Burning Love escrita por B Targaryen


Capítulo 27
A Carta




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/568313/chapter/27

Me recusei a sair da cama. O sonho com Natasha tinha me deixado muito abalado. Bruno foi lá insistir.
–Levanta daí, Charlie. - ele puxou minha coberta.
–Não...
–Charlie, eu sei que você sente falta dela. Eu também sinto. Mas...já fazem quase três semanas, você precisa começar a viver sua vida de novo. Não pode ficar preso aí.
Eu me levantei, com raiva.
–Você não entende, Bruno! Só fazem 3 semanas. E se fosse a Karol? Você espera que eu simplesmente esqueça ela e continue como se nada tivesse acontecido? Não da, Bruno! - gritei, enquanto descia as escadas com raiva. - Você acha que eu gosto disso? Você acha que eu gosto de não conseguir fazer mais nada? Para de encher o saco e me deixa em paz, merda!
Olhei pra Bruno, seus olhos pareciam ver dentro de mim. Eu quase conseguia sentir ele se perguntado onde ele tinha errado, quase conseguia sentir ele se perguntando pra onde o irmão dele tinha ido. Foi naquele segundo que eu percebido que ido longe demais.
Saí pela porta antes que as lagrimas começassem a escorrer. Fui correndo pela rua, sabia exatamente pra onde queria ir. Eu queria me despedir dela, do meu jeito. Corri até a casa abandonada que Natasha tinha me levado, ao que parecia ter sido mil anos atrás. Pulei o muro com facilidade, ja tinha feito aquilo antes. A porta estava aberta, então presumi que ninguém tinha vindo aqui desde a ultima vez que eu e Natasha viemos. Parecia tão solitário e sem sentido sem ela. Fui entrando na casa cuidadosamente, olhando pra todos os cantos e deixando as memórias me invadirem. A casa era tão silenciosa que eu conseguia ouvir o barulho abafado dos meus pés batendo no chão, junto com minha respiração acelerada. Era uma sensação estranha. Entrei no corredor, lembrando de quando a carreguei no colo por esse mesmo lugar. Quase conseguia ouvi-la rindo. Quando entrei no quarto, sentei na cama. Meu coração pulou quando olhei pro lado. Em cima da mesa de cabeceira, em cima de toda aquela poeira, um papel. Precisei de alguns segundos pra ter coragem de tomar o papel em minhas mãos, que tremiam mais do que nunca. Abri o papel, que tinha o aspecto de ter sido amassado algumas vezes e nao precisei começar a ler pra saber que era dela, eu reconheceria a letra da Natasha de longe. Olhei pra cima, segurando as lágrimas, respirei fundo e então comecei a ler.
"Querido Charlie,
Se você ta lendo isso, significa que você achou. Eu sabia você seria o único que acharia. Há uns dias atrás, você me pediu uma explicação, sobre tudo que você nao sabia ainda, e eu prometi que eu iria contar. Eu não me esqueci disso, desculpa por não poder te contar pessoalmente. Não sei por onde começar. Mais ou menos dois anos atrás, quando eu ainda namorava com o Joey, eu era uma pessoa completamente diferente. Sei que você gosta de me chamar de maluca, mas eu era muito pior. Me envolvi com coisas que não me orgulho. Fiz coisas que eu nunca vou poder voltar atrás. Eu ja estava afundada em todo tipo de coisa ruim quando aconteceu o acidente. Eu e Joey estávamos em um beco, um pouco longe de onde eu moro, e um homem chegou e começou a falar coisas maldosas pra mim. Eu estava com uma arma naquele dia. Não era minha, eu nem sabia usar, só estava guardando pra uma amiga. Mas eu não me controlei, eu só...fiz. Eu só apertei o gatilho. E foi daquele jeito que eu destruí minha vida. Aquele homem era apenas um morador de rua que ninguém sentiu falta e que a policia ignorou completamente. Mas Joey sabia. E, quando eu ameacei deixar ele, foi quando