The Last Taste - Season 2 escrita por Henry Petrov


Capítulo 17
Kill Or Be Killed


Notas iniciais do capítulo

Não vou dar cumprimentos animados.
Esse capítulo foi o MAIS EXAUSTIVO de escrever até agora. Estou com medo de postar, sinceramente. Está tudo do jeito que eu sempre imaginei, está tudo... Certo. Mas os acontecimentos desse capítulo são, de fato, muito dolorosos, pelo menos pra quem se apega a personagens. Eu sinto muito se o que aconteceu nesse capítulo te deixou emocionalmente desestruturado, mas é o que eu imaginei DESDE O COMEÇO. Então, de qualquer maneira, eu espero que vocês gostem. Boa Leitura (:



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Não tivemos notícias de Miguel ou Lúcifer por cerca de dois dias.

Aproveitei o tempo livre para prestar meu tributo à Will e para treinar meus novos poderes. Will morrera para que eu tivesse aquele Poder. Agora cabia a mim fazer com que aquilo não fossem em vão. Sarah também me ajudou a canalizar as emoções para usar o Poder, mas eu sentia que ela não estava com estrutura emocional o bastante pra me ensinar sem se distrair, então, após algumas sessões de treino, passei a treinar sozinho. E eu estava indo maravilhosamente bem. Eu me assustava as vezes com o que eu conseguia fazer com aquele Poder.

Já era o quarto dia de Eclipse quando dei meu treinamento como encerrado. Lúcifer e Miguel estavam misteriosamente quietos. Quietos tipo, não atacando a Fortaleza, pois, de acordo com Rafael, eles dois estavam brigando feito gato e cachorro, uma batalha atrás da outra. Segundo ele, havia uma trilha de corpos caídos em todo o trajeto do acampamento de Lúcifer até o de Miguel. Isso tinha motivo. Lúcifer estava convencido.

Eu tenho duas hipóteses: ele era idiota de não perceber, ele não sabia ou ele não se lembrou que, quando um Morgan morre, tudo o que ele precisa é sussurrar um nome. Um único sussurro e ele passa todo seu Poder para o nome correspondente. Porém, na sua mente patética, ele possuía o Poder dos Morgan. Então, ele não estava medindo esforços para confrontar Miguel, se achando poderoso o bastante para vencê-lo. Dava pra ter pena de um desgraçado daqueles.

Ok, vamos deixar a raiva de lado.

Voltando ao quarto dia, eu tomei uma decisão. Will demorara dias, meses para aperfeiçoar seu treinamento. Os meus dois dias de treino com certeza tinham me tornado, no máximo, o coelho da páscoa comparado ao que Will podia fazer, mas eu resolvi dar um passo maior do que minha perna. Vai que dava certo.

Eu trouxe Kaitlyn de volta no raiar daquele dia.

Bom, claro que ela já estava em decomposição, mas nada muito grotesco. Estava um tanto pálida, com uma área abaixo de seus pés com um tom roxo. Um cheiro horrível vinha de seu cadáver. Nós a enterramos a alguns metros da Fortaleza, dentro da barreira de proteção. Cavei o chão, no meio da noite, até conseguir encontrá-la novamente.

–Ok, Kaitlyn, hora de voltar à terra dos vivos. – falei para o corpo morto.

Coloquei-a ao lado da cova, seu corpo frio e pálido. Coloquei uma mão em cima da outra, sob seu peito e fechei meus olhos.

–Vamos, eu posso fazer isso. – pensei alto.

Senti meu corpo todo vibrar. O escuro de minhas pálpebras foram iluminados com um brilho verde. Abri os olhos.

Ela não se movia.

–Kaitlyn? – chamei, com o receio do fracasso.

Por alguns instantes, não houve nada.

Então, sua boca soltou um alto grunhido, enquanto ela sufocava por ar.

–Lúcifer e Miguel estão numa batalha acirrada? E nós, somos o quê? Uma pedra no meio do caminho?

Sage estava com uma quente e duas fervendo, algumas horas mais tarde. O que seria ótimo para Kaitlyn, que desde que voltara, não parava de me dar tapas por ter contado tudo pra Will. Depois de saber de sua morte, me deu um soco, chorou cinco litros de lágrimas e me deu outro soco.

–Kaitlyn? – disse Graham, assustado.

–Pois é, eu voltei. – disse Kaitlyn, irritada. – Maravilhoso, né? Só pra saber que este retardado conseguiu estragar tudo antes mesmo de eu ser enterrada.

