The Last Taste - Season 2 escrita por Henry Petrov


Capítulo 13
The Last Day


Notas iniciais do capítulo

Ok, eu devo dizer que esse capítulo vai destruir qualquer estrutura emocional. Pelo menos, eu acredito que está abalante o bastante.
Sim, podem me sequestrar, me torturar... Mas eu não me arrependo pelos acontecimentos deste capítulo. De qualquer maneira, tem um pequeno detalhe nesse capítulo que eu também mencionei na primeira temporada e que prevê uma coisa que eu vou falar mais a frente. Enfim. Era só isso. Boa Leitura :)



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Não achei que eu ainda esperaria um mês para a chegada de Lúcifer.

De acordo com Rachel, Lúcifer tivera alguns “imprevistos” com Anjos e também fez algumas paradas, por motivos que ele não disse. Isso tudo nos rendeu semanas de espera. Eu já perdera a animação. Na verdade, eu estava ficando apavorado. Pois é, acontece que Miguel chegou no Everest e se instalou a alguns quilômetros da Fortaleza, que agora se chamava apenas de Fortaleza, sem o “de Lilith”.

O plano era que todos os recrutas se disfarçassem de demônios, o que não era muito difícil, eu permanecesse amarrado à mesa da câmara e que Rachel fingisse que tudo estava sob controle. O problema é que eu passei horas naquela mesa e Lúcifer não apareceu. Então, colocamos alguns recrutas em volta das redondezas da Fortaleza para que avisassem quando ele chegasse e assim, preparássemos tudo para o plano.

Conversei com Rachel sobre Amber. Crystal. Enfim. Ela me contou que Amber, logo depois de solta, se juntou ao grupo de preparação para a volta de Lúcifer, até ajudou na construção da Fortaleza, mas com o tempo, sumiu. De acordo com ela, há meses ninguém tinha notícias dela. E nem queriam. Simplesmente, não se importavam. Esse é o problema com os “vilões”: eles não se importam com quem luta pela sua causa. Pra eles, são todos soldados, seres descartáveis. São úteis enquanto os ajudam, quando isso para de acontecer, eles são descartados. Por isso nunca vencem. Não dão valor aos seus soldados.

Quanto aos recrutas, eles não descansaram. Todos os dias, acordavam junto com o Sol para treinar. O esquema mudara. Agora, os generais lideravam o treinamento de seus grupos, então Will, Gale, Fay e Delia estavam sempre muito ocupados, resolvendo problemas com seus grupos. Nós, Líderes, passávamos os dias trancados dentro das câmaras de tortura, planejando ataques e coisas do gênero. Além disso, adicionamos Sage, Graham e Rachel ao nosso grupo de líderes. Eu, Hanna, Sophie, Olsen e Paris éramos líderes dos continentes, Rafael era líder do planejamento, Sage dos lobos, Graham dos humanos e Rachel ajudava Rafael com seus conhecimentos sobre os planos de Lúcifer, junto com John. Ela não sabia nem cinquenta por cento do que Lúcifer realmente planejava, mas era mais do que tínhamos, então estava ótimo.

Cerca de quinze dias depois da tomada da Fortaleza, nos reunimos uma última vez. Era noite. Os recrutas patrulhavam as redondezas e os corredores do castelo, com armas a postos. Todos estavam avisados a atirar/decapitar/dilacerar qualquer coisa que se aproximasse externamente e a não sair de seus postos por hipótese alguma.

–O que Lúcifer quer com Kaitlyn? – perguntei.

Estávamos todos em volta de uma mesa que foi instalada ali. Um mapa do Monte Everest estava estendido sobre a mesa, com um ponto vermelho onde estávamos, um azul onde Miguel estava e uma linha preta, desenhando a barreira anti-magia.

–Ela é uma Morgan, por isso. – adivinhou Hanna, séria.

Rachel olhou para Hanna com dúvida.

–Mais ou menos. Não temos certeza. – disse. – Quando Lúcifer descobriu que o último Morgan era real, ele mandou todos os demônios irem atrás dele. Mas ele disse para que trouxessem-no vivo e que não o machucassem de maneira alguma.

Seu olhar se voltou para mim, tomando um tom apreensivo.

–Amber se ofereceu pra matar o Morgan, fazê-lo dizer o nome de Lúcifer e então decapitá-lo, assim Lúcifer teria o Poder dos Morgan. – contou. – Mas Lúcifer recusou. Ele disse que o Morgan não seria morto. De maneira alguma.

