The Last Taste - Season 2 escrita por Henry Petrov


Capítulo 16
Give Your Heart A Break


Notas iniciais do capítulo

Oi povão
Bom, eu tenho uma notícia boa e uma ruim. Vou começar pela ruim ~ou não
Essa temporada vai só até o capítulo 20. São 19 capítulos, com um epílogo, igual a primeira temporada, pra quem leu. Estamos no 16, então... Talvez em fevereiro, eu já tenha terminado de postar a segunda temporada.
Mas aqui vem a boa: a terceira temporada começa no dia 18/03. Pra quem lembra, é o aniversário de um ano de TLT :OOOOO
Pois é, legal né? Mas só avisando: ainda tem dois meses pra isso acontecer, mas juro que vai passar rapidinho.
Bom, sobre esse capítulo. É exaustivo, pelo menos eu achei. Também é daqueles de dar raiva, mas depois você meio que se sente compensado, mas aí percebe que não é o bastante e fica com raiva de novo. Mas eu realmente espero que vocês gostem porque os dois próximos capítulos são PURAS EMOÇÕES. Pra quem leu a primeira temporada e se deparou com umas perguntas não respondidas, em dois capítulos, elas serão respondidas. Então, essa reta final de temporada ESTÁ MARAVILHOSA. Fiquem ligados porque vem muita coisa boa aí (pelo menos eu acho).

Enfim, era só... Tá, era TUDO isso. Boa Leitura (:



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Will piscou, tentando se recuperar do baque.

–Will, tipo... – gaguejou. – Tipo eu?

Assenti silenciosamente.

–Mas eu sou filho de... – começou, mas o interrompi.

–Jennette e Arthur Morgan. – completei.

Will se voltou rapidamente para Rafael, que se aproximava com cuidado.

–Você sabia disto?! – exclamou. Eu não conseguia entender se ele estava irritado, decepcionado, animado ou tudo junto.

Rafael assentiu.

–Assim que o toquei, eu sabia. – respondeu Rafael. – Mas o olhar que Peter me deu, me fez pensar que ele sabia quem você realmente era. Se não tinha lhe contado, era por um motivo. Então, não falei nada.

–E mentiu? – perguntou Will, indignado.

Rafael deu de ombros com timidez. Will encarou o chão por alguns segundos.

–Eu lembro de uma noite, alguns dias depois de eu ter chegado. – contou. – Ouvi gritos baixos vindos da cozinha.

Mordi o lábio.

–Era Kaitlyn, falsificando a marca. – expliquei.

Ele se sentou em seus joelhos, paralisado.

–Muito Poder pode te matar... – pensou alto. – Mas também pode sair de controle.

–Do que está falando? – perguntou Gale.

–Rose. – respondeu Will, com lágrimas nos olhos. – Eu matei ela, não foi?

Assenti. Ele soltou um suspiro pesado.

–Como vocês descobriram? – perguntou, tentando afastar o pensamento.

Respirei fundo.

–Nós soubemos do acontecido na sua casa, das facas... – contei, tentando olhar em seu olho, mas ele continuava encarando o chão, de frente pra mim. – E deduzimos que você seria um de nós. Porém, nem bruxos nem demônios podem ser mortos por meras facas. Então, pesquisamos mais e conseguimos chegar a uma irmã distante de sua mãe adotiva, Samantha Perillo. Ela nos contou sobre a difícil relação que você tinha com o resto da família e que isso só piorou com a morte de Rose. Com um pouco de pressão, ela revelou a verdade.

–Que eu era adotado? – perguntou, me encarando.

Assenti, engolindo seco.

–Rose costumava ir e voltar da escola todos os dias, sozinha. – continuei. – E um dia, ela ouviu um choro alto vindo da floresta. Ela adentrou o bosque e te encontrou, ainda um bebê, caído no chão, como se tivesse sido jogado. Sem roupa, inclusive, apenas com um cobertor com seu nome escrito: “W. Morgan”. Ela te pegou no colo e resolveu levar pra casa.

“Seus pais acharam a ideia absurda. Samantha contou que eles tinham chegado ao limite de filhos, seis. Um sétimo poderia ser um desastre, mas Rose foi teimosa e eles acabaram deixando, contanto que ela se encarregasse de todas as tarefas que vinham com um bebê. Ela tinha cerca de doze anos na época. Aceitou as condições sem hesitar e nunca reclamou do trabalho que tinha. Ela te amava, muito.”

