The Last Taste - Season 2 escrita por Henry Petrov


Capítulo 15
Touched By An Angel


Notas iniciais do capítulo

Hey oh :3
Enfim, como vocês passaram de ano novo? Bom, eu foi bem pacato. Ninguém fez festa nem nada, então...
Mas isso não vem ao caso. Esse capítulo está MARAVILHOSO. Esse capítulo tem a primeira das duas big-revelações dessa temporada. Se vocês detestaram a morte da Hanna, quero ver o que vão achar dessa. Enfim, era só isso ~acho. Boa Leitura (:



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Kaitlyn estava de frente para a janela. Ela segurava em sua mão direita o pingente de seu colar, enquanto a outra se aninhava abaixo de seu braço direito, em volta da cintura. Ela olhava seriamente para os recrutas lá fora, atirando flecha e bolas de fogo. Tentei me aproximar sem assustá-la, mas acho que ela já sabia que eu estava por perto.

–Está tudo bem? – perguntei.

Ela ergueu o olhar para o céu, pensativa.

–Sei que deveria estar ótima, estou em casa, mas... – ela suspirou. – Veja o Sol.

Corri os olhos pelo céu, procurando a grande bola de fogo brilhando lá em cima, mas não a encontrei. Em seu lugar, havia uma esfera escura, contornada por uma espessa fumaça laranja, formada pelos raios solares, que fugiam do bloqueio lunar.

–O eclipse. – concluí. – É hoje.

Kaitlyn assentiu, adentrando o quarto. Estávamos na antiga sala “divertida” dos demônios. Tudo fora adaptado para abrigar os líderes. Os recrutas se instalaram do lado de fora, onde poderiam estar atentos a qualquer sinal de perigo. Ela sentou na cama e afundou os braços entre as pernas.

–Mas a guerra começou ontem, certo? – perguntei.

Ela deu uma risada curta.

–Aquilo foi pega-pega comparado ao que vai começar! – disse, séria. – Peter, desta vez, Miguel entrará na briga. John disse que os anjos estão se preparando. Lúcifer está furioso conosco, principalmente depois de ser humilhado daquele jeito. Vamos receber na mesma moeda.

Ela se voltou para o chão, preocupada. Sentei ao seu lado, passando a mão sobre minha calça com nervosismo.

–Falando em ontem... Eu sinto muito. – falei, voltando-me para ela.

–Pelo quê? – perguntou de volta, me encarando com dúvida.

–Por tudo isso. – respondi, enquanto corria os olhos pelo quarto. – Não, sério. Eu queria que não tivesse que ser você lá, queria nunca ter te arrastado pra essa confusão. Eu queria que você tivesse em casa, estudando pra passar em uma boa faculdade de psicologia. Encontrar uma garota que te ame como você merece, talvez criar filhos... Ter uma vida boa, sabe?

Ela deu tapinhas em minha mão, que repousava sobre minha perna.

–Peter, minha vida... – começou.

O que ela disse depois, me apavorou por um instante.

–É uma droga. – completou, com um sorriso infeliz. – Eu odeio minha vida. Eu detesto acordar de manhã com a ideia de que há uma grande probabilidade de que eu não esteja viva ao fim do dia, ou que amanhã posso estar enterrando algum de vocês. De todas as hipóteses de falta de sucesso na minha vida, esta nunca passou pela minha cabeça de tão desesperadora que é.

Ela encarou o chão por alguns instantes, apertando os olhos.

–Mas eu não trocaria essa minha vida por nada. – disse, voltando-se para mim. – Sabe, Peter, eu poderia ter escolhido ficar em casa e deixar tudo isso pra lá. Se eu quisesse, você não teria pulso pra me impedir, sabe disso. Mas se eu tivesse ficado em casa, se não fosse eu lá ontem, outra pessoa estaria. E pensar que alguém poderia se ferir gravemente, que pessoas poderiam morrer, que o mundo poderia acabar se eu não estivesse lá, me faz sentir grata por ter escolhido vir com você. Sabe, eu não vejo isso como minha vida. Eu vejo essa guerra como um caminho tortuoso que leva a uma praia. Uma praia linda, azul, cristalina, com um sol radiante nascendo no horizonte, onde nossos objetivos e sonhos se realizam. Quando tudo isso acabar, Peter, e vai acabar, vai ser maravilhoso. Vai ser a melhor coisa que nos acontecerá. É isso que me levanta da cama todos os dias, é isso que me faz olhar para o campo de batalha com confiança, pois sei que há dias melhores por trás dessa neve ensaguentada. E o melhor: estamos a sete dias disso! Estou otimista.

