A luz de uma das luas de Asgard batia levemente em minha bochecha direita. Meus olhos estavam um pouco inchados, e ardiam. Eu mordia o lado de dentro da minha bochecha, enquanto meus olhos estavam focados na paisagem que a posição da casa nos proporcionava. Aqui era realmente... magnífico. Digno de deuses, eu admito. As estrelas brilhavam no céu escuro como eu nunca havia visto da Terra. Não havia só uma Lua, mas sim milhares e isso só tornava tudo mais belo.

Eu só acordei quando chegamos na casa. Não sabia, e nem queria saber, como chegamos aqui. Só sei que estava tão chocada com tudo que havia acontecido que nem me importei de estar no colo de Loki, e muito menos de ele não ter me colocado no chão quando percebeu que eu acordei. Devin estava comendo alguma coisa, e Loki no próprio quarto.

Eu... estava sentada nas escadas da varandinha. A casa era de um marrom escuro, e um andar. Arrumada, e tinha dois quartos extras, mas só o dele havia um banheiro próprio, o que faria eu e Devin termos que entrar em um acordo. Mas eu não me importava com isso. Nem um pouco.

A cena da morte de Chloe ficava repetindo em minha cabeça como um filme em câmera lenta e no replay. O som do tiro ainda ecoava em meus ouvidos, como se eu ainda estivesse lá, a menos de cinco metros da irmã no meu melhor amigo, que estava morta por minha culpa. Minha culpa. Ela estava morta por minha culpa.

— Não foi sua culpa, você sabe né? — ouvi a voz de Devin perguntar atrás de mim. Nem me mexi — Davina?

— Hm — resmunguei, apoiando o queixo nos joelhos. Senti ela sentando do meu lado, mas mesmo assim não me virei para olha-la.

— Você sabe que não foi sua culpa, né? — insistiu, e eu suspirei, virando meu rosto levemente para ela.

— Não adianta, Devin. Foi minha culpa. Se eu não... se eu simplesmente tivesse mantido a minha boca calada, nada disso teria acontecido e Cameron ainda teria sua irmã — falei, fechando os olhos com força e respirando fundo — Ele deve me odiar agora.

— Se eu bem conheço o Cam, D, ele nunca lhe odiaria. Ele se importa demais com você para isso — ela tentou ajudar, passando os braços em minha volta. Eu apertei mais ainda os olhos.

— Talvez este seja o problema — minha voz não saiu mais alto que um sussurro — Essa... confiança toda que Cameron tem em mim. Ele não devia fazer isso. E, agora, ele tem todos os motivos do mundo para acabar com isso de uma vez por todas.

— Davina, pare de ser tão dura com si mesma! — Devin brigou, e eu me encolhi. Eu podia ser a mais velha, mas ela era definitivamente a mais responsável de nós duas — Você sabe, desde o momento em que você ficou sabendo que Fury estava com ela, ela iria morrer. Você sabia Davina, então pare de se culpar por tudo que acontece a sua volta!

— Como você conhece Loki? — mudei de assunto. Se existia alguém mais cabeça dura e insistente que eu nesse mundo, era definitivamente Devin.

— Davina, não tent... — ela começou, mas eu a cortei.

— Como vocês se conheceram? — reforcei, abrindo os olhos e encarando-a. Ela suspirou, olhando para a paisagem também.

— Ele veio me procurar, há alguns meses atrás — começou — Eu já sabia que não era normal, mas... O que ele me disse parecia ser...

— Impossível — completei, me lembrando que pensei a mesma coisa.

— É — riu baixinho — Mas, de algum jeito, eu sabia que era verdade... Aí ele me fez uma proposta.

— Destruir a S.H.I.E.L.D. —deduzi, sorrindo amarga — E não é que o Traquinas pensou mesmo em tudo...

— Quem? — indagou confusa, franzindo as sobrancelhas. Eu ri baixinho.

— Não importa, eu só... Estou feliz de você estar aqui — falei, olhando para ela. Ela sorriu. Eu sentia falta desse sorriso.

— E eu estou feliz por estar aqui — respondeu, se virando para mim. Eu suspirei e me levantei — Onde você vai?

— Tomar um banho — resmunguei, mostrando meu cabelo para ela — Isso aqui está mais para vassoura do que cabelo.

Ela gargalhou e eu ri baixinho, entrando na casa. Minha mochila continuava em cima do sofá, onde Loki havia colocado. Abri ela e peguei uma blusa xadrez de abotoar e um short jeans preto. Minha expressão se transformou em uma careta. Eu já estava começando a sentir falta do frio de Nova York.

Eu fui direto até o banheiro e tranquei a porta atrás de mim. Demorei quase uma hora no banho. Eu precisava pensar, e não tinha lugar melhor para isso. Encostei minhas costas na parede e escorreguei até o chão, abraçando meus joelhos, deixando a água escorrer pelos meus ombros e cabelo. Eu deixei as lágrimas saírem junto com a água. Eu fiz uma promessa a mim mesma: Eu não deixaria mais ninguém morrer por minha causa. Chega. Essa era a última vez que eu causava a morte de alguém ou eu não me chamava Davina Grace Clairemont.

✷

— Não estou com fome — avisei, assim que Devin abriu a porta do “meu” quarto.

— Davina — ela repreendeu, mas eu continuei olhando pela janela.

— Eu não estou com fome, Devin — repeti.

— Sério? De verdade? Você vai fazer assim agora? — ela perguntou entediada e eu sorri debochada.

— A verdade dói — falei sarcástica e ela suspirou, batendo a porta novamente. Eu desviei meus olhos para a minha mochila no canto do quarto. Dane-se. Eu já estava toda fodida do mesmo jeito, não tinha como piorar. Levantei da cama e andei rapidamente até ela, tirando uma tesoura e a garrafa lá de dentro. O “IMPERIA” estava escrito em vermelho sangue e com destaca horizontalmente na garrafa de vodca. Eu peguei a tesoura e cortei o lacre, jogando ele para o lado.

Eu queria alguma coisa que não me fizesse pensar, que não me fizesse raciocinar em toda a merda que tem acontecido em minha vida. Então... Porque não?