Elementar escrita por Mondler


Capítulo 2
Fogo - Part. 1


Notas iniciais do capítulo

Hey! Estão vendo? Eu disse que iria atualizar a fic com frequência. Postarei a Part. 2 ainda hoje, pela noite, provavelmente! Boa leitura. ^-^



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Antes.

Apesar de não se sentir confortável na nova casa, Jimmy gostava muito do quintal, principalmente do balanço que havia ali. Ele e sua mãe se remexiam na cadeira, os pés afastados da grama molhada. O vai e vem o deixava alegre, com uma sensação de estupor.

— Esse será o nosso pequeno refúgio agora, entendeu? — Os cabelos negros da mulher voavam ao vento, enquanto suas mãos se prendiam com maior firmeza as grades do balanço. — Você pode até não gostar, mas terá que se acostumar.

O garoto não respondeu, já estava cansado de ouvir aquilo. Seus minúsculos olhos se ergueram e ele fitou o céu cheio de estrelas por alguns instantes. Quando começou a enjoar, precisou voltar para dentro da casa e evitou o pai ao passar pela sala. O homem carregava uma aparência cansada e nem notou quando o filho acabou derrubando uma papelada aos pés do primeiro degrau.

Subiu as escadas com delicadeza e jogou o corpo na cama do seu novíssimo quarto. Suas pálpebras pesaram e o sono o arrastou para a escuridão sem fim dentro dos seus olhos. Acordou algumas horas depois, com sua mãe ao seu lado, vestindo o pijama nele. Os olhos dela estavam avermelhados e os cabelos bagunçados. Jimmy estava tão sonolento que a visão escurecia e clareava com frequência.

— Eu te amo... — Ela tinha um ar de preocupação eminente no rosto e o garotinho pôde perceber isso, mesmo com o efeito do sono lhe possuindo. Ela deu-lhe um beijo acolhedor na testa e saiu do quarto. O garoto adormeceu mais uma vez e acordou novamente quando tudo já estava rompendo em labaredas violentas de chamas.

Depois.

Viver com o tio parecia uma experiência inacabável. Jimmy preenchia o vazio que sentia andando de bicicleta pelo bairro, uma desculpa perfeita para poder sair daquele cubículo abafado. Também costumava passar na casa de sua amiga Madeline. O lugar, uma antiga mansão com traços fortíssimos da arquitetura de uma época distante, trazia um desconforto enorme para o garoto.

Nos portões da mansão, Madeline o esperava, os braços cruzados, um sorriso torto no rosto.

— Oi, otário. — Apesar de morar em um lugar antiquado, a garota tinha um estilo urbanista. Todos a conheciam pela coloração de seu cabelo, um lado avermelhado, o outro azulado. Ela estava usando um avental branco sujo de terra e um short jeans.

— O que aconteceu? Recebi sua mensagem agorinha.

— Vem, preciso que veja algo. — Ela puxou Jimmy pelo pulso e o levou para os jardins da casa através de uma trilha de pedrinhas. Pararam em um campo com rosas recém-plantadas, a garota apontou para um buraco na frente dos dois, havia algo ali dentro e Jimmy se aproximou para descobrir o que era.

— Eu encontrei enquanto cavava para plantar mais rosas. — Ela puxou um caderno de capa dura de dentro do buraco e entregou ao garoto. — É um diário.

— Acha que é de alguém que morou aqui? — Jimmy ficou avaliando a capa por um tempo, confuso.

Madeline abaixou o rosto e pediu que ele abrisse o livro. O garoto espantou-se com o que viu. A folha amarelada não impediu que ele identificasse o rosto esnobe do seu pai seguido por letras totalmente estranhas. O homem olhava para o alto, usava uma roupa comum, um sorriso marcando-o. Não se tratava de algo impresso, era uma pintura.

— Isso não faz nenhum sentido. — Ele disse mais para si do que para a garota. Por apenas alguns instantes, viu uma mancha avermelhada se deslocar no fundo do campo, atrás de Madeline, espalhando-se como fogo em um papel, mas depois que olhou com maior atenção, percebeu que se tratava de sua mente regressando ao dia em que aquele mesmo elemento mudou o rumo de sua vida por completo.

— Não sei como veio parar aqui. Você deve ficar com ele... — Seus olhos negros fitavam o garoto com intensidade.

Ele mordeu os lábios e se levantou frouxamente. A garota se aproximou dele e o abraçou de forma calorosa, ela sabia que aquele era um assunto delicado para Jimmy, falar dos seus pais era bastante difícil para o garoto.

— Passa aqui quando voltar da escola, podemos pensar mais um pouco sobre esse diário! — Ela comentou.

Jimmy apenas concordou com um gesto rápido com a cabeça.

***

Naquela manhã, Jimmy resolveu mudar o percurso que seguia diariamente. Virou a bicicleta em uma rua perto da mansão de Madeline e só parou quando já estava perto suficiente do gramado acinzentado de uma pequena casa. Ficou observando-a por alguns minutos. As marcas do incêndio ainda estavam ali, com as paredes descascadas e algumas janelas com os vidros quebrados. A árvore que outrora era cheia de vida, agora tornava do quintal um lugar obscuro, seus galhos parecendo garras entrando na casa através de fendas na parede.

Jimmy caminhava pelo que restara agora. Sentado no balanço, buscava na memória a sessão que sentiu da última vez que esteve ali com a sua mãe. O clima nublado ameaçava despencar uma chuva tremenda sobre ele, mas lampejos era a única coisa que ele via naquele céu tristonho.

Estava longe de tudo e todos. Preso nas cinzas do seu pequeno mundo. Não teve vergonha nenhuma no momento que suas lágrimas caíram, na verdade, estava querendo fazer aquilo há muito tempo. Os soluços tornaram-se mais frequentes, acompanhados de uma dor inexplicável. Queria ser uma fênix, para que seu choro tivesse uma propriedade mágica de cicatrização. Por fim, chegou a conclusão de que toda aquela presepada não o levaria a nada. Levantou do balanço e saiu o mais rápido possível do lugar.

Em sua bicicleta, olhou uma última vez para a casa e, por apenas alguns instantes, jurou ter visto uma movimentação na janela do seu antigo quarto, algo avermelhado, perigoso como o fogo.


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