The Mistake Of Chris escrita por Realeza


Capítulo 12
Divan, night attacks and an almost reconciliation talk


Notas iniciais do capítulo

*Divã, ataques noturnos e uma quase conversa de reconciliação
Musica: Hopeless Opus - Imagine Dragons
Olha quem ta aparecendo de novo. Hoje a fanfic faz 6 meses de publicada, e tenho que agradecer a todos vocês por tudo, desde as visualizações até as recomendações maravilhosas. Obrigada, de verdade.
Continuando com a falação de sempre, sinto muito pelas atualizações mensais. Eu realmente queria postar mais, but não ta dando. Minha criatividade anda meio escassa, fora que temos o agravante de que estou com problemas com o computador e o notebook nos últimos dias. Nem imaginam o trabalho só pra escrever essas notas, já que estou sem teclado.
Enfim, ano novo, vida nova e personagem novo. A ideia de criá-lo veio do review de um de vocês, então ta aí toda a importância dos comentários de vocês. Espero que gostem e nos falamos nas notas finais.



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Na segunda, estou na sala da doutora Lee. Ela é basicamente a única médica que cuida de mim pelo simples fato de que eu não me acostumei com nenhum outro. Seriam, ao menos, outros dois. Bem, a parte engraçada é que isso é um grande eufemismo. A verdade é que eu tinha medo dos médicos. Ao ponto de ficar procurando rotas de fuga durante toda a sessão. E possíveis armas caso fosse atacado.

Eu realmente ataquei o meu antigo psiquiatra. Duas vezes. Possivelmente o traumatizei e agora o cara nunca mais tratara de ninguém que tenha esquizofrenia. Da primeira vez, estava atormentado demais para pensar numa arma descente, e quando ele se aproximou de mim, simplesmente tentei jogar a estante de livros sobre ele. O caso é que a estante era presa a parede, então eu taquei os próprios livros. Um psiquiatra ser atacado com livros de psiquiatria é realmente engraçado. Eu deixei um olho roxo nele, e chegaram enfermeiros que levaram alguns minutos para conseguir me sedar porque eu simplesmente também os atacava com livros. O Dr. Morgan ainda foi corajoso o suficiente para tentar me tratar novamente, e eu o bati com o ferro da lareira. Quebrei uma de suas costelas. Foi definido que eu tenho tendências agressivas quando me sinto ameaçado ou atormentado.

Felizmente, eu nunca nem se quer pensei em atacar a Dra. Lee. Ela me irrita as vezes, mas não é do tipo em que eu me imagino afundando o crânio com a barra de ferro da lareira. Talvez também seja pelo fato de que não há uma lareira na sala dela. Em vez disso, ela possui diferentes tipos de sofás e poltronas. Pergunto-me se isso também não seria um sinal de um distúrbio psiquiátrico. A sala toda é uma bagunça de móveis que não combinam entre si, mas combinam com a bagunça na mente dos pacientes. Na minha primeira sessão, eu me sentei na poltrona azul marinho, porque simplesmente amo azul. Nesse momento eu estou deitado no tapete felpudo olhando fixamente para o teto.

A parte boa da Dra. Lee é que ela não faz mil perguntas de uma única vez. Ela é paciente comigo. Logo que começou a me tratar, me via todos os dias e fazia uma única pergunta, que eu deveria responder no dia seguinte. Com exceção da nossa primeira consulta, que foi bem na semana em que cheguei ao hospital, todas as outras foram suportáveis e não me davam vontade de sair correndo.

Desvio o olhar do teto e encaro a doutora. Ela está descalça e deitada no divã. E encara o teto. É a primeira vez que eu vejo uma psiquiatra e psicóloga que realmente tenha um divã. E que está deitada nele. Eu pedi para que ela não fizesse anotações na minha frente porque sinto que estão tramando contra mim, e descrevendo até mesmo o intervalo entre a minha respiração. E mesmo que saiba que assim que meus pés tiverem fora da sala e a porta fechada, ela vai anotar como uma louca, meio que é reconfortante que não faça isso na minha frente.

— A quatro semanas eu perguntei se você e a Callie tinham algo, e ela me respondeu que eram amigos. Ainda são amigos?

Estou olhando para os pendentes prateados do lustre e vendo que eles se balançam levemente quando entra uma brisa pela janela aberta.

— Somos.

— Só amigos?

