Like a Romance escrita por thysss


Capítulo 3
Segundo




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O soro corria até sua veia, nutria-a, o monitor silenciosamente oscilava conforme seus batimentos perdiam o ritmo, não havia nada de melódico ali, apenas o Tum Tum repetitivo num quarto branco. Claro. Enquanto seu corpo inerte repousava sobre a cama fina, nada macia, causando o desconforto. O ambiente era frio, o lençol era fino e o machucado em sua mão a incomodava visivelmente, os poucos pontos que havia levado. O calor era forte, mas o hospital parecia simplesmente não absorver o calor que se fazia lá fora, seu corpo arrepiava com a mais fraca das brisas, mas ela já havia se acostumado com isso.

         Ao lado a bandeja intacta, a comida não possuía gosto, não a satisfazia, e mesmo assim seguia viva. Após mais um acidente, mais um machucado, ela seguia viva. A vida mostrando-lhe quão resistente podia ser, ou desafiando-a até perceber realmente quão longe Isabella poderia chegar, até onde ela aguentaria.

         Um desafio, realmente, mas sorrateiro, silencioso, porque ninguém em sã consciência aceitaria ver até onde é capaz de aguentar. Então a vida vem mostrando que o corpo não é apenas um nada, não é oco, e mostra também que é preciso fazer coisas, ultrapassar limites para seguir em frente, até que ponto vale a pena viver?

         A morte é fácil, a vida é que é difícil. A vida é que a desafia, a testa constantemente. Pôs então Isabella havia acabado de ganhar mais uma estrelinha para sua coleção, uma estrelinha dourada simbolizando sua vitória, porque ela havia vencido mais um dos desafios da vida.

         Seus olhos permaneciam fechados, mas as lembranças fluíam, facilmente, sem interrupções, assim era simples, a noite corria lá fora e ela não tinha a menor noção de tempo, todos dormiam, ninguém a incomodaria. Com olhos firmemente fechados negava-se a encarar a claridade do dia, do ambiente, da vida. Escuridão, tudo parece mais confortável no escuro, acomoda-se melhor.

         - Mamãe! Eu quero uma estrela – ela havia pedido, quando tinha cinco ou seis anos, sorridente, para a mãe, ela queria uma estrela.

         Desde então a vida vinha lhe dando estrelas, testes fáceis para realizar o desejo de uma garotinha. Mas Isabella não era mais uma garotinha.

         O sonho, o sono, a inércia, tudo se confundia, um misto completo, mas uma hora tudo se separa, divide-se novamente, e essa hora estava chegando, ela teria só de abrir os olhos.

         Mas é como a canção já dizia “I open my eyes, I try to see but I'm blinded by the white light. I can't remember how, I can't remember why, I'm lying here tonight.”

         A claridade incomodava e novamente ela veio perceber que a escuridão era mais fácil, mas o fácil nem sempre é o melhor. O branco em excesso a fazia piscar repetidas vezes até, finalmente, acomodar-se com o tom do ambiente, depois vinha em sons, o silêncio daqueles poucos dias sendo substituído pelo som, inconfundível, da voz de seus pais, e mais alguém, claro, o marido de sua mãe. Os três ali, encarando-a e Isabella soube que era hora de voltar para a realidade.

         - Vai ser melhor para você ficar por lá – Renée falava repetidas vezes, dando a entender de que ela mesma precisava confiar em sua palavra.

         - Eu sei – Isabella respondeu sentando-se na cama, seu corpo protestou depois dos dias deitada, mas aquilo não era nada.

         - Phoenix tem se tornado tão perigosa nos últimos anos – Renée lamentava-se em seu canto, quase desolada enquanto Phil a abraçava, ele conseguia suportá-la até em seus momentos de crise. – E nós temos viajado tanto, sim, é melhor você ficar com seu pai.

         Isabella fechou os olhos desejando voltar a dormir, assim tudo pareceria menos repetitivo do que em verdade já era e mais fácil, e não teria de encarar a realidade, porque sua realidade agora era mudar-se, sair do lugar que há anos era sua casa, seu ambiente pessoal, e ir para outro, como uma intrusa.

         Ai que surge o dom de fazer qualquer lugar nosso, ela só precisava de tempo.

 

         Tudo era questão de adaptação, mesmo o clima sendo frio até fazer seu nariz entupir, e a neve caísse quase que constantemente, gelada e molhada dificultando a passagem pelas ruas curtas e quase desnecessárias se fosse considerar realmente a distância entre um ponto e outro. Poderia chamar Forks de vilarejo e ainda pareceria que estava sendo generosa. Mas agora não importava porque sua chance de voltar atrás havia ficado, literalmente, para trás, há quilômetros atrás, e agora não havia nada que pudesse fazer, mas tinha de confessar que aquele lugar estava parecendo um pouco mais degradado do que Isabella havia imaginado.

         Ou talvez fosse apenas seus olhos, porque algo não se encaixava, crianças brincavam no pequeno parquinhos parecendo empacotadas dentro de casacos pesados, mas ainda assim elas sorriam, então, algo estava errado. Elas estavam felizes, talvez o problema fosse mesmo com seus olhos.

         A casinha de Charlie, seu pai, parecia um pouco diferente de suas lembranças, talvez pelo jardim pequeno que havia crescido na parte da frente e o caminho de pedra que havia sido posto, ou pela pintura branca impecável, por enquanto, que ele havia dado na casa. De qualquer jeito, não havia do que reclamar, pelo menos teria onde ficar e já era suficiente.

         Teria onde se proteger da neve.

         O quarto era pequeno, mas o suficiente, e possuía dois cobertores sobre o colchão, ótimo, odiava passar frio.

         - Eu acho que tem tudo que você precisa – Charlie disse largando a mala ao lado da cama, ao menos teria algo para ocupar seu tempo. – Se você precisar de alguma coisa eu estarei lá embaixo.

         Isabella lhe respondeu com monossílabos, não era preciso mais que isso, Charlie entendia com facilidade. Bom para ela, ou para ele. Largou a mala aberta onde estava e se aproximou da janela de seu quarto que dava para os fundos, uma floresta parecia estar chegando cada vez mais perto, o silêncio reinava ali, as árvores cresciam sorrateiramente para que alguém só se desse conta donde elas já atingiam quando não pudesse fazer mais nada sobre isso.

         Em sua mente milhares de ideias, escapes, e todos acabavam ali, naquele mato. Não. Já havia testado demais sua própria capacidade de sobreviver a acidentes, e floresta com árvores e muitas raízes... Certamente não era a melhor das ideias.

         Pelo menos ela sabia onde poderia testar a vida novamente, dar o troco.


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Notas finais do capítulo

n/a: espero que gostem, e não esqueçam dos reviews!



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