The Mistake Of Chris escrita por Realeza


Capítulo 14
An unsent letter and lament don't change anything


Notas iniciais do capítulo

*Uma carta não enviada e lamentar não muda nada.
Música: The a Team - Ed Sheeran - Edit 05/04: Coloquem Lay me down - Sam Smith, acho que combina mais com uma das cenas.
I'M BACK!
Olá, como vão? Depois do choque do final do capítulo anterior, eu estou de volta. É gente, fiz a Emma sofrer ~um poquinho~. Quer dizer, tecnicamente falando, ela que fez algo a si mesma. Pra todos que sofreram junto com ela, minhas sinceras desculpas ~or not~.
Primeiro: foca na bad que é a música desse capítulo. Todo mundo preparando os corações? Tem carta bem da bad (que pode dar pista sobre o Objetivo Final) e cena de Challie, além de um final mais felizinho do que todos esperam.
Minhas aulas voltaram nesse ultimo mês, e junto com o tempo livre, a inspiração foi embora. Estou parada numa cena a um bom tempo, mesmo que eu já tenha tentado desenvolvê-la de milhões de formas diferentes. Lidar com a esquizofrenia do Chris na história é bem hard.
Também não estou sabendo lidar com o abandono de alguns leitores. Me perdoa sobre qualquer coisa e não desiste de mim ♥



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Querida Hannah,

Já são quase duas da manhã, então tecnicamente já é domingo. Não consigo dormir. Perguntei a enfermeira que apareceu a meia-noite para uma vistoria se eu poderia ver a Dra. Lee, e ela me negou. Disse que ela estava ocupada com um imprevisto. Também acho imprevisível que alguém tente se matar no próprio aniversário. Droga, droga, droga. Não quero mencionar nada disso pra você mas simplesmente não consigo dormir e não consigo não te escrever porque meio que estou desesperado, e fazendo um rápido retrospecto, você que sempre me acalmava.

Uma garota tentou se matar. No próprio aniversário. Num maldito piquenique. Puta merda, Hannah. Não consigo nem escrever sobre isso. Puta merda. Não paro de olhar o tempo todo pela janela do quarto, meio que esperando ver a mancha de sangue empapado na grama daqui, mas felizmente está fora do meu campo de visão.

Não quero te enviar isso porque estou parecendo desesperado demais e desamparado demais. Eu ainda tenho o Objetivo Final.

Talvez a garota tenha morrido. Não consigo parar de visualiza-la morta. Não consigo parar de pensar que eu mesmo poderia ter feito aquilo, de cortar os pulsos. Não é como se eu nunca tivesse pensado em suicídio antes. Não é como se cada parte do meu ser não gritasse desesperadamente para que eu me mate quando estou num Dia Ruim.

Acabo de decidir que já escrevi coisas demais que atrapalham o Objetivo Final, então não posso mais enviar a carta.

Droga.

Hannah, o que você faria se eu me matasse? Ainda me amaria? Uma parte de mim precisa que você me ame apesar de qualquer coisa.

Se eu fechar os olhos, consigo me ver morto com bastante clareza. Jasper não teria mais o hospital para pagar. Steve poderia ter uma vida mais normal sem problemas do passado e sem um irmão problemático.

Você ganharia ou perderia alguma coisa com isso? Fico pensando que, ao mesmo tempo que os pais da Emma podem perder uma filha (a qual eles não dão a mínima, vale dizer), ganharão a satisfação de menos um peso na vida.

Essa ideia de que as pessoas têm mais a ganhar do que a perder com a morte das outras me assusta e me faz ter vontade de me matar pra valer.

Queria que estivesse aqui pra me dizer que isso não é verdade. Queria que estivesse aqui pra me fazer sentir bem. Queria que estivesse aqui pra me dizer que você só teria a perder caso eu me matasse. Quero ser importante pra alguém, porra. Por mais que parte de mim tenha total ciência da insignificância humana perto de tantas outras coisas, eu ainda preciso disso. Não consigo me conformar que todos nós estamos jogados no mundo e ao acaso, e ainda por cima não nos importamos uns com os outros. Talvez seja por isso que acredito em Deus.