E com esse corte rápido, se posicionou em volta da mesa.

–De nada, falando nisso. – com a mesma rispidez, respondi.

Ela me deu um olhar cínico.

–Ah, agora vai se fazer vítima?! – exclamou.

–Ok, pessoal, não vamos brigar. – disse Rafael, tentando acalmar os ânimos. – Estamos com problemas sérios e brigar só vai piorar. Seja bem-vinda de volta, Kaitlyn.

Kaitlyn arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços, ainda irritada.

–Só acho muito bonito o Sr. Roman me trazer de volta, e não fazer o mesmo com Will. – falou por cima do ombro.

Revirei os olhos.

–Kaitlyn, é impossível. Will foi morto pela espada de Lúcifer e Peter disse que o arsenal dos demônios é encantado com o mesmo feitiço da Lâmina de Cain. – explicou Rafael. – Sabe o que isso significa? Que a alma de Will foi destruída. É isso que ela faz. Não há alma pra voltar ao corpo, não há como ressuscitá-lo.

–Hum. – resmungou Kaitlyn.

Murmurei um “esquece” para Rafael.

–Ok, agora que acabou o drama, podemos conversar sobre o que realmente importa? – perguntou Sage.

–Desculpe se a minha consciência não importa pra você! – exclamou Kaitlyn.

–Ah, me poupe! – replicou Sage, cruzando os braços.

–Meninas, meninas... – pediu Graham.

–Enfim, prosseguindo. – falei, respirando fundo. – Vocês disseram que Lúcifer e Miguel têm batalhado?

Rafael suspirou.

–Sem descanso. – respondeu. – O máximo que tiveram foi uma trégua de uma hora. Lúcifer quer acabar com Miguel primeiro, e depois vem atrás de nós.

–Por que? – perguntou Paris.

–Bom, ele quer matar Miguel para absorver sua Graça. – explicou Sophie, séria. – É assim que funciona. Quando um Anjo ou um Demônio mata outro Anjo ou Demônio, ele absorve seu Poder ou Graça, tomando para si. Se Lúcifer matar Miguel, estaremos perdidos.

Olsen franziu o cenho.

–Rafael, você está me dizendo que Lúcifer pode matar Miguel? – perguntou, preocupado.

–Ele tem o feitiço do Cain, não tem? – disse Kaitlyn, dando de ombros.

–Arcanjos e Deus. As únicas coisas que a Lâmina não é capaz de matar. – lembrou Olsen.

–Que conveniente. – resmungou Graham.

–Lúcifer pode ser todo metido a Demônio, Poder no lugar de graça e tudo, mas ainda é um Arcanjo. – explicou Rafael. – Ele nasceu Arcanjo e sua alma sempre será de Arcanjo, apesar de no lugar de Graça, Poder.

–Além da Lâmina, a única coisa capaz de matar um Anjo, é outro Anjo. – lembrou Sophie, um tanto entristecida.

–Mas vamos torcer. – disse Olsen. – Quem sabe quando ele matar Miguel, ele exploda.

–Que história é essa? – perguntou Rafael.

–Se você matar alguém... Ou 'alguéns' e absorver muito Poder, você pode morrer. – falei.

–De onde você tirou isso? – perguntou o Arcanjo.

–Lúcifer que disse. – lembrei.

Ele tombou a cabeça e ergueu uma sobrancelha.

–Ele tava mentindo, não era? – perguntei.

Ele assentiu.

–Demônios mentem, sabia? – disse Rafael. – Ele disse isso pra te impedir de matar Mammon. Se você tivesse o Poder de dois Cavaleiros, seria quase invencível. Aliás, como você acha que absorveu o Poder dos Morgan e ainda sobreviveu?

Dei de ombros. Ele riu de leve e se voltou para a mesa.

–De qualquer maneira, eu acho que deveríamos esperar. – continuou. – Afinal, o que melhor do que eles se matarem e ficarmos livres de toda...

Gale entrou na sala, ofegante.

–Vocês não vão acreditar nisso.

Cara de pau. Foi a primeira palavra que me veio à mente.

De frente para a Fortaleza, logo na barreira, estava Miguel sozinho, esperando que eu aparecesse. Saí pelo portão tentando parecer autoritário, causar medo. Era o mínimo que eu podia fazer, porque eu precisava de controle pra não tentar matá-lo ali mesmo. Ele tentara matar Kaitlyn e isso era o bastante para marcá-lo em minha lista negra.

