Seus olhos, agora de uma cor topázio, o fazia diferente de qualquer outro, o tornava fácil de ser percebido mesmo em uma multidão, havia um brilho que talvez outros não conseguissem explicar. Outros diferentes dele não conseguiriam explicar.
Piscou os longos cílios uma e outra vez como se a cada piscadela a cor pudesse se modificar. Nada. O tom continuava ali, aproximando-se do tom âmbar, ainda assim, ele era diferente.
Abaixou a cabeça, num ato já tão costumeiro, e seus olhos se depararam com a marca no pulso, a cicatriz – pequena –, e proposital, que continha os riscos pretos, que não pareciam ter sentido algum, mas que para ele tinha o sentido mais amplo de todos. Os contornos pretos enlaçavam-se até parecer uma asa – liberdade – e o enlace era forte, quase sem buracos – força – no tom preto que tanto o agradava – solidão.
Três significados resumindo tudo, e por tudo Edward evidentemente se referiria a si mesmo.
Esticou o braço pegando o livro que havia sido largado ao lado do sofá, folheando uma folha após a outra, aquele que falava sobre amor.
O ambiente escuro o escondia da realidade lá fora, mas Edward não tinha certeza do que realmente se escondia, havia tanto lá fora, tanta coisa a se temer, tanta coisa a se apaixonar.
Paixão. Apaixonar-se. Medo.
Tudo poderia se interligar tão fácil e, Edward tinha noção disso – precaução – porque do amor, surgem às piores feridas... As feridas mortais.
E as feridas mortais seriam as piores, na pior das situações... Mas Edward encontrava-se em uma situação ainda pior. Não havia o que ser morto.
Continuou a folhear, uma história que contava-lhe sobre sonhos, sobre utopias – coisas impossíveis. Soltou um suspiro frustrado demonstrando que não acreditava naquela história, porque página após página a autora havia deixado explicito que, no fim, tudo acaba acontecendo por obra de Deus através da fé, porque a menininha provavelmente havia sonhado demais, desejado demais com seu príncipe encantado e a realização de seus sonhos, até que eles se tornaram reais – porque Deus quis assim.
Mas Edward não tinha fé. Ele não acreditava em Deus.
Não havia no que se acreditar.
Mas ainda assim não havia motivos o suficiente para desistir, nem para reduzir o sentimento maléfico que o corroia internamente enquanto se questionava do porque daquilo, do porque com ele.
Só perguntas sem resposta.
Mas quando não se há fé, em que você se apega?
A pergunta do milhão, certamente, Edward fechou os olhos desejando encontrar a resposta, mas ela certamente não apareceria tão facilmente.