Tenho realmente que parar de querer coisas que não posso ter. É uma frustração eterna.

Não faço a mínima ideia do que posso fazer com essa maldita carta, já que não a enviarei. Talvez agora o exercício da Dra. Lee de escrever as cartas e guarda-las parece fazer algum sentido, e não só se resumir a uma coisa estúpida e sem nexo.

Com amor,

Chris.

Estou me sentindo péssimo e não consigo deixar de me sentir péssimo.

Callie não apareceu por aqui, e não me deixou entrar quando fui no seu quarto. Só respondeu que, quem quer que fosse, ela não queria ver. Então simplesmente voltei para o meu quarto.

As luzes estão apagadas e encaro a parede sem desviar o olhar. Terminei de escrever a carta e voltei a mesma posição anterior. A cena do piquenique se repete mil vezes a minha frente, e não adianta fechar os olhos. Pedi a um enfermeiro que me desses remédios para dormir, mas ele negou. Disse que eu vou ficar viciado nessas coisas, e não adiantou nenhuma explicação de que eu quase nunca os tomo.

Não sei se Emma está viva. Só gostaria de saber, pelo menos. Odeio essa incerteza. Odeio que minha mente viaje em visões de uma Emma-cadáver deitada sobre uma mesa metálica ou uma Emma ligada a máquinas e fios e tubos, num quarto branco e com os pulsos costurados combinando com a pulsação exibida na tela ao lado.

Me imagino morto novamente. Acho que deveria mencionar isso para a Dra. Lee na próxima consulta, não me parece um sinal de uma melhora rumo a sanidade mental. Me vejo na mesa metálica do necrotério com os pulsos cortados. Ou uma boa marca de enforcamento no pescoço. Não, realmente, não vou me enforcar, não depois de ver minha mãe ter vivido com marcas vermelhas como colares de rubis no pescoço durante tantos anos. Não gosto de rubis.

Me levanto e decido que vou até o quarto de Callie, porque não consigo dormir pensando em todo o sangue empapado na grama e em como o corpo dela tremulava bruscamente a cada soluço. Não consigo parar de me ver morto. Não consigo parar de pensar no seu rosto marcado de lágrimas e no nariz vermelho e nos fios de cabelo loiro que grudavam nas bochechas quando saiu correndo para o próprio quarto assim que o enfermeiro soltou seu braço dentro do prédio. Por um segundo, penso se caso fosse eu naquele gramado, Callie ainda teria a mesma reação.

Ela não responde quando bato, e não tem nenhuma luz escapando por debaixo da sua porta. Não podemos trancar as portas por conta das vistorias dos enfermeiros, então seguro o trinco e o puxo para baixo. Empurro a porta devagar, e espio para o caso de que ela esteja dormindo. Não está.

Callie está sentada no chão com num quase completo escuro, salvo pela luz de um poste na parte externa do prédio que invade pela janela, sem que as cortinas brancas impeçam. O cabelo está uma bagunça e ela nem sequer trocou a roupa. Parece que está sentada desse mesmo jeito desde que entrou aqui correndo. Seus braços estão apoiados nos joelhos e as mãos estão estendidas para frente, em direção a parede. Ainda há sangue nelas.

Callie nem olha para mim, então entro e me sento a sua frente. De alguma forma, ela ainda não olha de fato para mim, e mantem o olhar perdido que me atravessa por inteiro e provavelmente se encontra voltado a uma garota com os pulsos cortados e uma pulseira de prata oculta pelo sangue. Ajeito uma mecha do seu cabelo que caia pelo rosto dela.

— Ela pode estar morta. — Não respondo. Não sei como responder porque essa realmente é a verdade. — Ou vai ganhar cicatrizes horríveis nos pulsos igual a mim.

Callie ainda não olha para mim, e o fato de que ela está em estado de choque me assusta um pouco. Desvia o olhar penas para encaras os próprios pulsos por um segundo.

