Ela franze a testa ao acordar e ver a forte luz branca do quarto. Apesar disso, ela nao discute e simplesmente levanta para mais um dia.

Sua roupa está do outro lado do quarto. Está frio, e ela está de pés descalços no piso gelado.

Mas ela não sente nada.

Sua mãe grita com ela. "Você é uma imprestável. Nunca me ajuda. Tem que aprender a se virar sozinha, por que eu posso morrer daqui a pouco."

Esse tipo de conversa poderia machucar algumas pessoas, mas ela ignora os gritos da progenitora.

Afinal, ela não sente nada.

Ao chegar na escola, ela ouve resmungos de frio, de cansaço, de sono. Mas ela está normal. Sem sentir nada.

Chega o intervalo.

"Nossa. Eu tô com MUITA fome!" - ela ouve.

Ao sair do colégio.

"Meu deus, eu tô MORTA de cansaço."

Na parada com amigos.

"Eu tô MORRENDO de medo de ser assaltado aqui."

No curso de inglês.

"Eu tô TÃO nervosa pra prova."

Na rua, com conhecidos.

"Eu tô SUPER animado pra esse sábado."

Todos sempre estão tão super alguma coisa. Mas ela não sente nada.

Absolutamente nada.

Será?

Será que, por um descuido, ela só parou de se importar com algo tão banal quanto emoções? Algo tão descartável quanto a felicidade, tão ridículo quanto o amor, tão patético quanto o medo?

Será que, algum dia, ela volte a sentir tudo isso?

Será?