–Miguel. – cumprimentei.

–Sr. Roman. – disse de volta.

Ele deu um olhar torto para os outros atrás de mim.

–Podem ir. – falei. – Ele veio sozinho. Veio em paz, estou certo?

–Está. – respondeu ele.

Kaitlyn me dirigiu um olhar apreensivo, mas atendeu ao meu pedido. Encarei Miguel com nojo, tentando manter o controle.

–Eu sei que devo ser a última pessoa que deseja ver. – anunciou, sério. – E vejo que a Sra. Oliver vive. Ela conseguiu parar a maldição?

Cerrei os dentes, mas tentei falar.

–Não. O verdadeiro Morgan, William, a trouxe de volta. – menti.

Ele me olhou com desconfiança.

–E onde está esse menino? – perguntou.

–Sete palmos abaixo de você. – repliquei. – O que você quer, Miguel?

Ele suspirou.

–Não me dá prazer vir até aqui, Sr. Roman, mas é um sacrifício necessário. – continuou. A cada minuto que se passava, eu odiava aquele homem cada vez mais. – Eu não consigo mais olhar para o campo de batalha e ver as centenas de meus irmãos, mortos.

–Irmãos? Você não os criou? – perguntei.

–Eles são filhos de meu pai, foram criados a partir dele. Continuam sendo meus irmãos. – pelo olhar que ele me deu, agradeci por ele não ter visão a laser. – De qualquer maneira, meu...

Hesitou. E hesitou por um longo tempo. Perguntei a mim mesmo se ele continuaria a falar.

–Lúcifer e eu, chegamos a uma conclusão: essa guerra não pode continuar. Só nos restam três dias de eclipse e não podemos perder mais tempo. Eu não pretendia convidá-lo, mas Lúcifer disse que você tem sob seus domínios, a entrada para minha casa. Logo, seria impossível chegar a uma decisão final quando um problema ainda estivesse sem solução.

–Prossiga. – falei, cruzando os braços.

Ele suspirou.

–Vim convidá-lo para uma reunião ao anoitecer, em uma tenda central, a alguns quilômetros de meu acampamento, a alguns quilômetros do acampamento de Lúcifer e a alguns quilômetros de sua... Fortaleza.

–Estarei lá. – respondi.

E sem mais delongas, voltei à Fortaleza, deixando-o sozinho do lado de fora.

Devo dizer que foi um tanto difícil saber quando era noite, pois em todo lugar, parecia ser crepúsculo, graças ao eclipse. Nosso único indicador era os mínimos raios solares se pondo ao horizonte. Eu estava esperançoso. Com sorte, naquela mesma noite, toda aquela bagunça estaria arrumada. Com sorte, eu não teria que enterrar mais ninguém. Eu estava otimista.

–Peter?

Era Kaitlyn, batendo na porta. Respirei fundo.

–Entra.

Ela adentrou o cômodo com cuidado. Ela sentou ao meu lado na cama, um tanto apreensiva.

–Eu reconheço que eu exagerei hoje. – disse. – Você fez o que achou certo e eu estou feliz que Will morreu sabendo quem realmente era e sabendo o porquê de termos feito tudo o que fizemos.

Ela riu levemente.

–Você me devolveu a vida, Peter! – continuou, um tanto descontraída. – Eu te devo mais do que um agradecimento e um belo pedido de desculpas. Eu estava errada.

Segurei sua mão carinhosamente.

–Tudo bem. Eu entendo. – dei um sorriso tímido.

Ela sorriu de volta.

–Meu Deus, você viu a Sarah? – perguntou, após alguns instantes.

–Nem gosto de pensar. – respondi.

–Eu achei que você sentiria a morte de Will mais do que todo mundo, mas Sarah está arrasada...

–Ah, eu sinto, Kaitlyn. – falei, olhando para o teto com melancolia. – Eu só não posso...

Hesitei.

–Sentir.

Ela me olhou com preocupação.

–Por que?

Bufei.

–Qual parte de “estamos numa guerra e não podemos fraquejar” você não entendeu? – perguntei, encarando Kaitlyn.

Agora, ela me olhava com pena.

–Peter, eu entendo totalmente. Mas você não pode deixar a guerra te impedir de sentir!

–Eu não paro de sentir, eu só reprimo. Só isso.

–Isso não te faz bem. – replicou.

–Eu preciso ir, está na minha hora.

E sem mais rodeios, saí pela porta, deixando Kaitlyn preocupada.