O rosto de Olsen se contorceu em surpresa.

–Então o que ele quer? – perguntou

Rachel deu de ombros.

–Acho que ele não quer matar o Morgan. Só o quer do lado dele. – respondeu Sophie. – Afinal, ele era um anjo, certo? Talvez ainda tenha sobrado algum pingo de sensibilidade e humanidade dentro daquele corpo.

–E que corpo. – comentou Paris.

Todas as cabeças se voltaram para Paris instantaneamente.

–O quê? Estou falando alguma mentira? – disse, brandindo os braços.

Ri de leve, Sophie revirou os olhos.

–De qualquer maneira... – Hanna tratou de mudar de assunto. – Sabe onde Lúcifer está?

Rachel assentiu.

–Hoje, pela manhã, liguei e ele me disse que estavam em Lukla.

Hanna ergueu uma sobrancelha.

–E me disse que se eu ligar de novo, me queima viva. – completou, impaciente.

–Ok, demoramos cerca de dez horas de Lukla até aqui, então temos que nos preparar. – continuou Olsen.

–Ainda temos dez horas. – disse Graham. – Temos tempo.

–Você não entende nada, não é? – replicou Sage, indelicada. – Lukla é a vinte minutos da barreira anti-magia. Se eles chegarem lá, podemos esperar qualquer ataque surpresa.

Graham a olhou com indignação.

–Olha aqui, mocinha, é melhor você cuidar desse tom com que você fala comigo. – contestou.

–Você está realmente irritando uma loba? Ou você é muito convencido ou perdeu a noção do perigo!

–Ok, pessoal! Vamos parar com isso, ok? – disse Rafael, tentando acalmá-los.

–Por que vocês são tão infantis? – perguntou Paris, confusa.

Sage ergueu uma sobrancelha para ela.

–Esquece. – Paris murmurou, amedrontada.

–Vamos. – falei.

Então, saímos da sala.

Eu não sei explicar o que eu estava sentindo naquele momento. Era uma mistura de ansiedade, com animação, com pavor, com preocupação, com angústia... Acho que era tudo um sentimento só, do qual eu não conseguia identificar.

Todos, exceto Rachel, se esconderam nos corredores da Fortaleza, fingindo ser guardas. O contato entre os líderes e Lúcifer deveria ser mínimo. Se ele reconhecesse qualquer um deles, não haveria mais como segurar o plano. Eu ficaria preso na mesa com cordas comuns e Rachel fingiria que estava tudo bem.Quando ele entrasse na câmara para me ver sendo feito de cobaia, Rachel o pegaria de surpresa, amarrando-o com as cordas anti-magia. Logo, teríamos o nosso próprio Lúcifer acorrentado e preso. Bom, eu ainda tinha minhas dúvidas sobre o funcionamento daquelas cordas no Arcanjo Caído, e tal. Afinal, estávamos tentando prender o diabo. Mas tentei não pensar muito nisso.

Falando em Rachel, eu ainda tinha minhas dúvidas sobre ela. Eu sabia que ela estava fazendo tudo aquilo pelo seu irmão, eu lembrava o que eu tinha dito, mas algo eu não conseguia engolir. Era como se eu não conseguisse aceitar que pessoas podem mudar e que Rachel poderia sim estar do nosso lado. Quanto mais eu pensava nisso, mas eu me assustava com as probabilidades de erro daquele plano. Então, eu tentava esquecer.

Paris e Olsen se dirigiram para as fronteiras da Fortaleza. Rachel ficou na sala para arrumar tudo. Eu e Sophie seguimos para o quarto de Lúcifer, para preparar alguns outros brinquedos. Hanna foi para as masmorras, onde checaria se todos os recrutas estavam em seus devidos lugares. Sage e Graham trataram de espalhar e camuflar seu pessoal pela Fortaleza.

“Como assim Lúcifer tinha um quarto?!”. Bom, não que ele tenha chegado a usar, mas era uma sala repleta de coisas relacionadas ao inferno e os demônios. Já disse que Lúcifer tinha um diário? Sim, ele tinha um armário nessa sala onde todos os seus diários, desde quando se descobriu a escrita, até o ano anterior. Ele devia estar com o do ano atual. De qualquer jeito, entramos na porta esquerda do corredor das câmaras de tortura e seguimos pelo longo corredor sem portas atrás dela.

O silêncio tomou conta do ambiente. Sophie não parecia estar muito afim de conversar. Acho que ainda não tinha se recuperado de nossa última conversa. Eu detestava aquilo, aquele rancor, aquele ressentimento. Eu queria seguir em frente por completo e isso nunca aconteceria enquanto houvessem vestígios, trilhas que “aquilo” deixou pelo caminho.

