Burning Love escrita por B Targaryen


Capítulo 23
Fugitivos




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Quando saí dos braços de Natasha, Bruno bagunçou meus cabelos como se eu tivesse 11 anos de novo, e ficamos todos conversando, sentindo o clima familiar e agradável que estava. Mas aquela calma não durou muito.

—Que cheiro é esse?

—É de queimado! Bruno, você deixou alguma coisa no forno? – perguntei, enquanto ele e Karol se entreolhavam.

—Merda, o frango, Bruno!

E então os dois foram correndo pra cozinha, afobados tentando salvar o frango e arrumar a bagunça que estavam fazendo. Ignorando completamente o desespero deles, Natasha olhou pra mim com um olhar suspeito que eu reconheceria até de longe.

—Ainda dá tempo de fugir antes que isso aqui encha de pessoas – sugeriu. – Eles nem vão perceber.

 -Claro que vão perceber.

—Mas não antes de a gente estar longe daqui. De qualquer forma, só tem um jeito de descobrir - e, antes que eu pudesse impedir, Natasha levantou e foi andando até a porta tranquilamente. Sabendo que eu provavelmente me arrependeria disso, levantei e fui atrás dela, saindo pela porta sem que Bruno ou Karol vissem.

—A gente precisava sair antes que eles parassem de prestar atenção na quase tentativa de colocar fogo na casa.

—E agora a gente precisa ir pra qualquer lugar longe daqui em que eles não nos achem.

—A escola! Não é longe, mas quem procuraria lá?

—Mas a escola ta fechada – demorei alguns segundos pra raciocinar. – Você não pode ta sugerindo da gente invadir a escola, Natasha!    

—Você fala como se não tivéssemos feito coisa pior – então a atenção dela se voltou pro silencio que se fez na porta. Colocamos os ouvidos na madeira fria pra tentar escutar do outro lado. “Ué, cadê eles? ” “Vou ver lá fora. ”

Eu e Natasha nos olhamos por meio segundo antes de sair correndo na direção da esquina mais próxima pra sumir da vista de Bruno. Ela ria enquanto corria, então percebi que adorava aquilo. Continuamos correndo mesmo depois que viramos a esquina, e Natasha esticou a mão até encostar na minha, então corremos de mãos dadas, o vento bagunçando nossos cabelos.

 -Pra onde? – perguntei.

—Escola.

—Ah, não.

Ela correu mais rápido.

—Vem. – e fomos correndo até chegar na esquina da escola, até que eu encostei no muro, ofegante, fazendo um sinal de “espera” com a mão.

—E como a gente vai fazer isso? – perguntei

—Não faço a mínima ideia. Vai lá perto ver se tem algum segurança.

Eu fui me aproximando da escola devagar, olhando por cima do muro baixo, mas não vi ninguém. Olhei de novo pra me certificar e fiz um gesto com a mão pra Natasha, que caminhou até mim.  

—Não tem ninguém.

—Certeza?

—Sim.

—Então é só pular o muro.

Como sempre, Natasha foi a primeira, e ela escalou o muro e pulou do outro lado graciosamente com uma habilidade que eu simplesmente não sabia de onde veio. Provavelmente de anos pulando muros e fazendo coisas do tipo. Depois, eu me esforcei pra me pendurar no muro e sentei, virando pro outro lado e percebi que era bem mais alto do lado contrário, eu não vou pular isso. Natasha me olhava sorrindo do chão, sem um arranhão sequer, com um olhar sugestivo, desafiador. Respirei fundo, e pulei. Minhas pernas bateram no chão e vacilaram, fazendo com que eu caísse apoiado nos cotovelos. Quando tentei levantar, Natasha precisou me ajudar, sem nem esconder o ar de riso do rosto.

—Você ainda tem muito que aprender comigo, Charlie.

Meus braços sangravam, mas ignorei, olhei pra ela e abri um sorriso, então ela me beijou, me jogando no muro frio que tínhamos acabado de pular. Natasha me afastou e olhou pra cima, começou a caminhar procurando alguma coisa, mas sem me falar o que. Eu a segui mesmo assim, e ela parou em frente a uma escada de corda solta, que não parecia estar muito firme presa no telhado. Colocou um pé e depois o outro, e se balançou, testando a escada.

—Eu não vou subir aí – avisei.

—É isso ou quebrar uma janela. Você escolhe. 

—É, vamos subir a escada.

—Deixa que eu vou primeiro, porque se a escada arrebentar, eu consigo pular lá de cima.

—Consegue?

—Acho que sim. Espero que não precise testar.

Ela foi subindo devagar a longa escada e eu pensei que ela fosse cair, de tanto que a escada balançava, quando ela chegou ao telhado, saiu andando e nem fez questão de me esperar. Eu subi os primeiros degraus, a parede velha encostando nos arranhões no meu braço, não foi nada agradável, mas estranhamente, me dava uma sensação boa, lá no fundo. Uma sensação de que eu poderia fazer qualquer coisa que eu quisesse no mundo. Natasha sorriu quando me viu subindo o último degrau, ela abriu a boca pra dizer alguma coisa, mas eu fui andando determinado até ela, e a impedi com um beijo desesperado.