“Então, fizemos uma longa pesquisa, tentando descobrir quem eram os Morgan. Foi quando nos deparamos com a lenda da criança chorosa pela floresta. Kaitlyn percebeu que Will, se fosse quem parecia ser, seria nossa melhor chance de vencer essa guerra. Ela estava certa que viriam atrás dele, então decidimos que um de nós seria o Morgan Falso, que se machucaria em nome do verdadeiro. Em seu nome. Logo, quando Lúcifer chegou em Aslyn... Ela foi sem pestanejar, pois era pra isso que estávamos nos preparando.”

–“Era isso que tinha que acontecer.”. – recitou Sophie.

Então, ela ergueu seu olhar para as vidraças, apavorada e, no mesmo momento, atirou sua adaga contra o vidro.

Observei o objeto voar pelo alto, quebrar o vidro e atingir o peito de um ser que se encontrava ali escondido. Era um homem de cabelos escuros e roupas amarelas. Observei uma fumaça escura escapar de sua boca, enquanto ele desaparecia no ar.

–O que foi isso?! – exclamou Sarah.

–Um demônio. – disse Sophie, ofegante. – Ele sabe sobre Will.

Will bufou.

–Então a morte de Kaitlyn foi em vão?! – exclamou.

–Não exatamente. – explicou Sophie, com os braços cruzados. – Ele só sabe seu nome, não chegou a ver seu rosto. E pela falta de uma adaga caída ali no chão, acho que consegui atingi-lo. Com sorte, ele não sobreviverá a tempo de contar tudo a Lúcifer.

–Que seja, então. – suspirou ele, se agachando ao lado de Kaitlyn.

Ele sentou em seus joelhos e apoiou um mão sobre a outra no peito dela.

–Não! – exclamei

Ele me olhou com surpresa.

–Do que importa Kaitlyn estar morta se Lúcifer já sabe? – perguntou.

–Lúcifer sabe, mas Miguel não. – lembrei.

Ele pensou um pouco. Will estreitou olhos para o nada, pensativo. Então, ergueu seu olhar para mim.

–Eu tenho um plano! – exclamou, correndo de volta para as escadas que dava no corredor das celas.

–Will... – chamei.

–Calma, eu tenho um plano! – repetiu, subindo dois degraus de uma vez.

–Qual?! – perguntei.

Ele não respondeu, a última coisa que vi foi sua animação enquanto desaparecia no corredor lateral às celas.

Bom, não vou mentir. A Fortaleza estava quase completamente desabada. Miguel e seus anjos quase colocaram o lugar abaixo. O telhado estava completamente ruído e alguns corredores tinham trechos danificados. Isso me preocupava muito, pois ainda era o primeiro dia de Eclipse. Miguel e Lúcifer ainda teriam seis dias para nos destruir e nossa Fortaleza havia sido quase destruída. Estávamos praticamente, vulneráveis a qualquer ataque. Eu precisava resolver tudo aquilo. Rápido.

–Lúcifer não pode saber quem Will é. – disse.

Todos em volta assentiram.

–Sarah, você consegue distrair Will, por algumas horas? – perguntei.

Ela deu um leve sorriso.

–Não depende de mim. – respondeu.

Ergui uma sobrancelha.

–Você e Will...? – perguntou Gale, sem palavras para completar. – Já...?

Sarah deu de ombros.

–Isso é... – continuou, enojado. – Perturbador.

–Você consegue? – repeti, ignorando a reação de Gale a algo tão óbvio.

Ela assentiu.

–Então eu também tenho um plano. – anunciei, sério.

Era um dia um tanto escuro, graças ao Eclipse. Já eram dois dias quase sem Sol e eu me perguntava como os cientistas e meteorologistas explicavam o fenômeno.

Estávamos todos do lado de fora, postos na neve mal iluminada pelo Sol. Estávamos esperando. Sabíamos que Lúcifer viria correndo atrás de Will. Ele conseguira Kaitlyn na primeira vez, ele tentaria conseguir Will também. Eu segurava minha espada com apreensão, perguntando a mim mesmo se aquilo funcionaria.

A barreira erguida por Will ainda na noite anterior era sólida, parecia uma redoma de vidro da qual podíamos atravessar. Quando percebeu o estado da Fortaleza, o menino concordou que nossas estruturas não eram fortes o bastante para nos proteger de um ataque. Invocou seu Poder-Morgan e em poucos segundos, tínhamos um feitiço de proteção mil vezes mais potente do que o de Rafael. Além disso, este permitia entrar qualquer um de nós, qualquer um que estivesse do lado de Aslyn. Os inimigos, opostos a nossa causa, seriam barrados como água em uma pedra. Era um tanto confortante.

