Andamos por algum tempo até que ele parou, e eu parei em seguida olhando tudo a minha volta. Havia uma casa com um belo jardim, ela era incrível.

Mains foi até a porta e pegou uma chave em seu bolso, pude ouvir o som dele destrancando a porta e o vi dando um passo para dentro de sua residência. Ele parou e olhou-me por uma fresta, franziu o rosto numa careta cômica; dei de ombros como quem não tem culpa... E eu não tinha culpa, de estar fascinada por um mímico maluco.

Ele olhou-me por mais algum tempo, me hipnotizando com aqueles olhos castanhos e aquela expressão um tanto enigmática. Por um segundo o vi separar os lábios, e fiquei na expectativa de que saísse dali alguma palavra, mas ele apenas humedeceu os lábios e continuou em silencio, privando-me de qualquer som.

Não estou acostumada a não conseguir o que quero, e o que queria era ouvi-lo, poder saber como era sua voz, seu rosto sem a maquiagem, sem as falsas expressões que pareciam tão reais.

Mas eu sabia que aquilo não passava de puro capricho de minha parte, ele era um desafio, eu gosto de desafios, então resolvi toma-lo como um desafio pessoal, mas não o conhecia, não sabia nada sobre ele além do que as coisas que todos sabiam.

A movimentação do mímico chamou minha atenção e tirou-me de meus pensamentos, ele estava me analisando, aquilo era um tanto quanto desconfortável.

O vi abrir mais a porta, e fazer um sinal para eu entrar, quase não acreditei naquilo, tive um pouco de receio, afinal não o conhecia, ele podia ser um serial killer como aqueles palhaços dos filmes de terror...

Uma coisa que aprendi com os filmes de terror é que artistas circenses podem muito bem serem assassinos em serie, eles tinham tudo para isso: estavam sempre viajando, usavam pinturas para esconder seu rosto e todos achavam que eles eram apenas artistas.

Entretanto deixei todo o meu receio de lado e caminhei pelo caminho de pedrinhas até entrar na casa que estava um pouco mal iluminada. Talvez eu estivesse fazendo aquilo por pensar que dentro de sua casa ele se sentiria mais a vontade para sair do personagem.

Mains ligou as luzes e pude ver todas aquelas coisas: máscaras, figurinos, maquiagens, livros, quadros, um sofá meio vintage, curtinhas azuis escuras... A casa era uma bagunça adorável, nunca pensei que um dia estaria num lugar com todo aquele caos e não sairia correndo. Mas era lindo.

Dei mais alguns passos tomando cuidado para não esbarrar em nada, ouvi o mímico fechar a porta e senti um leve arrepio.

Ele andou por entre todas aquelas coisas, um tanto performático até ficar a minha frente.

_Então... Você mora aqui?_ Perguntei sentindo-me uma idiota, pois era óbvio que aquela era a casa dele.

Mains apenas abriu os braços mostrando seu lar.

_Você fica sempre maquiado?_ Indaguei tentando ser engraçada, mas ele sequer esboçou um sorriso.

Mesmo ele sendo um maldito frais chié (esnobe), naquele momento não pude negar o quanto ele era cativante. Eu sabia que poderia arrepender-me amargamente pelo que faria naquele momento, mas estava pronta para arriscar, então aproximei-me, toquei de leve seu rosto com a ponta de meus dedos.

Mains olhava-me com um tímido sorriso, em seus olhos todo aquele mistério, que me fez querer arriscar, naquele momento eu só queria arriscar.

Meus dedos foram passeando por seu rosto, toquei seu fino nariz fazendo-o sorrir mais abertamente, mas meus olhos estavam presos em seus lábios pintados, então me aproximei mais ainda e o beijei, beijei alguém que não conhecia que nunca vi o rosto e que não ouvi a voz, tudo isso apenas porque queria, por ter sentido vontade.

O mímico retribuiu meu beijo, que no inicio era apenas um selinho prolongado, mas tomou força quando tirei seu chapéu que caiu no chão e passei meus dedos em seus cabelos ruivos, que eram muito macios, assim como seus lábios.

Senti seus braços em minha volta, eram firmes, fortes e me passavam certa segurança e eu não sabia nada sobre ele e não ligava.

Mains passou as mãos pelas minhas costas, eu alcancei a barra de sua camisa listrada, mas assim que a puxei ela não saiu por enganchar nos suspensórios que nele ficavam tão bem, mas em qualquer outro ficaria ridículo. Ele parou o beijo, eu ri por ser uma desastrada e estar um pouco sem jeito, mas o mímico parecia não ligar, tirou os malditos suspensórios e logo depois a camisa dando-me uma bela vista de sua barriga lisinha com alguns músculos, nada muito exagerado.

Ele ajudou-me a tirar minha roupa e continuamos nos beijando até que num momento o mímico segurou minha mão e me guiou para outro cômodo, ao abrir a porta percebi que aquele era seu quarto, era um pouco menos desarrumado que a sala, mas ainda tinha sua cara. Eu adorei tudo ali, entretanto não conseguia prestar muita atenção na decoração com o Mains beijando meu pescoço e dando algumas mordidinhas.

Eu estava pronta e Mains também, éramos bem grandinhos e podíamos fazer o que quiséssemos, mas algo em mim ainda achava aquilo um pouco errado, achava que aquilo era loucura.

_Mains..._ Comecei a falar, mas logo ele calou-me com mais um beijo e resolvi relaxar, resolvi não pensar em nada, resolvi aproveitar a chance única que estava tendo, aliás quem pode ter uma história melhor das férias do que alguém que transou com um mímico?