The Last Taste - Season 2 escrita por Henry Petrov


Capítulo 12
Sticks And Stones


Notas iniciais do capítulo

AVISO IMPORTANTE

No fim do capítulo tem uma revelação que só vai entender quem leu a primeira temporada, então se você não leu, leia as notas finais do capítulo para entender.

Oi pes-- Não atirem, por favor! Eu posso explicar! 'o'
Eu sei, quase uma semana sem postar, mas eu realmente estava sem muita paciência. A primeira cena não tava saindo como eu queria, aí eu ficava com raiva, desistia, e aí voltava e reescrevia... Mó coisa, mas depois de tantos trancos e barrancos, finalmente, está aqui. Sticks And Stones. Enfim, era só isso. Boa Leitura :)



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Não sei quanto tempo se passou. Talvez um dia. Talvez um ano. Era como se eu tivesse entrado em um sono profundo do qual eu não conseguia acordar. Com o passar do tempo, comecei a ter breves momentos de lucidez, em que eu via tudo muito borrado e não entendia o que eu via. Primeiro, eu vi uma mulher, tentando me acordar e voltei a desmaiar. Uma segunda vez, vi uma adaga sendo afiada. Mas foi na terceira vez que eu, de fato, acordei.

Desta vez, consegui abrir os olhos completamente. Eu estava em uma sala. As paredes eram feitas de blocos de pedra cinzentos e era fechada por uma porta de aço. Eu estava deitado em uma mesa de ferro e, ao tentar levar minhas mãos ao lugar onde, anteriormente, estava a ferida, notei que meus braços e pernas estavam amarrados por cordas às suas extremidades. Eu estava nu.

–Que bom que acordou.

Se não estivesse amarrado, teria caído da mesa. Alguém veio de trás da mesa, além do meu campo de vista. Era Rachel. Ela andava em direção ao outro lado da mesa, com as costas voltadas para mim. Mesmo sabendo que estava amarrado, por instinto natural, tentei cobrir minhas partes pudendas, mas as cordas eram curtas demais. Engoli seco.

–O que você quer? – perguntei, encarando o teto.

Rachel se virou para mim. Ela segurava a adaga que eu vira antes, rodando-a em seu indicador. Ela apoiou os pulsos na mesa e me encarou. Era um tanto difícil ver seu rosto daquele ângulo.

–Eu soube que você é uma loucura na cama. – comentou, um sorriso malicioso crescendo no canto de sua boca. – Quer me provar que é verdade?

Bufei.

–Eu transarei com você no dia que quiser arrancar meus olhos. – retruquei.

Ela soltou um muxoxo.

–Mas são tão lindos. – disse, com um tom entristecido.

Ela riu alto.

–Claro que não, Peter. – continuou, ao fim do riso. – Eu não te prendi pra ser meu escravo sexual. Na verdade, eu queria que você me respondesse uma coisa.

Permaneci em silêncio, indicando para que continuasse.

–Qual é a daquele menino? – perguntou, andando em volta da mesa. – Bill. Não, Will. É, Will. Sabe, Duncan atravessou sua espada na espinha dele. Claro que ele não morreria, nós dois sabemos que é preciso ser no coração pra que a Lâmina de Cain faça seu trabalho em uma criatura mágica, mas um bruxo deveria demorar pelo menos três dias para se curar completamente.

–Lâmina de Cain? – perguntei, sentindo o pavor tomar conta de mim.

–Aham. – ela assentiu. – Por quê? Vai me dizer que não sabia que ele e Lilith eram farinha de um mesmo saco?

Não respondi. Ela riu alto.

–Pois eles eram muito... “Amigos”. Bom, ele era humano e se apaixonou por ela, claro, mas Lilith, sendo quem era, brincou com ele até que ele estava miserável. Aí ele correu atrás de Deus, implorando por misericórdia e fez a Lâmina, uma réplica dos Bastões Angelicais. Bom, logo, vocês não são os únicos com armas capazes de matar qualquer coisa. A diferença é que os Bastões, que estão com os anjos, são capazes de matar Arcanjos e Deus.

