Parola escrita por


Capítulo 18
Lar doce lar


Notas iniciais do capítulo

Ahoy marujos! Mil desculpas pela demora, como sempre, mas espero que gostem do capítulo de hoje. Chega de enrolar, finalmente estamos em Tortuga! Pra comemorar, nada melhor que uma garrafa de rum, certo? https://www.youtube.com/watch?v=nzcv5TJkJBA



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Alguns minutos se passaram desde a última vez que o estranho prisioneiro falou. Com o coração pesado pelas memórias, o remorso, o arrependimento e as saudades da irmã, Túlio hesitava em confiar no desconhecido. Afinal, como ele poderia saber o que Túlio havia feito? De que maneira tal ato poderia ser compensado?

Entretanto, talvez por influência do escuro, do mal cheiro e da fragilidade, alguma coisa dentro de si o inspirava a arriscar. Em meio ao frio que assolava sua alma, uma chama brotou. Inicialmente, era pequena e fraca, quase fria. Mas algo dentro de si alimentava esse fogo, que crescia e brilhava, explodindo em vida e conforto. Era uma chama de esperança, acendida pela proposta de Owen.

Seus olhos se adaptaram à escuridão e ele analisou o homem que o encarava, aguardando pacientemente por uma resposta. Seus olhos azuis pareciam inchados, talvez por choro, mas seu rosto estava mortalmente seco. Seus cabelos loiros tinham uma aparência suja, cobertos por uma espessa camada de oleosidade e sujeira. Uma grossa barba cobria seu rosto que, embora jovem, era marcado por olheiras e sulcos, resultantes das condições precárias em que vivia.

Lembrou-se dos primeiros dias no navio. Seria aquele o prisioneiro de quem Maya havia lhe contado? Endireitou sua coluna, de modo que pudesse encarar Owen nos olhos. Ee havia conhecido Maya, sabia do seu segredo. De repente, algo pareceu mudar entre eles. Sentiu como se houvesse uma conexão viva e intangível, pulsante, entre Owen e sua irmã.Procuro pensar como Maya. O que ela faria em seu lugar?

– Você tem um plano?– Túlio perguntou, sua voz era firme.

– Você já se imaginou como capitão?– Owen deu um sorriso amarelo. Algo estava sendo tramado em sua mente e Túlio agora fazia parte disso.

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O navio se aproximava de Tortuga. Entretanto, uma parada fez-se necessária. Um conjunto de doze minúsculas ilhas se alinhava em uma meia lua, separadas entre si por cerca de 2 quilômetros. Cada uma delas possuía apenas uma grande árvore. Suas raízes cobriam grande parte da terra, seus troncos eram escuros e suas folhas superiores eram douradas, enquanto as inferiores tinham um escuro tom de verde. A menor delas era a ilha do meio.

Presos entre os galhos da árvore haviam peixes que, ainda vivos, se debatiam, na vã expectativa de retornarem ao mar. Isso indicava que, instantes antes, a ilha havia estado submersa Mas a agonia dos peixes não se comparava à de Benjamin.

Ele estava jogado sobre as raízes, tinha areia em seus ferimentos de luta, seu sangue tingindo a praia. O sol escaldante fustigava-lhe o copro nu. Seus pés e mãos haviam sido amarrados com velhas cordas grossas. Gemia por falta de forças para bradar maldições àqueles que lhe fizeram tal mal. Pensou em seu pai, em Owen e no seu plano. Pensou em Maya. Ela estava morta e ele não pode fazer nada para evitar que isso acontecesse. Em breve se juntaria a ela. Com a sorte de Owen, não tardaria até que os três se encontrassem no baú do David Jones. Esse seria o fim da história. Talvez esse fim já estivesse selado no momento em que fizeram o Pacto. Talvez fosse só coincidência.