—Eu faria sexo com você aqui mesmo – sussurrei, minha mão escorregando pelo corpo dela. Minha boca mordeu a orelha dela e foi abaixando, deixando marcas pelo pescoço dela. Quando me afastei, ainda segurando os cabelos dela firme entre minhas mãos, Natasha me olhou um pouco ofegante e com um sorriso.

—Eu me enganei – admitiu. – Você já aprendeu o suficiente. 

Nós sentamos na beirada do telhado do colégio, observando as estrelas, e ficamos lá nos beijando e conversando sobre coisas aleatórias, o que me lembrou um pouco a primeira vez que eu a beijei, tínhamos passado por tanta coisa desde aquilo e, mesmo assim, aqui estamos.

Foi quando um barulho me tirou de meus pensamentos e Natasha me olhou, apreensiva, porém rindo bem baixo.

—Tem alguém aqui – ela sussurrou.

Olhei pra baixo e vi um homem alto com um uniforme e uma lanterna, olhando cada canto da escola.

—Um segurança! – respondi,  assustado – A gente precisa sair daqui.

—Eu sei. Mas como?

O barulho ficou mais perto, ele estava subindo a escada de dentro. Natasha levantou rápido, me puxando e se escondendo atrás de um muro. “Desce a escada” ela fez com a boca, sem emitir som, mas eu demorei pra processar e o cara já estava abrindo a porta do terraço. Ela me puxou pela blusa pra atrás do muro junto dela, mas era pequeno demais pra nós dois nos escondermos, então a levantei no meu colo como se ela fosse uma criança e tentamos fazer o máximo de silencio possível. O segurança já estava lá, eu conseguia ver sua lanterna indo pra lá e pra cá. Depois de alguns longos segundos, ele virou a lanterna e eu assumi que ia descer as escadas, foi quando Natasha escorregou do meu colo, batendo o cotovelo na parede.

—Quem está ai?

Puta que pariu. Antes que ele pudesse virar ou que eu pudesse fazer alguma coisa, Natasha pegou sua pulseira pesada e atirou até a parte de baixo do telhado, fazendo um barulho alto quando bateu no chão. Ele foi andando até a beirada, olhando pra baixo, pra onde a pulseira tinha caído. Nós conseguíamos vê-lo, assim como ele nos veria facilmente se olhasse pra trás. Por favor, não olhe pra trás.

—Ratos estúpidos – murmurou ao vento.

Esperamos alguns segundos pra se certificar que ele tinha descido as escadas, então nos separamos, ainda um pouco escondidos atrás da mureta.

—Foi por pouco. Você tinha que me deixar cair, né, Charlie? Eu gostava daquela pulseira.

—Desculpa. Agora precisamos sair daqui sem ele ver, ou não vai ter adiantado nada.

 -Fácil. Vamos esperar até ele entrar de novo, e aí a gente desce pela escada.

—Mas e se a escada fizer barulho?

—Só tem um jeito de descobrir. Ou você tem um plano melhor?

—Não.

Natasha ficou abaixada na beirada do muro, observando o segurança. Depois de quase uns 5 minutos, ele entrou de novo.

—Vamos. A gente precisa ser rápidos e silenciosos.

—Tipo ninjas?

—Quantos anos você tem, Charlie? Vem, rápido, antes que ele volte.

Bom, era fácil pra ela falar, foi andando com passos rápidos até a escada e a desceu graciosamente, fazendo quase barulho nenhum. Eu fui descendo atrás dela, por que não tínhamos tempo, ciente do risco de a escada ceder e nós dois darmos de cara com o chão, mas não aconteceu. Não até ela sair da escada e faltar dois degraus pra eu chegar. Escorreguei junto com o pedaço da escada de corda que soltou e caiu em cima de mim, fazendo um barulho alto. Antes que eu me desse conta, Natasha tinha me puxado do chão e correndo comigo atrás como se nossas vidas dependessem disso. O segurança, que tinha ouvido o barulho, agora corria atrás de nós dois, berrando alguma coisa que não consegui ouvir, ele estava perto da gente, até pularmos o muro rápido (eu, batendo de cara no chão, obviamente). Ele correu atrás de nós até quase o final da rua, então nos escondemos atrás de uma árvore qualquer, mas ele nem virou a esquina, cansado. Depois de prender a respiração por alguns segundos, respirei fundo e saímos de trás da árvore, Natasha gargalhando com uma mistura de alívio e diversão enquanto limpava com a manga da blusa o sangue na minha bochecha. Sorri pra ela, e nos beijamos.

—Feliz natal. – sussurrou.

E foi assim que fugimos de casa, invadimos uma escola e fomos perseguidos no meio da noite, e não preciso nem comentar que foi  o melhor natal que eu já tinha passado na vida.


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