Ela suspirou.

–Voltando para o menino. Ele se curou em três horas. – finalizou, parando a altura da minha cabeça. – Como explica?

–Não é da sua conta. – disparei.

Ela ergueu uma sobrancelha. Ela voou com a adaga para o meu pescoço, mas sem cortar, apenas a pressão em minha garganta lhe foi o suficiente.

–Acho que vai querer reformular essa resposta, não? – sua voz estava tensa e perigosa. Seu rosto estava a centímetros longe do meu e sua boca quase tocava minha orelha.

Engoli seco.

–Não sei. – menti.

Ela arqueou as sobrancelhas, satisfeita.

–Bom, vou ter que descobrir, não? – disse, fingindo dúvida.

–Se você tocar em um único fio de cabelo dele...! – exclamei

Sua boca se curvou em surpresa.

–Vejo que toquei em um ponto sensível. – ela sorriu, maníaca.

Seu olhar parou sobre a faca.

–Tanto faz. Tenho mais o que fazer.

Ela foi até uma mesa encostada na parede. Vários instrumentos de metais estavam espalhados ali e alguns animais mortos estavam presos em alguns deles.

–Onde estou? – perguntei, tentando esquecer o fato que estava nu.

Ela suspirou.

–Fortaleza de Lilith. – respondeu, com um tom despreocupado.

–Lilith? – ri

Ela me encarou.

–É uma homenagem. – disse, voltando seu rosto para mim.

–Ela morreu? Ah é, eu mesmo torci o facão! – ri, irônico.

Rachel revirou os olhos, se voltando para mim, de mãos vazias.

–Você não devia ser tão maroto assim comigo. – anunciou, apoiando seus pulsos na lateral da mesa.

–Ah é, por que isso? – perguntei, fingindo preocupação.

Rachel baixou sua cabeça ao lado da minha, o calor de sua boca aquecendo minha orelha.

–Por que eu posso salvar sua amiga. – sussurrou em meu ouvido.

Ela ergueu a cabeça, com um sorriso maldoso no canto da boca.

–Mentira. – falei. Não acreditava que ela poderia salvar Kaitlyn.

–Por que eu mentiria? – brandiu os braços.

–Você é um demônio. Ser um verme sem valor meio que é requisito básico. – respondi, com um sorriso infeliz.

Ela franziu o cenho.

–Grosso! – exclamou, com um tom de ofensa. – Mas para o seu governo, eu estou no comando da Fortaleza. Quando Lúcifer chegar, bom... Eu acho que a primeira coisa que ele vai fazer é sacrificar sua amiguinha no pátio do castelo. E se eu estiver de bom humor...

–Lúcifer não está aqui? – perguntei

–Não, ainda não chegou. – ela respondeu, despreocupada.

–Mas então... – minha cabeça estava confusa. – Como...? O castelo...?

–Como o castelo foi construído? – ela completou, cruzando os braços. – Há mais ou menos dois ou três anos, quando os rumores que o quinto selo tinha se quebrado começaram a correr. Bael, um dos cavaleiros do inferno, começou a recrutar demônios comuns e cada recruta era mandado pra cá, para construir a Fortaleza. Claro que foi preciso um feitiço para mantê-la invisível e tudo, mas em um ano, estava tudo de pé.

Ela bufou.

–Lembra quando você libertou Lúcifer e Miguel? Logo no pico do Monte? – ela perguntou.

Ergui uma sobrancelha.

–Aquele ponto hoje, é a fonte do pátio principal. – ela sorriu. – Só que claro, você não podia ver nem sentir a fonte, era como se fosse um fantasma.

–Estamos no pico? – perguntei, olhando para as cordas.

Ela sorriu.

–Nem tente. – ordenou, ainda sorrindo. – Foram feitas especialmente para demônios.