Os blocos de pedra pareciam se restringir às câmaras. Aquele corredor era feito de madeira. As paredes eram de uma madeira escura e o chão era um assoalho castanho. Um tapete persa se estendia do início ao fim do corredor. Nos quatro cantos e dos dois lados da metade do corredor, havia um candelabro aceso. Uma janela circular se projetava ao fim do caminho.

–Sophie... – comecei.

Algo me interrompeu. Um sentimento ruim. O mesmo que me alertara para a sala onde estava o desenho de Crystal, como se algo me chamasse. Vinha de dentro das paredes.

–O quê? – ríspida, ela perguntou.

Voltei-me para a madeira. Pressionei minha mão sobre ela. Era como se eu fosse atraído por algo. Minha mão me guiou mais à frente. Parei. Sophie me olhava como se eu estivesse louco.

–Peter? – chamou, sua rispidez se esvaindo.

Bati no ponto em que minha mão parou.

Oco.

–Peter, o que foi?

–Acho que tem algo aqui atrás. – disse.

Fechei os olhos e tentei me concentrar. Estendi a palma de minha mão a poucos centímetros da parede. Senti-a pulsar. Quando abri meus olhos, sorri com o ocorrido. Não havia mais parede. Agora, era um hall escuro e empoeirado, onde uma larga escada de granito levava a um andar superior. A única fonte de luz da sala vinha do topo, do fim da escada. Entrei na sala.

–Peter, como você sabia que isso ia acontecer? – perguntou Sophie, apreensiva.

–Não sei. – vagamente, respondi. – Só sabia.

Subi as escadas. Ela me seguiu. Sophie estava com medo do que encontraríamos lá em cima, isso era óbvio, mas acho que ela era curiosa de mais para recuar.

Quanto mais eu subia, mas eu sentia a atração, o sentimento ruim se alastrava cada vez mais em meu corpo. Cada nervo dentro de mim me dizia para sair correndo dali, fugir, mas eu não conseguia. Algo me dizia que era importante, como se... Como se fosse ali que eu precisava estar.

Ao fim das escadas, me deparei com outro corredor. Este era diferente dos outros. O piso e a parede eram de mármore, sendo o piso padronizado com diamantes azuis. Do lado direito, havia vidraças, que davam para a lateral do castelo. De lá, pude ver alguns recrutas treinando e outros patrulhando a fortaleza. Ao longe, eu conseguia ver o acampamento dos Anjos.

–Peter. – Sophie me cutucou.

Ela apontou para o fim do corredor. Uma porta dupla de bronze bloqueava a passagem para uma sala lateral.

–É aqui. – pensei alto.

–O que é aqui? – pela milésima vez, Sophie perguntou. Ela bateu o pé, impaciente. – Peter, vamos embora, sério. Você está me assustando com essa história de “só sabia”, “é aqui”...

Ela bufou, apreensiva. Encarei-a com surpresa, mas não falei nada. Voltei para a porta. Imagens estavam esculpidas pela superfície de bronze. Imagens de puro terror. Eram coisas grotescas, tão grotescas que eu temo que não posso descrevê-las. Só pra ter uma ideia: não há nada pior do que ver uma criança sofrer. Sophie virou o rosto ao ver as imagens. Antes mesmo que eu conseguisse tocar alguma das maçanetas, as portas se abriram, revelando diante de mim algo que eu não tive certeza se gostava ou não.

Era uma sala. Gigante. Cinco cadeiras, cinco tronos estavam espalhados pela sala, todos virados para o centro. No chão, diante dos cinco tronos, um enorme pentagrama estava desenhado em ouro, com as pontas esculpidas com cabeças de animais. Cada ponta, cada animal, parecia apontar para um dos tronos. Todos os tronos me pareciam comuns, exceto um, indicado com o touro: era alto, imponente e um sol surgia de sua cabeceira.

–Isso é...? – perguntou Sophie.

Não respondi. Lentamente, fui atraído para um dos tronos da direita, o mais perto do trono-sol. Cada trono era feito de um material comum, cobre, ferro, bronze... Aquele era feito de prata. O mesmo animal pertencente aquele trono, tinha sua cabeça estampada em sua cabeceira: Dragão. Vinhas serpenteavam da cabeça do Dragão, da cabeceira para os braços e para a base . A almofada era escura e aveludada.

