The hanging tree escrita por Carolina Rondelli, Felipe Valentim


Capítulo 3
Where the dead man called out for his love to flee


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Espero muito que gostem desse capítulo, que vai ter uma dose de romance e bastante drama. Aproveitem!



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POV Autora

— Fugir? — Lucy perguntou, incrédula. — M-mas... Como?

Lucy não conseguiu interpretar muito bem a expressão de Jacques, ele provavelmente pensou que ela diria que estava louco, ou algo assim, e não que ela prontamente perguntaria como o fariam.

— Ainda não sei — respondeu.

Jacques ficou andando de um lado para o outro, pensando, considerando possibilidades e descartando a maioria delas. Quando Lucy se cansou de sua inquietação desesperada, exclamou:

— Pare! Sente-se, podemos pensar depois. Esperamos anos, o que são horas ou até dias? Podemos fugir, mas não significa que será agora.

Jacques concordou e se sentou numa cadeira, e Lucy foi para seu colo, entrelaçando as mãos nas suas.

— Não precisamos ser afobados, de que vai adiantar?

Ele ficou em silêncio, e Lucy ficou refletindo sobre a situação. É claro que queria fugir, sair daquele lugar, recomeçar com uma nova identidade. Quem sabe até fazer amigos, se casar com Jacques, ter filhos... Isso sempre foi tão impossível, mas agora poderia se realizar, ela se perguntou por que não tinham cogitado a ideia antes, talvez por que isso nunca pareceu fazer sentido. Fugir para onde? Com o que? Amor não os alimentaria e nem os daria abrigo, disso Lucy sabia, mas agora a ideia não parecia tão sem sentido. Talvez fosse por causa da humilhação fresca na memória de Lucy, mas os dois mereciam uma vida, precisavam disso.

Um pouco mais tarde, um ronco escapou da barriga de um dos dois, que estavam tão absortos em seus próprios pensamentos que não sabiam de onde vinha o som, mas sabiam que estavam ambos com fome.

— Que tal cozinhar? — Jacques apontou para a sacola que continha o peixe que ainda estava jogada ao lado da porta.

Lucy se levantou para pegar o alimento, beijando Jacques levemente nos lábios. Ele sorriu tristemente e ficou olhando para ela, como se decepcionado consigo mesmo por não poder dar o que Lucy queria imediatamente. E ela sabia que ele estava, mas não podia consolá-lo, ele não tiraria a ideia da cabeça uma vez que sabia que Lucy a aprovara.

Quando Lucy pegou a sacola, se lembrou de que deveria ter ido ao poço da cidade, não teria água para cozinhar. Mas não sairia na rua de novo naquele dia... E nem naquela semana ou mês, provavelmente.

— Jacques, pode ir ao poço? Não quero sair de casa e preciso de mais água para cozinhar...

Ele literalmente pulou da cadeira.

— Água! — exclamou. — É isso!

Lucy não entendeu.

— Do que está falando?

— É assim que fugimos! Pela água!

— Está sugerindo que nademos até não sei aonde? Quero dizer, não temos um barco.

— Podemos arranjar um — diz ele. — Eu posso arrumar um. Sou um pescador, talvez consiga um barco suficientemente grande para que viajemos em segurança.

— Quer dizer roubando um? — Lucy pergunta.

— Sacrifícios terão que ser feitos... — começa ele.

— Passar por cima dos nossos princípios? Eu não sei... Você não é um ladrão.

— Não, não sou — concorda ele. — Mas meu chefe, aquele velho do Garth, está me fazendo trabalhar como um escravo e não me paga o suficiente, ele é. E tem vários barcos, se eu conseguir roubar um para nós, considere como um pagamento atrasado de tudo que ele me deve.

Lucy o olhou, estudando as possibilidades. Não queria roubar, mas era um preço bem barato a se pagar pela fuga.

— Bom, e como conseguiria roubar o barco?

Jacques fez a mesma cara que sempre fazia quando convencia Lucy de alguma coisa. Ele sorriu.

— Talvez eu não consiga, mas tenho quem o faça, não se preocupe.