–Kaitlyn, não ganhamos ontem. – repliquei, angustiado. – Trapaceamos, foi isso que aconteceu. Usamos alguém pra nos salvar. Não ganhamos. Nossas chances de sobreviver a esses sete dias são mínimas, você lembra do que Sophie disse no acampamento.

Ela assentiu.

–Mas por isso você vai recuar? – perguntou retoricamente. – Por isso você vai soltar as armas, voltar pra casa e esperar a morte bater na sua porta? Claro que não! Peter, isso é uma ilusão! Não podemos deixar esse tipo de pensamento decidir o que esperamos do resultado de uma guerra! Se deixarmos isso tomar conta de nós, se nos agarrarmos a possibilidades, a chances de sobrevivência, não estaremos completamente no campo de batalha. Parte de nós já estará morta, lutaremos apenas por respeito, mas saberemos que é uma causa perdida. Não, besteira. Precisamos ser fortes. Precisamos fincar nossos pés e acreditar que o fim será melhor, porque senão... É isso que eles querem. É isso que eles fazem. Se escondem e nos observam dia após dia, esperando o momento em que o desespero tome conta de nós e sejamos controlados pela agonia. Momento como esses, em que duvidamos de nós mesmos, que acreditamos que não há mais saída, em que desabamos e perdemos as esperanças. Eles não vão esperar até que a dor passe, não vão esperar que nossos ferimentos se curem. Coisas ruins acontecem a pessoas boas, Peter. Temos que lutar pelas coisas boas, mas as coisas ruins sempre vão acontecer e isso está fora de nosso controle. Cabe a nós decidir se vamos nos romper ou se vamos seguir lutando até o fim.

Sorri.

–Estou muito feliz que esteja aqui.

Ela sorriu de volta.

–Eu também.

E puxei-a para um abraço, ela se aninhou em meu pescoço e fechou os olhos enquanto eu afagava seus cabelos carinhosamente.

Bom, assim como Kaitlyn disse, o mal nunca espera.

Will invadiu a sala freneticamente, batendo a porta contra a parede. Kaitlyn pulou da cama, assustada.

–O que foi, menino? – perguntou.

Will ofegava.

–Rafael quer vocês dois na cela de planejamento... – respondeu.

–Nós dois? – perguntou Kaitlyn, confusa. – Mas eu não sou uma líder.

–Você é uma Morgan, isso é o bastante. – respondeu ele.

Kaitlyn me encarou com ironia.

–Sem comentários. – murmurei. – Vamos. Você vem, Will?

–Sim, meu sangue meio-demônio, meio-bruxo parece me tornar realeza por aqui. – respondeu, arqueando as sobrancelhas, enquanto me seguia para fora.

Segui até a cela, com Kaitlyn e Will em meu encalço. Atravessamos o corredor e chegamos ao corredor das celas, entrando na segunda à direita. Todos estavam em volta da mesa. Bom, todos exceto John, Rachel e Hanna. Estavam Sage, Graham, Rafael, Olsen, Sophie, Paris e agora eu, Kaitlyn e Will.

–Finalmente. – suspirou Rafael. – Enfim, vamos lá. John acabou de me ligar, avisando que os Anjos estão preparando um ataque contra nós hoje a noite. Houve uma batalha contra os demônios que retornavam da Fortaleza e os Anjos saíram vencendo.

–É compreensível, eles ainda precisavam se recuperar da luta anterior. – disse Paris.

–É, mas isso não vem ao caso. – desviou Sophie. – Precisamos decidir o que fazer pra manter a Fortaleza a salvo.

Todos assentiram silenciosamente.

–Eu tenho uma ideia, mas... – Rafael pendurou a cabeça, como se a ideia o desagradasse. – Temo que pode não dar muito certo.

Sage ergueu uma sobrancelha, indicando para que continuasse.

–Eu conheço um feitiço de isolamento. – disse. – Podemos desenhar um círculo em volta da Fortaleza e estaremos protegidos de Miguel e seus Anjos, mas...

–Sempre tem um 'mas'. – bufou Graham.

Rafael o ignorou.

