude animado.
– O que você ta fazendo aqui? – ela pergunta.
– Não podia perder a sua estreia no piano novo. – ele diz e Nathália o olha com cara de ‘sério’? – Brincadeira, vim devolver seu cinto. – ele diz estendendo a mão.
– E você não podia fazer isso amanhã? – ela pergunta.
– Você não quer me chutar pra fora logo não? Só ta faltando isso.
– Hey, calma, foi modo de dizer. – diz Nathália levantando do piano e puxando Alan pra cama. - Senta aí! – ele se sentam.
– Então quer dizer que você não consegue dizer não pra mim? – ele pergunta, piadita como sempre.
– Eu cantei com você, e não pra você! – Nathália é curta e grossa, mas na verdade queria dizer que a música foi toda pra ele, e não só aquela parte.
– Pois eu cantei pra você, e canto novamente: So take care what you ask of me, cause I can't say no. – Alan cantarola.
– Na última vez que eu te pedi uma coisa você terminou comigo. Digo... com a nossa amizade. Não vou correr esse risco de novo. – Nathália diz de cabeça baixa, se lembrando da discussão dos dois.
– Então pede pra eu ficar! – Alan diz puxando seu rosto pra cima.
– Fica! – ela pede quase que num sussurro.