— É.

— Soube que ela te ajudou no dia em que você teve uma crise.

— É. — Continuo olhando para o teto. Não sei em que ponto ela quer chegar com esse assunto, mas vou continuar com as respostas curtas.

— Gosta dela?

— Gosto.

— Só como amiga?

Isso é uma pergunta complicada, devo dizer. Se eu amá-la como irmã, isso quer dizer que não, não gosto dela só como amiga. Se eu disser que Callie é a mulher da minha vida, então também não, não gosto dela só como amiga.

— Pergunta complicada.

— Pode me responder semana que vem? ­— A Dra. Lee me encara, e mesmo que ela não esteja exatamente no meu campo de visão, sinto seu olhar me estudando. Me levanto e sento, ainda no tapete.

—Não sei quando poderei te responder. Nem sei se vou conseguir te responder um dia.

O caso é que sou uma bagunça. Seria bom dizer que tudo é somente por conta da esquizofrenia, mas sou uma bagunça desde sempre, então não é algo que nenhum remédio ajude, nem que possa ser trazido por enfermeiras que verificarão se eu realmente os engoli.

Não consigo nem mesmo ter plena ciência do que sinto. Callie é o perfeito exemplo, e o quanto ela está me bagunçando um pouco mais nas últimas três semanas. Agora nem sei mais como definir as coisas com ela. Puta merda.

— Mudar de assunto? ­— A doutora deve ter percebido os segundos em quem passei com o olhar perdido, e essa é simplesmente uma coisa que eu amo nela: que sempre tenta me deixar o mais confortável possível. Faço que sim com a cabeça e deito novamente no chão. — O que acha de novos amigos ou coisa do tipo? Você parece estar se dando bem com essa coisa de amizade.

Na verdade eu não estou me dando nada bem. Essa coisa toda de amizade tá ferrando com a minha cabeça, já que meus “amigos” parecem mais loucos do que eu. Aguentar Jeff surtando, a Emma sendo uma vaca emotiva, e fingir ser o filho do Sr. Hughes não é a melhor parte da minha vida.

— Não, obrigado.

— Por que?

— Na quinta, uma garota bonita me parou no corredor. Ela estava realmente procurando por mim, sabe. — Quase consigo sentir a pequena satisfação dela enquanto narro o fato. Verdadeiramente, é aí que percebo que a doutora é uma pessoa boa, afinal. Ela parece gostar do fato de que eu pareça estar melhorando. Talvez se decepcione com o Objetivo Final. ­— Descobri que era a namorada do Jeff. Ela só perguntou meu nome, e quando confirmei, me deu um tapa na cara. Um tapa forte. Não acho que precise conhecer pessoas novas e estabelecer relações com elas, mal conheci a Nikki e já deu merda.

— Se é a namorada do Jeff, não é exatamente o melhor exemplo. — Ela está tentando me fazer mudar de ideia, mas não vai acontecer.

— O pessoal aqui dentro não é muito melhor.

— Touché.

***

Infelizmente, nem eu, nem Mike temos visita no sábado. Mike é um paciente novo que a doutora Lee determinou que vai ser meu amigo. Mike é estranho.

Talvez seja engraçado eu definir um outro ser humano como estranho, já que eu também sou estranho no ponto de vista de muita gente. Mas posso garantir, Mike é pior. Eu não persigo as pessoas, Mike sim.

Fomos apresentados na quinta pela manhã. A doutora Lee apareceu no refeitório durante o café e me convidou para ir com ela até sua sala. Ela agiu amável como se realmente fosse um convite, mas não é como se eu tivesse muita opção. O tal do Mike já estava lá.

É claro que o cara já chegou no hospital a pelo menos uma semana, mas só foi transferido para os quartos agora. Quando se chega, ficam numa espécie de solitária ou coisa do tipo, que eu sinceramente acho que fica no sobsolo, até que você seja devidamente diagnosticado e seus remédios sejam minimamente controlados. Ninguém pode soltar um louco que possivelmente fez algum mal a alguém recentemente sem remédios num hospital e não esperar que ele mate ou vá ferir gravemente algum outro paciente, médico ou enfermeiro.

No momento, ele está deitado na grama com a barriga virada para baixo, e o rosto meio que de lado. Estou sentado a um metro de distância, num banco de madeira, desenhando a paisagem, e me pergunto se inclui-lo no desenho seria bom ou ruim. Certamente daria um toque a mais, para não dizer uma estranheza a mais.