–Mas eu não sou um demônio comum, sabia? – perguntei.

–Sim, eu sei que você quebrou os selos, matou Lilith e se tornou um cavaleiro do inferno, isso eu já sei. – ela disse com desdém. – Mas não importa. Essas cordas são a prova de magia.

Cerrei os dentes, angustiado.

–Mas não se preocupe! Logo, logo, Lúcifer chegará e ele me dirá o que fazer com você. – disse, pegando a faca sobre a mesa. – Mas por enquanto, eu me divirto um pouco.

Ela ergueu a faca no ar e desceu em meu peito, séria. Fechei os olhos, esperando a dor. Mas ela não veio.

Gritos. Correria. Coisas se quebrando.

Rachel parou com a faca acima do meu peito, olhando para a porta de aço. Ela pousou o objeto sobre a mesa e se aproximou da porta com cuidado. Ela tentou olhar pela fresta semiaberta. A porta se escancarou e Rachel foi jogada para o outro lado da sala, se chocando contra os blocos de pedra.

–Nem mais um passo!

Era Will. Ele jogou Rachel contra a parede esquerda apenas com seu olhar. Seus olhos brilhavam em verde, mas ele parecia bem controlado pra mim. Um sorriso malicioso crescia no canto de sua boca.

–Ah, ajuda? – chamei.

Ele soltou um “ah” e correu para desamarrar as cordas. Rachel parecia ter dificuldades para se recuperar do ataque. Posso jurar que vi um dos blocos da parede ruir.

–O que está acontecendo? – perguntei, enquanto ele desamarrava uma das minhas mãos.

–Os humanos chegaram. – ele disse, correndo para pegar minhas roupas, meu óculos-espada e meu colar-adaga que estavam jogadas ao lado da mesa.

Enquanto eu desamarrava a outra mão e meus pés, ouvi outro som. Um uivo.

Will parou e olhou para a porta. Encarei-o com surpresa.

–Os lobisomens Malahatch também. – deu de ombros, jogando as roupas para mim.

Ri levemente e me vesti. Girei o pescoço, alongando-o, e voltei-me para Rachel. Will voltou para a porta.

–Você vem? – perguntou.

–Eu vou cuidar dessa aqui primeiro. Pode ir. – respondi, sem olhar para ele.

Ele hesitou, agitado. Então, pulou para fora da sala. Rachel ainda estava no chão, quase desacordada. Aos poucos, ela se levantou e me olhou, ofegante. Seu olhar caiu sobre a porta. Ela correu, mas, com um movimento de meu pulso, joguei-a contra a parede, mantendo-a erguida sobre os blocos de pedra.

–Acho que não!

Apesar de eu estar desconcentrado, ela permaneceu suspensa na parede. Arranquei o dente de tubarão que pendia em meu colar e ele se tornou uma adaga de prata, com um cabo cinzento. Pressionei a lâmina sobre sua garganta. Ela fechou os olhos, amedrontada.

–Não, por favor! – implorou.

–O que você disse? – perguntei, aproximando meu ouvido com ironia.

–Não me mate, por favor... – repetiu, virando o rosto para o outro lado. – Pelo amor de Deus...

Foi como se eu tivesse levado um tapa. Pressionei a adaga contra seu pescoço com mais força.

–Deus? – repeti. – Você não é um demônio, é?

Ela suspirou, derrotada. Afastei-me da parede e ergui minha mão. Aos poucos, fechei o punho levemente. Ela começou a sufocar.

–Se quiser sobreviver, é melhor começar a falar. – ordenei.

–Sou a única no exército de Lúcifer. – falou, quase que instantaneamente, sua boca voltada para o teto.

–Por que? – perguntei, com um tom autoritário.

Ela não respondeu. Fechei o punho um pouco mais.

–Lenora. Meu nome verdadeiro é Lenora. – falou, em meio a falta de ar.

–Por que Lúcifer não destruiu sua humanidade, como os outros? – perguntei.