as chantagens começaram. Demorou quase seis meses pra eu ter coragem de deixa-lo. Foi no dia que ele me deu o primeiro soco, e eu percebi que eu estava fazendo a coisa errada. Eu sabia muita coisa que poderia colocar ele em problemas, então simplesmente o falei que estávamos os dois igualmente ferrados, e fugi. Voltei pra escola. Queria começar de novo. E não tava sendo fácil, eu não sabia mais como fazer as coisas. E o fardo de ter acabado com a vida de alguém estava me matando igualmente. Eu me matei internamente muito antes de decidir me matar fisicamente. Mas ai...ai eu te conheci. E toda vez que estávamos juntos, toda a dor, toda a culpa, desaparecia. Eu me sentia como outra pessoa completamente diferente. Uma pessoa boa, uma pessoa pela qual alguém se apaixonaria. Porque foi o que aconteceu. Você me mostrou como é ter uma família, como é ser amada. Charlie, você sempre agiu como se fosse sortudo por ter mas a verdade é que a sortuda sempre fui eu. Eu ganhei em um milhão de loterias só por ter você ao meu lado. E, depois de todas as coisas ruins que eu fiz, minha maior surpresa foi o destino ter colocado no meu caminho alguém tão bom, tão doce quanto você. Mas, acho que no fundo, a verdade tinha que vir a tona. Joey me viu com você e ficou com tanto ciúme que se viu capaz de se colocar na cadeia só pra eu ir também. E eu não posso fazer isso. Não posso, desculpa. Por mais que eu tente fugir, por mais que eu sinta como se tudo tivesse começado de novo e o acidente tenha sido em outra vida, não foi. Acho que eu preciso pagar pelo que eu fiz. Sei que você estaria disposto a esperar por mim o tempo que for, sei que estaria disposto a me amar mesmo depois que soubesse a verdade, mesmo que isso te destruísse. E eu não posso ver você se destruindo. Simplesmente te amo demais pra isso. Então, por favor, siga em frente. Mesmo que pareça difícil. Você é inteligente e cheio de sonhos e esperança, e vai chegar a grandes lugares algum dia. Siga seus sonhos sem olhar pra tras, se tem uma coisa que aprendi com o tempo que passamos juntos foi que o arrependimento não leva a nada. Espero que tudo de certo pra você e, se não der, mesmo que eu nao esteja aí com você mais, fecha os olhos e pensa em mim. Eu sempre vou cuidar de você. Sinto muito, muito mesmo, por não poder ficar por perto. Espero que você entenda e que não me odeie. Desculpa. Eu não sou muito boa com despedidas. Não vamos ver isso como uma despedida, então, pode ser? Algum dia - quem sabe em algum lugar que eu ainda vou descobrir que existe, quem sabe em outra vida- a gente se encontra de novo. Eu te amo. Eu vou sempre, sempre te amar, Charlie.
Sempre."

Apertei o papel contra minha mão com toda a força que tinha, chorando desde as primeiras palavras. Eu conseguia ouvir sua voz enquanto lia, imaginava ela sentada em seu quarto escrevendo, talvez chorando, talvez não, Natasha sempre foi extremamente forte. Mas eu não. Por isso sentia que meu coração estava sendo arrancado e torcido de tanta saudade. Li e reli a carta mais vezes que consigo contar, era como se enquanto eu estivesse lendo, ela ainda estivesse comigo. Eu não me importo com o que ela fez ou não. Tudo que eu me importo é que eu amo ela, e ela me amava. Quando me obriguei a parar de ler e ia levantar, uma coisa que eu não tinha percebido no chão me chamou atenção. Me espantei, lembrando do sonho. Talvez sido deixado ali propositalmente ou talvez ela tivesse deixado cair, estava lá, intocável como da primeira vez que nos vimos. O cordão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Burning Love" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.