Chego perto e me ajoelho no chão, encostando a cabeça na grama para poder olhar em seu rosto. O fato de que ele só está vestindo uma cueca samba canção me incomoda um pouco, e me pergunto seriamente se Mike não deveria ir para o terceiro prédio, em vez de ser meu amigo.

— Tá tudo bem?

Ele não responde. Nunca responde. Nem sei porque pergunto, na verdade. Desde quinta, não respondeu uma única pergunta que eu fiz. Nem sei se respondeu às perguntas dos médicos.

— Posso te desenhar junto com a paisagem?

Novamente, não responde. Quem vê, pode pensar que Mike não fala por algum motivo, mas ele fala sim. Eu mesmo ouvi, quando apareceu no meu quarto de madrugada. O pouco que disse me assustou bastante, e sempre que ele começa a me olhar com um olhar que não seja a expressão vazia que tem agora, sinto o impulso de correr, ou de apunhalá-lo até a morte com o que quer que eu esteja segurando. Um caderno e alguns lápis não me parecem boas armas.

— Vou considerar isso um sim.

Me afasto antes que ele me olhe de verdade, da maneira que me olhou na madrugada de quinta. Na sessão, ele não disse nada. Não estava amarrado a cadeira nem nada, então presumi que estivesse dopado. Perguntei isso a ele, e não respondeu. Perguntei então a Dra. Lee, que negou.

— Mike, que tal cumprimentar o Chris? — Na sessão, o garoto, que tem minha idade no máximo, desvia o olhar de mim e o lança a doutora por um momento, antes de voltar a me olhar. — Talvez eu devesse deixar vocês a sós, para que pudessem conversar normalmente, o que acha? — Mike repete o gesto, e ela solta um suspiro antes de declarar que estará do outro lado da porta, e que eu devo chamar caso precise. Me pergunto se o cara vai me atacar ou coisa do tipo, para que eu precise chama-la, e o pensamento me assusta um pouco. Talvez seja exatamente isso que ele queira, afinal, e só aguardou para que ela saísse. Ele pode muito bem ter sido enviado ao hospital exatamente para me matar até onde sei. Começo a tremer e meu estomago se revira involuntariamente enquanto olho para a porta por puro instinto. Mike continua me encarando.

No final das contas, ele não me matou na quinta. Talvez quase tenha me matado de susto ou coisa parecida. Ou de medo. Mesmo que não seja do tipo forte, alto ou simplesmente algum tipo especifico de gente que põe medo nos demais, quando o vi parado no gramado a frente da minha janela horas depois da sessão, ele me assustou. Me assustou pra cacete.

Primeiramente, encarei de volta. Gritei perguntando o que ele queria e porque estava parado em frente à janela do meu quarto, mas, como sempre, ele não respondeu. Esperei, tentei ignorá-lo, saí do quarto e passei um tempo com o Sr. Hughes. Voltei e ele ainda estava lá. Pensei em chamar um enfermeiro e contar que aquele cara estava me assustando, mas desisti. No fim das contas, quando já era de noite, ele foi embora. Somente para invadir meu quarto exatamente as 3:33 da manhã.

Mike realmente é problemático.

Quando digo invadir, não quero dizer apenas que ele chegou numa hora importuna e ficou, e sim que realmente entrou sem nem bater. E gritando. Gritando que decepou as mãos de alguém. Com uma enxada. Realmente, uma ótima forma de fazer amizades.

Pergunto-me se ninguém uso armas normais para agredir e matar as pessoas ultimamente. Uma enxada é um pouco demais até para o nível do Jeff.

Logicamente, quando ele me acordou, foi um dos momentos mais aterrorizantes da minha vida. Mike gritava sem parar que tinha atacado um cara porque ele ia fazer mal a uma garota, e ele não poderia deixar isso acontecer. Que não poderia deixar que a fizessem mal de novo. Eu nem conseguia reagir, só tremia e soluçava sem parar, sem nem mesmo conseguir fechar os olhos para pelo menos parar de ver a imagem de um Mike furioso que talvez me matasse. No final, ele parou de gritar, voltou para o próprio quarto, e eu fiquei acordado até amanhecer, e depois fui falar com a Dra. Lee. Ela demorou muito para me convencer que o tal cara não deceparia as minhas mãos, mesmo com a ajuda dos calmantes que me deu.