–Porque eu não quis. – ela respondeu.

Franzi o cenho. Diminuí a pressão em seu pescoço.

–Ah, e você quer que eu acredite nisso? – exclamei, irritado.

–Acredite no que quiser, mas é a verdade. – finalmente, ela conseguia falar, quase que normalmente. – Meu irmão descobriu quem ele era e foi atrás de Lúcifer. Lúcifer me encontrou e me contou que meu irmão fora recrutado por ele e que agora ele era um demônio completo. Ele me fez a mesma proposta que meu irmão aceitou. Eu não queria que Jared se tornasse algo tão...

–Cruel? – tentei.

–Desumano. – ela completou. – Ordenei que ele devolvesse a humanidade de Jared. Ele me prometeu que se eu o seguisse, se atendesse aos seus pedidos, ele o faria. Ele prometeu que nos libertaria.

–Você não é ruim. – conclui. – Só é mais uma vítima.

Soltei-a de vez. Ela caiu no chão, tossindo. Esperei que se recuperasse.

–Por meses ele tem nos mantido assim, na espera. Digo, me mantido, meu irmão não dá a mínima. – continuou.– Então, há algumas semanas, ele me ligou, dizendo que se eu protegesse a Fortaleza, tomasse você como refém e conseguisse que você se juntasse a nós, ele devolveria a humanidade de Jared.

Ela disse tudo aquilo sem me olhar no olho, de braços cruzados e olhar voltado para a parede. Era como se tivesse vergonha. Bom, de fato, ela estava sendo obrigada a me contar a sua maior ambição. Ela parecia desconcertada.

–Lúcifer está transformando pessoas em demônios completos com essa facilidade? - perguntei.

–Eu sei que foi muito difícil pra você alcançar esse feito há alguns anos. - ela comentou, ainda sem me olhar no olho. - Mas para Lúcifer... Ele transforma pessoas em demônios como se trocasse de roupa.

–Ele está mentindo, Rachel. Sobre Jared. – falei

Ela se virou para mim, quase que apavorada.

–Como é?

Suspirei. Eu não queria fazer isso. Destruir as esperanças de alguém, mas eu não tinha escolha.

–Lúcifer não pode alterar os níveis de humanidade em uma alma. – continuei, observando seu mundo desmoronar. – Só quem pode fazer isso é Gabriel. E até onde sei, ele está morto.

Sua boca se escancarou. As lágrimas correram em sua bochecha com rapidez. Ela começou a rir, em meio às lágrimas.

–Eu sou uma idiota mesmo. – disse, encarando seus próprios dedos. – Acreditei no diabo. Quem acredita no diabo?

–Calma, hey... – fui até ela, consolando-a. – Estava indo atrás do seu irmão, não desistiu da sua humanidade.

–Mas isso não justifica! – gritou, recuando para a parede. – Você não sabe as coisas que eu fiz, as pessoas que eu machuquei, as vidas que eu destruí! Você não tem ideia das coisas horríveis que ele me fez fazer!

Ela me olhou com atenção.

–Ele me fez matar um recém-nascido. Ele me fez dilacerar uma criança!

Engoli seco.

–Eu não acho que eu tenha humanidade pela que lutar. – ela disse, colocando seu cabelo para trás.

Mordi um lábio.

–Ainda há tempo. – falei. “Estou ficando louco.”, lembro de ter pensado. – Ainda há tempo de corrigir tudo isso.

Ela olhou para mim, sua face tomada pelo medo.

–Venha para o nosso lado. – falei. – Junte-se a nós e tudo isso não vai ter sido em vão. Se você nos ajudar a vencer Lúcifer e Miguel, nada do que você fez importa. Além disso, podemos salvar seu irmão. Rafael, o Arcanjo, ele tem humanidade. Talvez ele possa nos ajudar a salvar Jared.

–Sério? – ela completou. Um sorriso tímido cresceu em seu rosto. – Você tem certeza?