— Preocupar? — ela ironizou. — Imagine, nem teríamos que ter cuidado para não sermos presos, mortos, nada disso.

Ele se aproximou e a abraçou por trás,

— Você confia em mim?

— De olhos fechados — ela respondeu sem pensar duas vezes.

— Então apenas faça isso, confie em mim, futura Senhora Hall.

Ele a largou e ela não respondeu, se arrepiava toda vez que ele a chamava assim. E isso não acontecia há muito tempo.

Quando ele estava já perto da porta novamente, com três baldes nas mãos para pegar a água, ela finalmente perguntou:

— Senhora Hall?

— É como será chamada quando fugirmos daqui.

***

Lucy acordou com batidas na porta. Ainda sonolenta, puxou o fino pano que cobria a janela e viu que ainda nem tinha amanhecido.

Quando se aproximou mais da porta, conseguiu ouvir alguém sussurrando seu nome.

— Lucy, Lucy, sou eu, abra. — Era Jacques.

Quando abriu, ele exibia um sorriso que há muito ela não via.

— Um dia antes da noite de Natal. Grave essa data — ele informou.

— Explique, por favor — disse ela em meio a um bocejo.

— É quando seremos livres.

As palavras a pegaram de surpresa, ela fechou a porta e caminhou mais para dentro da casa, se sentando.

— Seja mais específico — pediu.

— O dia antes da noite de Natal será um dia morto, como o amigo que está me ajudando nisso disse. As pessoas serão liberadas dos trabalhos e todos estarão em casa, cuidando de suas famílias e fazendo preparativos, até Garth estará. Ninguém poderia nos ver saindo.

— Como garante que não terá ninguém para nos ver?

— Quem fica na rua na véspera da noite de Natal por aqui?

— Não sei, não saio nas vésperas de Natal.

— Essa é sua oportunidade para fazê-lo.

— Tudo bem, ninguém vai nos ver, seu amigo conseguirá o barco. Tudo bem — repetiu. — Esse amigo é de confiança? E fugiremos para onde?

— Ele é sim. E sobre nosso destino, seria tola se achasse que somos a única vila do mundo.

— Não acho, mas, pela lei, não podemos mudar de vila.

— Pela lei daqui. Seus pais vieram de outra, é possível.

— E saberia chegar lá?

— Esse meu amigo nos conseguirá um mapa e uma bússola. Ele disse que, segundo o mapa, a próxima vila não é assim tão longe.

— Vai ser perigoso. Nós, no mar...

— Confia em mim?

— Pare de fazer essa pergunta, sabe que sim, sempre.

— Tudo bem, então, vamos tentar outra: está pronta para fugir?

— Não — ela respondeu. — Mas estou pronta para me tornar sua Senhora Hall.

***

O mês se arrastou. Todo final de tarde, quando Jacques vinha trazer comida para Lucy, eles ficavam até tarde fazendo planos. Amigos, casamento, filhos, felicidade. A bendita véspera da noite de Natal não chegava.

Mas, assim como a ideia de fugir, o dia da fuga chegou de repente.

Era de manhã cedo quando Lucy abriu a porta para Jacques, que a abraçou forte.

— É hoje — ele disse, com um ar nervoso e eufórico.

— É hoje — Lucy concordou.

Eles se afastaram com um beijo e Lucy deixou a curiosidade falar mais alto:

— E então, qual é o plano?

— Quem estava ansioso demais? — ele brincou.

— Cale a boca e conte logo.

— Preste bastante atenção — ele pegou nas mãos dela —, a cidade vai estar vazia, mas não impede que você aviste uma ou duas pessoas indo ao poço ou coisa assim. Preciso que tome muito cuidado para não chamar atenção ou ser seguida. Se for, volte para cá e saia depois. Entendeu?

— Entendi.

— Nossas vidas dependem da nossa discrição.

— Eu sei, não torne mais difícil do que já é.

— Só estou preocupado com você.

— Se preocupe um pouco consigo mesmo.

Ele não respondeu, sempre colocava Lucy acima de tudo, mas agora os dois teriam que cuidar um do outro e de si mesmos. Para quebrar o silêncio, Lucy pergunta:

— O que preciso levar?