Mas eu me sentia um pássaro preso em uma gaiola. Eu me sentia fraco, escondido por trás de um feitiço de proteção, mas eu não podia ser egoísta. Os recrutas, os lobos de Sage e os humanos de Graham estavam reféns de minhas decisões. Eu tinha que pensar no que era melhor pra todos, não só no que me fazia sentir melhor.

–Lá vem eles. – apontou Paris.

No horizonte, se erguia o exército de Lúcifer. Estava maior do que eu me lembrava. Eles seguiam Lúcifer, formando um gigante funil de demônios. Eu reconheci os meus “irmãos” ao seu lado, exceto um deles, que deduzi ser Mammon com outra... “Roupa”. Eu não conseguia acreditar na sua ousadia.

Eles se aproximaram, ficando a cerca de cem metros de nós. Lúcifer ergueu sua mão e todos pararam de andar. Ele usava a mesma roupa de sempre, mas estava sempre limpa. Nunca entendi aquilo. Lúcifer me olhou com superioridade, enquanto corria seus olhos pelos recrutas.

–Um passarinho me contou, – começou, sua voz incrivelmente alcançando todos os nossos ouvidos. – que uma certa bruxa na verdade é um bruxo. Que na verdade, Kaitlyn nunca foi a verdadeira Morgan. Um menino chamado Bill...

–Will. – Azazel o interrompeu.

Lúcifer o olhou com ira por alguns instantes, mas pareceu ignorar.

–Will. – repetiu. – Will seria o verdadeiro último Morgan. Bom, eu adoraria conhecer essa ilustre figura. William Morgan, por favor, dê um passo a frente.

Ele sorriu para nós, esperando um movimento.

Nada.

–Ok, vamos tentar de novo. – murmurou. – Will. Um de meus demônios me contou, em seu leito de morte, que você, acidentalmente, matou sua própria irmã, a única que te amava em sua família.

Ele hesitou, esperando algum movimento suspeito entre nós.

–Bom, saiba que eu, sendo Rei do Inferno, posso facilmente trazê-la de volta como se nada disso tivesse acontecido. – anunciou, com as mãos entrelaçadas em volta de suas costas. – Só peço que dê um passo a frente e se junte a mim.

Mais uma vez, nada.

–William Morgan! – vociferou Lúcifer.

Um menino deu um passo a frente. Ele observava tudo com apreensão. Lúcifer sorriu para ele.

–Eu sou Will.

Lúcifer o olhou com dúvida.

–Meu nome é William Morgan. – repetiu.

Sua voz era alta e potente, fazendo Lúcifer se perguntar se encontrara seu vencedor.

O menino se aproximou, os dentes cerrados. Lúcifer me olhou com desdém e estendeu a mão ao menino. Will atravessou a barreira, mas não apertou a mão de Lúcifer.

–Nunca me juntarei a você. – anunciou.

O demônio o olhou com dúvida, como se perguntasse a si mesmo se não deveria matá-lo ali mesmo.

–Quero fazer um pacto.

Murmúrios surgiram de ambos exércitos. Todo esse tempo, nunca tinham ouvido dos pactos com demônios. Acreditavam ser só lenda, mas era real. E Lúcifer era o Mestre dos Pactos. Ele sorriu diabolicamente, exibindo seus brancos dentes.

–Eu luto contra você. – anunciou Will. – Até a morte. O vencedor, fica com a Fortaleza. O perdedor, vai embora e nunca mais volta.

Lúcifer respirou fundo.

–Tem certeza do que está me pedindo, rapaz? – perguntou. – Isto não é uma lutazinha de espadas do jardim de infância. Se você achar que está perdendo, não poderá interromper. Você aceita estes termos?

Will hesitou. Então, apertou a mão de Lúcifer, decidido.

–Lutaremos até a morte. O vencedor fica com tudo, o perdedor vai embora. E eu não posso interromper a batalha. – disse Will, ainda apertando sua mão.

–Que assim seja.

Os olhos de Lúcifer brilharam com um tom vermelho. Ele sorriu para Will e empunhou sua espada, usando-a para afastar os demônios em volta. Ele se voltou para Will, aquele sorrisinho impertinente brotando em seu rosto. Will arrancou seus fones de ouvido do bolso, estendendo-os até que se alongassem e se tornassem uma majestosa espada de prata pura, com um cabo de ouro.