–Nenhum Anjo completo pode entrar no círculo. . – explicou, correndo o olhar de uma pessoa para a outra. – É como se eles tentassem atravessar uma barreira invisível. Mas Miguel é poderoso demais, há 50% de chance que ele consiga derrubar o feitiço com um único movimento de seus dedos. E, consequentemente, eu não vou poder entrar. Terei de ficar do lado de fora.

Todos se entreolharam com dúvida.

–Está certo. É melhor pensarmos em um plano mais consistente. – disse Olsen.

–Não. – retrucou Sophie. – Eu digo que é a melhor chance que temos. Não é tão ruim assim. Afinal, nossas armas são letais aos anjos. Se eles entrarem, podemos atacar e lutar. Só precisamos estar prontos para caso eles consigam passar pela barreira.

–Acho perigoso demais. – disse Rafael. – Não podemos nos basear em chances.

–Bom, então vamos bolar um plano B, já que o A pode não ser o bastante. – falou Sage.

Assenti.

–Vamos fazer o que Sophie disse: distribuímos os recrutas no contorno do castelo, dentro do círculo e caso a barreira seja destruída, nós atacamos. – eu disse, encarando a mesa.

–Mas ainda tem o problema dos números. – disse Olsen, com os braços cruzados. – Vencemos Lúcifer ontem por sorte. Miguel tem um exército quase três vezes maior do que o nosso. Para cada recruta, ele tem três anjos. As chances de vencermos caso a barreira se rompa, são mínimas, e eu duvido que Miguel recue ao ver que há um feitiço protetor, ele vai atacar até que ache uma falha.

Mordi um lábio.

–Mas temos um Morgan. – disse Sophie, animada. – Podemos tirar vantagem disso.

Kaitlyn se mexeu inquieta.

–Você pode fazer alguma coisa que sustente nosso plano B? – perguntou Graham.

Kaitlyn gaguejou, sem saber o que dizer.

–Eu acho que sim. – disse, enfim. – Bom, não sei se eu tenho alguma habilidade que ajude, mas...

–Também temos Will. – disparou Paris.

Will, que estava encostado na parede, excluído da roda, se aproximou.

–É, eu posso ajudar. – deu de ombros. – Sarah tem me ajudado a controlar meu Poder.

Graham franziu o cenho.

–Sério? – perguntou.

Will ergueu uma sobrancelha.

Uma bola de fogo flamejante se projetou diante de nós, acima da mesa, enquanto os olhos de Will se tornaram levemente verdes-esmeralda. Todos recuaram com surpresa. Will respirou fundo e a fogo se dissipou.

–Sério. – respondeu, com um sorriso bondoso.

Arqueei as sobrancelhas, impressionado.

–Muito bom. – riu Sophie.

–Eu posso te ajudar a melhorar seu Poder, Kaitlyn. – disse Will. – Eu, que não sou um Morgan, estou poderoso assim, imagine você, que tem toda essa tendência mágica.

Kaitlyn riu, mas assentiu.

–Ok, vamos, eu vou desenhar o feitiço, vou precisar de todos. – disse Rafael, saindo da sala com todos ao seu encalço.

Ficamos eu e Kaitlyn na sala. Ela me olhou com um sorriso no rosto.

–Eu sei. – disse. – Irônico, hein?

Ela bufou.

–Vamos, eles precisam de nós.

Já era noite quando tudo já estava arrumado. Quando Rafael disse desenhar o feitiço, era desenhar mesmo. Ele fincou sua faca na neve e puxou-a até descrever um círculo completo em volta do castelo. Então, no centro, todos se juntaram para tornar a fonte o núcleo do feitiço, logo, se Miguel quisesse destruí-lo do jeito fácil, teria que destruir a fonte, o que seria impossível. Cada um de nós, pôs uma “gota” de Poder ou Graça na fonte, para fortalecê-la. Cada um de nós, inclusive todos os milhares de recrutas que ali se encontravam. Seria quase impossível que Miguel escapasse, mas tudo estava dando certo. Will ensinou, incrivelmente, algumas coisas para Kaitlyn, o bastante para torná-la afiada como uma espada. Ao sair da sala em que treinavam, Kaitlyn disse estar confiante para aquela noite, apesar de ter um sentimento ruim dentro do peito. Tentei não prolongar o assunto, não queria destruir seu alto-astral, uma vez que era exatamente o que eu precisava.