— Nada, se sair com pertences vão suspeitar, antes de eu sair, quero que me dê suas roupas, só o essencial. Se eu carregar na sacola de pesca não terá problema.

— Tudo bem — Lucy respondeu.

— Vai dar tudo certo — ele encorajou. — Quando a véspera de Natal chegar, estaremos longe daqui.

— Que esteja certo, que esteja certo — Lucy ficou repetindo, como um mantra. Precisavam que desse certo.

Um pouco mais tarde, Lucy separou algumas de suas poucas roupas e entregou a ele, que antes de sair deu um beijo demorado nela. E quando se afastaram, ele reforçou:

— Saia assim que anoitecer, preste atenção.

— Já repetiu isso mil vezes, não vou deixar que ninguém me siga.

— Tudo bem, só fique segura. Eu te amo, Senhora Hall.

— Eu te amo — ela respondeu antes que ele fechasse a porta atrás de si.

Lucy estava ansiosa, andava de um lado para o outro, olhava de vez em quando pela janela para ver em que posição o sol estava. Mas, quando ele finalmente se pôs, era nervosismo e medo que ela sentia.

Quando saiu de casa, olhou desconfiada para todos os lados, mas, como Jacques disse, era realmente um dia morto, na virada do dia seguinte seria Natal, e as famílias estavam reunidas, se preparando. Aquele poderia ser o primeiro Natal, desde a morte dos seus pais, que Lucy poderia se sentir realmente feliz, com um motivo para celebrar.

Caminhou até o cais e estava vazio também, mas ela esperava encontrar Jacques. Foi para perto dos barcos e ficou olhando para eles quando alguém chamou:

— O que está fazendo aí, menina? — chamou uma voz.

Lucy olhou para trás e deu de cara com um velho gordo e rabugento, pensou ser Garth, o chefe de Jacques.

— Está com aquele ladrão, não é? Vamos, responda! — ele gritava.

Antes que Lucy pudesse responder, ela avistou Jacques, que vinha por trás com um pedaço de madeira, ao que parecia, nas mãos. Ele fez sinal para que ela não se alarmasse.

— Eu só estava... hã.... observando, senhor — ela começou a enrolar, mas não precisou fazer isso por muito tempo. Jacques chegou por trás do homem e bateu na nuca dele com toda a força, fazendo-o desmaiar.

— Ah, meu Deus, você quer me matar do coração? — Lucy disse. — Não falou que ele estaria em casa?

— Foi o que supus, mas ele sabia do plano de roubar o barco, aquele traidor nojento!

— O que? Do que está falando?

— Não importa, o barco é aquele — ele apontou para um barco branco, não muito grande, mas que comportava duas pessoas tranquilamente.

Jacques se aproximou do barco e entrou com facilidade, erguendo as mãos para ajudar Lucy. Mas, quando a garota começou a se aproximar, sentiu alguém a puxando pela cintura e a jogando no chão. Era Garth, que não ficara desmaiado por muito tempo.

Lucy bateu com força no chão, e quando foi avaliar os estragos causados, viu que seu braço estava vermelho com o sangue.

Jacques já havia deixado o barco a essa altura. E se atracava com Garth.

Jacques era magro e alto, portanto rápido, já Garth era gordo e lento, porém ganhava em força. Lucy estava observando, horrorizada, quando Garth jogou Jacques para o mar. Não que este não soubesse nadar, mas daria tempo ao velho de cuidar de Lucy.

Ele estava vindo em sua direção e ela não tinha para onde correr, fechou os olhos e sentiu as enormes e calejadas mãos de Garth em volta de seu pescoço. Ele apertava muito e respirar estava quase impossível. Lucy já tinha desistido de lutar quando ouviu um barulho forte e sentiu as mãos afrouxarem.

Lucy caiu, ainda de olhos fechados, junto com Garth. Quando recuperou o fôlego e voltou a olhar, Jacques estava com uma pedra na mão e Garth jazia no chão, de olhos abertos e com uma poça de sangue ao lado da cabeça.