–Não. – respondi. – Mas se alguém pode salvá-lo, com certeza não é Lúcifer.

Ela hesitou. Então, assentiu.

–Eu vou te ajudar. – disse. – Mesmo que Jared tenha...

Rachel interrompeu a si mesma. Então, olhou para mim com determinação.

–Ele não ia querer isso.

Assenti.

–Vamos. Temos muito o que fazer.

Voltei-me para a porta e saí para fora. Devo dizer que, para uma fortaleza, mais parecia um belo castelo medieval.

Eu estava no andar de cima, em um corredor aberto para o andar de baixo. Eu estivera preso em uma câmara de tortura, localizada entre outras duas. Nos dois fins do corredor, havia portas, portas de madeira, comuns. Duas escadas, uma em cada canto do corredor, davam no piso inferior. Acima de nós, o teto era plano, o que me fez cogitar a existência de um terceiro andar. Um candelabro apagado pendia no teto.

Aproximei-me do balaústre, para observar a cena que se desenrolava no andar de baixo.

O térreo era o mais magnífico de tudo. Um belo tapete se estendia da porta, que ficava um andar abaixo de onde eu estava, até a fonte no centro do pátio que se formava no térreo, onde se dividia em dois outros tapetes, que levavam para duas portas laterais, uma de cada lado do saguão. A fonte era feita de prata e sangue saía de uma estátua. Sim, sangue. Era a estátua de um anjo choroso, sendo envolvido por serpentes dotadas de longos caninos. O sangue saía dos olhos do anjo e da boca das serpentes. Uma vidraça azulada se projetava atrás da fonte. A luz que passava através dela me indicava que ainda era dia. Bom, seria tudo muito lindo, se não fosse pelo sangue na fonte e se não houvesse corpos mortos caídos pelo chão.

Rachel me puxou pelo braço, para que eu a seguisse até o andar de baixo.

Will estava de costas para a entrada, analisando alguns dos corpos. Um homem loiro, de mais ou menos trinta anos, cutucava os corpos com um rifle bem equipado. Ele usava um colete preto por cima de um suéter azul. Logo, percebi que ele era humano. Ah, e também notei os dizeres “FBI” estampados em amarelo em seu colete. Uma mulher, de longos cabelos castanhos, uma blusa sem mangas roxa, estava sentada no parapeito da fonte, segurando uma faca, pensativa.

–O que aconteceu? – perguntei, depois de descer as escadas.

Will levantou o olhar para mim.

–Ah, Peter, esses são Graham e Sage. – apresentou.

Graham estendeu a mão para mim.

–Frank Graham, Agente Especial do FBI. – disse, com um olhar amedrontador.

–Peter Roman. – falei, apertando sua mão.

Olhei para Sage. Ela ergueu uma sobrancelha, então resolvi não dizer nada.

–Vejo que vocês... – hesitei, procurando a palavra certa. – Cuidaram de tudo.

Dei uma leve olhada sobre os corpos espalhados em todos os lugares. Eram cerca de vinte.

–O resto está sendo cuidado lá fora, com o resto dos meus homens e os... – disse Graham, interrompendo a si mesmo, como se ainda se acostumasse com a ideia. – Lobisomens.

–Preferimos o termo lobos, muito obrigada. – disse Sage. Ela tinha um sotaque britânico.

–Tanto faz. – murmurou Graham, baixo o bastante para que Sage não ouvisse. – Todos os demônios foram mortos ou exorcizados, de volta ao inferno de onde vieram.

Nem tive tempo de me irritar.

–Nem todos. – disse Will, encarando Rachel.

Ele fechou os olhos. Estranhei seu gesto. Então, Rachel começou a tossir sangue.

–O que está fazendo?! – gritei

–Tirando o demônio desta coitada. – respondeu.

–Mas ela não é um demônio completo! – gritei novamente.

Ele me olhou com surpresa, parando o exorcismo mental.

–Oh. Então vamos para a faca mesmo.

