Burning Love escrita por B Targaryen


Capítulo 26
Os dias sem ela




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A sensação era que algo atravessava meu peito com força. Não sei dizer o que aconteceu, as coisas ficaram borradas e confusas na minha mente depois daquele momento. Eu só fiquei parado, olhando pra Bruno, tentando processar o que ele falava e, de alguma forma, embora todo o ar dos meus pulmões tivesse ido embora e o chão rodasse em baixo dos meus pés, não parecia ser verdade. Não podia ser verdade. Olhei pra ambulância barulhenta, e imaginei uma Natasha fria e desacordada lá dentro, e foi ai que a ficha caiu. Não sei como tive forças pra correr, mas corri. Corri até dentro de casa, batendo a porta, esperando encontrar segurança em qualquer coisa. Não encontrei. As coisas no meu quarto pareciam estranhamente arrumadas, de uma forma que me fazia querer derrubar cada coisa que tivesse lá, então foi o que eu fiz. A raiva me movia enquanto eu quebrava qualquer coisa que achasse, enquanto minha mão rasgava com o vidro do espelho, enchendo o chão de pequenos estilhaços de vidro.
–POR QUE VOCÊ FEZ ISSO? - gritei, alto, como se ela pudesse me ouvir - COMO VOCÊ PÔDE FAZER ISSO COMIGO, NATASHA?
Dei um soco no espelho, a dor da minha mão atravessando o vidro, enchendo o chão de pequenos estilhaços, me fez acordar. Parei por algum tempo, a cabeça rodando. A verdade é que não se comparava nem um pouco com o que eu estava sentindo por dentro. Encostei na parede, as mãos sangrando, e deslizei até o chão. Chorei tão intensamente que acho que parei de respirar por alguns segundos.
Como ela pode simplesmente me deixar? Algumas horas atrás ela estava la, nos meus braços, e agora...onde ela está?
Não me lembro de ter dormido, mas dormi. E não sonhei com nada. Em algum momento, Bruno foi lá, sentou do meu lado, no chão mesmo, me envolveu em seus braços e me deitou em seu colo. Não consegui falar nada, então simplesmente voltei a dormir. Tinha esperanças de que, quando eu acordasse, ela estaria lá comigo novamente. Mas não estava. Ela nunca mais estaria comigo novamente.

As primeiras duas semanas foram as mais difíceis. Quando minha mãe e meu pai se foram, eu mal entendia o que estava acontecendo, foi uma coisa que eu demorei anos para compreender e, então, quando compreendi, já era um fato que eu estava acostumado, sempre tinha sido assim. Não estou dizendo que não doeu, porque doeu, mas dessa vez...foi diferente. O mundo inteiro caiu em cima de mim em apenas um segundo. Eu pensava que conhecia a dor, mas não conhecia, não até perder ela. Pensei em Natasha durante todo tempo, e mal podia falar seu nome alto sem chorar. Fiquei dias sem conseguir comer nada e, quando conseguia, vomitava. Desmaiei umas quatro vezes, e Bruno teve que me levar para o hospital. Eu queria dizer pra ele que eu não estou fazendo de propósito, que eu estou realmente tentando, mas ultimamente, conversar não tem sido meu ponto forte, então só deixo pra lá. Talvez eu esteja sendo um pouco desagradável. Embora Bruno esteja fazendo seu melhor pra continuar em pé, pra cuidar de mim e consolar Karol, não tem nada que ele possa fazer que vá, de alguma forma, melhorar as coisas. Eu sei que ele está sentindo também, só que...não do mesmo jeito. Ele tem a Karol, e passa a maior parte do tempo com ela, sendo um bom noivo. Eu já não tenho mais ninguém. Natasha se foi e agora eu estou completamente sozinho. Alguns parentes dela, inclusive os pais, vieram pra cá, pro enterro. Eu não fui, me recusei a ver pessoas que não a viam em anos vir aqui chorando e falando o quanto ela era importante e quanto ela era uma boa garota. Eu sabia que mentiriam a respeito dela, as pessoas tendem a romantizar quem não está aqui, mas colaborar com isso parecia, de certa maneira, traição. Natasha era maluca, completamente pirada, não tinha nenhuma noção de realidade ou perigo, ela não era "uma boa garota", alias considero uma ofensa chama -la assim, consigo até imaginar a cara de desaprovação que ela faria se pudesse ouvir, Natasha era irremediavelmente rebelde, se recusando a seguir qualquer padrão que não o dela mesma, ela era docemente sexy e extremamente determinada, vivia cada segundo como se fosse o último. Por isso não me surpreende que ela mesma tenha sido seu fim. E, mesmo com todos os seus defeitos, eu sentiria falta de cada um deles durante cada segundo de cada dia.
Naquela noite, duas semanas e três dias depois do que as pessoas ao meu redor suavemente se referem como A Tragédia, eu sonhei com ela. No sonho, ela me acordava docemente me sacudindo e sussurrando meu nome como ja tinja feito tantas vezes antes.
–Charlie. Charlie, acorda.
Minha primeira reação foi se assustar.
–Calma, sou só eu. - ela repousou sua mão quente em meu rosto - Não chora. Eu sinto muito. - e então me envolveu em seus braços, seu cheiro de cigarro e chiclete enchendo o quarto. - Vai ficar tudo bem.
Depois de uns segundos, ela levantou, e estava vestida exatamente como no dia em que nos conhecemos.
–Cade seu cordão? - perguntei. Ela colocou a mão no pescoço, confusa.
–Não sei. Eu tenho que ir agora, Charlie.
–Não vai. Por favor... - implorei.
–Eu te amo.

E então eu acordei, repentinamente, o coração acelerado. Me enrolei no coberto e fiz toda a força do mundo pra não chorar. Foi tão real que por alguns segundos eu senti que ela estava ali comigo, e acordar e dar de cara com a realidade foi difícil.
Porque as coisas tiveram que ser assim, Natasha?


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