Além disso, todos receberam um lugar da Fortaleza para vigiar. O meu, era nas vidraças em frente a fonte. Segui para lá depois de checar se todos estavam em seus devidos lugares, mas fui interrompido no corredor das celas. Algo caiu em cima de mim.

–Te achei!

Era Delia, rindo, loucamente. Havia séculos que eu não a via. Os dias eram sempre cheios e eu quase nunca a encontrava, afinal, a Fortaleza era enorme e era fácil passar dias sem vê-la. Ela me puxou para a cela e me beijou histericamente, me jogando contra a parede, arrancando minha camisa.

–Senti... tanta... sua... falta... – ela falava, em meio as beijos.

Ela deslizou sua mão pela minha blusa, arranhando meu peito com suas unhas alongadas. Ela gemeu e riu levemente, me beijando de novo.

–Delia, não. – falei, enquanto ela tentava me beijar.

–Ah, vai dizer que também não sentiu falta? – perguntou, beijando meu pescoço.

–Não, não... – continuei. – Delia, não!

Empurrei-a para longe. Ela me olhou com surpresa.

–O quê...? O que está acontecendo, Peter? – exclamou, a indignação pingando de suas palavras.

Não respondi.

–Peter, tem alguma coisa errada? – perguntou, um tanto mais preocupada.

–Não, claro que não. – respondi, enquanto ela passava sua mão em volta de meu pescoço. – Só não estou... Sabe? Com vontade. Não estou afim.

Ela me olhou com tristeza. Então, assentiu, como se concordasse com um pensamento interno.

–Não está afim de sexo... – disse, me olhando com seriedade. – Ou de mim?

Bufei.

–Não, Delia...

Ela me deu as costas e saiu com raiva da cela. Segui-a até a fonte, tentando chamar sua atenção.

–Delia, por favor!

–Não, Peter! – ela se voltou para mim, furiosa. – É sempre assim! Na primeira noite, você estava louco por mim, me fez de gato e sapato! Depois, me trata como se eu fosse uma vagabunda qualquer que você achou no meio da noite, me vem com promessas de amor, e continua a me jogar pro lado? Sinto muito, Peter, mas eu me dou o respeito! Estou cansada disso!

–Delia... – comecei.

–Não, eu não quero mais ouvir!

E continuou seu caminho em direção à entrada da Fortaleza.

–Delia, volta aqui.

Ela abriu a porta.

–Delia, isso é perigoso! Delia!

Ela passou pela porta sem me olhar no olho, atravessando o círculo do feitiço.

–Delia volta aqui! Você pode se machucar! – gritei, saindo atrás dela.

–Agora você quer saber de mim, né?! – gritou por cima do ombro

Foi a última coisa que ela disse.

Sua cabeça voou de seu corpo para longe, e o toco caiu de frente para o chão, fazendo um baque surdo ao cair sobre a neve.

–NÃO! – gritei para o nada.

Alguns metros de onde Delia estava, uma mulher de cabelos presos em um alto coque me observava com superioridade. Seus olhos brilharam em uma luz branca.

–Demônio! – exclamou.

Empunhei minha adaga, correndo em direção do Anjo. Ele desapareceu em uma fumaça branca, serpenteando em direção ao céu, se juntando a milhares de outras, formando um enorme funil brilhante.

–Peter, o que está fazendo aí?! – era Sophie, assustada.

Sua boca se escancarou ao ver o corpo sem cabeça. Ela me segurou pelo braço e usou o Poder para me puxar rapidamente para dentro da Fortaleza.

Caí de joelhos de frente para a fonte, perturbado com a cena. Sophie se agachou ao meu lado, preocupada. Ela segurou minha cabeça com suas mãos e me fitou com seriedade.

–Não faz isso. – disse. – Não entre nessa sua depressão pós-morte.

–Eu sei, está ficando insuportável, né? – falei, com um nó se formando em minha garganta. – Desculpe se, pelo que parece, eu não consigo parar de ver as pessoas morrerem em minha volta!

–Não é isso que estou dizendo. – replicou, começando a se irritar. – Estou falando do que Hanna disse. Você lembra, estava lá.

Ela hesitou.

–Não temos tempo pra isso. Não temos tempo pra dor, para o luto. – lembrou, afastando os cabelos para atrás da orelha. – Precisamos ser maiores do que isso, precisamos seguir em frente e continuar.