Ele puxou sua adaga do bolso (não sei como ele andava com aquilo sem se cortar) e investiu contra Rachel. Bloqueei o ataque.

–Ela está do nosso lado! – exclamei.

Ele me olhou com ainda mais surpresa.

–Por essa eu não esperava. – comentou.

–E porque você está exorcizando demônios?!

Will tombou a cabeça, um tanto risonho.

–Por que não estaria? Temos que mandar esses desgraçados de volta pro inferno.

Tapei o rosto com as mãos, tentando me controlar.

–Não tem inferno pra onde eles irem, Will! – vociferei, tentando me acalmar. – Está trancado! Tudo o que você fez foi libertar eles pra tomarem o corpo de outro inocente e ir correndo contar pro Lúcifer que tomamos o castelo!

–Mas tomamos o castelo, isso não é bom? – perguntou Sage.

–É maravilhoso, mas Lúcifer não pode saber. – falei, olhando para os três.

Graham deu um sorriso malicioso.

–Quer uma emboscada. – concluiu.

Assenti.

–Boa ideia. – disse Will, sorrindo.

Então, as portas se escancararam. Era Olsen.

–Tudo zerado. Não sobrou nem um demônio para contar a história. – anunciou. – O castelo é completamente nosso.

–Ótimo! – falei, animado. – Reúnam todos aqui nesse pátio! Olsen, chame os outros líderes e Rafael e avise-os para nos encontrar na segunda porta do corredor de cima!

Todos assentiram e se dirigiram para a parte externa do castelo.

Sozinho, no meio do pátio, soltei um riso de emoção. Eu me sentia uma criança, animada com seu novo brinquedo. Corri escada acima, para voltar à câmara de onde eu saíra, mas algo me chamou a atenção.

Na primeira sala, à esquerda da minha... Um sentimento ruim correu pela minha espinha, como se algo lá dentro me chamasse. Bom, a sala era quase igual a outra. Duas mesas, uma de ferro e uma de madeira. Normal. O problema era o que havia sobre a mesa de madeira.

Havia um mural, cheio de desenhos. Coisas grotescas, assassinatos, massacres... Mas havia um desenho, um único desenho “feliz”, como a luz em meio à escuridão.

Uma menina de cabelos longos e loiros ao lado de outra, esta última sendo parecida, porém mais velha. Elas duas sorriam, como se fossem velhas amigas. No canto da folha, havia uma assinatura.

–Não pode ser. – murmurei.

Eu não queria acreditar. Mas era idiota ignorar aquilo. Eu a ignorara por tanto tempo... Como pude me esquecer?

No canto da folha estava escrito: Crystal, 2004.


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Notas finais do capítulo

Crystal, mais conhecida por Amber Harris, era a meia-irmã de Peter, a quem ele foi obrigado a transformar em um demônio para quebrar o quarto selo. Crystal era o fruto do caso de Genevieve, mãe de Peter, e um homem chamado Dave Harris. A menina foi para a adoção, mas alguns anos depois, o pai tentou adotá-la. Como não pôde recuperar a filha, por ter concordado em desistir de seus direitos legais sobre ela, ele a sequestrou do orfanato, levando-a para sua casa e fazendo-a acreditar que nunca fora uma orfã, que seu nome era Amber Harris e que todas as suas memórias eram um sonho. Com o tempo, ela começou a acreditar. O desenho era Amber, ao lado de Crystal, o seu "eu" do orfanato. Peter descobriu a verdadeira identidade da menina e a levou para Kraktus, onde, com muito esforço e dor, conseguiu destruir a humanidade dentro dela e torná-la um demônio completo. Depois de ser muito atormentado, Peter arrancou a cabeça da menina sem matar o demônio que ela se tornara. Então, o demônio, Amber, fugiu de seu corpo e nunca mais foi vista. Peter, esperançoso que Deus fosse reverter Amber antes que ela causasse problema, esqueceu completamente de Amber e a menina nunca mais cruzou seus pensamentos.



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