P.O.V Valentine.

Eu estava em meu quarto. Aquele havia sido o pior dia da minha vida.

Meu pai descobrira que eu namorava escondida. David Forsey era um garoto doce, gentil e muito educado. Só havia um problema: nós não pertencíamos a mesma classe. Ele vinha de uma família humilde, de poucas posses e pouco dinheiro, mas eu não me importava com isso porque eu aprendera a ama-lo. Foram alguns meses somente, mas foram os meses mais intensos e felizes de que me lembro. Até aquela tarde.

Meu pai me seguira e descobrira o local onde eu e David nos encontrávamos. Era uma cabana, num lugar escondido, mas não muito longe de casa. Quando nos viu, ele ficou enraivecido e destruiu tudo o que encontrou pela frente, antes de bater em David e o deixar inconsciente no chão, tudo isso enquanto eu gritava e chorava implorando para ele parar. Depois ele me arrastara para casa em silencio e me trancara no quarto. Me lembro de escorregar as costas na porta de madeira até o chão e chorar, chorar cada vez mais. Chorar até sentir a casa ficar toda silenciosa. Quando a noite caiu, vesti e me enrolei nas cobertas, mas não consegui dormir. A certa altura da madrugada, ouvi minha porta sento destrancada. Era Caleb, meu irmão. Conversamos por um longo tempo, até quase o amanhecer.

Perto da alvorada, meu pai entrou no quarto de supetão, fedendo fortemente a bebida, minha mãe estava atras dele, encolhida, mas obediente como sempre. Ele me puxou com um braço, e Caleb com o outro. Comecei a chorar e a espernear, enquanto meu pai ria ensandecido. Ele levou a todos para o fundo da casa, aonde havia um pequeno celeiro. Ele nos prendeu lá e foi embora. Nós nos abraçamos e choramos, até Caleb. Minha mãe nos confortou durante um dia inteiro.

Quando a noite caiu novamente ele apareceu. Ainda fedia a bebida e ainda ria como louco. Nós todos nos sentíamos exaustos, mas ele mandou todos ficarmos em pé. Movidos pelo medo, nós obedecemos. Ele então tirou do bolso um caderno de capa de couro, escuro como breu. Ele estendeu-o a nós, mas nós não o pegamos. Ele então o arremessou, e o objeto caiu bem próximo a nós. Ele parou de rir e nos encarou. Catou o livro do chão e o abraçou por alguns longos segundos, depois o aconchegou no bolço interno no casaco puído que usava.

Tão rápido que quase não podemos perceber, ele sacou uma pistola e a apontou para nós.

O primeiro tiro acertou minha mãe que caiu no chão imediatamente, ainda com a expressão de espanto. Caleb correu e tentou atacar meu pai, mas foi atingido duas vezes no peito no meio do caminho. Eu fui a ultima.

Doeu.

Doeu como os diabos.

Enquanto caia só conseguia pensar se David estava bem.

Então senti minha bochecha encostar no chão empoeirado, ainda em tempo de ver meu pai desferir um tiro contra a própria cabeça.

Depois o fim...

Ou o que deveria ter sido o fim.