Molhei os lábios, pensativo.

–Você está certa. – levantei, sacudindo a neve de minha calça. – Eu sou maior do que isso. Não vou me deixar abalar. Vamos, temos que proteger a barreira.

Sophie sorriu levemente, satisfeita.

–Vamos. – murmurou.

Seguimos até a vidraça e ficamos observando as serpentes brancas cortarem o céu azul, vindo em direção à Fortaleza. Olhei para ela, confuso.

–O que ainda está fazendo aqui? – perguntei.

–É o meu posto. – respondeu, sem me olhar no olho.

Arqueei as sobrancelhas, tentando não expressar emoção alguma, mas eu estava feliz que ela estava do meu lado. Pelo menos eu não ficaria sozinho com meus pensamentos.

–Lembra quando isso era tão mais fácil? – ela perguntou, saudosa.

Ergui uma sobrancelha.

–Como assim? – perguntei.

–Quando tínhamos os selos, tínhamos nosso próprio tempo. Éramos só nós três: Eu, você e Hanna. – ela riu levemente. – Era tão mais... Calmo.

Assenti.

–Bom, tinha o Joe também.

–Ah, o Joe. – ela disse instantaneamente. – Nem gosto de lembrar.

–Nem eu. – repliquei. – A primeira vez que brigamos.

Ela pressionou os lábios, engolindo seco.

–Disso eu não sinto falta. – ela disse.

Observei o funil de Anjos se aproximar. Meu Deus, era enorme. Se aquele primeiro anjo era uma serpente, aquilo era uma anaconda. Eles voavam em direção à Fortaleza com uma velocidade apavorante. Quando achei que fossem se chocar contra a parede, eles se separaram, como se algo os desviasse do caminho. Como se fossem impedidos por uma redoma de vidro, eles serpentearam em volta da Fortaleza, formando uma brilhante camada branca acima de nós.

–Eles chegaram! – exclamei.

Sophie assentiu, sacando sua adaga. Era uma réplica da original, mas era tão bem-feita quanto. Sophie cerrou os dentes, preparando-se para o pior.

Foi aí que o pior começou.

Ouvi um alto estrondo vir de todos os lugares. Observei a Fortaleza ser tomada por uma luz branca, enquanto o teto ruía sobre nós, Sophie e eu corríamos de um lado para o outro, desviando dos blocos de pedra que caíam do alto. Tentei cortar a luz acima de nós, mas era alto de mais. Ouvi gritos agonizantes vindo de outros pontos do castelo.

Então, um enxame de pessoas apareceu de todas as portas e corredores da Fortaleza, correndo para a fonte. Todos estavam gravemente feridos, com cortes sangrentos espalhados pelo corpo, alguns pressionando feridas. Outros, em um estado melhor, ajudavam os outros. Os anjos não estavam tentando nos matar. Estavam tentando nos assustar, nos afastar para longe. Afinal, eles eram anjos, tinham que dar algum valor à vida humana. Observei alguns recrutas serem esmagados de uma única vez por gigantes blocos de pedra, mas ninguém ousava sair da Fortaleza. Não podíamos lutar, estavam fora de nosso alcance, disfarçados naquela fumaça branca.

Então, uma luz maior surgiu em meio ao branco. Um brilho verde tomou conta de tudo, nos forçando a proteger os olhos. Ouvi um som esquisito, como uma forte ventania. Ele aumentou, como uma tempestade crescente. De repente, tudo cessou. Luz, vento...

Abri meus olhos com cuidado. A primeira coisa que vi foi Will, flutuando onde ficava o corredor das celas. Suas mãos erguidas na altura de seu peito, suas roupas tremulando ao vento. Seus olhos, mais verdes do que nunca, perdendo o tom aos poucos. Ele desceu devagar, tocando o chão levemente com seu pé descalço. Ao tocar o chão, seus olhos voltaram ao normal. Ele estava bem.

Alguns recrutas haviam sobrevivido. Cerca de um quarto havia sido dizimado naquele ataque. Graças a Will, fora só um quarto.

–Você expulsou todos os anjos? – ouvi um recruta dizer.

–Nem todos. – disse Graham, em meio à multidão. – Olhe!

Ele apontou para um ponto além da fonte.