Lúcifer arqueou as sobrancelhas.

A batalha começou.

Lúcifer ergueu sua espada, disferindo um golpe lateral em Will. Ele girou sua espada, bloqueando o ataque e investindo instantaneamente com uma cortada por cima. Lúcifer bloqueou o ataque, apesar de ter conseguido se esquivar a tempo. Então, ele ergueu sua espada e investiu com um corte diagonal, mas a espada de Will bloqueou o golpe. A partir daí, a luta se seguiu com o alto tilintar dos metais em atrito, enquanto eles tentavam escapar daquele impasse de ataque-bloqueio. Foi aí que Lúcifer saiu do ciclo vicioso e tentou algo diferente, disparando um golpe lateral e, antes que Will conseguisse se recuperar do bloqueio, investiu contra seu pulso, jogando a espada do menino para longe, enquanto o chutava no peito e prendia seu corpo contra a neve com sua bota. Ele ergueu a espada sob o pescoço do menino e bufou com um alto riso. Porém, antes que cravasse a espada em sua garganta, foi interrompido.

–Lúcifer.

O demônio ergueu sua cabeça, observando a voz que lhe chamava.

“Droga”, lembro de pensar.

Will estava de pé, encarando a cena com desprezo. Ele me encarou com um olhar que dizia “Você errou, mas eu entendo”. Gale bateu a cabeça contra o chão, derrotado, a espada de Lúcifer ainda a centímetros de sua garganta.

–O quê? – perguntou Lúcifer. – O que foi agora?

–Eu sou William Morgan. – anunciou o menino de pé. – Deixe ele em paz.

Lúcifer olhou para o rosto de Gale sob sua espada, com dúvida.

Will ergueu seu punho acima do ombro e abriu sua palma. Um fogo alto e crepitante surgiu em sua palma sem que ele fizesse qualquer ruído. Um fogo verde. Lúcifer largou Gale e olhou para aquela cena, quase que com orgulho. Sua boca se escancarou em animação. Will girou o pulso, estendendo sua palma para Lúcifer. O fogo escapou de sua mão, voando em espiral em direção ao demônio. Ele se esquivou, mas o fogo atingiu uma pedra, formando um buraco em seu centro.

–Meu nome é William Hugo Tanner, hoje conhecido como William Morgan. – anunciou, se aproximando.

–Ouviu a oferta de sua irmãzinha, não? – perguntou Lúcifer.

Os olhos de Will pulsaram em um tom esmeralda.

–Não. – respondeu. – Vim terminar essa luta.

Ele suspirou, confiante.

–Do jeito certo.

Seus olhos pareciam pegar fogo. Ele socou o ar e atirou bolas de fogo na direção de Lúcifer. Este ergueu seu cotovelo, como se abanasse uma mosca, erguendo um escudo em sua frente. Lúcifer ergueu sua palma, soltando uma bola de neve. Will torceu seu pulso, mudando seu alvo. Lúcifer ergueu seu braço, fazendo um pilar de neve jogar Will para o alto. Em vez de cair, Will voou pelo céu, com um joelho erguido, atirando mais bolas de fogo do alto. Lúcifer levantou seu punho, fazendo as bolas desviarem ao tocá-lo. Will desceu de volta para o chão com leveza, antes de, com um único movimento do braço, jogar Lúcifer contra uma parede de pedra formada pela montanha. Uma caverna se abriu com o impacto, várias pedras caindo sobre o demônio. Lúcifer se ergueu entre as rochas, jogando uma enorme pedra contra Will. Este manteve seu punho erguido, fazendo a pedra se transformar em grãos de cascalho, como areia, se perdendo em volta da neve. Lúcifer continuou a atirar pedras, mas a proteção de Will parecia enfraquecer. Sem escolhas, Will estendeu seu braço, fazendo uma das pedras se chocar contra Lúcifer. Estava feito. Lúcifer seria esmagado e tudo estaria acabado, mas a rocha foi desviada. Lúcifer olhou para a pedra se afastar, um tanto surpreso.

–É tudo o que você tem? – perguntou ele.

–Estou só começando. – respondeu Will.

Ele ergueu sua mão e começou a fechar seu punho, como eu o vira fazer repetidas vezes. Lúcifer caiu de joelhos sobre o chão, tossindo. Com o tempo, o sangue acompanhou a tosse. Chegou a um ponto que quase jorrava sangue da boca de Lúcifer. Ele tossia, segurando o estômago, tentando impedir.