— Precisa lavar as mãos, Callie. — Meu peito dói de vê-la assim e só quero que tudo isso passe num piscar de olhos. Toda essa vontade de morrer que certamente está dentro de mim, de Callie e mais ainda, de Emma.

— Não consigo. ­— diz, sem mostrar nenhuma emoção. — Não consigo nem mesmo levantar e tem sangue dela em mim, e naquela maldita toalha, e na grama! E ela pode estar morta! — Agora, ela grita histérica e recomeça a chorar. Pelo menos, é uma reação.

Me movo para o seu lado e a pego no colo, posicionando meus braços em suas costas e por baixo das suas pernas enquanto ela chora com o rosto escondido. Ergo e a sento em sua cama, recostada agora na parede. A última coisa que ela pode fazer nesse momento é manchar a parede creme de sangue.

Vou para o banheiro e umedeço uma toalha. Callie ainda está chorando, com a cabeça baixa, então começo a limpar suas mãos enquanto ela tenta reprimir os soluços. O sangue seco sai da pele de Callie e passa para a toalha branca devagar, no mesmo ritmo em que os soluços dela se acalmam.

— Não vai embora. — diz, num sussurro, quando faço menção de me afastar. — Por favor. — A deito na cama e me sento no chão ao seu lado, enquanto deslizo as pontas dos dedos pelas suas mãos, agora limpas, antes de entrelaça-las com as minhas.

— Callie, olhe para mim. Vou ficar aqui com você, ok? Até você ficar bem. — Respiro fundo, controlando minha própria vontade de chorar. Acaba comigo vê-la assim. Acaba comigo saber que Emma pode estar morta e que tudo está uma merda. — Lembra que me disse isso? Quando eu surtei e tal. Vou ficar com você, mas preciso que se acalme. — Começo a traçar círculos na palma da sua mão com o polegar e me aproximo ainda mais dela, deitando minha cabeça na cama ao lado da sua.

— É minha culpa. Se ela morrer, é minha culpa. — Ouço sua voz baixinho, e quero socar a parede do mesmo jeito que Steve fazia porque estou morrendo de frustração por Callie estar se culpando. Porra, não é culpa dela. E não é culpa de ninguém. Quero socar a parede porque Callie é a garota mais incrível que já conheci e não merece nem por um segundo isso aqui. Não merece nem por um segundo ficar com esses pensamentos idiotas, e eu fico imaginando o inferno que está se passando na sua mente enquanto eu não posso fazer nada. Não posso fazer nada porque tudo isso é devastador e eu nem sei como reagir, e no momento a única coisa quero fazer é fazê-la parar de chorar. Porque parece que é a única coisa que posso fazer além de voltar para o quarto e ficar lamentando mil coisas e pensando em Emma sem parar.

Aperto mais forte suas mãos antes de leva-las aos lábios várias vezes seguidas. Repito entre cada beijo que não, não é sua culpa, como se fosse algum tipo de mantra para que ela acredite porque não sei mais o que fazer. Quero tirar essa angustia de dentro dela nem que eu tenha que viver com isso, porque não consigo vê-la assim.

— Não se culpe por tentar, por favor. Callie, por favor. Precisa olhar para mim e dizer que vai ficar bem. Por favor, anjo. — Há um nó tão grande em minha garganta que dói ao dizer essas palavras, e elas saem entrecortadas. — Precisa me dizer que vai ficar bem porque, de verdade, não sei se consigo viver sabendo que não está bem.

Nesse momento me dou conta que, se fosse Callie naquele gramado hoje, eu estaria bem pior do que isso.

Ela não me responde, mas aperta forte minhas mãos. Continua chorando e seus ombros tremem. Sinto muito por Emma, pela reação de Callie e por mim mesmo. Sinto muito que coisas assim tenham que acontecer. Que nossas mentes e corações sejam tão devastados a esse ponto. Sinto muito pelo fato de parecermos que somos feitos de dor. Sinto muito que a angústia domine nossas cabeças a cada dia. Sinto muito pelo fato de que nem todos os remédios do mundo possam resolver isso. Sinto muito porque penso que Emma se mataria também com os remédios se pudesse, tomando quantas capsulas fosse humanamente possível. Só que sentir muito não muda porra nenhuma pela qual eu me lamento.