A tenda era simples. Era um monte de pano bege armado no meio do nada. Me aproximei com cautela, pois estava tudo muito quieto. Eu usava um terno preto com uma gravata borboleta de mesma cor. Minha calça de linho arranhava meu sapato, me deixando nervoso. Ainda apreensivo, adentrei a tenda.

Havia uma mesa redonda no centro. Era simples. Apenas madeira. Três cadeiras estavam posicionadas em volta. Duas estavam ocupadas por Lúcifer e Miguel, restando apenas uma à minha frente. Miguel usava um casaco de chuva cinza sobre uma blusa amarela e apoiava seu queixo em suas duas mãos. Lúcifer estava com as costas largadas na cadeira, usando um moletom cinzento com um jeans preto.

–Finalmente. – disse, sem exprimir emoções.

Cumprimentei os dois com um aceno da cabeça e sentei na cadeira, colocando meus cotovelos sobre mesa.

–Então, comecemos? – disse Miguel.

Assenti.

–Eu proponho que vocês peguem suas trouxas e se mandem para o fim do mundo. – começou Lúcifer. – O que acham?

Ele sorriu, mas seu sorriso sumiu ao notar que ninguém ria.

–Vai ser uma noite longa. – murmurou.

–Eu proponho um combate final. – sugeri. – Um combate até a morte. Cada um de nós terá que lutar um contra o outro, o sobrevivente luta com o próximo, o morto... Enfim, seu exército será obrigado a retornar e não interferir nos planos dos sobreviventes.

Miguel ergueu uma sobrancelha.

–Eu não lutarei com você nem se meu Pai me pedisse. – anunciou.

–Como é?

Lúcifer sorriu levemente.

–Ele é um anjo. – explicou Lúcifer. – Há anjos no seu exército e também há humanos. Matar um anjo ou um humano é como arrancar os miolos dele.

Miguel o olhou com repressão.

–Estou dizendo alguma mentira? – perguntou Lúcifer.

–Bom, então está resolvido. – falei. – Eu luto contra Lúcifer. O sobrevivente, luta contra você, Miguel. Todos concordamos?

Lúcifer assentiu. Miguel fez o mesmo.

–Vamos fazer um pacto, sim?

Miguel arregalou os olhos.

–Eu não me sujeitarei a esse tipo de coisa!

–Cala a boca e coloca a mão aí em cima! – replicou Lúcifer. – Pomba.

–O que disse?

–Nada, Miguel. – falei, tentando manter a calma dos dois.

Miguel suspirou. Então, colocou a mão sobre a mesa, relutante. Fiz o mesmo. Lúcifer posicionou a sua ao lado da nossa, formando um triângulo perfeito. Seus olhos brilharam em vermelho, enquanto ele nos olhava com sorriso maldoso.

–Que assim seja.

Um vento entrou na tenda, enquanto selávamos nossos destinos.

Era o quinto dia de Eclipse. E eu não podia me sentir mais ridículo.

De alguma maneira, Sophie conseguiu trazer de Kraktus uma das antigas armaduras que os guerreiros medievais costumavam usar. Capacete, peitoral, ombros, braços, joelhos, pernas... Eu me sentia como um boneco de lata, como aquele de Oz.

–Simplesmente... Não... Fica...

–Para de se mexer ou eu não vou conseguir ajeitar! – reclamou ela, enquanto tentava apertar a armadura por trás.

–Ansioso? – perguntou por cima do meu ombro.

–Sinceramente?

Seu silêncio me disse para continuar.

–Estou apavorado. – falei.

–Ah, deixa disso! Você já passou por coisa muito pior. – disse, me fazendo grunhir com o aperto. – Lembra quando você lutou contra aqueles Malahatch?

Assenti.

–Eu preferia lutar contra uma matilha toda daqueles do que passar por isso. – respondi. – E você me arrumando como se eu fosse uma menina de quinze anos indo pro baile não ajuda em nada.

–Desculpa se eu estou tentando ajudar. – exclamou, com um tom irritado. – Eu me ofereci pra ir no seu lugar, mas você quer.

–Não estou fazendo isso por querer, beleza? – continuei, tentando olhar no seu rosto. – Minha sede de vingança é maior.

–Pois é, mas eu luto desde que eu usava maria-chiquinha no cabelo. Sou muito melhor que você, sabe muito bem disso. Eu te ensinei tudo o que você sabe, eu tenho mais chances de sobreviver.

