Parola escrita por


Capítulo 17
Descanso


Notas iniciais do capítulo

Ahooooooooy marujos! Preparem seus coraçõezinhos, peguem seus lenços e potes de sorvete, porque hoje vai ser um dia triste D: Ah, pra quem ainda não entrou no nosso grupo do whatsapp e quiser entrar, é só me chamar aqui, ó: +553891732956



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Maya se viu caindo, e, impotente, só percebeu o que havia acontecido uma vez que seu corpo tocou a água gelada. Abriu a boca para gritar, mas a grande quantidade de água salgada que entrou pela mesma a fez tossir. Suas costas queimavam e, embora ela não soubesse ou tivesse forças para nadar, seu corpo se debatia. O pesado vestido verde a puxava para baixo, se enroscava em suas pernas e limitavam seus movimentos. O colar só piorava sua situação, arrastando-a junto consigo para as entranhas escuras do oceano. Seus olhos mal podiam se manter abertos. Ela havia sido traída pela pessoa que mais amava. Era esse o fim de sua vida. Seu último suspiro escapou em um turbilhão de bolhas. Túlio a havia protegido por anos, garantido sua sobrevivência. Mas agora, à luz da lua e sob os olhares cortantes de dezenas de homens, ele havia a entregado direto nos braços da morte. A garota aceitou o seu destino, deixou-se ser arrastada para as profundezas do desconhecido. Seus pulmões protestavam, sedentos por oxigênio, e seus braços e pernas enrijeceram. Seus olhos ficaram opacos, logo antes de se fecharem. Maya finalmente descansou.



☠☠☠

Mesmo após a maioria dos homens ter se retirado,Túlio permaneceu em pé no mesmo lugar, seus braços estavam colados ao corpo e sua expressão rígida dos últimos dias havia sido desfeita. Os ombros curvados, a cabeça baixa e os punhos cerrados evidenciavam o que se passava em seus pensamentos.

No momento em que o corpo da irmã tocou a água foi como se um zumbido ensurdecedor tivesse cessado. O cheiro almiscarado que vinha sentido foi embora, deixando apenas a brisa marítima fazer cócegas no seu nariz. Seu rosto estava petrificado em uma expressão que misturava pavor e ódio. Suas sobrancelhas não disfarçavam o arrependimento e os seus olhos dourados, que haviam recuperado o seu calor, estavam molhados pelas lágrimas que desciam-lhe o rosto. O sangue da irmã ainda empapava-lhe a camiseta, seu cheiro ainda em seus braços.

Túlio encarava a água turva abaixo de si, imaginando um par de olhos verdes que o observava, reprovando sua atitude. Ela havia confiado nele, confiado cegamente como só quem ama pode confiar. Mal podia acreditar no que havia feito, mas os vestígios da irmã lembravam o a cada segundo do que havia ocorrido.

Como ele pudera ser tão egoísta? Tão cego. Túlio foi enganado e agora pagava o maior preço possível. Em tão pouco tempo ele abriu mão da única coisa que possuía. A mais valiosa de todas. Maya agora era memória. Sua vida havia chegado ao fim precocemente e a culpa era dele. Culpa essa que seria um fardo em seus ombros: ele a carregaria para sempre.

Pensou em todos os momentos que viveu junto dela. A infância difícil, as brigas e os momentos em que um bastava ao outro. Mesmo de estômagos vazios eles sempre tiveram os corações cheios e, por uma ambição tola, ele havia feito o dela parar de bater.

As lágrimas grossas trouxeram consigo soluços. Ele não se importava de chorar em frente ao capitão, que o observava a uma certa distância. Túlio queria que o capitão tivesse o mesmo fim que a irmã teve. Ele a havia torturado friamente. Um arrepio percorreu sua espinha ao se lembrar dos gritos de Maya ao receber as chicotadas.

O capitão caminhou calmamente na sua direção, colocando um braço ao redor de seus ombros. Ele parecia orgulhoso do ato hediondo do jovem. Túlio se afastou, nauseado pela proximidade com o homem que havia condenado sua irmã. Um pensamento rápido o lembrou de que, embora Casto tenha castigado Maya, o próprio Túlio havia matado-a.

Casto sorria, pretensioso.

— Eu sabia que você era capaz.— Soou a voz áspera, acompanhada da tosse característica. Túlio deu as costas a ele, caminhando em direção à sala das armas.

Yo ho, onde você pensa que vai, rapaz?— O capitão perguntou, colocando uma mão no ombro do seu subordinado.

— Não podemos ignorar o fato de que você infringiu as determinações do Código ao esconder sua irmã. Mas, graças ao seu ótimo trabalho de hoje, sua pena não será tão severa quanto a do flautista.— O capitão soou desinteressado, embora um brilho estranho se destacasse em seus olhos. Aquele homem tinha prazer em causar dor.

— Flautista?— Túlio se lembrou de Benjamin tentando defender Maya. Zaki havia o espancado até perder a consciência.— O que você vai fazer com ele?

— Bem, estamos quase em Tortuga. Temos muitas ilhas temporárias nessa época do ano. Desertas. Nunca se sabe quanto tempo elas vão durar. Dias, meses. Pode ser que ele morra antes que a água chegue aos joelhos, você sabe, um homem dura pouco sem água ou comida. E o sol. Ah, o sol. Pode levar um homem à loucura em poucas horas.

Benjamin seria deixado para morrer em uma ilha temporária. Túlio tremeu, qual seria o seu castigo?

— E quanto a mim?

☠☠☠

O porão era sujo e abafado. O cheiro de putrefação enchia as suas narinas e alguns ratos se esconderam à medida que a luz do candeeiro se aproximava. Túlio viu uma figura esquelética de barba e cabelos loiros. Um par de vítreos olhos azuis o encaravam,vasculhando sua alma com o olhar. Zaki pareceu surpreso ao ver o homem loiro, mas não disse nada. Túlio não ofereceu resistência quando foi obrigado a sentar-se ao lado do prisioneiro. Suas mãos foram algemadas e o candeeiro foi apagado. Zaki foi embora, batendo a porta atrás de si.

Casto dissera que Tortuga era o paraíso dos piratas. Uma chance passageira de pisar em terra firme. Muitos passavam os dias no mar pensando em comida de verdade, bebida de qualidade e mulheres. Dois dias em Tortuga sempre precediam dois meses no mar. Talvez mais. O castigo de Túlio seria a privação de terra firme. Ele passaria dois dias preso ali, sem ver a luz do sol. Sozinho com sua consciência. E também com o prisioneiro.

— Você foi o principal culpado.— O homem loiro disse, sua voz fraca falhava.— Mas há uma forma de se redimir.

Estaria ele se referindo ao que aconteceu com Maya? Como ele sabia disso? Quem era aquele homem e porque ele estava no porão? Mil perguntas inundaram a cabeça de Túlio. Como ele poderia um dia se redimir por algo tão terrível?

— A propósito, me chamo Owen.


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Notas finais do capítulo

É isso, marujos e marujas, espero que tenham gostado, semana que vem tem mais! MUITO OBRIGADA, GENTE