Burning Love escrita por B Targaryen


Capítulo 22
Lembranças de um tempo distante




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Então estávamos eu e ela juntos de novo. Sozinhos no quarto dela, ouvindo o som de nossas respirações.

—Eu não queria que você sumisse, Charlie.- ela disse- Quer dizer, era pra você tomar uma decisão, mas...eu não sei, eu to confusa.

—Natasha, então eu tomei uma decisão. E acho que a gente já ta adiando muito conversar sobre isso, sobre seu ex e todas essas coisas.

—Sim. Acho que... essa é a hora de agirmos como pessoas responsáveis, não é? Eu não gosto disso.          

—Nem eu. Mas olha, se você ta pensando que eu vou me afastar de você mesmo, se enganou feio. Desde o momento em que nos conhecemos, eu sabia que você era encrenca, mas eu me apaixonei mesmo assim. E eu me apaixonei de verdade, Natasha, meus sentimentos por você são muito reais, eu espero que você saiba. Eu sei que você disse que tem uma coisa que não pode me contar, então eu decidi que vou ficar do seu lado, esperando o tempo que tiver até que você confie em mim o suficiente pra poder me contar. Mesmo que isso me faça cair, eu demorei tanto tempo pra te encontrar, não vou te deixar ir agora só porque um ex seu não quer nos ver juntos. E também não vou deixar isso nos atrapalhar, porque eu te amo. E estou disposto a correr o risco que for, se você prometer me apoiar e confiar em mim do jeito que eu to confiando em você.

A mão de Natasha deslizou pelo meu pescoço e ela me beijou carinhosamente, diferente de qualquer outro beijo que ela já tinha me dado.

—Eu prometo, Charlie. – Ela sussurrou – Eu prometo isso e tudo mais que você quiser.

E então tirou minha roupa, devagar, enquanto eu tirava a dela. Dessa vez, tudo foi tão diferente, tão cheio de um tipo de carinho que acabamos desenvolvendo com o tempo.  Eu não disse, verbalmente, que a amava, mas tudo em mim a mostrava isso: minhas mãos, minha respiração, meus olhos. Naquele momento, tudo nela pertencia a mim e tudo em mim pertencia a ela.

(...)

Eu e Bruno nunca comemoramos o natal, já que sempre fomos só eu e ele. O último que eu me lembro foi quando nossos pais ainda estavam vivos, mas eu não tenho memórias muito claras daquele dia. Esse ano, e acho que principalmente por causa da Karol, Bruno resolveu fazer alguma coisa na véspera de noite e ele ta bem animado, faltam 2 dias e ele já arrumou tudo, ele e Karol são as pessoas mais animadas do mundo, já parecem um casal de velhos. Eles tinham chamados basicamente todo mundo que a gente tinha amizade, o que na realidade, não era tanta gente: Jake, Doug, o irmão chato do Doug, uns dois amigos do Bruno e uma amiga da Karol. Eu e Natasha passamos os dias antes do natal se concentrando em ficar o mais longe do clima natalino de Bruno e Karol, o que era extremamente divertido. Quando eles começavam a ficar muito animados, repetíamos as falas deles com um tom irônico, irritando bastante eles, parecíamos crianças, os quatro.

Quando a véspera de natal chegou, Bruno acordou parecendo a pessoa mais feliz do mundo, até fez o café da manhã cantando e, não vou mentir, vê-lo assim me dava uma sensação boa no fundo do peito.

—Por que você ta tão feliz? - perguntei, sentado na mesa com ele.  

Bruno olhou pra mim e abriu um sorriso

—Não se faça de desentendido, Charlie.

—Eu gosto de te ver assim.

—Parece que as coisas finalmente estão funcionando, não é?

Eu não respondi, mas sorri sabendo que era verdade.

—Você precisa prometer não estragar as coisas mais tarde. Você e a sra. Encrenca, também conhecida como Natasha. – ele me avisou.