Com os cabelos espalhados no chão, caída, imóvel, mas de olhos abertos e boca tremulante, estava Kaitlyn, assustada. Sob seu ouvido, estava Miguel. Suas asas eram formadas por faíscas elétricas azuis, que fugiam de suas costas. Ele sussurrava algo no ouvido de Kaitlyn.

–Hey! – exclamei, atirando minha adaga, tomando o Arcanjo como alvo.

Ele se dissipou no ar, como poeira, deixando Kaitlyn caída. Corri até ela, me jogando ao chão, apoiando sua cabeça em minha coxa.

–O que aconteceu? – perguntei, ofegante.

–Ele... – ela gaguejou. – Ele me amaldiçoou.

Ela respirava com dificuldade. Os recrutas não quiseram se aproximar, mas três deles o fizeram: Will, Gale e Sarah. Sophie permaneceu ao meu lado.

–O que ele disse?

Ela abriu a boca com dificuldade.

–Que enquanto... – tentou. – Eu mantivesse o... Pecado dentro de mim... Eu não seria digna de... de...

Ela tossiu.

–De viver. – concluiu. – Eu já.... n-nasci assim, como... Posso mudar?

Engoli seco.

–Você não vai morrer. – disse, fungando. – Vai ficar tudo bem.

–Não. – retrucou. – Antes eu do que...

Ela tossiu novamente.

–Estou bem. – completou. – Isso tinha que... acontecer. Era isso que... Que...

Ela não terminou. Seu rosto congelou, como se estivesse em transe.

–Kaitlyn? – chamei.

Ela não respondeu. Desabei em lágrimas, abraçando seu corpo imóvel. Gale engoliu seco, contorcendo sua boca em tristeza. Sarah apoiou sua cabeça em Will, escondendo o rosto em seu peito. Will cerrou os dentes e abraçou Sarah, sério. Eu soluçava alto, esperando algum milagre, algo que pudesse a salvar, mas ela estava certa. Isso tinha que acontecer. Eu só não me conformava com o fato de que aconteceu.

Olhei para o seu rosto e fechei seus olhos com a palma de minha mão, afastando seus cabelos para longe de seu rosto. Acariciei suas bochechas, tentando resgatar um pouco do seu calor, mas não havia nada. Estava frio e sem vida.

–Talvez eu possa fazer algo. – disse Will. Sarah o olhou com atenção, o rosto ensopado de lágrimas.

Ergui meu olhar para o nada. Voltei-me rapidamente para ele.

–Não! – falei, ríspido, levantando para bloquear sua passagem.

–Peter, talvez tenha algo que eu possa fazer. – continuou.

–Não.

–Eu tenho que tentar!

–Não!

–Eu tenho que fazer alguma coisa, não podemos deixá-la morrer!

–Não!

–Por quê?

–Porque não!

–Não vou aceitar esse tipo de resposta!

–Eles não podem saber que ela morreu!

–Por quê, droga?!

–PORQUE ELES TEM QUE ACHAR QUE ELE MORREU!

Calei minha boca com a própria mão instantaneamente. Meu coração batia loucamente. Xinguei baixinho. Will me olhou com preocupação.

–O que você tá falando, Peter? – perguntou Gale.

Neguei silenciosamente.

–Peter...? – chamou Sarah. – Quem eles tem que achar que morreu?

Suspirei. “Dane-se”, pensei. Ela estava morta mesmo.

–O Poder dos Morgan. – respondi.

–Mas Kaitlyn está morta. – disse Sarah, a voz ainda alterada. – O Poder dos Morgan não existe mais.

–Kaitlyn... – comecei. – Kaitlyn não era um Morgan.

Todos ergueram suas sobrancelhas, assustados.

–C-como é? – gaguejou Will.

Assenti.

–Kaitlyn era um demônio, os Morgan eram bruxos. – lembrei. – Era tudo um plano. Um plano feito pela própria Kaitlyn.

–E a marca? – perguntou Sophie.

–Falsa. – respondi. – Kaitlyn cortou os próprios pulsos para falsificar a marca. Ela sabia que viriam atrás do último Morgan. Não podíamos deixar isso acontecer. Com esse Poder, nossas chances triplicaram.

Gale me olhou com apreensão.

–Então quem é? – perguntou Sarah. – Qual o nome dele?

–Will. – chamei, olhando para o menino.

–O que foi? – respondeu Will.

–O nome é Will.


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Notas finais do capítulo

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