–Pois é, mas eu tenho o Poder dos Morgan, de Lilith e dos Selos. Minhas chances são maiores. – retruquei.

–Desculpa, sério. – ela falou.

–Pelo quê? – perguntei.

Ouvi um estrondo alto. Demorei pra perceber que foi na minha cabeça. Caí de cara para o chão, batendo minha bochecha contra a poeira.

–Mas não vou deixar você colocar o futuro de Aslyn na mão de “chances”.

A última coisa que vi foi Sophie me deixando apenas com as roupas de baixo, enquanto tomava a armadura para si.

Acordei alguns minutos depois. Pisquei devagar, meus olhos tentando se acostumar com a luz. Notei que meu rosto ainda estava contra o chão. Saltei rapidamente e corri para fora, apenas para notar que estava quase nu. Então, me vesti o mais rápido possível. Desci feito louco pela Fortaleza, tentando chegar a tempo.

Meu maior problema foi a distância. A multidão se aglomerava onde, na noite anterior, estava a tenda. Abri espaço entre o povo, tentando ver melhor. Meus medos tomaram vida.

Um campo se estendia entre o aglomerado. Era um quadrado perfeito. Um homem, sentado em uma cadeira num canto do campo, segurava uma trombeta. De costas para nós, eu via seu cabelo castanho caindo sobre a armadura. Sophie empunhava sua espada com ansiedade, esperando o início da batalha. Lúcifer não dera a miníma ao fato de ser, provavelmente, a última batalha de sua vida. Ele usava a mesma roupa da noite anterior, completamente despreocupado, sentado em uma cadeira de madeira.

–Sophie! – gritei seu nome, mas ela nem se moveu.

O homem olhou para o alto e, ao ver que o “Sol” estava a pino, tocou a trombeta novamente. Lúcifer levantou da cadeira e se alongou. Sophie dançou a espada à sua frente, se exercitando.

–Vamos dar início ao combate! – disse o homem, que finalmente reconheci como Bael. – Sophie Hough...

Vivas surgiram de nosso lado.

–E Lúcifer!

Um urro uníssono saiu do lado oposto, produzido pelos demônios animados.

–Que comece!

Ele tocou a trombeta, reproduzindo um som contínuo e perturbador. Na última hora, Sophie arrancou a armadura, irritada.

–Isso só vai me atrapalhar. – ouvi-a dizer.

Se com a armadura eu estava preocupado, sem a armadura eu estava aterrorizado.

–Vamos começar com calma, que tal? – disse Lúcifer. – Meu coração acabou de se formar novamente e não estou muito a fim de destruí-lo hoje.

Ele estendeu sua mão com a palma voltada para baixo. Uma onda de pedras surgiu do chão. Sophie devolveu sua espada à bainha e ergueu suas duas mãos, como se controlasse a onda. Ela foi empurrada alguns centímetros atrás, mas ela empurrou de volta, fazendo as pedras se voltarem contra Lúcifer. Ele girou seu pulso, fazendo as rochas explodirem para o alto. Sophie entrelaçou suas mãos e formou um funil, assoprando com força. Uma voraz névoa de gelo surgiu de sua boca, fazendo Lúcifer erguer seu braço, tentando se proteger, mas este acabou congelando, forçando Lúcifer a atirar uma bola de fogo para não morrer congelado.

Então, ele ergueu sua mão para o alto e baixou-a com velocidade. Isso fez com que um bolo de pedra misturado com neve fosse jogado sobre Sophie. Ela desapareceu por um instante e reapareceu atrás de Lúcifer, jogando-o para o alto. Ele caiu do outro lado do campo, ofegante. Lúcifer socou seu braço para frente, fazendo um raio surgir de seu pulso. Em vez de recuar ou se proteger, Sophie ergueu suas duas mãos, absorvendo todo a energia do ataque. Quando Lúcifer parou, ela recuou suas mãos para perto de seu peito e jogou suas mãos para frente, soltando um urro de ataque. Uma descarga elétrica violenta foi jogada contra Lúcifer. Ele ergueu seu braço, fazendo um campo de proteção em sua volta, mas não foi forte o bastante e ele acabou eletrocutado.

–Estou envergonhado. – disse Lúcifer, se levantando, ofegante. – Achei que a Rainha de Kraktus faria melhor do que voltar meus ataques contra mim mesmo.

–Deixei o melhor pro final.

