Tudo parecia inabalável no Reino de Zear, quase impossível de se destruir, fundamentado nas mais potentes rochas do universo, era tudo tão estável e sólido. Foi preciso alguns poucos sinais e a guerra já havia tomado conta de tudo, arrancando as mais puras almas de suas casas e levando-as para um confronto que terminara em cinzas.

Kim estava vagando pelas ruínas agora, remoendo seu passado, buscando nas lembranças o que aquele lugar simbolizava para ele, enquanto o céu ganhava um tom enegrecido. Da campina, o pequeno garoto-panda, com o seus olhos azuis, pôde ver os quatro templos elementares completamente destruídos. Seu coração apertou de forma sufocante e suas pequeninas orelhas de panda estremeceram.

A fênix fazia a sua dança mais fantástica, voando pelo céu, a pelugem avermelhada parecendo fogo, como se a ave estivesse em chamas. Ela sobrevoou Kim por alguns minutos, batendo suas longas asas com frequência, quebrando com o silêncio mórbido. Quando se distanciou para o horizonte morto, o pequeno panda tinha a certeza de que viu gotas caírem dos olhos entristecidos da criatura. Lágrimas para regar o solo apodrecido. Uma tentativa frustrante de curar a ferida exposta no Reino de Zear.

Escondidos em um castelo subterrâneo, os sobreviventes e os guerreiros tentavam se recuperar para a rodada seguinte. Sabiam que as Serpentes, criaturas malignas e sedentas por sangue, voltariam para terminar com os que restaram. Precisavam concluir o serviço. Todos os humanos-animais sabiam que o objetivo principal delas havia falhado: Roubar as quatro joias elementares dos quatro guardiões elementares.

Cada joia era responsável pelo controle de um elemento, ou água, ou terra, ou fogo, ou ar. Os protetores dela, espíritos criados para exercer essa função, acabam possuindo o poder elementar de sua joia, podendo usar desse artificio para defendê-la.

As Serpentes acreditavam que tê-las seria o primeiro passo para desestabilizar as naturezas, tanto humanas como as de Zear. Felizmente, os protetores das joias conseguiram escapar para o mundo humano, em uma fuga durante o ataque. Agora, sem rumo, a população seguia o líder Werd, um velho mago e, os protetores, vagando no mundo vizinho, buscavam um local para se esconder, para proteger seus artefatos dos inimigos.

Até o rapaz-rato, um dos mais desatentos do vilarejo, sabia dessas informações. Ao voltar para a realidade, Kim soluçou ao ver a terrível cratera esverdeada que acabara de rasgar o céu como um zíper. Um portal.

Sentiu o corpo pesar, sabia do que se tratava. Rapidamente, a lembrança de ter visto aquilo há algumas semanas atrás o tomou.

— Eles voltaram! — Quase não ouviu sua própria voz. Um sibilo altíssimo tomou conta do reino. Apressou os passos na direção do castelo subterrâneo, utilizando uma rápida trilha para chegar lá. Precisava alertar aos guerreiros da chegada do mal. Olhou para a fenda mais uma vez e gelou com o que viu: Grandes Serpentes despencavam dali. Sempre que caiam, um pequeno tremor se instalava em baixo dos pés do humano-panda.

Foi na entrada do esconderijo que tudo desandou. Grandes rochas impediam a passagem, bloqueando qualquer tipo de acesso ao local. Segurando uma dinamite, o rapaz-rato, alerto pela primeira vez, virou-se para Kim, um sorriso cínico em seu rosto. Ele segurava um fósforo aceso, ao redor de vários pavios queimados.

— O que você fez?

— Apenas o que uma Serpente faria. Explodi tudinho, coloquei tudo para baixo. — O rapaz-rato gargalhou, depois ergueu os braços e toda sua pele se desmantelou, dando espaço a uma enorme Serpente amarelada, os olhos avermelhados, erguidos para o céu. Ela continuou:

— Meus amigos chegaram para o banquete final.