Como tudo que envolvia uma zona de guerra, o hospital improvisado para onde Ron foi levado era bem precário. A estrutura e equipamentos médicos deixavam a desejar, porém a dedicação e determinação da equipe médica fazia a diferença entre salvar ou não a vida dos pacientes.

–Como ele está, doutor? –perguntou o oficial enviado diretamente da Inglaterra para acompanhar o caso.

–Agora é estável. –respondeu o médico responsável. –Assim que o Tenente chegou o levamos para a cirurgia. Tiramos um coágulo do cérebro formado provavelmente por várias contusões na cabeça. Mas o que realmente nos preocupa é a sua perna esquerda, tentamos limpa-la e tirar os estilhaços, porém sua pressão começou aumentar e tivemos que interromper.

–O senhor acha que consegue salvar a perna?

–Eu e minha equipe estamos fazendo o possível, mas a situação é complicada. Iremos deixa-lo descansando nas próximas vinte e quatro horas, seu corpo precisa disso depois de tudo que passou, e então iremos analisar novamente.

–Obrigado, doutor. Irei avisar a família.

A família Weasley era informada diariamente sobre o estado médico de Ron, já estavam cientes da possibilidade dele ter a perna amputada.

–Oi, mamãe! –Rose entrou em casa correndo para abraçar Hermione.

–Oi, filha! –Hermione a abraçou. –Como foi seu dia na escola?

–Bom, eu consegui ler hoje! –a garotinha contou orgulhosa. –Posso ler para você antes de dormir?

–Eu e Hugo iremos adorar! –ela abraçou e beijou a filha novamente, não poderia estar mais orgulhosa dela. –Parabéns, Rosie!

–Como foi seu dia, querida? –Rachel perguntou a filha, colocando Hugo no chão para que ele fosse brincar.

–Eu pedi licença do trabalho. –respondeu ela voltando à atenção para o jantar que preparava.

–Por quê? Você ama seu trabalho. –sua mãe não compreendeu o pedido. –Eu posso ficar mais tempo com as crianças ou fazer qualquer coisa para ajuda-la.

–Eu amo meu trabalho, mãe. Mas quando estou trabalhando tudo que consigo pensar é em Ron naquele hospital improvisado entre a vida e a morte! Em Rose chorando todas as noites porque está com saudades do pai!

–Hermione. –Rachel tirou a colher que a filha usava para mexer os alimentos na panela e a abraçou, deixando que Hermione chorasse em seu ombro. –Eu imagino o quanto tudo isso deve estar sendo difícil para você, mas você não está sozinha. Estamos todos com você e iremos te ajudar.

–Obrigada. –agradeceu Hermione limpando as lágrimas por deixa-la chorar em seu ombro.

–De nada. –Rachel sorriu assumindo o controle da cozinha. –Vá dar banho nas crianças, o jantar logo ficará pronto.

Hermione amava seu trabalho, ser advogada era seu sonho desde pequena, porém quando se tornou mãe, sua primeira escolha era os filhos. E nesse momento, seus filhos precisavam dela.

–Estamos prontos para a sua leitura, Rosie! –Hermione acomodou os filhos em sua cama, ultimamente estavam todos dormindo juntos. –Qual é a história?

–A Bela e a Fera. –Rose abriu o livro e ficou insegura de ler para a mãe e o irmão. –Talvez você devesse ler, mamãe.

–Por quê? –a mesma insegurança demonstrada pela filha era também vista pelo marido, Hermione sorriu aceitando o livro que Rose a entregou e começou a leitura. –Você pode me ajudar a ler?

Rose hesitou por um momento, Hermione avançava a leitura apenas esperando quando sua filha iria pedir para ler. Poucas páginas depois, Rose confiantemente começou a ler e logo assumiu a leitura com a ajuda de sua mãe para formar as frases. Ao final do livro, Hermione não aguentou e deixou algumas lágrimas escorrerem. Estava tão orgulhosa da sua filha e com o coração apertado por não ter Ron ao seu lado para ambos se derreterem de orgulho de Rose.

–Eu li tão mal para você chorar, mamãe? –perguntou a menina preocupada deixando o livro de lado.

–Não, você leu brilhantemente. –respondeu Hermione rapidamente limpando as lágrimas e sorriu beijando a filha. –Só pensei em quanto o seu pai estaria orgulho ao escuta-la lendo.

–Não se preocupe, quando o papai voltar eu irei ler todos os meus livros para ele. –Rose a garantiu.

Os dias foram passando e o estado de saúde de Ron dava alguns sinais de melhora, se recuperava lentamente da cirurgia de retirada do coágulo, do traumatismo craniano e da desidratação. Entretanto, o ferimento em sua perna não cicatrizava e sim infeccionava ainda mais.

–Os meus recursos escassos me impedem de fazer mais, tudo que eu posso fazer é amputar. –disse o médico para o oficial.

–O que o senhor sugere? –perguntou o oficial preocupado. –O Tenente aguenta a viagem até a Inglaterra?