Ela ergueu seus braços, uns vestígios de eletricidade fugindo de suas mãos. Os raios atingiriam o céu rapidamente. Lúcifer observava Sophie com desconfiança. De repente, as nuvens apareceram, escuras e pesadas. Uma forte chuva começou a cair. Lúcifer olhou para o alto, assustado. Sophie urrou e um raio caiu sobre ele, mas Lúcifer conseguiu recuar. Ela fazia movimentos diversos e a cada movimento, um raio caía sobre ele. Cerca de vinte foram atirados e apenas seis o atingiram.

–Vamos acabar com isso de uma vez.

Ele empunhou sua espada e investiu contra Sophie. Ela desembainhou a sua e bloqueou seu ataque. Ele tentou uma cortada por cima, mais Sophie ergueu sua espada horizontalmente. Ele forçou a lâmina para baixo, mas ela conseguiu jogá-lo de volta. Ela desferiu um ataque lateral, mas Lúcifer girou sua espada, bloqueando o ataque. Ele tentou estocá-la no peito, mas ela recuou a tempo. A chuva ainda caía, acompanhada de trovões. Sophie desferiu um golpe diagonal, obrigando Lúcifer a desviar. Ela deu uma rasteira com seu pé e Lúcifer caiu, mas logo se levantou.

–Que graça! – riu, ainda duelando contra Sophie.

E eles começaram um duelo constante, o tilintar das espadas crescendo a cada segundo. Ela tentou estocá-lo no peito, tentando quebrar o ciclo, mas ele a impediu com um bloqueio potente. Foi aí que ela conseguiu uma abertura, perfurando seu peito com uma única estocada.

Lúcifer soltou um grunhido alto, enquanto caía de joelhos no chão. Sophie o olhou com superioridade, enquanto arrancava a espada de seu corpo. Ele caiu de vez, com um baque surdo, sobre a neve escura. A chuva cessou e Sophie ergueu sua espada, sorridente.

–Eu venci! – exclamou, voltando-se para mim, gloriosa.

Ri, impressionado. Não entendia a surpresa, Sophie era uma guerreira e tanto. Eu não tinha como duvidar disso. Ela era simplesmente... maravilhosa.

Mas sabe o que dizem: nunca cante vitória, antes da hora.

Uma lâmina surgiu do peito de Sophie.

–SOPHIE! – gritei.

Ela olhou para o objeto ensanguentado atravessando seu coração, fazendo-a sufocar em agonia. Ela caiu de joelhos para então, cair sob seu ombro no chão. Atrás dela, estava Lúcifer, ofegante, com o moletom erguido e exibindo sua ferida.

Fora centímetros abaixo do coração.

–Ops. Errou. – disse, sorrindo para mim, perverso.

Parecia que o tempo tinha parado. Tudo em minha volta se mexia lentamente. Uma lágrima caiu do rosto de Sophie. Senti meu corpo todo estremecer, como se cada célula dentro de mim lutasse para me manter de pé. Minha boca se abriu em dor. As lágrimas não se demoraram. Corri para o corpo, ignorando a presença de Lúcifer. Caí de joelhos ao seu lado, o coração batendo loucamente.

–Sophie, Sophie... – tomei seu rosto em minhas mãos.

Ela ainda se movia.

–Não... não... – murmurei, tentando pressionar a ferida.

Eu soluçava, enquanto as lágrimas caíam sobre seu rosto.

–Você não pode morrer! – continuei, pousando sua cabeça em meu corpo. – Você não pode me deixar... Eu tenho muito o que dizer, você tem que me ouvir, você tem que ficar...

Eu queria falar, mas as lágrimas me impediam.

–Tem que ficar comigo! Ficar do meu lado! Eu preciso de você! Preciso de você do meu lado, comigo... Passamos por muita coisa, e você estava lá, do meu lado, em cada momento. Lembra... Lembra? Quando eu matei Amber, você estava lá! Você apareceu e de repente, tudo estava bem, tudo estava bem... Por favor, Sophie...

Abaixei meu rosto sob seu pescoço, soluçando alto.

–P... Peter. – sua voz, falha, tentou se sobressair.

Ergui meu olhar, tentando ouvi-la.

–Eu... Eu te... A...

–Shh... – disse, acariciando sua pele branca. – Eu sei. Eu também.

Ela sorriu com dificuldade. Aos poucos, fechou seus olhos.

–Não... Não. Não! – exclamei.

Assim, ela me deixou.

Assim, a única luz naquele dia de trevas, se esvaiu.

Assim, ela morreu.

E assim, eu morri junto.


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Notas finais do capítulo

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