–Peter...? – Sophie murmurou.

Virei me para o centro da sala e sentei no trono. Senti um vento frio correr por dentro de mim, senti cada nervo do meu corpo estremecer. O trono de prata resplandeceu por um instante, antes de voltar ao seu brilho normal. Sophie recuou, assustada.

–Peter...?! – repetiu, com um tom crescente. – O que é isso?

–Meu. – respondi. – Isso é meu.

Ela ergueu uma sobrancelha. Levantei do trono.

–Cada trono nesta sala pertence a cada um dos cinco Cavaleiros do Inferno. – continuei e apontei para cada trono enquanto contava. – Azazel, Bael, Lúcifer, Mammon... E eu. Costumava ser Lilith, mas...

–Você matou Lilith. – completou.

–E de acordo com a tradição... – continuei.

–Você agora ocupa o lugar dela na Corte Infernal. – um sorriso impressionado se estampou em seu rosto.

Assenti.

–Exatamente. E aquele, – apontei para o maior dos tronos. – é o de Lúcifer.

Ela soltou um leve riso. Então, seus olhos se arregalaram para um dos tronos do outro lado do pentagrama. Ela correu até ele, ofegante.

–O que foi? – me aproximei.

Ela apontou para o assento. Dei de ombros. Ela bufou, impaciente.

–Tá limpo! – exclamou. – Todos os tronos aqui, inclusive o de Lúcifer estão empoeirados, nenhuma alma ousaria sentar em um trono que não lhe pertence.

Dei de ombros.

–E daí?

Ela suspirou.

–Como você explica esse assento sem um grão de poeira? – ela apontou para a cadeira.

Engoli seco.

–Está dizendo que...

Ela assentiu.

–Tem um Cavaleiro se passando por recruta, infiltrado em nosso exército

Suspirei.

–E pior: Com passe-livre para os nossos planos e pronto para avisar seu mestre.

Sophie e eu saímos apressados da sala, descemos as escadas e corremos para avisar a todos, mas algo nos impediu. Logo que alcançamos o corredor das câmaras de tortura, algo nos chamou a atenção.

Vozes, alteradas, vinham da câmara mais afastada. Reconheci uma delas, era Hanna.

–Hoje não! – ela dizia, sua voz trêmula. – Por favor, só mais uma semana! Um dia!

–Hanna, são ordens! – outra voz retrucou.

–Não faça isso, por favor... – ela começou a chorar.

Ao chegar à porta, não tive certeza do que vi. Ao me ver, Hanna tapou a boca e limpou as lágrimas.

–Hey! – disse, tentando parecer descontraída.

Atrás dela, estava Jason. Sim, Jason, o querubim que a levara a Animus.

–Peter. Sophie. – cumprimentou.

Sophie deu um sorriso fraco.

–O que está acontecendo? – perguntei, sério.

Hanna mordeu um lábio.

–Quer que eu diga? – perguntou Jason.

Ela deu um passo a frente.

–Não. Eu falo. – disse. Ela respirou fundo e agarrou o próprio braço, apreensiva. – Peter, você sabe o que aconteceu há exatamente um ano atrás?

–Não exatamente. – respondi.

–Estávamos a ponto de quebrar o terceiro selo. “O tesouro do homem deve ser encontrado.” – recitou. – Deduzimos que seria a imortalidade, que repousava com a Árvore da Vida, em Animus, lar dos mortos.

Assenti.

–Anjos só podem ser mortos por outro Anjo ou por objetos como a Lâmina de Cain e como descobri recentemente, o Bastão Angelical. Então resolvemos... “Mandar” você, Hanna, pois você estaria apenas de passagem em Animus. Voltaria em, no máximo, um dia. – lembrei. – Sophie te apunhalou com um facão normal e você “morreu”.

Ela baixou a cabeça.

–Mas não funcionou. Por alguma razão, eu não voltei. – ela ergueu o rosto novamente, como se tentasse reunir forças para continuar. – Então Jason me contou de um ritual. O Ritual Da Segunda Chance. E para isso, eu tinha de enfrentar os meus maiores medos, os maiores monstros que enfrentei em toda a minha vida. Se eu conseguisse vencê-los, eu conseguiria uma segunda chance. A criatura usada para tomar a forma desses “medos”, se apossou da minha alma, se alimentando de meu medo, de minha dor. Ela me obrigou a descer à Terra novamente, onde vaguei por muito tempo, e, ao passar dos dias sendo usada de estoque ambulante, comecei a perder a consciência. Então, eu a recuperei, expulsei a criatura dentro de mim, e Jason me levou de volta a Animus, onde me contou que eu passara no teste e que o Ritual poderia ser feito.