Tentou organizar os pensamentos, mas até mesmo isso era tarefa árdua naquelas condições. Gaivotas voavam até a árvore, capturando os peixes, mortos em agonia. Abriu vagarosamente os olhos e a luz do sol ofuscou-lhe a vista. Observou meticulosamente tudo o que seu limitado campo de visão abrangia. Além de algumas das ilhas do conjunto, Benjamin notou que, ao longe e quase imperceptível, um braço de terra estendia-se sobre o mar. O lugar onde estava deveria fazer parte de uma rota para Tortuga, uma menos conhecida.

Repassou em sua cabeça todas as rotas que já havia feito e também as que só conhecera através de mapas. Doze ilhas, dispostas em semi-circulo. Ele sabia que reconhecia isso de algum lugar, mas não se tratava de um mapa ou carta. Ele havia estado ali antes.

☠☠☠

Trad mal podia acreditar nos últimos acontecimentos. Seu amigo Diego na verdade era mulher, isso soava como devaneios de loucura! É fato que, quando chegasse à sua taverna preferida, ele teria a melhor das histórias para contar. Mas, uma parte de si estava triste pelo que aconteceu. Mesmo tendo mentido para todos, Diego– ou Maya– havia sido uma ótima companhia. Nem mesmo a deliciosa sensação de finalmente pisar em terra firme o fez esquecer-se dela. Trad era um rapaz que, embora brincalhão e bem humorado, tentava agir com responsabilidade, cuidar do irmão, por isso não entendeu muito bem a atitude de Túlio.

Po atirou-se do navio antes mesmo que este aportasse. Nadou até o porto, sentindo a água gelada lavar todo o cansaço físico e mental dessa temporada à bordo. Po emergiu tirando os cabelos dos olhos, um grande sorriso estampado em seu rosto.

O porto estava cheio de pessoas, homens, em sua maioria. Eles vendiam escravos, especiarias, roupas, peixe e outras coisas trazidas pelos diversos navios que aportavam ali. Barris, caixas e pacotes eram trazidos e levados para dentro das embarcações. As pessoas falavam alto, o cheiro era desagradável mas confortador. Ele significava que, mesmo que por pouco tempo, eles estavam em casa. Ainda que eles não fossem nascidos em Tortuga, com o tempo um pirata é adotado por essa terra que, generosa como uma mãe, recebe bem todos os seus filhos.

O rapaz abriu um sorriso largo ao ver uma fila de mulheres chamativamente vestidas acenavam para os marinheiros que desciam de seus navios. O sol se punha e os candeeiros a querosene começavam a ser acesos. As pessoas falavam alto, riam e gritavam com uma euforia que só a segurança daquela ilha poderia oferecer.

Construções tortas de dois ou mais andares emanavam luzes, sons e cheiros que fizeram o estômago de Po contorcer-se. Qual havia sido a sua última refeição de verdade? Há quanto tempo não tocava uma mulher? Lembrou-se de Maya, mas logo afastou o pensamento. Não queria se deprimir. Ele só teria dois dias e queria aproveitá-los como nunca antes.

O Sangue da Rainha do Mar aportava na ilha. Todos que passavam por ali pararam para contemplar o lendário navio de velas vermelhas. Todos certamente haviam ouvido falar nele. A perdição dos sete mares, o terror dos navios mercantes, a morte sobre a água. Rumores sobre seu temido capitão eram espalhados, sussurrados com desconfiança.

Trad saiu do navio com os olhos brilhando de excitação. Contemplou a ilha por alguns instantes. Depois de tanto tempo em alto mar, aquilo parecia uma miragem. Encontrou o seu irmão, que já cochichava algo no ouvido de uma das prostitutas.

– Volto mais tarde.– Ele disse a ela, que assentiu, corando levemente.

Juntos, os irmãos rumaram para Miss Roberta, uma das tavernas mais conhecidas da ilha.


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Notas finais do capítulo

É isso galera, espero que tenham gostado, muuuuuuuuito obrigada por terem me acompanhado até aqui! Atingimos juntos os 200 comentários e eu quase morri de felicidade! Será que chegamos aos 300? Haha, valeu pessoal!