***

— Não mesmo, preciso ter a sessão hoje. — digo, quando na segunda a Dra. Lee diz que tem que adiar a minha hora para o dia seguinte.

— Chris, estou ocupada. É só por um dia, não é nada demais. — Ela junta uma pilha de papéis que estão em cima de sua mesa e procura coisas para que enfim possa sair.

— É algo com a Emma, não é? — Coloco uma mão apoiada sobre a mesa e a outra na parede, de modo em que sua passagem seja bloqueada. — Me fala como ela está e podemos adiar a droga da sessão.

A doutora respira pesadamente e me encara como se estivesse prestes a explodir.

— É tudo muito complicado, Chris.

— Só me diga se ela está morta ou não. — Meio que estou implorando porque essa incerteza está me corroendo a cada segundo. Só preciso saber. Preciso desesperadamente saber disso.

— Não consigo dizer. — Então ela me empurra com as mãos espalmadas no meu peito e sai em direção a porta.

— Não consegue ou não pode? — Ela procura algo dentro da bolsa bege e solta um suspiro de frustração. — Porque, sinceramente, podemos deixar toda essa burocracia de ser confidencial de lado, por mim.

Fecho os punhos por raiva e frustração quando ela apenas se vira e me lança um olhar de quem não vai dizer nada, e continua mexendo na bolsa.

— Você vai ficar bem, Chris. Não é como se fosse morrer por passar mais um dia sem uma sessão de uma falação que eu aposto que pra você não leva a lugar nenhum. — Ela sai para o corredor andando em passos rápidos, sem nem ao menos me esperar ou parar para fechar a porta.

— Na verdade, desde o Incidente do Piquenique, tenho pensando bastante em suicídio. — Paro de segui-la porque aparentemente consegui sua atenção. Ela se vira e volta alguns passos para me alcançar.

— Não está falando sério.

—Estou sim. Estava planejando te contar hoje na nossa sessão o quanto tenho me imaginado morto nos últimos dias. — A Dra. Lee havia agarrado meu pulso e agora o aperta com força. Não é um comportamento muito adequado para uma relação de médico com paciente.

— Eu realmente não posso ficar agora, Chris...

— Eu sei, vou tentar não me matar até amanhã. — Sacudo o pulso e ela o solta, mas não se afasta. — Só me fale como Emma está.

A doutora se vira e dá alguns passos antes de responder ao meu pedido.

— Estou indo para o hospital agora.

Fico parado no meio do corredor por alguns minutos tentando ignorar a parte de mim que se recusa a acreditar que isso é algo bom, afinal, ela pode estar indo para o hospital apenas a fim de liberar o corpo. Mesmo assim, ainda acredito na possibilidade boa.


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Notas finais do capítulo

(Como eu disse, estou sem inspiração pra escrever, viver e tudo mais que não seja apenas vegetar, então vamos a umas perguntas)
— O que esperavam da reação do Chris? E o que acharam do surto dele? Sei que muitos o consideram meio egoistas, mas na real todo mundo na vida é um pouquinho assim.
— Callie surtou horrores e Chris foi lá ajudar. O que esperam da relação dos dois, já que tivemos uma pequena inversão de papeis nos dois ultimos capítulos?
— Emma querida morre mesmo ou só alarme falso?
— Todo mundo comentou sobre Mike e Jeff, mas nesse capítulo nenhum dos dois apareceu. O que esperam deles nessa situação toda com a Emma?
— Têm dicas de livros que tratem de disturbios mentais ou coisinhas no tipo de TMoC? Li "A Sorte do Agora" mês passado e foi puro amor, então queria mais coisas do gênero.
É isso, obrigada por lerem e até mais ♥