A menina de olhos tristes escrita por Angel Black


Capítulo 4
Chances




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Malfoy sentiu a ponta de dedos leves passeando suavemente por seu rosto e no mesmo instante abriu os olhos. Os olhos tristes de Alice foi a primeira coisa que viu, depois daquela noite infernal e interminável.

A menina recuou assustada, levando a pequena mão até o peito.

– Oh, Deus! Achei que o senhor estivesse...

– Morto? – perguntou Draco, tentando se sentar. Como estava com dificuldade, Alice o ajudou. Malfoy percebeu que agora ela não parecia tão relutante em tocar nele como antes. Malfoy olhou para a janela. O sol brilhava alto. Deveria ser umas nove horas. Durante a noite, imaginou que jamais veria o nascer do sol novamente. Achou que aquela seria a noite em que ele deixaria o mundo para sempre. Ele sorriu, ainda era cedo para morrer... havia muito o que viver... o que experimentar.

Alice tocou novamente em seu ombro, chamando sua atenção para ela. Ela percebeu que ele olhava para suas mãos e então as recolheu, colocando-as sobre o colo.

– Eu sinto muito! – disse ela, marejando os olhos.

– Ok, Alice... agora eu acredito em você. Então... é melhor manter suas mãos longe de mim, por enquanto.

– O senhor não precisa mais ter medo de mim. Se o senhor sobreviveu até agora, há uma grande vantagem de o senhor ficar... imune.

– Ah... que bom... – disse ele, sem evitar um tom sarcástico.

– Eu não queria que acontecesse... deve pensar que sou a pior pessoa desse mundo...

– Não, Alice... e acredite...eu já conheci algumas pessoas bem piores – disse ele sorrindo. “Eu sou uma delas”, acrescentou ele, em pensamento, mas não abriu a boca. A menina já tinha medo da própria sombra, para que adicionar mais um problema.

Malfoy levantou-se com dificuldade, estava tonto. Antes que pudesse cair, segurou-se na cômoda e olhou para o espelho. Ele estava parecendo muito mal. Como se tivesse ficado muitos dias sem comer ou dormir. As olheiras eram profundas, mas as lacerações no seu pescoço eram assustadoras. Na noite passada, ele ficou revivendo as piores coisas que já lhe acontecera: retornou 5 vezes à Azkaban, foi asfixiado por seu pai umas 4 vezes e amaldiçoado com Crucius 3 vezes. Eram, nessa mesma ordem, as coisas de que tinha mais medo.

– Quais são as minhas chances, Alice... quero dizer... o que vai acontecer comigo agora?

– A primeira noite é a pior. Quase sempre as pessoas que tocam ou tocadas por mim morrem de causas naturais: afogamento, asfixia, esmagamento, ataque cardíaco. Se conseguem sobreviver à primeira noite, as visões vão se tornando mais fracas a cada dia e logo, não haverá nada para ver e a pessoa se torna imune. Bem, na verdade, a única pessoa que se tornou imune, sem nenhuma sequela, foi minha mãe.

– E o seu pai?

– Minha mãe biológica morreu no parto. Minha mãe de agora não tem permissão para me tocar. Nunca me tocou...

– O que aconteceu na noite passada comigo ainda pode acontecer essa noite, Alice?

– Sim... pode... mas em menor intensidade. Eu posso falar com meu pai, ele pode ficar aqui e ajuda-lo a passar a noite.

– Não... nada de envolver seu pai... você não contou a ele que eu te toquei, contou?

– Não, senhor...

– Ótimo... vamos deixar assim por enquanto. E eu quero que você me faça um favor, Alice.

– Qualquer coisa, senhor... – disse ela, rapidamente. Ela parecia muito feliz por vê-lo vivo.

Malfoy ficou analisando a menina. Talvez ela fosse uma bruxa que não foi propriamente ensinada. Alguém que não conseguia controlar seus próprios poderes, mas nunca ouvir falar de alguém na idade dela capaz de fazer o que ela fazia. Até porque Hogwarts identificava todos os jovens de 11 anos que podem desenvolver magia, mesmo aqueles que não eram nascidos-bruxos. Se ela fosse mesmo uma bruxa, ela deveria ter ido à Hogwarts. Mesmo que o troglodita do pai dela a impedisse, MacGonagal na época teria enviado Hagrid para levá-la. Talvez ela fosse outra coisa. Talvez uma mestiça com alguma raça sobrenatural. Uma vez ouviu falar de meio humanos, meio sereianos que eram capazes de viver fora da água, mas não podiam tocar em ninguém sem que esse alguém sofresse com a maldição cruciatus. Talvez fosse o caso da menina, mas ela não se parecia em nada com um medonho sereiano. De qualquer forma, não cabia a ele fazer adivinhações. Se levasse a garota à Hogwarts, talvez alguém pudesse identificar o que havia de errado com ela. Mas como ele poderia leva-la até Hogwarts sendo ela tão arredia?