–É a única chance dele. –respondeu o doutor sinceramente. –Aviso que nem com todos os recursos de um hospital seja possível reverter à situação.

O oficial agradeceu a honestidade do médico e prometeu fazer o possível para irem o quanto antes para a Inglaterra.

–Soldado Lewis. –o oficial cumprimentou o soldado que passava os dias ao lado da cama de Ron. –Como ele está?

–O mesmo. –respondeu o soldado olhando para o Tenente quase sem vida na cama. –Acorda algumas vezes pedindo pela esposa e filhos e depois volta a dormir.

–Prepare suas coisas, pois nas próximas horas estaremos voltando para a Inglaterra. –antes que o soldado o interrompesse, ele completou. –Iremos levar o Tenente Weasley para casa, é a sua única chance.

Pouco mais de sete horas de voo, o avião especial pousava em solo inglês. Ron foi levado imediatamente para o hospital, onde sua família já o aguardava. Todos queriam vê-lo, porém Ron foi levado imediatamente para ser examinado após o longo voo.

Horas depois o novo médico responsável por assistir Ron foi dar notícias à família. Na sala de esperava estavam Arthur, Hermione e Harry.

–Como ele está, doutor? –perguntou Hermione aflita.

–A longa viagem não teve problemas, Ron está bem. –o médico respondeu tranquilizando. –Ron está sedado agora, iremos deixa-lo assim até ter certeza sobre o ferimento em sua perna.

–É grave? –Arthur perguntou com medo de escutar a resposta, sabia o quão grave poderiam ser os ferimentos sofridos em uma guerra.

–Sim, não quero preocupa-los mais ou assusta-los. –disse o doutor tentando ser o mais claro possível. –As chances do senhor Weasley perder a perna são grandes, é o meu dever deixar essa possibilidade clara para vocês.

–Nós entendemos, doutor. –Harry agradeceu a sinceridade. –Antes de irmos embora, será que podemos vê-lo?

–O senhor Weasley precisa descansar, mas por tudo que vocês passaram, podem vê-lo. Apenas uma rápida visita, tudo bem?

O hospital estava tranquilo, os pacientes em seus quartos dormindo e os médicos e enfermeiras descansando até o próximo chamado. O quarto de Ron ficava no final do corredor, quanto mais se aproximavam do quarto mais a ansiedade de Hermione em rever o marido aumentava.

–Ele está sedado então não irá escutar ou responde-los. –avisou o médico antes de deixa-los entrar. –Cinco minutos, ok?

–Obrigado. –agradeceu Arthur e entrou no quarto atrás de Hermione e Harry.

Lá estava Ron deitado na cama daquele quarto branco e sem vida. Ron ainda tinha o curativo na cabeça, respirava com a ajuda de aparelhos e tinha vários aparelhos ligados ao seu corpo o monitorando. Hermione por um momento esqueceu-se do lugar e das condições que Ron se encontrava, estava feliz apenas por rever seu marido depois de vários meses.

–Você está em casa agora, Ron. –começou a falar Hermione no ouvido do marido, mesmo sabendo que ele não iria escuta-la. –Tudo irá ficar bem.

–Nós estamos contigo, filho. –disse Arthur emocionado por reencontrar o filho, mesmo não sendo nas melhores condições.

–Aguente firme, amigo. –Harry pousou a mão em Ron, precisava toca-lo para acreditar que era o seu melhor amigo naquela cama.

Antes de irem embora, Hermione deixou um recado ao marido.

–Assim que puder, eu trago as crianças para vê-lo. Rose aprendeu a ler semana passada e Hugo está falando mais e andando por tudo. –ela depositou um beijo na testa dele. –Eu te amo, Ron.

Já se passava das onze horas da noite quando Hermione chegou em casa. Seus pais ficaram cuidando das crianças para que ela pudesse ir ao hospital.

–Ron está bem. –disse ela para tranquilizar os pais. –As crianças estão dormindo?

–Estamos felizes em saber que Ron está bem, filha. –Rachel abraçou a filha.

–Resistiram a dormir antes que você chegasse, mas agora estão dormindo. –respondeu Robert acariciando os cabelos da filha em seu abraço. –Também está na sua hora de dormir.

Robert Granger pegou a filha pela mão e a levou até o quarto, Hermione estava tão cansada que aceitou e deitou-se na cama sem mesmo trocar de roupa. Rachel ajudou a filha a se deitar e a cobriu.

–Boa noite. –Rachel beijou a testa da filha. –Tenha bons sonhos.

–Obrigada por cuidar de mim e das crianças. –Hermione agradeceu antes de dormir.

–Sempre que vocês precisarem. –Robert repetiu o gesto da esposa. –Durma bem, querida.

Pela primeira vez em quase um mês, Hermione teve uma noite tranquila de sono. Conseguiu dormir mesmo tendo consciência de que a situação de Ron não era das melhores. Teriam muitas dificuldades pela frente, porém ter visto Ron depois de mais de um ano longe já era o bastante.