Assenti, confirmando que eu lembrava de tudo aquilo. Ela suspirou. Sua cabeça tombou para baixo novamente.

–Hanna? – perguntei.

Ela se ergueu novamente, as lágrimas correndo.

–A segunda chance não era pra eu viver de novo, Peter. – continuou. – Eu devia ter renascido em um novo corpo. Uma nova vida. Mas eu não podia. Eu não podia deixar vocês. Os selos... Vocês precisavam de mim. E...

Ela hesitou.

–Eu não queria morrer. – ela falou, com um sorriso infeliz, e começou a soluçar, as lágrimas correndo a solta em suas bochechas.

Abracei-a, ainda confuso sobre o que acontecia. Olhei para Jason. Ele tratou de continuar.

–Eu falei com minha.... Superior. – contou, assustadoramente sério. – E ela concordou em deixar que Hanna tivesse sua segunda chance em seu corpo.

Ele desviou o olhar, como se estivesse envergonhado.

–Ela lhe deu um ano.

A boca de Sophie se escancarou em pavor. Olhei para Hanna, preocupado. Ela enxugou as lágrimas e se aproximou de Jason, ainda olhando para mim. Então, encarou o chão e assentiu, como se concordasse com um pensamento.

–Não. – falei. – Você não vai morrer. Não hoje.

–Peter... – Hanna começou.

–Não venha com “Peter”! – exclamei. – Se você estiver pensando em aceitar isso...

–Eu não tenho escolha, Peter! – ela contestou, brandindo os braços. – Você acha que eu quero morrer? Eu não quero morrer! Mas quem sou eu para questionar a morte?

Ela suspirou.

–Todo mundo vai em alguma hora. E essa é a minha. – concluiu.

–Não, não é! – continuei a gritar. – Hanna, você não está entendendo a gravidade disso? Você não pode simplesmente desistir, aceitar! Não depois de tudo o que passamos, não depois de tudo o que vencemos! Você não pode fazer isso, não tem esse direito! Eu não mereço isso!

Ela mordeu um lábio.

–Eu perdi muito pra chegar até aqui, Hanna. – continuei, mais calmo. – Perdi meu pai, minha mãe, meus amigos, minha casa... Não posso te perder também. Não vou aceitar isso. Não vou.

–Nem você está entendendo, Hanna! – com lágrimas nos olhos, Sophie contestou. – Se você morrer... Não significa apenas tristeza para nós. Esqueceu da profecia? Se você não é o anjo nascido das cinzas, se você morrer...

–Sinto muito, mas a decisão foi tomada. Quando o relógio bater meia-noite... – disse Jason, desaparecendo em um piscar de olhos.

Hanna se aproximou e segurou meu rosto com suas mãos, ignorando a saída do querubim.

–Não só vai aceitar como vai ter que superar. – ela falou para mim, me encarando com seus intensos olhos azuis. – Estamos em guerra, Peter. Não temos tempo para luto. Não temos tempo para a dor. Você tem que seguir em frente. Agora, preste atenção. Você vai encontrar esse anjo, tenho certeza que ele está do nosso lado. Você vai se certificar que ele seja protegido até a hora certa chegar. Salve Kaitlyn, ela é a nossa melhor arma contra os dois exércitos. Peter, quando eu me for, eu quero que você lute. Não chore por mim. Lute.

Cerrei os dentes.

–Como pode me pedir isso? – disse de volta, tentando, sem sucesso, manter as lágrimas presas. – Hanna, eu...

Ela piscou. Foi um longo pisque.

–Hanna? – chamei.

–Estou aqui. – ela respondeu, piscando ainda mais lentamente. – Está ficando... Difícil.

–Não, não! – exclamei, tomando-a em meus braços.

Ela me abraçou. Ela me abraçou forte, como se fosse a primeira vez. De fato, era a última.

–Vai ficar tudo bem. – sussurrou em meu ouvido.

Pude sentir suas lágrimas molharem minha camisa. Não tinha problema. Eu sabia que as minhas já tinham encharcado as dela mesmo.

Ela suspirou forte em meu ouvido. E então, nada.

–Hanna? – chamei, as lágrimas caindo em meu rosto.

Ela não me respondeu. Mas continuou a me abraçar. E eu continuei a abraçando, mesmo sabendo que Hanna já se fora há muito.


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Notas finais do capítulo

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