– Eu conheço pessoas que lidam com... com coisas estranhas. Eles poderão me dizer o que realmente está acontecendo com você.

– Ah, senhor. Já fui a todos os médicos, psiquiatras, psicólogos, padres, pastores, médius que há nas imediações. Nunca ninguém conseguiu me ajudar. E, de alguma forma, eu acabei destruindo a vida deles quando os toquei. Não quero machucar mais ninguém.

– Eu entendo, Alice... mas e se eu lhe dissesse que realmente posso ajudar você?

Alice não respondeu, mas era possível ver nos olhos dela que ela estava cética com a oferta de ajuda de Draco.

– Alice... eu não vou aceitar um não como resposta. Se você quiser continuar aqui neste emprego, terá que fazer o que eu disser. Nós iremos agora mesmo até um lugar onde há pessoas que poderão ajudar você.

– Senhor... se meu pai souber... ele vai me castigar... por favor, não me obrigue a ir com o senhor.

– Já lhe disse, você não tem opção. – disse Malfoy levantando-se. – Prepare-se, partiremos daqui a meia hora.

Malfoy abriu a gaveta da cômoda, tirou um bonito manto de bruxo e entrou no banheiro. Escovou os dentes e tomou um banho rápido. Quando terminou, já estava se sentindo muito bem, embora sua fome o estivesse avisando de que em breve ele teria que se alimentar de algo. Por hora, tinha pressa em levar Alice até Howarts e os almoços na Escola de Magia e Bruxaria não eram tão ruins. Quando terminou de se vestir desceu as escadas, esperando encontrar Alice pronta, aguardando por ele, só ao invés disso, não havia sinal da garota e a porta estava aberta.

– Agora deu pra ser teimosa? – disse Malfoy pra si mesmo, saindo da casa.

Alice não estava longe, mas teria que ser rápido, antes que o pai dela a avistasse. Então correu na direção da menina e antes que ela se desse conta, ele a agarrou pela cintura e a jogou sobre o ombro direito.

– Senhor... por favor, largue-me...

– Agora é tarde! – disse ele, fazendo o caminho de volta, mas dessa vez não entrou na casa. Na velha garagem, havia um carro. Era um carro enfeitiçado por Fred Weasley que possuía uma grande loja que misturava artigos trouxas com poderosos feitiços bruxos. Os Weasleys haviam feito uma pequena fortuna dessa forma. No início, Malfoy resistiu a comprar o automóvel. Um bruxo que se preze utiliza pó-de-flu e chaves de portal, mas como ele se afastara do mundo da magia, achou que poderia ter aquele luxo.

Malfoy colocou Alice no banco do carona e afivelou o cinto de segurança nela. Ela, muito assustada, tentou se desvencilhar dele, mas ele não deixou que ela fugisse dele dessa vez.

– O senhor irá me fazer muito mal. O senhor não tem ideia do castigo que eu receberei por isso. – disse ela, choramingando.

– Não se preocupe... vou cuidar de você...! – disse Malfoy. Ele gostaria de secar as lágrimas da menina com seus dedos, mas achou que ela estava apavorada demais para ele tentar qualquer contato, mesmo que teoricamente ele agora estivesse imune ao contato dela.

Antes que ela resolvesse sair do automóvel, Malfoy deu a volta e entrou no carro. Tirou a varinha de seu paletó e bateu com ela sobre o volante do carro:

– Hogwarts! – ele disse e o carro instantaneamente começou a se mover, sem que ele o ligasse.

– Como o senhor fez isso...? – ela disse, surpresa, arregalando os grandes olhos tristes.

– Você não é a única que é diferente, Alice. Eu queria lhe dizer isso, mas achei que você não iria compreender, a não ser que visse por si mesma.

– Você tem poderes mentais?- perguntou ela, enxugando as lágrimas.

– Não... eu sou... bem, não há como dizer isso de outra forma. Eu sou um bruxo!


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