Nesse momento, tenho mais pena de Mike do que medo. E um pouco de inveja. Ele sabe o que fez de errado, mesmo que a Dra. Lee tenha argumentado que ele estava fora de si, que reagiu conforme experiências passadas e sob o pânico, e quando saiu do transe, a merda já estava feita. Eu nem tenho isso.

Deitado na grama, ele parece inofensivo. Só parece, pelo que sei. Um enfermeiro diz que devemos entrar, pois já passamos o tempo suficiente aqui fora. Concordo, e aparentemente, Mike também, já que se levanta e segue o enfermeiro sem nenhuma oposição.

Mike parece estar no período transtornado de começo de vida num sanatório. Eu não fui muito melhor nisso logo que cheguei, e quando a Dra. Lee falou isso, tive que concordar com ela.

Mas Mike não é esquizofrênico, e eu nem mesmo sei qual é seu diagnóstico.

Isso é um motivo a mais para ter medo, na minha opinião.

Já faz três semanas desde o incidente com Jeff. A Dra. Lee tem tentado me fazer confiar nele de novo ou coisa do tipo durante as sessões de terapia, mas não posso dizer que esteja funcionando totalmente.

Não deixei totalmente de acreditar que ele pode me matar, mas simplesmente acho que é menos provável. Ou não. Nunca se pode esperar muita coisa do Jeff, principalmente quando ele continua bebendo e cheirando cocaína. Fico me perguntando porque a nenhum médico ou sei lá o que aqui dentro não faz algo contra isso. Não é como se ninguém soubesse.

De noite, depois de passar o resto da tarde no telhado terminando o desenho, me junto a Jeff numa das salas comuns que tem televisão. Ele ficou com o controle na mão passando os canais o tempo todo, mas não me importo nem um pouco. Não tem mais ninguém aqui, aliás. Não é como se o foco do pessoal daqui fosse socializar uns com os outros. Fico sentado ao lado de Jeff num sofá bege meio encardido, com o olhar fixo a tela a minha frente.

— Ainda quer me matar? — pergunto, antes mesmo de me dar conta disso. Não sei se quero mesmo ouvir a resposta. Talvez só piore tudo.

Jeff para um segundo com a mudança infernal de canais, e a TV fica estagnada num programa de entrevistas. Mantenho meu olhar preso a garota loira e patética que fala sem parar e gesticula com as mãos animadamente. Seu sorriso é falso, e combina com as curvas acentuadas do quadril, que provavelmente também são falsas, destacadas pelo vestido curto e vermelho. É um perfeito estereótipo.

— Não quero matar você, Chris. — diz, e a garota some da tela, sendo substituída por um jornal qualquer. O vermelho do logo do jornal é do mesmo tom que o vestido da loira.

— Torturar? Machucar? — arrisco, porque a resposta não me parece muito convincente. Na verdade, não é nem um pouco convincente.

Outra pausa na mudança de canais. Um programa musical country. Ótimo.

— Não. Nada.

— Certeza? — O canal seguinte está numa propaganda sobre pneus para neve, mesmo que não esteja perto de nevar.

— Certeza. — Jeff desliga a televisão num clique, se levanta e sai. Fico um tempo olhando para a tela preta, revisando mentalmente nossa conversa.

Não é exatamente uma conversa de reconciliação.


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Notas finais do capítulo

Notas super rápidas porque quero postar isso antes que dê meia-noite e não seja mais dia 9. Enfim, mais uma vez obrigada a todos vocês que estão lendo TMoC. Espero que continuem com a leitura até a conclusão de toda a trama e que não se decepcionem com ela.
Perguntas dos reviews:
—O que acharam do Mike? Ele começou com o pé esquerdo na trama, e tem todo um quê de Jeff nele.
—Falando em Jeff, aos que arriscaram que ele faria algo ao Chris, acham que isso ainda pode acontecer? O que esperam dele?
—Não vamos esquecer da primeira cena, não é mesmo? Challie is real, meu povo?
—Ah, e a Dra. Lee? Ninguém nunca fala dela, e as atitudes dela tiveram bastante participação nesse capitulo, não é mesmo?
É isso, até o próximo. Já deixo minhas desculpas adiantadas caso demore a responder algum review, mas é que a vida é hard.



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