—Para de falar como se eu tivesse 7 anos.

Não teve como segurar o riso.

—Você sempre vai ter 7 anos.

—Ok, agora você ta parecendo mesmo um velho.

—Velho é o teu cu, Charlie.     

—Agora parece você mesmo.

—A Karol vai chegar daqui a pouco pra me ajudar a arrumar as coisas.

—Mas já? Ta cedo.

—A gente vai fazer outras coisas também.

—Ai meu Deus, Bruno!

—Sabe, ajudaria muito se você metesse o pé. A não ser que queira ficar aqui ouvindo...

—Ta, eu saio. Não precisa pedir duas vezes. Se casem logo, os dois são ridículos. – brinquei, e os olhos de Bruno ganharam um tom diferente,

—A gente vai, se ela quiser.

—Oi?

—Eu guardei aquele anel comigo. Decidi que é a hora de usá-lo, eu pretendo pedir pra ela na noite de ano novo.

Ele tinha um sorriso meio orgulhoso no rosto, e não pude evitar de ir andando até ele o abraçar, meio desajeitado. Como ele estava sentado, parecia até que eu era mais alto.

—Eu...to tão feliz por você, de verdade. Ela vai dizer sim, e vocês vão ter muitos pirralhos irritantes que vão correr por aí e me chamar de tio.

—Não exagera, Charlie. – eu quase conseguia ouvir o sorriso na voz dele – Não era bem essa a reação que eu esperava.

—E o que você esperava? – perguntei, soltando Bruno e colocando as coisas da mesa na pia.

—Sei lá, da última vez, você surtou.

—Cala a boca. – respondi, jogando um pano na cara dele.

—Charlie, eu vou enfiar isso no seu cu.

Eu ri e sentei no sofá, me encolhendo, esperando ele jogar o pano de volta. Mas ele só deixou pra lá e sentou do meu lado.  Vimos um pouco de TV até Karol chegar, e eu fiquei com eles uns 15 minutos e depois fui andando até a casa da Natasha. Passamos o dia conversando e fazendo o que sabíamos fazer de melhor: se pegar. Estar com ela, independente do que estávamos fazendo, era sempre divertido. 

Quando foi anoitecendo, Natasha disse que iria se arrumar, então resolvi ir pra casa. Quando abri a porta, dei de cara com um mundo de enfeites natalinos: uma árvore de natal enfeitada enorme se encontrava no canto da sala, luzes piscando se espalhavam pela escada, guirlandas e todo tipo de coisas vermelhas cobriam as paredes. Eu me sentia uma criança de 5 anos no meio de um shopping. Karol estava sentada no sofá observando meu espanto.

—De onde vocês tiraram tudo isso? Do cu? Gente, o que vocês fizeram aqui?

Ela riu, se levantando e indo até perto de mim.

—Gostou?

—Não, minha casa parece uma balada gay natalina gigante.

—Esse é o espirito.

Bruno desceu as escadas, arrumado e sorrindo. Colocou o braço ao redor da cintura de Karol e eu não pude deixar de notar em como os dois pareciam bem juntos.

—Charlie, antes das pessoas chegarem, eu... queria te mostrar uma coisa. – falou, com um tom um pouco sério.

—O que?

—É um vídeo. Vem cá. Deixa eu achar.

Eu e Karol sentamos no chão, de frente a televisão enquanto Bruno revirava umas caixas na cozinha. Ele voltou com uma fita de vídeo, daquelas bem antigas mesmo.

—Eu... eu achei nisso nas nossas coisas antigas. É um vídeo de quando a gente era pequeno, no natal... com Lauren. – o fato dele ter chamado nossa mãe pelo nome não foi o que me espantou mais, o que me espantou mais foi saber que, naquela fita, tinha um pedacinho da minha vida que eu não me lembro bem. Quer dizer, quando eles se foram, estávamos tao ocupando fazendo qualquer outra coisa, que ninguém guardou os álbuns de fotos e os videos, então eu pensei que... não tinha mais nada.