Ela se encolheu e olhou de Jacques para Garth, assustada.

Jacques parecia em estado de choque, se abaixou e colocou os dedos no pescoço do homem. Balançou a cabeça em negação para Lucy, ele estava morto.

As lágrimas já queimavam os olhos de Lucy quando Jacques se aproximou, mas ela não conseguia falar.

— Se eu não tivesse feito aquilo, ele teria matado você, me desculpe. Eu não poderia deixar ele te machucar.

Lucy tremia.

— Volte para casa — ele continuou. — Vou limpar isso, quero que limpe os ferimentos e se recomponha, ainda vamos fugir hoje. Certo, Lucy?

Ela ainda não conseguia responder.

— Lucy? Fale comigo.

— C-certo — ela sussurrou.

— Encontre-me à meia-noite, não aqui, na árvore-forca. É perto o suficiente, e caso descubram sobre isso, não terá ido direto para o local do crime.

Lucy apenas acenou com a cabeça.

— Meia-noite, na árvore-forca, tome o mesmo cuidado. Eu te amo.

Lucy não respondeu, apenas correu para casa e também não encontrou ninguém no caminho de volta.

Ela chorava de dor e medo enquanto lavava o machucado do braço, ela havia acabado de ver um homem sendo morto. E, o que é ainda pior, pelas mãos de Jacques. É claro que foi para sua própria segurança, mas mesmo assim, Jacques não era um criminoso.

Ela sabia que, se alguém descobrisse, os dois iriam para a mesma árvore-forca que se encontrariam, só que para serem enforcados e não para fugir.

Lucy não conseguiu se aquietar, sentava e levantava, andava, ficava parada, até a meia-noite, que pareceu demorar mais a chegar do que o próprio dia da fuga, que ela ficara esperando por um mês.

Quando finalmente chegou, ela saiu e notou que as ruas não estavam mais tão vazias, pessoas andavam para uma mesma direção. Lucy sentiu um déjà-vu quando viu para onde as pessoas estavam indo. A árvore-forca. Lucy começou a correr da mesma forma de quando viu aquela mesma quantidade de pessoas indo em direção à sua casa em chamas há três anos.

Quando chegou lá, pisou em vários pés e empurrou muita gente para se aproximar da forca. Um guarda estava parado ao lado de um homem que estava com um “colar de corda” como ela costumava chamar a corda da forca, que apoiava os pés em um banquinho que salvava sua vida naquele momento.

Mas quando Lucy se deu conta de quem era o homem, teve de tampar a boca com as mãos para não gritar. Era o inconfundível cabelo grande e a barba por fazer de Jacques.

Segundo as leis da vila, se um homem cometeu tal crime que o levasse à forca, teria que ser executado assim que o pegassem.

— Este homem, Jacques Hall, é o assassino de três homens — o guarda começou. — Um guarda do cais, seu colega de trabalho pescador e seu chefe, Senhor Garth.

As pessoas gritavam “assassino” e “morra” com mais frequência do que Lucy conseguia escutar.

— Segundo nossas leis, ele deve ser executado no exato momento da captura. O povo deseja que assim seja?

— Sim! — a multidão gritou em uníssono.

Os olhos de Jacques, que pareciam estar procurando algo, finalmente acharam os de Lucy. Seus lábios formaram uma única palavra sem som:

“Fuja”

As lágrimas já haviam molhado seu vestido e ela se segurava para não ir lá e o abraçar e o salvar.

— Última chance, Senhor Hall, quem o ajudou a praticar tais hediondos crimes?

— Ninguém, senhor — seus olhos não deixaram os de Lucy em nenhum momento.

E então, como se em câmera lenta, o guarda empurrou o banquinho que segurava a vida de Jacques. E nem mesmo assim, seus olhos, agora mortos, deixaram Lucy.

A garota não conseguia mais encarar seu amado, nunca mais seria Senhora Hall, ou seria chamada assim. Ela olhou para trás, perdida, e fixou os olhos no relógio do centro da cidade.

Era meia-noite, na árvore-forca.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? O que vocês ficaram curiosos para saber? Comentem aí, e até o próximo capítulo!



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