–Não terminei. – continuou Will. – Está sentindo isso?

Lúcifer, ainda soltando sangue pela boca, começou a se contorcer no chão. Pude ouvir algo se quebrar. Outra vez. E outra. E outra. Até que o som se tornou constante. Lúcifer urrava com a dor, suas têmporas saltando de seu pescoço com a força de seus gritos, o sangue escorrendo de sua mandíbula.

–É a mesma dor que você causou a pessoas inocentes. – respondeu Will. – E isso? Essa coisa queimando dentro de você? Seu sangue está fervendo, suas veias estão em chamas, fruto do seu ódio. Bom, nada que você nunca tenha feito, não é, Lucy?

O homem continuou a se contorcer no chão, urrando, gritando, implorando por ajuda.

–Agora, você vai saber como é ter sua vida arrancada de você. – continuou Will, se aproximando. – Nesse caso, como é ter seu coração arrancado de dentro de você.

Ele ergueu sua mão com dificuldade, como se algo lhe impedisse. De repente, uma bola vermelha pulou do peito de Lúcifer, indo parar a cerca de centímetros da de Will. Ele pressionou seu punho, fazendo o coração espocar como uma bolha de sabão, espalhando sangue por todos os lugares. Ele abanou sua mão para o alto e Lúcifer parou de se mexer.

Por um instante, todos ergueram seus cabeças, esticaram seus pescoços, tentando ver melhor. “Ele morreu?”, “Ele tá respirando?”. Will ofegava, sorrindo para o corpo imóvel de Lúcifer. Pena que ele só olhou para o corpo por alguns instantes.

Lúcifer surgiu atrás dele, seu corpo ensopado de sangue, olhando Will com um sorriso psicótico. Will se voltou, assustado. Ele poderia ter corrido, mas o medo tomou conta dele.

Um erro. Um erro que até hoje, me faz perder o sono.

–Acho que o feitiço virou contra o feiticeiro.

E assim, apunhalou Will com a espada em seu peito, precisamente no seu coração, com um sorriso largo.

–Últimas palavras? – perguntou Lúcifer.

Will, quase se engasgando em sangue, respondeu, sorrindo:

–Você não... Vai vencer.

Lúcifer pendurou a cabeça.

–Quem, então? – perguntou, irônico.

–Peter Roman. – respondeu Will, com um largo sorriso.

Então, Lúcifer torceu a espada. Um grito abafado saiu da boca de Will. E foi a última coisa que ouvi dele. Lúcifer arrancou a espada e Will caiu de joelhos na neve fofa, antes de desabar para frente. Morto, imóvel e ensanguentado.

No mesmo momento, minhas pernas cederam. Senti tudo ficar surdo. Meus olhos não acreditavam no que eu via. Senti um forte aperto no coração, sendo obrigado a levar minha mão ao meu peito. Ofeguei, tomando fôlego, o ar se esvaindo.

–NÃO! – gritei.

Foi um grito longo, alto e doloroso. Eu sentia meus pulmões queimarem com a falta de fôlego, mas eu não me importava. Eu precisava tirar isso do meu peito, tirar toda aquela dor, toda aquela culpa, toda aquela tristeza... Eu precisava expulsar tudo aquilo que me soterrava como uma bola gigante de neve. As lágrimas caíram sem interrupção. Solucei, jogando meu rosto contra a neve. Soquei o chão, descontrolado.

–O QUE VOCÊ QUER DE MIM?! – gritei para o alto, mas não fui respondido.

Continuei a chorar, sentado em meus joelhos. As pessoas à minha volta agiam de maneiras diferentes. Alguns choravam, alguns seguravam o choro. Outros, como Gale, choravam desesperadamente.

Lentamente, Lúcifer se aproximou de mim. As roupas ensopadas de sangue, o andar fraco. Ele era O Diabo. Não seria morto por ter seu coração arrancado. O corpo estaria vivo enquanto ele vivesse. Ele se aproximou e me olhou com superioridade.

–Peter Roman. – chamou.

Ergui meu olhar para ele.

–Você foi avisado. – lembrou, sério. – Eu não mato meus inimigos, não de início, sabe disso. Eu arranquei de você cada um que você amava. Seu pai, seu menino prodígio... O que você está esperando? Quantas pessoas ainda precisam morrer pra você entender que seu lugar é comigo? Essas pessoas morreram por você. Quantas covas você vai precisar cavar?

Engoli seco. Ergui meu olhar para encará-lo, o rosto ensopado com lágrimas.