—Se não quiser ver, tudo bem. – ele disse, e o barulho da campainha me impediu de responder. Fui atender, e ver o rosto de Natasha me acalmou um pouco. Ela sorria pra mim, incrivelmente linda

—Nossa isso aqui ta tão... natalino.

Eu a abracei.

—Ainda bem que você chegou. - peguei na mão dela e a sentei no chão.  Olhei pra Bruno – Eu quero ver. O vídeo.

Natasha parecia meio perdida enquanto Bruno ajeitava alguns fios na televisão.

—Que vídeo?- perguntou

—Ele achou um vídeo da minha mãe e nós dois, no natal, em alguma vida muito distante dessa. Eu tipo que nunca tinha visto nenhum vídeo, ou foto, dela. – e então abaixei a voz num tom que só Natasha conseguisse escutar – Eu to com medo.

Ela não disse nada, só levou a mão até meu pescoço, acariciando devagar, não precisava dizer nada mesmo, só seu olhar encontrando o meu já me confortava. Bruno sentou do meu lado e o vídeo começou.

Um Bruno de uns 8 anos ria enquanto segurava uma caixa de presente enorme. “Você gostou?’’ mamãe perguntou, de trás da câmera, ao que ele fez que sim. Então a câmera virou pra ela, com um bebê de uns 2 anos no colo.

Natasha cutucou meu braço e disse, bem baixo: “Você era tao fofo.” Eu estava tremendo, então ela colocou o braço ao redor de mim e eu deitei enquanto ela me abraçava.

Mamãe olhava pra aquele bebê, pra mim, com um sorriso. “E você, Charlie, gostou do seu presente?’’ e  eu ria ao som da voz dela, que foi caminhando e sentou do lado dos dois filhos. Bruno deixou o presente pra la e sentou do lado dela. “Você vai cantar pra gente? Eu quero aquela musica.” Ele perguntou. “Ah, eu só canto se seu pai cantar cantar comigo.’’ “Papai, vem aqui” Então a câmera balançou um pouco e se estabilizou, como que se tivesse sido apoiada em algum lugar. Meu pai veio e sentou no ao redor da arvore, colocando Bruno no colo. Os quatro riam e se divertiam, até que minha mãe, com sua voz incrível, puxou uma musica natalina e todo mundo cantou junto, até eu com meu vocabulário limitado e embolado de uma criança de 2 anos.                  

Eu já estava chorando, baixo, pra que ninguém conseguisse ouvir. Naquele momento, eu me lembrava de cada detalhe do rosto dela, cada traço que eu puxei, e era tao bom. Por alguns segundos, parecia que ela estava lá, cantando pra mim, preenchendo cada canto daquela  sala com a voz dela, com a alma dela. Mas ela não estava, e isso doía. Ver aquele vídeo me trouxe uma sensação tao boa e tao ruim ao mesmo tempo, eu não saberia dizer se estava chorando de saudade ou de felicidade. Quanto tempo será que fazia aquilo? Parecia uma vida inteira. Ah, mãe... eu queria que você pudesse me ver agora. Natasha me puxou um pouco mais pra perto, me abraçando ainda mais forte, pelo fato de eu estar chorando muito. Eu tinha pra mim que, lá no fundo, ela entendia minha dor. Eu olhei ao redor, Karol agarrada a Bruno, que ainda se mantinha perto de mim, nossos olhares se encontraram e eu percebi que ele sabia exatamente como eu estava me sentindo porque ele se sentia exatamente como eu. Então ele respirou fundo e abriu um sorriso pra mim e eu, naquele momento, sorri de volta porque, apesar de ter perdido pessoas que eu amava demais, ainda sim tenho a melhor família- porque é isso que nós quatro somos.               


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