–Essas pessoas morreram. – respondi. – Elas morreram para que eu vivesse, para que eu tivesse uma segunda chance. E eu não vou gastar essa segunda chance trabalhando como escravo da prostituta do inferno.

Lúcifer tentou me atacar com sua espada, mas foi impedido pela barreira.

–Will fez essa barreira antes de morrer. – anunciei. – Não pode nos tocar. Não pode nos machucar. Não mais.

Lúcifer me olhou com desprezo.

–Mas eu ganhei! Eu fiz minha parte do pacto! E a sua?! – perguntou, vociferando, furioso.

–Você fez o pacto com Gale. – lembrei. – Não com Will. Você interrompeu a batalha. O pacto perdeu o efeito.

Lúcifer cerrou os dentes.

–Ele está certo. – Bael disse.

–Cale a boca. – ordenou Lúcifer, por cima do ombro.

Ele me olhou uma última vez.

–Isso não acabou.

E cuspiu no chão, enojado.

Ao entrarmos na Fortaleza, eu estava em transe. Não ouvia nada, não via nada. Tudo o que eu sabia, era que atrás de mim, alguém carregava o corpo de Will e eu ainda não aceitava esse fato. Sarah apareceu nos destroços da Fortaleza, preocupada.

–Gente, desculpa, eu tentei parar ele, mas a gente dormiu e não achei que ele fosse acordar! – disse, um tanto apreensiva. – Cadê ele?

Não respondi. Subi as escadas com desleixo. Ouvir Sarah cair sobre o corpo de Will, chorando, batendo em seu peito, ordenando que não a deixasse... Dizendo que o amava. Eu não aguentava aquela cena.

–Aonde você vai?

Já estava no topo da escada quando Gale me interrompeu. Voltei-me para ele com impaciência.

–Não sei. – respondi. – Não sei o que fazer, o que pensar...

Hesitei.

–Acho que ele estava certo. – disse, mordendo um lábio. – Estou sendo egoísta, pessoas estão morrendo por mim.

Gale franziu o cenho.

–O que está dizendo?

Dei de ombros.

–Acho que não consigo. – revelei. – Não consigo mais continuar. É como se eu nadasse contra a correnteza e tudo o que eu faço é me afogar cada vez mais.

Gale me deu um soco.

–Não ouse dizer isso! – vociferou, sua voz embargada. – Não depois do que aconteceu, depois de tudo o que passamos! Não depois do que Will fez! Peter, confiamos em você! Você é nosso líder, nosso guia, desde o começo! Eu não vou aceitar que recue! Will não aceitaria também!

–Do que está falando? – perguntei, enxugando o sangue dos lábios.

–Você sabe muito bem do que estou falando! – exclamou de volta, irritado. – Você estava lá! Até nos seus últimos segundos de vida, ele confiou em você! Ele acreditava que você ia fazer tudo isso funcionar, ia fazer todo esse esforço, todas essas vidas destruídas, valer a pena! Não dê as costas agora, não agora, Peter! Ele confiava em você!

Foi como se eu tivesse levado um tapa.

–Últimos segundos de vida... – murmurei.

Gale me olhou como se eu tivesse ficando maluco.

–O quê? – ele esticou seu pescoço com a orelha exposta, tentando ouvir melhor.

–“Eu tenho um plano...” – lembrei.

Xinguei baixo.

–Pode me atualizar aqui? – pediu Gale.

–Teve um momento, na batalha em que Will atirou uma pedra com Lúcifer, lembra?

Gale assentiu.

–A pedra desviou. – continuei. – Até Lúcifer ficou surpreso. Não foi ele quem desviou a pedra. E depois, quando Lúcifer apareceu atrás dele, ele tinha tempo para fugir, certo?

Gale cruzou os braços.

–Onde está querendo chegar, Peter?

Suspirei.

–Will desviou a pedra.

Gale recuou com o choque.

–Não é possível. – disse, encarando a parede em recusa. – Por que ele faria isso?

–Quais foram as últimas coisas que ele disse, Gale? – perguntei retoricamente.

Ele me olhou com seriedade.

–Quais foram suas últimas palavras?

Gale suspirou, com um sorriso malévolo no canto da boca.

–“Peter Roman.”. – recitou.

Ergui meu punho sobre minha cintura. Abri-o com força. Uma chama surgiu, se projetando sob minha palma. Uma chama forte, flamejante...

E verde.


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Notas finais do capítulo

Comentem, elogiem ou me xinguem! ~sqn



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